É lei da natureza que por força de lógica o homem superior partindo das causas chegue as últimas consequências.
Eis porque ao canonizar a primeira metade ou parte do sistema agostiniano a Igreja Romana tornou-se responsável pelo advento e afirmação da Reforma protestante.
Desde que o semi agostinianismo foi assumido em Orange II (530) a igreja romana teve de lutar durante mil anos contra aqueles que a exemplo de Gotteschalk e Wicliff pretendiam deduzir até o fim e vindicar a integralidade do agostinianismo como sistema fechado e coerente.
O agostinianismo ortodoxo sempre esteve as portas da Igreja 'vigiando', desde que ela tomara a imprudente decisão de condenar o semi pelagianismo ancestral e de assumir alguns elementos tomados as obras do Bispo de Hipona.
Santificados alguns pressupostos do sistema é certo que mais cedo ou mais tarde haveria de ocorrer uma irrupção agostinianista. Dedicada a resgatar a plenitude das ideias concebidas pelo Doutor Africano.
Desde que a Igreja romana exitará assumir a totalidade do sistema agostiniano - identificado pelos agostinianos como a quintessencia da soteriologia Cristã - não podia deixar de ser encarada pelos mesmos agostinianos como corruptora da fé. Durante cerca de mil anos desenvolveu-se e foi sendo gestada no imaginário dos agostinianos ortodoxos a tese segundo a qual a igreja jamais fora cem por cento fiel quanto a doutrina da graça e que em parte apostatara dela e desamparara Agostinho.
Efetivamente os agostinianos fiéis não podiam ver com bons olhos certos aspectos assumidos pela teologia romana medieval, assim o limbo das crianças... Assim a identificação da predestinação com a presciência e a consideração do mérito... Assim a hipótese de uma reativação geral da graça por conta da Encarnação do Senhor... Assim a ideia de que todos os homens eram chamados a unidade de Jesus Cristo... Para eles cada uma destas teorias cheirava a pelagianismo e a traição.
E não podiam deixar de evocar os testemunhos de Fulgêncio, Isidor e Prudêncio contra as inovações suspeitas de Himcmar ou Aquino.
Desde 529 e 860 esteve a igreja romana cindida em duas correntes rivais: Uma decidida a aproximar-se ao máximo de Agostinho e seu sistema, até nutrir sérias dúvidas a respeito da capacidade da razão e da especulação teológicas e outra destinada a afastar-se ao máximo dele e a conciliar-se o quanto possível fosse com Juliano ou mesmo com Celestius e Pelágio no sentido da teologia especulativa grega.
Lamentavelmente os advogados de Agostinho - como Bernardo, Pedro Damianos, Scottus, Hallesius e Wicliff - destacaram-se pelo cultivo da virtude a ponto de atrair a simpatia das multidões. Basta dizer que após Agostinho latino algum adquiriu um status semelhante ao de Bernardo e que Bernardo utilizou-se dele com o objetivo de danificar não a Abelardo mas certamente o que ele significava: A afirmação da odiada teologia especulativa que os africanos, desde Tertuliano encaravam como uma espécie de semi gnosticismo.
Finalmente por volta do século XIV e XV em que pese a aparição de Wicliff de modo geral - ao menos na França e na Itália - a balança parecia pender para o lado do semi pelagianismo, do que resultou o Renascimento humanista e o antropocentrismo. Dir-se-ia, que a exceção do Norte, a Cristandade como um todo estava disposta a assumir até o fim a ideia de uma liberdade natural...
Foi quando entre os agostinianos do Norte ergueu-se um monge assaz habilidoso com o objetivo de vindicar o legado de Agostinho. O nome deste monge era Martinho Lutero e seu argumento mais persuasivo era atribuir as ideias de Agostinho ao Apóstolo Paulo e, consequentemente a Jesus Cristo. Afinal até hoje a maior parte dos Cristãos só se recorda de Paulo ter se apresentado como o 'alter Christus', jamais de Paulo ter advertido repetidamente: Digo eu não o Senhor... é opinião minha não mandamento do Senhor...
Diante disto a estratégia foi bastante bem sucedida e a conexão: Paulo, Agostinho, Wicliff e Lutero ou Calvino admitida por certa parte da Cristandade.
Adicionamos o nome de Wicliff porque Lutero enquanto leitor e admirador do presbítero inglês admitiu-lhe os pressupostos - ainda mais radicais que o de Agostinho - em torno do livre arbítrio. Basta dizer que Agostinho teve de admitir com a Igreja Antiga que ao menos nos eleitos ou predestinados era o livre arbítrio reativado pela graça para cooperar com ela (o que é igualmente admitido por Calvino).
Wicliff e Lutero no entanto, a semelhança dos maniqueus e ulemás muçulmanos, declararam que o livre arbítrio era apanágio exclusivo de deus e que o homem jamais seria verdadeiramente livre mas sempre escravo de deus ou do diabo conforme fosse eleito ou réprobo. Grosso modo eram deus ou o diabo quem realizavam as boas obras ou os pecados dos eleitos ou dos réprobos respectivamente. O homem fosse salvo ou condenado jamais fazia qualquer coisa e ficava sempre sendo montadura de deus ou do capeta.
Para Lutero como para Wicliff o homem não passava dum boneco ou duma marionete nas mãos de deus ou do demônio, mesmo após sua conversão ou adesão a Jesus Cristo e o tal do livre arbítrio jamais era reativado ou restabelecido pela graça. Tudo era governado pela vontade de deus que fazia as vezes do antigo destino. O homem era sempre escravo de algum pode superior a si, fosse este bom ou mau; é o que registrou Lutero repetidas vezes na obra "O arbítrio escravo".
Foi assim que o Agostinianismo ressurgiu com uma feição ainda mais virulenta sob os auspícios do monge teutônico. Posteriormente foi o sistema restabelecido com mais felicidade (i é fidelidade) pelo reformador francês João Calvino patriarca dos neo predestinacionistas. Com Calvino admitiram os neo predestinacionistas que deus desde toda eternidade predestinou parte dos seres humanos ao pecado e a condenação eterna ficando o edifício ímpio arrematado.
E não podemos deixar de compreender o protestantismo como um revanche ou reafirmação do agostianianismo. Ao menos a princípio foi isto e tal foi o ponto de partida da seita.
No entanto, por terem os reformadores canonizado com exclusividade a autoridade do Livro, nem todos os discípulos permaneceram fiéis a doutrina do gracismo e disto resultou como veremos o renascimento acintoso das disputas em torno da livre vontade e da graça, desta vez centradas nas letras sagradas.
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