Hiper agia ai partenos Maria, akrantos Mitéra tou Khristos Theos - soson imas!
Batul Lala Marian Wallidat al illah - ʕawnu ni!

Nossos pais e avós foram protestantes, nossos tetravos papistas, as gerações do passado remoto no entanto foram Católicas, apostólicas e ortodoxas, e nós, consagrando todas as forças do intelecto ao estudo da coisas santas e divinas desde a mais tenra idade, reencontramos e resgatamos a fé verdadeira, pura, santa e imaculada dos apóstolos, mártires e padres aos quais foi confiada a palavra divina. E tendo resgatado as raízes históricas de nossa preciosa e vivificante fé não repousaremos por um instante até comunica-la aos que forem dignos, segundo o preceito do Senhor. Esta é a senda da luz e da justiça, lei do amor, da compaixão, da misericórdia e da paz entregue uma única vez aos santos e heróis dos tempos antigos.

João I

João I
O Verbo se fez carne




Hei amigo

Se vc é protestante ou carismático certamente não conhece o canto Ortodoxo entoado pelos Cristãos desde os tempos das catacumbas. Clique abaixo e ouça:

Mantido pelo profo Domingos Pardal Braz:

de pentecostal a ORTODOXO.

Jesus aos apóstolos:

"QUEM VOS OUVE É A MIM QUE OUVE E QUEM VOS REJEITA É A MIM QUE REJEITA."


A CRUZ É UM ESCÂNDALO PARA OS QUE SE PERDEM. MAS PARA OS SANTOS PODER E GLÓRIA DE DEUS.

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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Artigo M) A rebelião jansenista e a afirmação de uma Igreja agostiniana

Após o protestantismo ter canonizado e santificado aos opiniões de Agostinho e censurado a igreja romana por ter tolerado diversos sistemas teológicos de teor mais ou menos pelagiano foi a vez da igreja romana - através de um concílio geral congregado em Trento - posicionar-se tanto mais claramente a respeito de seus dogmas e particularmente da relação existente entre a graça e a liberdade.

Via de regra podemos dizer que o dito 'concílio' foi relativamente bem sucedido logrando alcançar definições satisfatórias em torno dos Sacramentos, do Cânon bíblico, da Tradição, da comunhão dos santos, da escatologia, etc e que o catecismo tridentino em certo sentido fortaleceu a unidade da igreja romana trazendo-lhe relativa paz.

Isto caso desconsideremos ou ponhamos de lado a questão da graça.

A respeito deste quesito é assaz sabido que ao menos parte das decisões foram tomadas de empréstimo ao segundo sínodo de Orange. Sínodo que ao menos aos olhos de alguns padres menos esclarecidos era tido em conta de geral, infalível e normativo. No entanto, via de regra, os doutores tridentinos não deixaram de examinar as decisões daquele sínodo com relativa liberdade e até de reformula-las ousadamente. Como Himcmar e os seus jamais teriam podido ousar!

A bem da verdade aquele sínodo já havia declarado que os réprobos não eram predestinados ao mal e ao pecado, embora nada tenha dito a respeito do abandono de parte da Massa danada e sobre a relação deste abandono com a presciência divina.

Pois se a providência determinou a transmissão do pecado as gerações futuras, a destruição da livre vontade pelo pecado e o abandono de ao menos parte dos homens sem consideração da reativação da liberdade ou de uma possível decisão futura é evidente que estamos diante de um sistema que impossibilitando tais pessoas de abraçarem livremente o bem predestina-as verdadeiramente ao mal.

De fato a única solução não agostiniana ou predestinacionista - e tampouco semi pelagiana - para este problema se dá em termos de presciência ou do pré conhecimento divino a respeito de uma futura colaboração ou resistência livre. Tal e qual fora formulada por Himcmar e Rabanus ou por seus mestres Cesário, Salviano e Próspero. Solução que podemos classificar como galicana e semi agostiniana.

Se Deus abandonou apenas aqueles cuja não adesão livre ou resistência pôde prever é evidente que concedeu a tais pessoas a chance de colaborarem consigo e tomar posse da salvação.

N entanto ao que parece ou os padres de Trento ou ignoravam - antes dos trabalhos de Sirmond, Baluze, Hardouin, Gousset, etc - ou decidiram ultrapassar as decisões de tais sínodos bem como as ulteriores considerações formuladas pelos escolásticos e num determinado momento aproximaram-se surpreendentemente do semi pelagianismo pela formulação de uma terceira via.

Em que pesem as obscuridades e indefinições em torno do tema o seguinte texto parece-nos suficientemente claro:

"Quando Deus toca o coração do homem através do iluminação do Espírito Santo, o próprio homem não é inativo durante a recepção que a inspiração, uma vez que ele poderia rejeitá-la, e ainda, que sem a graça de Deus, ele não possa, por sua própria vontade, mover-se em direção à justiça de Deus "

Aqui a noção equivocada e inaceitável - em termos Ortodoxos - de uma graça preveniente de natureza interna ou de uma iluminação em termos platônicos associada a noção - anti agostiniana - de uma oferta geral, mesmo aqueles que não estivessem dispostos a aceita-la. O que corresponde a negação da doutrina da graça irresistível. 

No entanto se o homem, na perspectiva da natureza, pode assentir ou não a graça preveniente é evidente que já estamos diante de uma graça concomitante e portanto da sinergia perfeita, e portanto de um semi pelagianismo 'ortodoxo' bem compreendido ( Na medida em que o semi pelagianismo admite uma graça prévia ou concomitante em termos externos, a saber, o anúncio por parte da Igreja). Se não temos uma graça preveniente em conexão com a presciência dos atos futuros não temos verdadeira graça preveniente mas concomitante. 

Eis porque a soteriologia de Trento acabou por afastar-se ainda mais de Agostinho e dos protestantes.Ao menos quanto a doutrina da graça, se não podemos suster a realização de uma 'contra reforma' total ou absoluta ATÉ A NEGAÇÃO DE QUALQUER GRAÇA INTERNA  OU ILUMINAÇÃO QUE REPORTASSE A AGOSTINHO tampouco podemos deixar de admitir e registrar um saudável distanciamento face aos conceitos familiares ao agostinianismo.

Partindo daqui fica muito fácil compreender o ulterior direcionamento assumido pela ordem Jesuíta.

Cujos eruditos e esclarecidos membros não puderam deixar de ceder a tentação de levar adiante o legado humanista que lhes fora transmitido pelos dominicanos. E com uma tal intensidade que levou os próprios dominicanos a acusa-los de semi pelagianismo ou mesmo de pelagianismo. Para não falarmos em seus inimigos naturais como os protestantes e em seguida os jansenistas.






Assim o jesuíta Molina retomou e desenvolveu a doutrina da Himcmar e dos galicanos (na verdade tomada a S João Damascen) a respeito da presciência, chegando a concluir na salvação ou predestinação por mérito 'a posteriori' e a - segundo a linha do Concílio - enfatizar, por diversos modos, o papel da livre vontade.

Diante disto os franciscanos, carmelitas, beneditinos e mesmo os dominicanos (que também eram acusados de flertar com o semi pelagianismo desde a baixa idade Media) - liderados pelo agostiniano Bañez - não tardaram a apresentar tanto Molina quanto os jesuítas como semi pelagianos ou mesmo pelagianos enrustidos e isto no exato momento em que a igreja estava a ser atacada pelos reformadores...

Destarte ao cabo da segunda metade do século XVI i é logo após o encerramento do Concílio de Trento, estourou ainda mais uma vez a querela predestinacionista pondo-se ambos os lados - dominicanos e jesuítas ou molinistas - a mimosearem-se com a designação de 'herético' e a fornecer munição a crítica protestante.

Diante de matéria tão delicada o Vaticano optou por ser superficial, sutil e sinuoso conclamando ambas as partes a tolerância até que alguma comissão teológica nomeada pelo papa fosse capaz de decidir a questão. E partindo do suposto que ambos os sistemas teológicos eram basicamente ortodoxos solicitou que permanecessem em paz... Até impor o abandono das discussões e o silêncio.

Face a tais distúrbios um grande número de teólogos e doutores de ambos os lados puseram-se a analisar as obras de Aquino, Cesário, Próspero, Salviano, Agostinho, Fulgêncio, Himcmar, etc em busca de possíveis soluções para o impasse.

Convém lembrar que até aquele momento a alta hierarquia do Vaticano costumava negar de pés juntos ( como Himcmar, Rabanus, etc) que Agostinho fosse predestinacionista e fazia ouvidos moucos a seus partidários radicais.








protestante: De modo que a situação acabou por resolver-se???

Ortodoxo: Antes fosse.

No entanto, se como já tivemos ocasião de observar, a adoção de certos princípios conduz fatalmente a admissão de determinadas consequências lógicas não podia a mente genial do Bispo de Hipona deixar de ter arrematado seu sistema.

O que sempre fora repetido de geração em geração pelos agostinianos fiéis, mas que só adquirira força após o advento do protestantismo.

Colocando os 'católicos' de Agostinho numa situação bastante difícil e que quase oposição a uma igreja mais uma vez caracterizada como apóstata pelos sectários mais fanáticos do hiponense, a saber, os luteranos e calvinistas.





Um deste homens corajosos e determinados a examinar metodicamente a obra de Agostinho foi o Bispo romanista de Yprés, Jansenius.

Este, numa obra intitulada "Augustinus" susteve que a graça preveniente e a adesão a Jesus Cristo não reativam a liberdade e tampouco que o pre conhecimento de deus considere a simples possibilidade desta reativação.

E tomou - as obras do hiponense - a noção de graça eficaz compreendido como uma força irresistível.

Mesmo após ter sido incorporado por Cristo o homem não se torna capaz de realizar qualquer operação virtuosa sem o concurso desta graça específica. A qual inclusive nele suscita o impulso para o bem.

Equivale isto a declarar que é Deus mesmo e apenas ele que realiza as boas obras dos Santos i é o querer, o desejar, o preparar, o fazer, o demandar e o perseverar.

No entanto como deus age com absoluta liberdade e determina aqueles que serão libertos da escravidão da concupiscência para frutificar em boas obras É ELE QUEM DETERMINA OS QUE SERÃO SALVOS E OS QUE SERÃO CONDENADOS i é aqueles que permanecem entregues a tirania da concupiscência.

Diante disto nosso homem repudia a vontade salvífica universal e nega peremptoriamente que nosso Doce Redentor tenha sofrido por todas as criaturas racionais...

Por fim o Doutor de Yprés pôs-se a clamar contra os mestres escolásticos e a Filosofia antiga e até nisto fez eco a Agostinho, Tertuliano, Damianes e Lutero (bem como aos infiéis Al Achari e Al Gazzali) tornando-se paladino da estupidez.

Tal o sistema formulado por este ávido leitor do hiponense - declarou ter lido dez vezes a obra completa de seu Mestre e trinta vezes suas obras sobre a graça - e do Pe Michel du Bay (cujos erros repetidamente condenados retomou) em oposição a soteriologia afirmada pelo Concílio de Trento contra os reformadores (para ele os jesuítas eram semi pelagianos) e só podemos defini-la como uma revanche agostiniana no seio da igreja!

No entanto, apesar do querido Agostinho, a obra de Jansenius - sendo pessimamente acolhida por Jesuítas e Dominicanos - acabou sofrendo o mesmo destino que as obras de Lutero e Calvino (aos quais por sinal dava razão) e sendo solenemente condenada pela cúria romana para a qual Agostinho nada tinha de predestinacionista.

Como Jansenius havia adulterado o sentido das palavras de S Agostinho ou fora incapaz de compreende-las 'no sentido da igreja' o Vaticano não só solicitou como pode obter uma retratação por escrito e humilde submissão.

Todavia como o livro já havia sido publicano e lido, inclusive pelos partidários papistas do agostinianismo estrito os fundamentos do partido e da posterior rebelião jansenista já estavam lançados e este foi o preço terrivelmente caro que a Igreja Romana e toda a Cristandade Ocidental, em especial a francesa, tiveram de pagar por sua indecisão e falta de firmeza face aos erros do Bispo de Hipona.

protestante: O amigo quer dizer que mesmo após a submissão de Jansenius as coisas não melhoraram para a teologia romana?

Ortodoxo: Não porque o diversos clérigos como Duvergier, Quesnel, Arnauld e mesmo leigos instruídos como Gilbert Maugin.

Este padre ímpio Duvergier classificou Trento como uma assembléia de escolásticos limitados, proclamou que a antiga igreja dos Bispos não passava de um pântano infecto e para completar as medidas de sua infidelidade registrou que "Calvinus bene sensit, male locutus est." Ele padeceu na era de 1643 e Richellieau havia cometido o erro de encadea-lo. Pelo que foi tido em conta de mártir pelos cismáticos e sectários.

Por fim em 1649 um deles publicou as sequintes teses:

  • Há mandamentos de Deus quem nem sequer os justos tem capacidade suficiente para observar pois lhes falta uma graça eficaz para tanto. (o que de certo modo nos reporta a Lutero, Flacius, et caterva)
  • A natureza decaída não pode resistir ao poder da graça.
  • .......
  • Os semi pelagianos admitiam a necessidade da graça interior preveniente (pura e deslavada mentira) para cada um dos atos mesmo para o início da fé. mas eram HEREGES PORQUE ENSINAVAM QUE A GRAÇA FOSSE TAL QUE A VONTADE HUMANA LHE PUDESSE RESISTIR OU ASSENTIR.
  • É semi pelagiano quem declara que Cristo sofreu e morreu por todos os homens.
Todas as teses acima foram condenadas (Bulla Cum occasione) pelos teólogos do papa Inocente X como falsas, aleivosas e heréticas. O que evidentemente esta de pleno acordo com a tradição oriental da Igreja. 

No entanto os jansenistas da mesma maneira como os adeptos do Pe Lucidius e os seguidores de Gotteschalk recorreram a chicana declarando que o sentido das teses não era aquele tomado pelo papa romano e assim por diante...

Até que em 1656 o papa romano Alexandre VII por meio da Constituição Petri sedem definiu-lhes o sentido de modo a condenar formalmente os predestinacionistas e a totalidade do clero francês teve de assinala. Parte dos jansenistas aceitou faze-lo mas uma outra parte declarou que a A IGREJA NÃO PODIA CONDENAR O AGOSTINIANISMO, QUE ESTE ESTAVA SEMPRE CERTO E ELA ERRADA E QUE ERA NECESSÁRIO ROMPER COM A UNIDADE. 

E ainda aqui o agostinianismo infiltrado e irredutível optou pela solução de Lutero. 

No entanto graças a moderação de Arnauld sobreveio a paz por trinta anos. De modo que o jansenismo só veio a ser condenado em 1711 por meio da Bulla Unigenitus. Os holandeses de Utrech no entanto sagraram legitimamente a um Bispo e formaram uma igreja jansenista composta ainda hoje por cerca de 12.000 membros. 


Todavia em pleno século XVIII alguns cardeais como Berti e Noris ainda faziam galas de seu 'agostinianismo ortodoxo' e os ensinamentos desta facção ainda são publicados por clérigos da igreja romana.















terça-feira, 16 de agosto de 2016

LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Artigo J) Os cripto semi pelagianos, Himcar de Reims e GotteschalK de Orbais

Após a subscrição dos decretos semi agostinianos de Orange II por Bonifácio II papa um grande número de escritores latinos veio a abraçar esta doutrina, não todos no entanto, uma vez que:

  • Orange II não era Concílio Geral
  • A infalibilidade do papa romano sequer era considerada
Para alguns no entanto o prestígio do patriarcado romano havia fechado a porta para o semi pelagianismo e naturalmente que sua situação tornou-se mais difícil e a balança pendeu mais e mais para o lado do semi agostinianismo ou mesmo do agostinianismo radical. A tensão no entanto manteve-se até o Concílio de Trento.

Basta dizer que o Dr Alberto Pighius, modelo de Ortodoxia católica entre os Batavos - Em sua polêmica contra Lutero e Calvino iniciada em 1542 ("De libero hominis arbitrio et divina gratia libri X" ) - assumiu uma postura nítida e claramente semi-pelagiana no mesmo momento em que Paulo III havia acabado de abrir o concílio de Trento!!! Ora este Pighius era representante de toda uma Escola paralela ao Agostinianismo e oposta a ele.

Todavia, antes de retomarmos o roteiro desta 'história' convém registrar o sentir da parte Oriental da Igreja. Para tanto tomemos o testemunho de S João Damasceno na 'Exposição exata da fé Ortodoxa:

"Ao homem Deus o fez por natureza isento de pecado. Dotou no entanto de livre árbitro. Isento de pecado sim, mas não devemos compreender que lhe fosse impossível vir a pecar. Pois o pecado procede da livre vontade e não parte integrante de sua natureza. De modo que ele tanto pode avançar no caminho das coisas divinas cooperando com a graça, como pode aderir ao bem e tornar ao mal segundo o dom da vontade livre. MAS NÃO HÁ PRÁTICA DA VIRTUDE QUE SEJA PRODUTO SOMENTE DOS ESFORÇOS NATURAIS." II, 12

Em suma:

  • Não foi Deus que produziu o mal
  • O homem no entanto foi criado livre
  • Do que resulta a possibilidade do bem e do mal.
  • Mesmo após o pecado pode aderir a Divina Revelação
  • A prática da virtude é produto da 'religação' ou do retorno ao Sagrado e da união com ele. (Contra o suposto naturalismo pelagiano. 
Como se pode observar nenhuma alusão a qualquer intervenção mágica ou graça preveniente, ou iluminação platônica. Aqui a graça 'preveniente' é compreendida como algo EXTERNO E ENCANADO NA ESTRUTURA VISÍVEL DA IGREJA, EM SEU ANÚNCIO E TESTEMUNHO.

E pouco mais adiante declara:

"Devemos compreender que embora Deus tudo conheça de antemão não determina ele mesmo todos os acontecimentos. Ele de fato conhece de antemão tudo quanto haveremos de fazer, mas não nos constrange a faze-lo. Não é por vontade sua que o mal existe nem deseja ele constranger o homem a prática do bem. Assim o que chamamos de predestinação nada mais é que a fixação da ordem ou lei divina tendo em vista o conhecimento antecipado. Deus estabelece o curso das coisas de modo a que estejam em nosso alcance conforme antecipadamente pôde verificar. E todos os decretos que fixou e as condições que a nós impôs procedem de sua bondade e justiça." II, 30

Portanto a teologia legitimamente Ortodoxa nada sabe em termos de iluminação platônica ou duma graça interna e invisível de caráter mágico e para ela o trabalho de correção do homem é iniciado pelo ofício externo da Igreja ou pela pregação, segundo o próprio apóstolo parece indicar, quando escreve: " Como haverão de crer se não houver quem anuncie???"  Ele não disse: Caso deus não os ilumine ou converta mas SE NÃO HOUVER QUEM ANUNCIE!


Himcmar X Gotteschalk (848)


Seja como for, após Orange II a terra repousou por cerca de trezentos anos i é até 830 quando sob Himcmar de Reims levantou-se o monge Gotteschalk de Fulda filho do conde saxão Breno, o qual os desviados tem em conta de mártir da predestinação e que é apontado pelos papistas como tendo sido o primeiro calvinista desconsiderando tanto o Pe Lucidius quanto Fulgêncio de Ruspe e evidentemente o próprio Agostinho.

Era além disto, como Pe Lucidius, Gotteschalk profundo conhecedor das obras de Agostinho e não foi sem razão que 
Walfrido Estrabão impos-lhe o apelido de 'Fulgêncio redivivo' pelo fato de estudar continuamente as obras daquele Bispo africano, nas quais julgou ter encontrado os 'cinco pontos' e de por-se a divulga-los com grande agravo de parte do episcopado germano galicano.

Eis o teor de seus ensinamentos:

"De fato ele [Deus] predestinou todos os eleitos para a vida eterna através da gratuidade de sua bondade, como demonstram muito claramente as páginas do ANTIGO (sic) e do Novo Testamento ... e predestinou os réprobos a punição abandonando-os a morte eterna por meio de um juízo justo e imutável." (Fragmento de Hincmar de Rheims, De pradestinatione, 5 PL 121, p 365


"Aquele que diz ter o Senhor padecido por todos i é para a salvação e redenção dos eleitos e réprobos, contradiz a Deus, o Pai." Id ibd

Diante disto Victor Genke pode reconstituir a crença de Gotteschalk nos seguintes termos: 

1. Deus predestinou tanto os eleitos para a vida eterna quanto os réprobos à morte eterna. 
Assim, a predestinação é dupla.

2. A predestinação dos réprobos à morte eterna tem sua base na justiça eterna de Deus e não em seu pre conhecimento.

3. Deus jamais desejou  salvar todas as pessoas. 

4. A humanidade está dividida em dois grupos: Eleitos e os réprobos. Os eleitos 
não podem perder-se ou tornarem-se réprobos. 

5. Cristo morreu somente pelos eleitos. 

6. Uma vez que os seres humanos após a queda  só podem fazer más ações ou pecar é a graça de Deus que nos permite realizar o bem ou que reativa a livre vontade.

Tal a sinistra pregação do monge de Orbais que já havia reunido em torno de si um grupo de admiradores como Florus de Lyon, Lupus de Ferriéres, Amolo de Lyon, Wenilo de Sens, Prudêncio de Troyes, Ratramnus de Corbie, etc 

No entanto a polêmica tornou-se amarga a partir do momento em que nosso homem tentou cooptar Noting de Verona o qual foi ter com seu mestre Rabanus Maur arcebispo de Mayença e declarou ter conhecimento sobre um homem que ensinava que cada qual fora predestinado a seu devido fim desde toda eternidade pelo próprio deus, sendo assim impossível que um réprobo obtivesse a salvação ou que um salvo viesse a perde-la. Hefele 'História dos Concílios'

Diante disto escreveu ele uma memória dedicada a Noting com o objetivo de impugnar tal doutrina, a qual qualificou como "Oposta ao sentido da justiça divina." Hefele 'História dos Concílios' IV

E segundo o vício teológico dos latinos deu-lhe resposta nos seguintes termos:

"Após a queda de Adão a humanidade ficou reduzida a uma 'massa damnabilis'. Desta massa quis Deus, sem acepção de pessoas e por pura benevolência sua reconciliar algumas pessoas para a vida eterna, quanto as que abandonou, abandonou tendo em vista o conhecimento prévio do que fariam caso pudessem decidir e sabendo que não colaborariam com ele. Dispos que fossem punidos por recusarem-se a colaborar, no entanto a disposição de não colaborar partiria delas mesmas e não dele uma vez que conhecer previamente não equivale a causar ou a provocar." 
Hefele 'História dos Concílios' IV

Em suma ele limita-se a predestinar a pena da punição ou do castigo aqueles que de antemão soube que haveriam de recusar-se a colaborar consigo ou de aspirar pela remissão caso fossem livres; em sua os que haveriam de permanecer por vontade própria fixados no mal e no pecado.

Logo sua resposta a Gotteschalk esta de pleno acordo com a doutrina de S João Damasceno e dos gregos ao menos quanto ao conceito de predestinação. Fixação de penas para os aqueles que soube de antemão que não haveriam de cooperar consigo. 

O que ele reconhece não poder explicar, como latino ou infernista algum, é por que sendo deus onipotente e bom não pode ou não quis converter aqueles que soube de antemão que não haveriam de colaborar com ele... Classificando tal fato como um 'mistério impenetrável', alias o calcanhar de Aquiles do fundamentalismo judaizante. Hefele 'História dos Concílios' IV 

Feito isto alistou sete verdades dogmáticas impugnadas pelo predestinacionismo:
  1. Apresenta Deus como um ser maléfico que produz criaturas para conde-las quando sequer precisava te-las produzido.
  2. Esta em oposição a escritura que promete a vida eterna exclusivamente aos virtuosos.
  3. Restringe e portanto anula misericórdia de deus tornando-a mesquinha.
  4. Acha-se em oposição as promessas do Evangelho dirigidas a todas as criaturas. Hefele 'História dos Concílios' IV

E noutra carta a Noting toca ao nervo mesmo da questão:

"SE SOU PREDESTINADO A REPROVAÇÃO MINHAS BOAS OBRAS NÃO SERVEM PARA NADA. SE SOU PREDESTINADO A SALVAÇÃO MEUS PECADOS NÃO ME PREJUDICAM EM NADA. É A RUÍNA DA MORAL CRISTÃ." 
Hefele 'História dos Concílios' IV



Como no entanto Gotteschalk segui-se pelo Norte da Itália sublevando as populações Rabanus não teve outra saída senão cita-lo para comparecer ao sínodo de Mayence onde sua doutrina foi condenada como ímpia e odiosa. Gotteschalk ao que parece, ter-see-ia retratado mas, ainda assim condenado a retirar-se para a Gália onde como já dissemos contava com um grupo mais ou menos forte de admiradores e foi acolhido de braços abertos.  Hefele 'História dos Concílios' IV



E mal havia se instalado nas Gálias, apesar do olhar vigilante do metropolita Himcmar, pos-se Gotteschalk a anunciar a dupla predestinação. Diante disto intimou-o Himcmar a comparecer diante do sínodo de Quierzy (849) 



Entrementes Rabanus Maur enviou aos Bispos e monges ali congregados uma epístola em que classificava as doutrinas de Gotteschalk como "Falsas, heréticas e escandalosas." solicitando sua condenação formal.  Hefele 'História dos Concílios' IV



Segundo relata o próprio Himcmar, após terem lido a carta enviada pelo Abade de Fulda os clérigos puseram-se a interrogar Gotteschalk, o qual, sendo incapaz de evidenciar claramente as razões de suas esperança teve um ataque de nervos e pos-se a insultar a tantos quantos ali se achavam sem concordar em retratar-se. Diante disto

 - Em que pese a oposição de S Remígio de Lyon - foi condenado a ser surrado com varas e encerrado no monastério de Haultvilliers. Hefele 'História dos Concílios' IV



Pouco tempo depois enviou-lhe o metropolita Himcmar uma carta em que expunha a doutrina da predestinação no sentido de Rabanus e S João Damasceno isto é com relação a pena e tendo por base o pré conhecimento dos efeitos produzidos pela livre vontade. Tentou além disto dar um sentido aceitável - i é distorcer - as sentenças escabrosas de Agostinho e Fulgêncio. Gotteschalk limitou-se a apelar ao Salmo XXXII, 5 declarando que deus amava a justiça com que julgava os descendentes corrompidos de Adão e que essa justiça era boa e adorável!!!  Hefele 'História dos Concílios' IV

Diante disto tornou Himcmar (segundo o testemunho de Flodoardus) a pedir apoio ao já alquebrado Rabanus arcebispo de Mayence. O qual remeteu-lhe um florilégio com passagens tomadas as escrituras e aos padres corroborando a doutrina da vontade salvífica universal. Desde então - segundo Florus de Lyon - passou Gotteschalk a classificar seus oponentes como rabanites ou rabanitas. E os de Himcmar e Rabanus - a exemplo de Scott Eurigena - a classificar seus oponentes como predestinacionistas, expressão tomada a Cassiano, Vicente de Lerins e Genádio. Hefele 'História dos Concílios' IV

Desde então ficou a igreja das Gálias cindida em duas facções rivais e segundo uma das testemunhas foram escritos centos de panfletos sobre o tema. Seja como for o foco da questão - e é importante que tenha-mo-lo diante de nós - foi, ainda aqui, a narrativa vetero testamentária sobre o endurecimento do coração do Faraó. Pardalus de Laon dentre outros, mandou consultar inúmeros doutores (como Amalarius, Eurigena, Amolo, etc) pedindo explicações sobre o sentido desse texto... Como no entanto uns dissessem uma coisa e outros outra, optaram por congregar um novo sínodo em Paris, na Igreja de S Medardo. Hefele 'História dos Concílios' IV

Ali no, ano de 850 desta Era, congregaram-se mais de 20 metropolitas a companhados por seus doutores, mestres e monges para analisar diversas questões até que chegaram ao tema da predestinação. E como temessem discutir o assunto limitaram-se a aprovar a seguinte sentença tomada a um panfleto recém publicado por Lupus de Ferrière:

"Após a queda do primeiro homem extinguiu-se a liberdade para o bem. E diante disto ficou extinta a livre vontade do ponto de vista da natureza. E não pode o homem reconquista-la a partir de suas forças porquanto é dom de Deus. É no entanto a liberdade restabelecida após nossa adesão a Jesus Cristo e sempre amparada pela graça... De modo que nossas boas obras são como que realizadas por Deus e Deus é que as realiza em nós." 
 Hefele 'História dos Concílios' IV

"APÓS AGOSTINHO é a graça que prepara os homens para a salvação." confessou este monge dando a compreender que Agostinho havia dado inicio a manobra e que eles limitavam-se a repeti-lo.

Pouco tempo depois Prudêncio de Troyes, arvorando-se igualmente em defensor de Agostinho, compôs uma obra sobre a predestinação em que dizia:

"Do mesmo modo e maneira que os eleitos são compelidos por deus a salvação, são os réprobos compelidos por deus a perdição." 
 Hefele 'História dos Concílios' IV

Se bem que mais além emendasse: "Ele não predestina o ímpio ao pecado, mas aquele que se apega ao pecado predestina a punição."

Foi quando o Rabanus replicou: Tomando por base aquilo que o Apóstolo escreveu aos de Tessalônia ISSO NÃO EXISTE!

Tu é que pusestes de lado as palavras do abençoado Fulgêncio: "E ele é que prepara os maus para o castigo." retorquiu-lhe o erudito Ratramnus monge de Corbie. 
 Hefele 'História dos Concílios' IV

Eriugena Rabanus no auge da indignação, citaram, a exemplo de Juliano, o testemunho do Crisóstomo, ao que o abade de Ferrières ousou rebater nos seguintes termos:

"Assim tu te afastas de Agostinho. E se o Crisóstomo declara que todos os homens são chamados a salvação DEVEMOS CONCLUIR QUE ELE ESTÁ ERRADO."

"Prevendo aqueles que haveriam de cooperar após a reativação da liberdade Deus desde toda eternidade reservou-lhes o paraíso e reservou-lhes UMA PARTE DE SUA GRAÇA. Saber deus de antemão quem se obstinará na injustiça e por isso com equidade perfeita predestinou-os ao castigo. Todavia nem a predeterminação do castigo nem as presciência dos atos maus forçam o ímpio a ser ímpio de tal modo a não poder deixar de se-lo ao contrário, deus sempre exorta o homem a penitência e a conversão.... Se de fato nenhum dos eleitos se perde e nenhum dos réprobos se salvam não é porque não possam mudar mas porque não desejam ou não querem mudar. O QUE DEUS PREVÊ É SUA NÃO COLABORAÇÃO OU SUA OBSTINAÇÃO VOLUNTÁRIA NO MAL E NO PECADO E ASSIM LIMITA-SE A PRE DESTINA-LOS A PUNIÇÃO I É A PENA, QUE É JUSTA." opinou S Remígio de Lyon conforme os pressupostos do semi agostinianismo, e chegou inclusive, a dar um sentido 'Ortodoxo' a maior parte das alegações de Gotteschalk.  Hefele 'História dos Concílios' IV

Pois se a um lado, por sua parte, dispusera-se Deus a remir a todos, por parte dos próprios homens 'livres' - na perspectiva de uma possível e futura liberdade reativada pré conhecida por ele - sabia que nem todos aproveitariam de sua morte remidora.

Grosso modo, alguns destes autores - como Lupus e Ratramno - jamais explicitaram com suficiente clareza se acreditavam que Deus se recusava a socorrer e extrair da massa danada aqueles que previamente sabia que não haveriam de colaborar consigo ou se abandonava-os caprichosa e aleatoriamente sem investigar se haveriam de colaborar com ele caso suas liberdades fossem reativadas pela graça. Esta distinção é de suma importância pois ainda que tenhamos a primeira opinião em conta de errônea, a segunda apenas - proposta por Agostinho, Fulgêncio e Isidor - fica sendo ímpia, abominável e sacrílega.

Mesmo porque o conceito de presciência ou pre conhecimento das possibilidades dos futuros atos humanos, introduzido por Cesário e Próspero (os quais por isso mesmo deixaram de ser agostinianos ortodoxos para ficar sendo semi agostinianos e com eles a igreja romana) só estava no acesso daqueles poucos que como Eurigena e Rabanus eram versados na lingua grega. Lingua em que Agostinho por exemplo ( E é o Pe Amann que o diz em sua 'Vida de Agostinho') era bem pouco exercitado.

Assim enquanto os de cá apelavam a Crisóstomo ou a Próspero os da predestinação berravam: Agostinho, Fulgêncio, Gregório, Isidor e ninguém se entendia.  Hefele 'História dos Concílios' IV 

Por fim segundo Tritemius o próprio Servatus Lupus, a exemplo de Próspero, teria chegado a conclusão semelhante a de Remígio 

Diante disto foi convocado um novo Sínodo a ser realizado em Querzey -  Hefele 'História dos Concílios' IV - no ano de 853 (tese negada por Maugin) e cujos cânones seguem abaixo:

    • Deus sendo justo e bom retira daquela 'Massa de perdição' segundo o critério do pré conhecimento certo número de seres humanos, concede-lhes sua divina graça e pré dispõem para eles uma vida eterna. Canon I
    • O livre arbítrio que o primeiro homem pelo pecado perdeu, em Jesus Cristo Nosso Senhor o recebemos. Canon II
    • Deus Todo Poderoso deseja a salvação de todos os homens sem exceção. Canon III
    • Deus proveu suficiente remédio a enfermidade de todos. Não é ele culpado se alguns não haverão de beber o remédio ou de aspirarem pela cura. Canon IV cf Th Gousset 1842 Tomo I p 233
Dois anos depois foi convocado o Sínodo de Valência , cujos cânones assim se expressam:

  • Deus tudo sabe e conhece antecipadamente assim as obras dos bons e as operações dos malvados. Ele conhece desde toda eternidade todo bem que os virtuosos farão em posse da sua graça e assim dispõem dos prêmios que receberão. E dos maus também conhece a malícia dos atos pecaminosos futuros e por sua justiça os abandona para que sejam punidos. No entanto não é a presciência de Deus que faz com que se apeguem ao mal, o que alias é impossível. Eles permanecem fixos na maldade pela própria vontade. Canon II
No canon III todavia, por não atinarem com o sentido da palavra Charis renovam os erros de Agostinho e antecedem o dos reformadores recusando-se a concluir que Deus salva, converte e torna livres os remidos tendo em vista seus méritos futuros ou que retira da Massa danada os que haveriam de aspirar pela santidade e por ela lutar em comunhão com a graça de Deus.

De fato eles jamais chegam a conclusão tão pura e simples que, alias, decorre da noção de presciência e por isso foram duramente criticados por Himcmar na grande memória sobre a Predestinação caput XI.

Da qual extraímos este sugestivo testemunho:

"A seita dos predestinacionistas remonta aos tempos de Agostinho.... DEDUZIRAM-NA eles a partir de seus ensinamentos buscando reduzi-los ao absurdo."


Nós no entanto sabemos que tal redução foi feita na verdade pelo erudito Bispo de Eclanum com o objetivo de demonstrar os erros iniciais de Agostinho. No entanto como este não estivesse disposto a corrigir-se acabou por assumir as deduções apresentadas por seu crítico como absolutamente exata. Neste sentido o Agostinianismo foi uma construção dialética e seu remate final encontra-se nos últimos livros escritos contra Juliano...


Outro aspecto curioso da questão é que todos os semi agostinianos ou orangistas a exemplo de Himcmar estavam piamente convencidos de que sustentavam o mesmo ponto de vista que Agostinho ainda que para tanto tivessem de recorrer a obras apócrifas como o Hypomnesticon ou deturpar o sentido natural de suas palavras. Para eles não havia qualquer diferença entre o pensamento do Bispo africano e o de seus defensores gauleses como Próspero, Salviano e Cesário. 


E não se deixavam persuadir pelos agostinianistas fiéis, mesmo quando estes recorriam as obras, expressões e palavras de Agostinho, Fulgêncio ou Isidor declaravam ou que eram falsas ou que estavam sendo mal compreendidas e punham-se a torce-las inconscientemente. Evidentemente que este tipo de crítica exasperava ainda mais os predestinacionistas conduzindo-os verdadeiros acessos de fanatismo, pois eles sabiam que estavam dizendo a verdade e vindicando o autêntica herança do 'Doutor mais excelente da Igreja'.

Até certo ponto a percepção de Himcmar foi bastante acurada. No entanto como Cristão algum - ao menos no Ocidente - era capaz de fazer sombra o Hiponense, teve o metropolita de Reims de permanecer nos limites do semi agostinianismo, mesmo sendo o principial adversário do agostinianismo estrito ou ortodoxo defendido com maior ou menor intensidade por seus colegas Prudênco, Ratramnus, Lupus, etc


Seja como for suas penetrantes críticas a reunião das 'Saponarias' e aos canones de Valença provocaram a reunião de mais um sínodo, congregado em Tuzey, na era de 860.

Aqui a construção teológica apresentada por Himcmar aos padres tem já um sabor escolástico e faz antever as diversas tentativas de diluir ainda mais o semi agostinianismo de Orange II aproximando-o de uma semi pelagianismo levemente mitigado.

"Deus deseja conceder a todos os seres humanos a posse da bem aventurança eterna e não deseja que qualquer deles se perca. Após a queda dos primeiros pais A LIBERDADE NÃO FOI CANCELADA POR COMPLETO. MAS DEUS MANTEVE E SUSTEVE A LIBERDADE ATRAVÉS DA SUA GRAÇA. ASSIM O HOMEM A CONSERVA MESMO APÓS A QUEDA PARA DESEJAR E FAZER O BEM, E NELE PERSISTIR UM LIVRE ARBÍTRIO CONCEDIDO PELA GRAÇA PREVENIENTE... ISTO É UM SOCORRO OU GRAÇA DIVINA PELA QUAL O MUNDO É SALVO E POR ESSE SOCORRO DA LIBERDADE TAMBÉM PODE SER ELE JUSTAMENTE JULGADO...O homem é que abusando de sua liberdade dá as costas a Deus, abandona a Deus, se separa de Deus, e tomba no pecado, e perde o Sumo Bem e retorna a massa da perdição. " Carta sinodal de Tuzey cf Hefele 'História dos Concílios' IV, 231


A tese aqui é mais arrojada e quase que Ortodoxa uma vez que Deus já não de limita a reativar o livre arbítrio de alguns tendo em vista o pré conhecimento de sua futura colaboração. Antes pela manifestação de Cristo no mundo, quiçá por sua Encarnação E EM PREVISÃO DELA, TODOS OS HOMENS I É O GÊNERO HUMANO TEM SUA LIBERDADE RESTAURADA. Assim a graça da livre vontade ou de seu restabelecimento é concedida a todos a humanidade como um todo. Por isso que cada homem pode aceitar ou repudiar a oferta da vida eterna oferecida pelo Evangelho, escolhendo viver no amor e no bem ou viver uma vida viciosa.


A simples ideia de uma reativação prévia e geral da livre vontade pelo sacramento da Encarnação de Cristo chega a ser magistral em comparação com o Agostinianismo ou o Calvinismo pelo simples fato de estar de pleno acordo com a ideia de um Deus verdadeiramente benevolente e justo. 


Enfim após vinte anos de turbações a igreja havia encontrado a paz e santificado uma doutrina menos bárbara e vulgar.

Gotteschalk em articulo mortis, exortado a assinar os decretos de Tuzey e a profissão de fé de Himcmar recusou-se tenazmente. Já Florus o havia descrito como alguém de que julgava infalível... Nem mesmo a sentença que privava-o dos Sacramentos, inclusive do enterro Cristão foi capaz de demover esse homem fanático. Tais coisas sucederam-se pelos idos de 868.

A semelhança dos nossos 'profetas' e lunáticos, e a exemplo do Pr Jurieu, havia Gotteschalk classificado o metropolita de Reims como um anti Cristo e profetizado sua morte para menos de dois anos e meio (isto por volta de 861). Himcmar no entanto só veio a falecer em 887 abençoado por uma idade provecta.

Tal a crônica minuciosa do predestinacionismo galicano no século IX. Seculo em que veio a extinguir-se ao menos por um tempo e a cessar de importunar o gênero humano.



Daí até Wicliff, pelo espaço de meio milênio ocuparam-se os teólogos escolásticos em, a exemplo de Himcmar,  encontrar novas soluções de compromisso entre o semi agostinianismo e o semi pelagianismo esboçando diversos sistemas. Um destes foi o afamado Tomás de Aquino. Outros mantiveram apenas as palavras e assumiram desde então uma perspectiva semi pelagiana sem que os agostinianos radicais ou ortodoxos pudessem molesta-los; assim o grande Erasmo as vésperas da irrupção luterânica, a suprema manifestação do gracismo.