Quando dissemos que após a passagem de Gotteschalk ao mundo espiritual a Igreja pode repousar em paz ao menos por alguns séculos ou ao menos até Wicliff não pretendemos dizer que uma das partes desapareceu e que portanto não mais houveram situações de tensão e conflito ao cabo da baixa Idade Média, mas que os conflitos em questão não chegaram a atingir a intensidade daqueles que haviam estourado nos séculos V e IX pelo simples fato de terem sido fortemente mediados pelo poder papal.
De fato após a morte de Gotteschalk foram seus pressupostos, em totalidade ou em parte, acalentados primeiramente pela assim chamada ordem agostiniana, ordem de origens obscuras mas que chegou a adquirir bastante poder na Hispânia. A partir dos Agostinianos a doutrina predestinacionista infectou ainda no berço a Ordem dos franciscanos cujo entendimento em termos de teologia era absolutamente nulo. Os seguidores do monge Bernardo de Clairvoix e enfim a ordem - não menos mística e intuitiva - de Bertoldo i é o Carmelo. Praticamente todas estas facções identificaram-se em maior ou menos medida com a ideologia predestinacionista ou agostiniana.
Já seus adversários - Dos semi agostinianos aos cripto semi pelagianos - congregaram-se na Ordem dos Dominicanos, a qual foi, de longe a mais preparada daqueles tempos em termos de teologia e cujo principal representante, Aquino, ainda que desculpando-se foi um dos primeiros doutores romanistas e um dos poucos, a discordar de Agostinho neste ou naquele ponto. Não lhe puderam perdoar os agostinolatras e por isso foram suas obras mandadas lançar ao fogo por M Lutero.
Cerca do século XIII e ao cabo de todo século XIV puseram-se a terçar armas Franciscanos e Dominicanos, especialmente em torno da doutrina recém formulada da Imaculada Conceição de Maria, o foco verdadeiro no entanto era a doutrina agostiniana do Pecado Original, da qual a I C de M é pura e simples decorrência. Pouco faltou para que os representantes das duas ordens se excomungassem mutuamente e passassem as vias de fato, exterminando-se uns aos outros.
A cúria romana no entanto acabou chamando as partes a razão, impondo certa medida de silêncio e sobretudo proibindo que ambas as facções empregassem o termo heresia com o objetivo de classificar a opinião da facção rival. De modo que os franciscanos puderam estabelecer 'in partis' o culto da I C de Maria enquanto que os Dominicanos se mantiveram completamente alheios a ele até 1854 quando o papa romano Pio IX tomando partido dos franciscanos publicou a Bulla 'Ineffabilis Deus' .
Foi somente no decorrer do século XIV que a controvérsia em torno da graça e do libre arbítrio estourou novamente, desta vez nas Ilhas Britânicas, impulsionada por Wicliff a respeito de quem, registraria Erasmus dois séculos depois:
"Desde a Era apostólica até nossos dias autor algum ousou condenar a liberdade da vontade exceto os maniqueus e John Wicliff apenas."
Quanto a Huss é absolutamente falso que tenha sido calvinista, predestinacionista ou mesmo agostianiano Ortodoxo; antes parece esposar a tese proposta pelo metropolita Himcmar (vide Artigo anterior)
"Embora o sentido de Hussa seja agostiniano ele NÃO ADMITE UMA GRAÇA IRRESISTÍVEL... Para Huss Deus permite a escolha quanto ao oferecimento e aceitação da sua graça. Por isso a humanidade foi agraciada com o dom do livre arbítrio por Deus e não podem os homens ser compelidos a romper com o mal ou o bem. Para Huss a dignidade do ser humano esta relacionada com o poder da livre vontade. Ele até pareceria pelagiano... caso não admitisse a GRAÇA PREVENIENTE." cf Th A Fudge 'Jan Hus: religious reform and social revolution in Bohemia Ed Tauris 2010 p 61
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