Hiper agia ai partenos Maria, akrantos Mitéra tou Khristos Theos - soson imas!
Batul Lala Marian Wallidat al illah - ʕawnu ni!

Nossos pais e avós foram protestantes, nossos tetravos papistas, as gerações do passado remoto no entanto foram Católicas, apostólicas e ortodoxas, e nós, consagrando todas as forças do intelecto ao estudo da coisas santas e divinas desde a mais tenra idade, reencontramos e resgatamos a fé verdadeira, pura, santa e imaculada dos apóstolos, mártires e padres aos quais foi confiada a palavra divina. E tendo resgatado as raízes históricas de nossa preciosa e vivificante fé não repousaremos por um instante até comunica-la aos que forem dignos, segundo o preceito do Senhor. Esta é a senda da luz e da justiça, lei do amor, da compaixão, da misericórdia e da paz entregue uma única vez aos santos e heróis dos tempos antigos.

João I

João I
O Verbo se fez carne




Hei amigo

Se vc é protestante ou carismático certamente não conhece o canto Ortodoxo entoado pelos Cristãos desde os tempos das catacumbas. Clique abaixo e ouça:

Mantido pelo profo Domingos Pardal Braz:

de pentecostal a ORTODOXO.

Jesus aos apóstolos:

"QUEM VOS OUVE É A MIM QUE OUVE E QUEM VOS REJEITA É A MIM QUE REJEITA."


A CRUZ É UM ESCÂNDALO PARA OS QUE SE PERDEM. MAS PARA OS SANTOS PODER E GLÓRIA DE DEUS.

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quarta-feira, 3 de junho de 2009

A monolatria hebraica


Neste artigo o amigo leitor encontrará os seguintes tópicos:


  • Definição de Henoteísmo
  • A evolução do pensamento religioso israel
  • A tradição patriarcal mantida pelo Reino do Norte
  • Os pré adamitas
  • Povos ignorados pelo Gênesis
  • O perigo da xenofobia
  • Com quem casou Caim?
  • Povos transformados em pessoas.
  • O henoteísmo primitivo dos Salmos
  • Aliança entre reis e profetas
  • A reforma religiosa...
  • A espiritualização do culto judaico
  • O texto capital do henoteismo 
  • Elementos comuns ao paganismo e ao antigo culto israelita
  • O culto prestado pelos patriarcas e reis
  • O discurso de Rabsakes
  • Os macebotehs e efodes.
  • As origens do culto do touro
  • O culto do touro no antigo israel
  • Formas pagãs de javé
  • Os Querubs
  • A montanha de javé
  • A formação do sacerdócio saduceu








"Jefte, filho de Gallad e de uma meretriz, escolhido para capitão da ordem errante, disse aos moabitas:
'Porventura não tens a posse do que te deu a conquistar o teu deus Camos? E nós, por que não possuiríamos tudo aquilo que o Senhor, nosso Deus, expulsou diante de nós?' Jz 11,24
Infere-se destas palavras que os hebreus consideravam Camos como um verdadeiro deus para os moabitas. É certo que acreditavam eles que cada povo tinha seu deus próprio e que o deus mais forte sempre vencia o deus mais fraco nas contendas."
 Voltaire in D H pp 64




PRECÔNIO

protestante: 'henoteistas' que raio vem a ser isto?


ortodoxo: Segundo Max Muller - in "Histoire de la religion." - Henoteismo corresponde a adoração prestada exclusivamente a uma divindade étnica, sem no entanto negar a existência de outras divindades rivais ou postular a existência de uma alma do mundo/espírito universal.


"ESTA FEITO, ADAM É COMO UM DE NÓS, TENDO CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL." Gn 3,22 COMO UM DE NÓS DISSE DEUS! ENTÃO QUANTOS DEUSES HAVIA?" Abreu e Lima, "deus dos judeus e Deus dos Cristãos." 1867, p 35


protestante: Penso que Deus esteja se referindo aos anjos por ele criados.


ortodoxo: Como Deus - sendo tão 'ciumento' e vendo 'defeito até nas suas glórias (anjos)' - poderia associar tais seres a si mesmo? Uma vez que é o Supremo e único Criador e eles - anjos - simples criaturas não vemos como possa associa-los a si sem confundir os mortais e incita-los angelolatria...

Nem vemos como deus tema ser confundido com sua mãe (a Virgem Maria) e não tema ser confundido com os tais anjos...

protestante:...


ortodoxo: Os antigos hebreus jamais negaram a existência de outros deuses embora prestassem culto preferencial ou mesmo exclusivo a seu deus étnico ou Baal: Javé. Por isso as escrituras deles aludem frequentemente aos "deuses das nações" ou ao "deus do lugar.", posteriormente rebaixados a condição de diabos ou de anjos caídos pelos profetas.



Teses: 



01) Os antigos hebreus eram majoritariamente henoteistas ou monolatras.

"Henoteísmo Forma de religião em que se cultua um só Deus, sem se excluir a possibilidade da existência de outros. Usa-se também o termo monolatria para indicar o culto de um só deus, embora se admita, e não se conteste, a existência de deidades rivais." in 'O homem e o sagrado, a religiosidade através dos tempos.'. VVAA, 1998, pg 371

"Henoteísmo (grego heis, hen: um, e theós): Propõe a veneração de um Deus supremo, mas não nega a existência de outros. Parece ter sido durante muito tempo o conceito de Deus do povo hebreu (cf. SI 82(81),1;95(94),3)..." in 'Religião e Cristianismo' por Konings/Zilles orgs. p 64

"Doutrina religiosa segundo a qual existiriam muitos deuses, cabendo a um deles a supremacia ou liderança sobre os demais. O termo foi criado por Max Muller, para quem esta foi a mais antiga expressão religiosa da humanidade." Definição de monolatria ou henoteísmo fornecida por Schlesinger/Porto in 'Crenças, seitas e símbolos religiosos' Paulinas. 1983, pp 184, primeira coluna

"<monolatria> significa que só se adora um deus, sem que a existência de outros seja negada." in 'A fé do Antigo Testamento' por Werner H Schmidt. 2004

"Alguns estudiosos da caminhada histórica de Israel supõem que o clã que veio a tornar-se povo israelita, foi paulatinamente saindo do politeísmo, passando pelo henoteísmo até chegar ao monoteísmo." in 'Psicanalise e religião: Inimigas ou parceiras?' por Waldecir Anacleto. pg57






02) Havia sem embargo entre eles, dois grupos extremistas e rivais: o politeista e o monoteista, este último revindicando para sí o status exclusivo de herdeiro da tradição abraâmica.

Assim sendo as Escrituras Hebraicas devem comportar, e de fato comportam, vestígios ou fragmentos das três tradições: henoteista, politeista e monoteísta, formando um registro bastante heterogêneo..

Abarca o registro do Antigo Testamento três teorias ou opiniões conflitantes a respeito da natureza divina.

Eis o cipoal religioso que pretendemos debastar...


03) O autêntico culto patriarcal e tradição ancestral é representado pelo tipo de religiosidade predominante no reino do Norte ou Israel, em oposição ao reino do Sul ou de Judá e ao culto deuteronomista, embasado nas concepções forjadas pelos profetas e centralizado em torno do templo e clero hierosolimitanos.

Donde israelitismo e judaismo correspondem a dois ideários bem distintos, partindo o segundo do primeiro em termos de evolução.

Implica reconhecer que a aparição ou emergência do monoteismo hebraico corresponde a um fenômeno natural enquanto fruto dum processo histórico de natureza bastante complexa.

04) As reformas de Josafá, Ezequias e Josias (inspiradas pelos adeptos do movimento 'somente javé) não tiveram por escopo - como é frequentemente afirmado - a destruição dum politeísmo /ou duma idolatria infiltrados no âmago do judaísmo devido a ação de causas externas (ou como vulgarmente se diz 'devido a influência dos cananeus).  Esta visão artificial do processo foi deliberadamente forjada pelo clero hierosolimitano com o intuito de justificar suas pretensões.

Recorreram os líderes religiosos a manipulação histórica com intuitos meramente proselitistas e propagandísticos projetando o presente no passado distante e atribuindo suas ideias e conceitos aos patriarcas e antepassados

O verdadeiro objetivo da ação movida pelos 'reis piedosos e tementes a deus' foi justamente a erradicação da religião ancestral ou patriarcal, conservada até o fim pelos israelitas.

Destarte o judaismo só pôde constituir-se da forma como o conhecemos - ou seja identificado com o monoteismo exclusivista e com o espiritualismo descarnado - após o cativeiro babilônico, em meados dos quinto século a C.

05) Disto decorre que a maior parte das acusações tecidas e formuladas pelos sacerdotes hierosolimitanos contra as tribos do Norte e os sacerdotes itinerantes do Reino de Judá (especialmente no livro intitulado 'Crônicas' produzido por um levita hierosolimitano cerca do século quatro a C) - e segundo as quais elas eram apóstatas, politeistas e idólatras - são absolutamente falsas e infundadas. Os israelitas e os sacerdotes itinerantes eram os autênticos representantes da tradição religiosa hebraica, enquanto que os grandes profetas judeus e os reis que costumavam apoia-los com a força do braço secular não passavam de verdadeiros inovadores em matéria religiosa. Donde se infere que o judaismo, ao invés de ter caido prontinho dos céus - como costumam afirmar os fanáticos e obscurantistas contra os quais escrevemos - é simples produto duma evolução religiosa sucedida no plano da natureza em termos de depuração ou de aperfeiçoamento da religião patriarcal/henoteísta.

06) Parte dos israelitas ou das tribos do Norte jamais foi levada para o cativeiro, enquanto que a maior parte dos que haviam sido levados acabou por regressar a terra durante o governo liberal dos persas, sem que no entanto tais permanências e retornos fossem registrados pelos sacerdotes de Jerusalém, cujo principal objetivo era caluniar e detrair os parentes de Samaria e Betel.

Omitiram pois os redatores judaitas toda uma série de eventos importantíssimos sucedidos no Norte - como  os fastos de Omri e de Acab seu filho (vencedor dos assírios em Carcar 853 a C) - fornecendo-nos uma visão parcial e distorcida com o premeditado intuito de satanizar seus primos apresentando-os como rebeldes e cismáticos. Disto resultou uma lacuna ou vácuo irreparável que somente agora tem sido - ao menos em parte - superado graças as explorações e descobertas arqueológicas.

Apesar disto, podemos estar absolutamente certos e convencidos de que tal grupo - que compunham o legítimo Israel e que num determinado momento histórico passaram a ser conhecidos pela alcunha (notadamente pejorativa) pejorativamente designado como samaritano - é que constitui o legítimo herdeiro e representante das antigas tradições do culto patriarcal formadas nos santuários de Betel, Siquem, Silo, Galgala e Ramá.

Convém insistir a respeito de que é o antigo testamento um dos mais antigos testemunhos concernentes a manipulação histórica implementada pelos clérigos - que eram os mesmos escribas e cronistas - desde o surgimento da cultura letrada, com o intuito propagandístico e discriminatório. O que por si só deveria servir de advertência aos tabaréus que sustentam a fábula da inspiração plenária, linear e verbal.

Divinizar a manipulação inescrupulosa e desonesta de fontes e registros históricos não nos parece uma opção compatível com os princípios e valores enunciados por Jesus de Nazaré em seu Evangelho. Perceber tais manipulações, suas causas, recursos e efeitos; e romper decididamente com eles deve ser encarado como um ato de amor face a verdade divina.


07) O ódio votado pelos judeus ou sulistas a seus primos samaritanos - que motivou a confecção de uma série de fábulas com relação a origem deste povo - tem sua razão de ser justamente no fato de que os tais samaritanos eram e são, ainda hoje, um testemunho vivo a respeito das inúmeras alterações porque sucessivamente passaram o culto judaico (em especial com relação a sua centralização em torno do templo de jerusalem) e as próprias escrituras canônicas no decorrer do processo histórico.

Constatação que não pode deixar de depor contra a teoria magico/fetichista segundo a qual tais registros teria baixado diretamente dos céus sob a forma da Massorá, da Lutherbibel, da KVJ u da JFA...





I - Os antigos hebreus eram majoritariamente henoteistas ou monólatras.






"A grande marca da experiência do Deus de Israel é encontrar o caminho para além do henoteísmo e da monolatria até a afirmação de fé de que Deus é Único." in 'Violência e religião: Cristianismo, islamismo e judaísmo...' por Maria Clara Lucchetti Bingemer, 2001. p 65







"Evidentemente que Javé não passava de um deus local. "O deus de Israel".O mandamento: 'Não terás outro deus diante da minha face' não quer dizer que os outros deuses não existam, mas que os israelitas não deveriam reconhecer a autoridade deles.A idéia de que o deus hebreu não era o deus único, e acha implicada nas expressões 'nosso deus' e 'vosso deus' que os antigos hebreus empregavam com o objetivo de distinguir javé dos outros deuses." Herbet Spencer in 'Sociology'





Demasiado fácil para nós é certificar que os antigos judaitas consideravam-se a si mesmos como um povo ou uma raça superior produzida por javé, encarando os demais povos e nações da terra como obras ou criaturas de natureza vil produzidas por seus próprios deuses igualmente inferiores face a javé.

Foi a apologética tardia do período helenístico e mais especialmente ainda a apologética Cristã - ambas forjadas em Alexandria - que identificaram o Javé ancestral dos patriarcas hebreus com o Deus produtor deste universo passando a encarar a narrativa dos primeiros capítulos do Genesis como pertinente a criação do gênero humano ou seja de todos os povos e nações da terra, numa perspectiva católica (universalista), legada por Alexandre, o grande - a revelia de seu mestre Aristóteles - e desenvolvida pelos estóicos sob a égide do Império romano, em especial de Marco Aurélio.

Digam o que disserem os fundamentalistas, o livro do Gênesis não afirma em qualquer de suas partes, que todos os representantes do gênero humano sejam descendentes do mítico Adão, Adoros, Adamatu ou Adapa e de sua consorte Avah.

Passemos portanto a demonstração e certifiquemos que segundo a narrativa genesiana há ramos ou grupos da espécie humana que foram simplesmente postos no limbo, omitidos ou desprezados, porque certamente não haviam sido produzidos pelo vetusto nume israelita...

Queremos dizer com isto que a narrativa dos primeiros capitulos do Genesis supõe necessariamente a existência de grupos ou raças pré adamitas, criados sem sombra de dúvida por outros deuses ou pelos 'deuses das nações'.

Convem assinalar que este padrão de pensamento não era peculiar a teologia israelita encontrando-se disseminado entre quase todas as culturas ante históricas, as quais, mesmo prestando culto a um único deus - o deus tutelar do primitivo clã ou tribo - jamais questionam a existência de outros deuses, criadores das outras tribos... as tribos rivais.

Eis porque os povos selvagens viviam e vivem a lutar uns contra os outros e a exterminar-se mutuamente: pois cada qual acreditava ou crê ser obra ou criação especial de seu deus sem quaisquer laços de parentesco ou de afinidade com aqueles que porventura fossem ou sejam feitura de outros deuses...

Ao contrário do politeísmo - que nivela todos os deuses e povos numa perspectiva cosmopolita e tolerante - o henoteismo está na base de boa parte dos conflitos étnicos e guerras religiosas ocorridos nos primordios da história, fazendo ainda hoje parte efetiva tanto do imaginário sionista quanto das lutas e genocidios prevalescentes em parte do continente negro. 

Também o monoteísmo é perfeitamente capaz de engendrar os mesmos resultados quando estreitamente associado a uma determinada cultura seja ela judaica, árabe, armênia, alemã, inglesa ou Yankee. A ideia totalmente absurda de que o Deus único produtor deste universo relaciona-se de modo especial ou particular com uma dada sociedade/cultura não pode deixar de ser igualmente perigosa e explosiva.

Posteriormente tanto os politeistas quanto os monoteistas naturalizantes e moderados, chegaram a conclusão de que havia um deus único incognoscivel, o qual no entanto, cindiu nosso planeta em centenas de partes ou setores entregando cada uma delas a um 'deus' ou demiurgo ou anjo; o qual fez povoa-la criando o seu próprio povo. Esta visão sincrética atingiu seu máximo desenvolvimento no período helenístico    cujo dinamismo cultural no sentido permuta e de compreensão foi marcante.

Todavia, ao tempo em que o javista e o eloista redigiram suas narrativas, nada se sabia a respeito do tal deus único e incognoscível. Sabia-se apenas que haviam diversos deuses e que um deles, Javé, criara o 'seu povo', o povo hebreu, o povo eleito e seus parentes semitas - ou no máximo as raças brancas que ora subsistem - pertencendo os outros povos ou raças a outras criações anteriores ao aparecimento de Adão e Eva.

Tal assertativa foi suficientemente demonstrada no século XVII por um téologo calvinista de origem judaica, convertido ao romanismo: Isaac Peyrère, o qual teve sorte suficiente para não pagar com a própria vida afirmação tão ousada.

Tome-mo-lo por guia e siga-mo-lo 'pari passu'...

Qualquer pessoa de boa fé, que conheça apenas, tão somente e sobretudo superficialmente, a narrativa dos três primeiros capítulos do Genesis - ignorando por completo os capítulos 6 - 10 - poderia imaginar ou supor que Javé ao criar Adão, criou todos os seres humanos e (por consequência) seus descendentes ficando tudo por isso mesmo... Tal o conhecimento superficial ou aparente...

No entanto, caso confrontemos uma narrativa com a outra, não podemos deixar de chegar as mesmíssimas conclusões que Peyrère.

Já tivemos a oportunidade de salientar - no artigo referente ao dilúvio - que devido aos progresos da geografia e demais ciências naturais os fundamentalistas passaram a sustentar, cavilosamente, que o cataclismo aquoso, ao invés de cobrir toda terra, atingira apenas sua parte habitada (o que a partir de 40.000 a C - quando os primeiros grupos humanos atingiram a Austrália - dá no mesmo, uma vez que todas as partes conhecidas do globo ja se encontravam povoadas seja por animais ou por seres humanos) ou mesmo a mesopotâmia somente!!! (No entanto caso levemos em consideração a concepção hebraica de mundo - quadrado e com massas aquosas por cima e por baixo - a ideia de um dilúvio regional ou limitado apresenta-se como absurda)

Cumpre portanto, antes de mais nada, impugnar esta teoria oportunista e fútil..

Como ponto de partida estabeleçamos uma distinção bastante simples entre o original
caldeu da narrativa - que remonta a 2.500 a C - e a versão hebraica elaborada por volta de 900 a C ou seja, quase dezesseis séculos depois.

É evidente que quando o autor da narrativa sumeriana põe da boca de suas divindades frases como estas:

"Destruirei toda semente da vida por meio do dilúvio..." ou "Farei subir a ele uma semente de tudo quanto tenha vida." ou ainda "eles devastaram a terra..." e outras do mesmo jaez.

só podia ter em mira aquela terra ou aquela humanidade que habitava o perímetro daquele primeiro mapa mundi babilônico, descoberto em 1898 por King e ainda hoje pertencente a coleção do museu britânico.

Segundo este mapa - que muito provavelmente não passa duma cópia de original sumeriano - os límites do mundo habitado seriam estes:

O mar do ocidente ou a terra de Subartu a oeste, a montanha de Nizir a Leste, o Urartu (Armênia e Tauros) ao Norte e a ilha de Dilmoun (Baherin cfme Delitzch) ao Sul.

Esta era a terra ou o mundo habitado para o redator do original sumeriano pertinente ao gigantesco tsumani que entrando pela boca do Tigre e do Eufrates (ou seja partindo do golfo pérsico), teria, com razão, dado cabo de quase toda população autotocne da mesopotâmia, cerca de 3000 a C...

Eis porque o Barco de Noé ou Nuah foi lançado ao pé do monte Nizir:

"Para a terra de Nizir dirigi o navio. A montanha de Nizir deteve o navio, POIS ELE NÃO FOI CAPAZ DE PASSAR POR CIMA DELA."

Posteriormente - conforme a noção de mundo foi  sendo ampliada - a narrativa teve de ser revista. Eis porque o Nizir passou a ser identificado com o gigantesco Urartu ou Ararat, já pelas fontes de Berósio - na  'Babiloniaká' - já pelo redator hebreu (para significar que uma região muito maior que a Mesopotâmia - ora encarada como simples parte do mundo habitado - teria sido inundada). 

Portanto a primitiva narração do 'mabul' foi revista e ampliada numa perspectiva mundializante e totalizante.

Que o Nizir original não corresponda ao Ararat bíblico, temos prova inequivoca - contra todos os que sustentam por motivos escusos a fábula do Ararat - na seguinte inscrição de Assaradon:

"Eis que parti da cidade de Kalzu, atravessei o Zab inferior e entrei no pais da vizinhança imediata da cidade de Babilônia, seguindo por Batibira, entrei no pais de Nizir, que se chama também Sullu Kimippa e cuja principal cidade é Bunasi, capital da provincia de Murasin... e juncou de cadaveres a montanha de Nizir..."Pelo que conclui acertadamente o Dr Campos Novaes: "Portanto a montanha junto a qual aportou Hasishatra (Utu napshitin / Ziusudra) é o monte Roz wandiz, o qual difere por completo do Ararat bíblico." in As origens chaldeanas do judaismo pp 357

O referido monte, hoje chamado Elwend, fica a leste, no atual Iran, província de Kuzeistan (antigo Elam), cerca da antiga Susa e da moderna Hamadan, na rota dos Baktiari. Foi em suas cercanias que o Noé sumeriano veio a aportar após o pavoroso tsunami.

Já o autor do Genesis bem como Berósio e suas fontes, propondo o Ararat ou Urartou como ponto de parada da arca (e enfatizando que ela aportou em seu topo) supõe necessáriamente numa inundação universal, isto se levamos em conta seus 5.165 m de altura (!!!). Afinal nenhuma cheia seja do Tigre ou do Eufrates seria capaz de cobri-lo...
.
"Admita-se que o mundo inteiro não era já habitado, nem mesmo por animais; para que a porção de terra já habitada tivesse os cumes de tais montanhas (como o Roz wandis e o Ararat) fossem cobertas por mais de sete metros de altura (três côvados) era necessário, segundo a lei da gravidade, que as águas se espalhassem por todo mundo na mesma proporção. Donde se infere que toda terra foi coberta, logo que o Everest também deve ter sido coberto..." Shalders 44

Devemos admitir, por consequência, que após a grande inundação - segundo a ótica israelita ou vetero testamentária - pereceram todos os filhos de Adão, seja por linhagem de Caim ou de Seth, a excessão de Noé e que a terra foi repovoada, exclusivamente por seus três filhos varões: Sem, Cam e Jafet e por suas respectivas proles (Todos os fundamentalistas concordam com esta última parte da assertativa... segundo a qual Noé, o único sobrevivente, veio a ser um segundo Adão).

Proles de que temos a 'árvore' traçada em Gen X.

E no entanto a tal árvore genealógica - que nossos fundamentalistas teem por conta de inspirada - está incompleta posto que omite diversas raças ou troncos da espécie humana dentre os quais: os indigênas americanos e os povos amarelos.

Diante de tal 'lacuna' os fundamentalistas costumam alegar que : "O texto não faz alusão a tais povos porque a existência deles era ignorada pelo povo judeu."

Como se justamente eles - dentre os quais o Pr Alvaro Reis, que no frontispício de sua obra 'Origens Chaldaicas da Bíblia' ousa aplicar as palavras (FALSIFICADAS POR SINAL!!!) de I Pe 1,24 ao Pentateuco - não sustentassem conter o Velho Testamento diversos tipos de conhecimentos ultimamente redescobertos pela ciência contemporânea (cf Harry Rimmer 'A ciência moderna e as escrituras sagradas' 1950), deduzindo - de tais afirmações gratuitas - que todas as suas partes foram escritas por Deus, que Deus é seu autor principal e que cada um de seus termos corresponde a sapiência do próprio Espírito Santo!!! 

Diante disto somos autorizados a perguntar aos fundamentalistas com que propósito aludem ao conhecimento ou a ignorância dos antigos judeus?

Quer dizer que quando os judeus dissertam tola e fatuamente sobre o surgimento do universo, é o Espírito Santo, mas quando o Espírito Santo evidencia ignorar diversas raças e troncos da espécie humana isto se deve a ignorância dos judeus, que não estavam em contato com tais povos...

Ignorância do espírito santo, Malafeia...


Admitindo que o autor do livro seja o próprio Deus, estamos autorizados a perguntar porque o Ente Supremo e perfeito não brindou seus leitores com uma lista completa dos descendentes de Noé, omitindo tantas e tantas raças e povos, justamente aqueles que eram ignorados por seus redatores os sacerdotes hebreus?

Acaso existe algo que seja ignorado por Deus ou por seu Espírito?

Seria ignorância de Deus ou dos sacerdotes provincianos da antiga judéia?

Francamente, Deus bem que poderia ter composto uma lista melhor com um elenco mais completo a exemplo dum Bory de Saint Vicent ou dum Louis Figuier que eram simples mortais.

O mais grave no entanto é que a tal listagem - do capítulo X - exclui não apenas povos e nações ignorados pelos antigos hebreus, mas também povos e raças bastante conhecidos por eles como por exemplo, A RAÇA NEGRA.

Que os hebreus tenham tido conhecimento da raça negra é indubitável se é que algum dia puzeram seus pés na terra do Egito - como asseveram todos os fundamentalistas e sectários do mundo - terra em que os 'nehesi' eram abundantes. 





Basta citarmos, a guiza de prova, um dos painéis fixados no templo de Amon por Meremptah, no qual se vê perfeitamente discriminadas as quatro raças humanas conhecidas pelos antigos Egipcios, a saber: a sua própria, a semítica ou dos povos de deserto, a dos negros e a dos brancos ou caucasianos.

Quanto a evidência bíblica é sabido que o próprio Faraó Taharka - citado na mikra - era negro, bem como o escravo que retirou o profeta Jeremias da cisterna.

E no entanto a raça negra não é, e nem poderia ser - pois dilúvio algum jamais atingiu a Àfrica - citada na referida lista do gênesis

De duas uma:


  • O dilúvio não atingiu a Àfrica e não exterminou todos os descendentes de Adão. (neste caso os negros passam sempre por cainitas como sustentam dentre outros fanáticos os SUD)... então bau, bau dilúvio universal...
  •  Ou o diluvio exterminou todos os descendentes de Adão, logo, os negros, não alistados na ascendencia de Noé, são pré Adamitas ou criações de outros deuses

Neste caso como teriam (os negros e as demais raças não adâmicas) escapado a um dilúvio universal? (Pois do contrário teriam de ser recriados por javé ou pelos deuses após o fim da enchente, recriação a respeito da qual a Escritura nada diz)

Os rabinos, padres da igreja e pensadores pagãos da antiguidade, sugeriram que cada deus, anjo ou arconte tenha salvo um casal de sua área ou região, daí as narrativas a respeito de Ogiges, Foroneus, Deucalião, etc Ou que os representantes dos outros povos e nações tenha se salvado por pura sorte. Embora outros postulem inundações diferentes de cárater cíclico...

Tanto uma quanto outras especulações são ociosas, pois o redator do livro só esta interessado no destino dos descendentes de Adão, imagem e semelhança de Eloim (daí o 'Nossa imagem e semelhança' dizer respeito aos deuses). Pois de Adão, por Noé e Abraão, procedem os israelitas... O destino dos outros povos criados pelos outros deuses não importa.

De um modo ou de outro os negros sempre foram espinafrados pelas escrituras hebraicas e seus comentaristas: pois ou são pré adamitas (e neste caso não possuem qualquer laço sanguineo conosco), ou cainitas (neste caso arquisatanistas) - que escaparam do dilúvio por acaso - ou, na melhor das hipóteses (falsificada alias) camitas, cananitas ou kushitas, quase sempre degenerados, amaldiçoados, excomungados, etc

E depois ainda dizem que a tal da Bíblia não fornece bases ao racismo e para o preconceito!

Todavia basta folhearmos qualquer apologia ao racismo composta por algum teólogo protestante e yanke, para nos depararmos com tais aberrações e monstruosidades...

Analisemos pois, tanto mais de perto, a derradeira hipótese dos sofistas religiosos, com relação aos filhos de Noé e a raça negra.

Conforme já foi dito parte deles afirma que Cã, o segundo filho do Deucalião hebreu, teria sido o pai da raça Negra.

São os teólogos que fazem tal afirmação - com o intuito de lançar poeira nos olhos dos tontos - não a escritura judaica...

Afinal como - a escritura - poderia faze-lo se Sem e Jafet - Jápeto, pai de Javan , pai de elisa ... Khetin e Dorani - são indigitados como brancos? Poderiam ser brancos os irmãos 'das pontas' e negro o irmão do meio?

Temos porém, em nossas mãos, a lista dos filhos de Cã:

"Kush, Misrain, Futh e Canaã foram seus filhos."
Donde se segue que K, M, F e C eram negros, admitindo-se que Cã fosse negro.

Indaguemos pois os mesmos teólogos, os filologos e etnologos a respeito deles.

Começando por Misraim.

Sob a alcunha de 'misraim' costumavam os hebreus - tal e qual os árabes hoje - designar aos habitantes do Egito, os quais, embora fossem em parte misturados com povos de sangue negro, eram preponderantemente brancos em seus traços mais caracteristicos, a ponto de distinguirem-se a si mesmos dos já referidos nehesis, ou negros, os quais pareciam depreciar.

O terceiro irmão chamava-se Futh sendo identificado geralmente com os primitivos habitantes da Líbia, igualmente brancos ou acobreados mas em sua maioria representantes do grupo mediterrâneo.

O derradeiro irmão - anatematizado em lugar do Pai - é Canaã, antepassado dos primitivos cananeus, os quais tampouco eram negros ou de ascendência africana.

Posto está que a única saída para os mistificadores religiosos encaixarem os negros na lista de Genesis X, é suster que correspondem a Kush - primogênito do branco Cã - o qual no caso fica sendo o ancestral mais remoto deles.

Vejamos porém, segundo os lexicografos protestantes, quem era este Kush para os hagiografos hebreus.





"Tal nome designava aos etíopes." afirma lallave - em seu Dicionário Biblico, Tomo I, in Loc - sendo corroborado por Davis e pela afamada Bíblia da Jerusalem, isto para sermos suscintos. (o próprio faraó Taharka é designado como Kushita pelo cronista)

Kush por sinal, corresponde exatamente ao termo grego 'Aethy ops' ou seja rosto queimado.

Os egipcios empregavam o equivalente Kash - o qual jamais confundiam com nehesi - e os próprios etiopes conservam a forma Kish em gees que é sua lingua sagrada.

Caso os fundamentalistas não se contentem com isto, temos ainda a nossa disposição, a lista dos filhos de Kush, os quais - partindo do principio de que ele Kush era um negro - deverão comportar necessariamente traços negróides.

"Kush engendrou - dizem os livros dos judeus - Sabá, Havilá, Sabata, Reegma e Sabteca."

Por Sabá devemos compreender o atual Yemen ou a antiga árabia Felix, donde afirmavam os hebreus saiu a rainha de Sabá.


Por Havilá - citada igualmente em Gn 2,11 - designa a região arenosa que vai do Oeste da Palestina ao Eufrates, isto segundo o testemunho do próprio hagiografo (em I Sm 15,7)


Por Sabata designa certamente o ja citado Subartu, mais tarde Suwra, hoje Síria.


Por Regma ou Raamah designam as fontes, a parte Leste da peninsula arábica, logo abaixo de Havilá.

E não poderia ser doutro modo, pois sob a alcunha de Dedã, seu filho, os hebreus designavam justamente os árabes nômades daquelas paragens.

Posto está que nenhum destes nomes ou regiões tem qualquer ligação com os negros ou com o continente africano.





Registram ainda os livros dos judeus que Kush gerou ao afamado Ninrod, o qual segundo Schomkel - in "El pais de los sumeros" pp 180 - corresponde a Ninurta " o deus (Sumerio) da caça e da guerra", mais tarde hipostasiado com o igualmente caçador e domador de feras Gilgamesh/Izdubar.

Ora nem Ninurta era divindade africana, nem Gilgamesh reinou sob qualquer cidade do continente negro - o épico que trás seu nome apresenta-o como rei de Uruk - sendo ambos os dois personagens sumerianos.

Os sumerianos por sua vez, se bem que se referissem a sí mesmos como 'cabeças negras' - devido a seus cabelos escuros, indício claro e seguro de sua origem asiânica - não apresentavam quaisquer traços negróides.

Como pois afirmar que o nome de Kush designa aos negros, se as escavações arqueologicas, levadas a cabo em todo o Oriente - teem deixado bem claro que tais paragens - Síria, Árabia e Mesopotâmia - foram primitivamente ocupadas por populações procedentes do centro da Ásia ou seja das estepes?




Damos pois por estabelecido que Cã sendo filho de um homem branco e irmão de homens brancos não poderia ter nascido negro exceto por obra e graça do Espírito santo, o que, sem embargo, não é corroborado pelo livro.

Tampouco seu filho Canaã - filho, neto e sobrinho de brancos - poderia ter nascido negro o que é rigorosamente confirmado pela pesquisa histórica, afinal a terra de Canaã, até onde se sabe jamais recebeu correntes migratórias procedentes da África.

Diga-se o mesmo de Kush, povoador da Síria, da Àrabia e da Suméria.

É de todo inutil a tentativa de alguns sábios de fancaria, que pretendem estender ao máximo a cronologia bíblica ou mesmo negar que haja uma tal cronologia, com o simples intuíto de insinuar que as raças negra e amarela formaram-se mais tarde devido a alterações causadas, já pelo clima, já pela alimentação. Afinal de contas, sabemos muito bem, que tais alterações, não se dão em alguns milhares (10.000) de anos, exigindo o concurso de dezenas e dezenas de milhares de anos para se completarem...

Acaso pretenderão nossos fundamentalistas que seu dilúvio ocorreu há mais de quinze ou de vinte mil anos, no mínimo?

Neste caso como explicariam a conservação dos registros durante os dez ou quinze mil anos que precederam a invenção da escrita? Com mais milagres???

Acaso ignoram os estudos de Mircea Eliade segundo os quais o curso de quatro gerações (cerca de cem anos) numa situação de oralidade, é mais do que suficiente para engendrar fábulas e mitos?

Por outro lado recorrer a 'mutação' ou a adaptação ambiental para justificar o escurecimento da pele de Cã ou de seus descendentes no decorrer de alguns poucos séculos, bem como o aparecimento da raça mongólica, é rejeitar a fábula do fixismo e fazer petição ao evolucionismo dando por exata a explicação oferecida pelos cientistas e biólogos, aplicada a um limite de temporalidade insuficiente. Novas espécies poderiam aparacer como de fato apareceram no decorrer de dezenas de milhões de anos... mas não novas raças - negra e mongólica - em parcos 10.000 anos... 

Duas mutações concernentes a tonalidade de pele? Melhor postular mais duas intervenções divinas ou milagres, cuja lista, fornecida pelos sectários deve chegar a milhares de milhares...

Consideremos agora que se o hagiógrafo fez questão de mencionar os Egipcios, Etiopes e Líbios em sua árvore, foi justamente porque tais paragens do Nordeste da África começaram a ser, numa escala cada vez maior, ocupadas por povos nômades de origem semita e aparentados com os hebreus, os quais forneceram-lhes alguma notícia sobre os habitantes de tais paragens.

Para nos atermos ao Egito e ao povo que ali habitava é admitido por Drioton e Vandier em obra já clássica, que durante o período ante histórico, o Delta principiara já a ser ocupado por elementos de origem semítica, os quais acabaram por misturar-se com os autotocnes dando origem a cultura local. Por outro lado tal fluxo migratório jamais esgotou-se de todo - as amenas paisagens do Delta do Nilo atraiam o imaginário dos nômades do deserto como assinalou Ibn Khaldum nos 'Prologomenos' - vindo mesmo a aumentar a partir do médio império até culminar com a invasão dos hiksos, grupo em parte indo europeu, em parte semita que veio a ocupar o país cerca de 1750/1700 a C.

Chegamos pois a uma necessária e indubitável conclusão: não há qualquer menção aos negros ou africanos na árvore geneológica de Gn X embora seja igualmente certo que durante o cativeiro na terra do Egito ou durante as excursões Salomônicas a Ofir - Há quem sugira, e não sem certa verossimilhança, que as minas do Rei Salomão correspondem as ruinas de Zimbabwe (cf Schreiber "Ruinas célebres" pp 162 sgs - os hebreus tomaram conhecimento sobre a existência de tais grupos, somos levados a admitir que tal grupo foi propositalmente omitido pelos redatores de seus livros sagrados dando vezo a toda uma série de malsinadas acomodações e de atitudes racistas para com ele.

Por outro lado - caso admitamos a inspiração plenária de tais livros - devemos admitir igualmente que o deus hebraico não se importava nem um pouco com os selvícolas das Américas, os indianos ou os habitantes do poderoso Império Chinês... estes por sinal, regeitam a inspiração de tais registros justamente por terem sido omitidos por seus redatores, omissão incompreenssivel da parte de Deus, tendo em vista a superioridade númerica de tais povos face as tribos israeliticas e mesmo face aos demais povos ocidentais. Teria Deus se esquecido dos povos ou raças que criou???

Admitir - segundo a perspectiva Cristã - que tais povos também são chamados a graça de Cristo, ao Batismo, a comunhão da Igreja, a salvação e a ressurreição da carne... só serve para ilustrar ainda mais a imperfeição dos registros hebraicos, em tudo semelhantes aos registros dos outros povos no que contem de humano e no que contem de elevado.

Inferimos pois, desta demonstração, que os primitivos hebreus admitiam, sem maiores problemas e dificuldades, que outras raças ou povos - como os negros, indianos ou chineses - haviam sido criados e salvos ou conservados por seus deuses enquando que eles e seus parentes mais próximos haviam sido criado, salvos e conservados por javé.

Prova disto é que o tão aclamado profeta Miquéias assim se exprime, com relação aos povos que haveriam de subir ao monte santo no 'dia de Javé' (4,1):

"Porque todos os povos, da sua parte, MARCHARÃO CADA UM EM NOME DE SEU DEUS, MAS NÓS DE NOSSA PARTE, MARCHAREMOS EM NOME DE JAVÉ, NOSSO DEUS POR TODO SEMPRE, ETERNAMENTE." 4,5

Quer dizer, mesmo após a dispensação de javé - sua teofânia universal - ter se completado, os não judeus, continuariam a adorar seus deuses, os quais, na compreenção do profeta eram entidades absolutamente reais e de cuja existência ele não parecia duvidar.

Posteriormente tais entidades viriam a ser convertidas em anjos e em diabos como haveremos de expor em nossa obra sobre a 'Inexistência do Diabo e dos demônios'.

Diante de tais fatos cabe uma derradeira pergunta: Existe alguma base para tal afirmação - sobre a existência de pré adâmitas - no corpo mesmo das escrituras?



DA EXISTÊNCIA DOS PRÉ ADAMITAS CERTIFICADA PELO LIVRO DO GÊNESIS




Eis como demonstramos a existência de tais criações, anteriores a adâmica por meio do próprio Gênesis:


  • O primogênito de Adão, Caim, parece ter sido concebido pouco tempo depois do pecado ancestral, pois tal narrativa - de seu nascimento (Gen 4,1) - sucede imediatamente a narrativa concernente ao pecado ancestral e sua punição. (3,24)

  • Depois de Caim é que foi concebido Abel.

  • Não sabemos quando Abel foi concebido e tampouco quão mais jovem era relação a seu irmão Caim.

  • Sabemos no entanto que quando Seth veio a luz - contando Adão com 130 anos - Abel já havia sido assassinado, pois "Eva sua mãe fez chama-lo Seth, pois disse: "ele me foi dado no lugar de Abel." 4,25

  • Donde se infere que até os 130 anos Adão havia gerado apenas tres rebentos: Caim, Abel e seu substituto Seth.

  • E já sabemos porque a menção aos outros filhos e filhas aparece somente após a notícia do nascimento de Seth: porque nenhum dos filhos e filhas gerados por Adão e Eva precedeu Seth (do contrário tal predecessor e não Seth receberia a alcunha de substituto)

  • Donde se infere que todos os filhos e filhas de Adão e Eva sendo mais jovens do que Seth, vieram ao mundo algum tempo depois da morte de Abel e certamente no local em que a família encontrava-se radicada.

  • Em genêsis 4,17 porém, depara-mo-nos com a informação de que Caim, tendo se retirado para uma outra região, chamada terra de Nod, encontrou-a já habitada, vindo a desposar uma mulher e a engendrar gerações sucessivas até o tempo em que seu irmão Seth veio a luz...

  • Pois o nascimento de Seth e de seu filho Enós é relatado justamente durante a sétima geração de Caim. Devemos pois convir que Seth tenha vindo a luz durante a sexta ou sétima geração de Caim, donde Caim teria cerca de 120 anos quando do nascimento de Seth, tendo sido concebido no mais tardar cerca de 10 anos após a defecção de seus pais ou mesmo antes, mas não depois.

  • Cumpre portanto perguntar sobre qual a proveniência da esposa de Caim e daqueles que auxiliaram-no a construir uma cidade inteira a qual poz o nome de Henóquia. Elevada a segunda potência de sete teríamos 128 pessoas, admitida a poligamia 250 no máximo, subtraindo enfermos mulheres e crianças, uns 120 homens adultos... devia ser uma megalópole... coisa dumas 30 casas divididas em duas alamedas por uma única rua rsrsrsrsrs

  • Espertos como são os pastores via de regra, fazem observar que Caim veio a desposar uma de suas irmãs,  já que Adão e Eva geraram 'filhos e filhas' 5,4

  • As escrituras no entanto situam o nascimento de tais filhos e filhas após o nascimento de Seth e não antes. Acontece que Caim já havia matado seu irmão, migrado para Nod, casado, gerado filhos e construido uma cidade... algum tempo antes do nascimento de seu terceiro irmão Seth (ou seja no decurso de um século), o qual por sua vez precedeu no tempo a todos os outros filhos e filhas... donde nem os irmãos, nem as irmãs de Caim haviam sido gerados quando este cometeu seu crime, fugiu, casou-se e engendrou filhos...

  • É justamente por isto que se diz que Deus fez por um sinal sobre Caim para que pudesse ser reconhecido e não ser morto (4,15)... porque foi viver entre estranhos.
    Ou dirão os pastores que Caim precisava de sinal para ser reconhecido por sua própria família, ou seja, por seus pais - a menos que estivessem esclerosados - e seus próprios irmãos???
    Em Nod ninguém conhecia a Caim porque não pertenciam a sua parentela e a criação adâmica.
    Do contrário milagre e sinal inúteis...

  • Toda esta exposição respeita a naturalidade com que a sucessão dos fatos - ou seja a cronologia bíblica, que segundo asseveram os sectários é rigorosamente exata e divina - é apresentada pela própria escritura, a exposição contrária, subverte e altera a natureza da narrativa na medida em que situa os filhos e filhas anônimos antes de Seth - que foi o terceiro em substituição a Abel - e disto sacamos porque Caim precisava de um sinal para ser reconhecido em Nod.
    Nós seguimos a ordem do texto: Adão; Caim; Abel; Casamento e filhos de Caim; cidade; TERCEIRO FILHO DE ADÃO E EVA: SETH; demais filhos e demais filhas...


Conclusão: A terra de Nod, a que foi ter Caim, era habitada, não por qualquer irmã sua, que lá vivesse segregada da família, isolada e só, mas por gente de natureza estranha e origem diversa. Seriam os negros ou os asiáticos? Não sabemos...

Como tais povos escaparam ao dilúvio universal? Pela preservação de um único casal, salvo por obra e graça do deus daquela região.


APÊNDICE


"Lê-se em Gn 10 que Cam teve diversos filhos, dois dos quais foram chamados Egito (que os tradutores desonestos convservam na forma original MSR ou Misraim com o intuito de enganar os leitores mais ingênuos) e Canaã. Mais a frente lemos que Canaã teve um filho que se chamou Sidon, seu primogênito. Como se explica o fato de países e cidades serem apresentados como seres humanos em termos de pais e filhos???

Nós também, de vez em quando, falamos de países como se  fossem pessoas, dizemos por exemplo que a Inglaterra tomou esta ou aquela iniciativa ou que a França é a favor disto ou daquilo...

Um daqueles filhos chamava-se javan ou ion. São os jônios dos nossos manuais de história universal.

O grupo de nações que ficava ao sudoeste de Israel chamou-se Cam, com os costumeiros filhos. O Egito, por exemplo, o Egito do Nilo, era 'filho' de Cam, do mesmo modo a Etiópia, mais ao Sul, em hebraico Kush....

Por sua vez a terra de Canaã em diversas cidades, cada uma com seu respectivo território. Na costa encontrava-se a cidade de Sidon... daí a frase 'Canaã gerou Sidon, seu primogênito." Cyro de Moraes Campos in 'História do judaismo antigo' p 50 sg


Que Misraim corresponda a Egito nos dialetos dos povos semitas testificam as inscrições cuneiformes encontradas em Ninive e noutras cidades assírias nas quais o Egito é designado por terra de Musri ou de Misir, bem como o próprio nome dado ao país pelos conquistadores árabes Mirs.

Elisa são os eólicos e Doranim os Dórios, os quais juntamente com os jônios constituem a matriz da Hélade.

Assur corresponde ao deus supremo da Assíria ou a própria Assíria cujas principais cidades eram Ninive, Calá e Calchu.

Kaftor corresponde ao Egípcio Kftiu que designa a ilha de Creta.

Elam corresponde ao reino dos elamitas cuja capital era Susa e Aram ao reino da Síria cuja capital era Damasco.

Somente um completo ignorante em matéria de História seria capaz de afirmar que Egito, Canaã, Sidon, Jônios, Dórios, Eolicos, Assur, Kaftor, Elam e Aram foram pessoas ou seres humanos uma vez que alguns destes impérios e reinos como Egito, Creta e Elam, remontam a mil e quinhentos anos antes de Abraão, a mil e setecentos anos antes de Israel e a mais de dois mil anos antes dos registros hebraicos. Período de tempo mais do que suficiente para situar a origem de tais povos e nações para bem além dos horizontes do redator hebreu. (mesmo Charles Marston reconheceu e admitiu que nenhum dos relatos contidos no gênese concernente a eventos situados para além de 2000 a C pode ser considerado histórico.)

O qual por isso mesmo limitou-se a apresentar países e nações como pessoas dando por certo que todo nome de nação ou país esta relacionado com o nome de seu suposto fundador.

Aqui Braghine no 'Enigma da Atlântida' (Pongetti):

"Sendo inadmissível que em tão pouco tempo pudesse a descendência de Ismael atingir semelhantes proporções, somos forçados a supor que se trata de um fenômeno bem conhecido dos folcloristas, QUE FAZ QUE SE DÊ O NOME COLETIVO DE UMA TRIBO A FIGURA LEGENDÁRIA DE SEU FUNDADOR." p 225






II - Havia sem embargo entre eles, dois grupos extremistas e rivais: o politeísta e o monoteísta, este revindicando para sí o status de herdeiro da tradição abraâmica ou melhor dizendo, mosaica.






É somente a luz do henoteismo acima descrito que podemos compreender, as repetidas alusões da escritura hebraica ao politeísmo e a idolatria.


"Durante todo este período que vai da conquista de Canaã - iniciada em 1400 a C - a geração de Isaías - cerca de 740 a C - os israelitas adoravam preferencialmente a Baal Berit ou javé sem no entanto negar a existência das divindades gentílicas. 
E como a teoria fetichista das intervenções divinas, sempre deixa a desejar em termos de eficiência, quando javé não lhes concedia facilmente o que pediam, acorriam os hapiru em massa aos altares de Astarte...
E de Astarte corriam a Javé, logo que se sucedia algo de errado isto é alguma catastrofe natural sempre interpretada com um castigo do 'deus zeloso' que pune até a quarta geração.... e passado o perigo do castigo passavam a Renfão, conforme suas necessidades levavam-nos a suplicar um novo favor... e depois assustados tornavam ao ciumento e iracundo nume... No fim das contas pouco se lhes dava que deus fosse Javé, Baal, Melkart, Kemosh ou Apis desde de que satisfizesse seus pedidos... era tudo uma farra ou ciranda de deuses e milagres.
A religiosidade dos antigos israelitas era idêntica a dos demais povos contemporâneos seus, essencialmente pragmática e imediatista." in 'O patriteismo'

Todavia, quando dizemos correr, não queremos dizer que precisavam correr muito como em nossa 'São Silvestre'.

Pois o primitivo templo de Salomão - inspirado nos templos dos Egipcios e Fenicios - mais parecia uma catedral romanista do que um lugar de culto calvinista, ao menos até a reforma iconoclástica de Josias.

Ocorrem-me a Caaba antes de Maomé e o Panteão romano em seus dias de suprema glória nos quais albergava todas as divindades do imenso império.

Acompanhemos o profeta Ezequiel em sua excursão pelo recinto sagrado e já veremos que no próprio pátio que cercava o tabernáculo ou o escabelo propriamente dito de Javé, havia espaço suficiente para os oratórios, bétilos e imagens votivas de Shamash, Tammuz, Ischtar e outras divindades gentilicas frequentemente reverenciadas pelo povo:

"A entrada da porta do Norte havia um idolo que provocava ciume ao Senhor (esta é boa, o deus dos judeus sentia ciume dum boneco de pedra!!!)... Aproxima-te, diz ele, e contempla as horríveis abominações a que se entregam aqui.
Fui até ali para olhar: enxerguei aí toda espécie de imagens de répteis e de animais imundos e, pintados em volta da parede, todos os ídolos da casa de Israel."
 Ez 8,3 e 9





Junto ao outro lado da mesma porta havia uma cruz dedicada a Tammouz junto a qual as mulheres costumavam lamentar e chorar enquanto aguardavam a ressurreição do mítico personagem: "Eis que ví a trave dedicada a Tammouz." exclama o vidente horrorizado... 

Não menos interesante, do ponto de vista politeista, é o dialogo entabolado entre o grande profeta Jeremias e as mulheres judias em Tafnés na terra do Egito:

"Então, todos os homens, cientes de que suas mulheres ofereciam incenso aos deuses estranhos, todas as mulheres em grande número lá reunidas e todo o povo residente em Faturés, no Egito, responderam a Jeremias:
O que nos dizes em nome do Senhor não o aceitamos.
Cumpriremos, porém, todas as promessas que fizemos de queimar incenso à rainha do céu e de lhe oferecer libações, como o fazíamos, nós e nossos pais, nossos reis e chefes, nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém. Então, tínhamos pão em fartura, vivíamos na abundância e não sabíamos o que fosse a desgraça.
Ora, depois que cessamos de queimar incenso à rainha do céu e de lhe oferecer libações, tudo nos falta, e perecemos pela espada e pela fome.
Além disso, quando queimamos incenso à rainha do céu e lhe oferecemos libações, é, porventura, sem o consentimento de nossos maridos que ofertamos torta à sua efígie e lhe rendemos libações?"
 Jr 44,15

Certamente que tais mulheres aludiram ao rei Salomão, construtor do templo de Javé em Jerusalem, o qual, sem embargo, não havia julgado mal adicionar algumas capelinhas laterais ao sacro edificio, para que suas reais esposas e concubinas  - em especial a filha o Faraó - pudessem reverenciar seus próprios deuses, a cujos cultos ele certamente acompanhava-as, quiçá tomando parte ativa... 

Destarte o mesmo Javé - que sequer se importara com o assassinato de Adonias - mostra-se injuriado... vá lá que Salomão assassinasse e que adulterasse com milhares de mulheres desde que cultuasse apenas a ele, Javé, o deus zeloso e partidário do compadrio...

Crimes e pecados não atiçam sua ira, desde que seja devotamente servido e reverenciado pelos criminosos.

Adorem-me e façam tudo quanto quiserem é a deletéria mensagem implicitamente contida em tais registros.

Aqui não há sombra de ética ou de princípios e valores elevados e saudáveis, apenas barganha em termos do mais grosseiro fideismo.

Quão longe estamos do Deus descrito por Jesus Cristo que deseja ser cultuado na santidade!!!

E após ele - o grande rei Salomão, cuja glória impressionara 'o mundo' - todos os reis de Judá e Israel, pretendiam contentar a todos os súditos fossem eles javistas ou politeistas...

A começar por Maaca filha de Absalão, NETA DE DAVID e matriz da casa real de Judá que fez plantar um bosque sagrado e mandou erguer um poste de adoração. Em vista do que o piedoso Asa, seu neto, privou-a das honras reais.

"Nem admira - refere J C Rodrigues in opus cit, pp 101 - que um dos sucessores de Salomão, Acaz, tendo contemplado em Damasco, UM LINDO ALTAR ASSÍRIO, tivesse ordenado a substituição do velho altar de bronze por este novo môdelo."(A legislação mosaica mesma - ignorada ou burlada por Salomão com a complascência de Javé. Afinal esta dito que Javé tomou posse deste templo - PROIBIA TERMINANTEMENTE A CONSTRUÇÃO DE ALTARES DE BRONZE, DETERMINANDO QUE TODOS OS ALTARES FOSSE FEITOS COM PEDRA OU TERRA!!! E SEM DEGRÁUS)

Falta dizer que juntamente com o altar, foi Assur, seu proprietário, entronizado ao lado de javé...

Daí as continuas queixas e reproches dos profetas, as quais fazem eco as seguintes palavras de S. Estevão: 


"Aceitastes a tenda de Moloc e a estrela do vosso deus Renfão, figuras que vós fizestes para adorá-las!" At 7,43


Outra evidência de que adoravam simultaneamente a Javé e ao deus da terra (o Baal local) ou que encaravam javé como um Baal qualquer são, segundo José Carlos Rodrigues, os duplos nomes, concernentes a diversas personagens citadas no Velho Testamento, um dos quais corresponde a Baal e outro dos quais corresponde a Javé. Tal o Meribaal - Mephibosheth e o Jerobaal - Gedeão (Jz 7,1) dentre outros... (havia até mesmo uma cidade chamada Baal-Juda) Donde se infere que tomavam um pelo outro prestando a ambos o mesmo culto ou confundindo-os.

E nem todos os testemunhos contidos no Antigo Testamento, mostram-se infensos a semelhante estado de coisas.

Como o do salmista Asaf por exemplo: "Levanta-se Deus na assembléia celeste, entre os deuses profere o seu julgamento." Sl 81,1

Há pois para este hinologo hebreu um parlamento de deuses, inda que presidido por Javé, no caso o deus mais forte e poderoso, mas, de forma alguma o único.

"Porque o Senhor é um deus forte, que reina sobre todos os outros deuses." reforça o Sl 94,3

Deste ponto de vista Javé não passa dum rei, presidente ou juiz entre os deuses das outras nações seus companheiros ou seja duma espécie de 'primus inter pares'...

Também os sumerianos possuiam um rei ou chefe dos deuses Anu, segundo lemos em seus registros:

"Bando. Proibição. Maldição. É barreira que ninguém pode transpor, barreira que deus algum pode transgredir, barreira que jamais será mudada; deus único contra o qual ninguém pode rebelar-se, nem os deuses nem os homens podem te aquilatar."

E os Egipcios: "Amon rá... ele prostra os deuses a seus pés e todos eles reconhecem sua soberânia." Brugsh "Religião e mitologia no antigo Egito." pp 690
E os indianos: "As águas levaram o primeiro gérmen no seio do qual os deuses surgiram. O uno no qual jazem todos os seres, o existente, não surgiu."

Para não falarmos nos gregos e romanos para os quais Zeus/Júpiter era o pai e rei dos deuses.

"Porque o Senhor é grande e digno de todo o louvor, o mais terrivel de todos os deuses." Sl 95,4

Apenas o mais terrível, como seu xipófago Assur...

"Em verdade, sei que o Senhor é grande, e nosso Deus é maior que todos os deuses." Sl 134,5

MAIOR QUE SERES INEXISTENTES É IDIOTICE...
MAIOR QUE DIABOS OU DEMÔNIOS, SIMPLESMENTE SACRÍLEGO...
MAIOR QUE OS ANJOS, OBVIO APENAS...

Apenas um deus maior, e maior exclui único, pois quem é único é único, sem medida de comparação.

Se se faz comparar com os outros deuses é porque não é único.

"Louvai o Deus dos deuses, porque sua misericórdia é eterna." 135,2

Em todos estes passos lembraram-se os comentadores pseudo cristãos de repetir as frioleiras dos rabinos segundo as quais, os tais 'deuses' são os anjos...

A Escritura diz ELOIM אֱלוֹהִים , אלהים - deus em singular corresponde a El ou a Elohá e não a Eloim como admitem todos os Dicionários editados pelos protestantes - ou seja deuses ou elevados, no entanto COMO ELA DEVE SER MONOTEÍSTA, os interpretes dão um empurrãozinho decretando que os tais deuses não passam de anjos.

Apesar disto a teologia judaico-cristã jamais reconheceu que os tais anjos participaram ativamente da criação do universo enquanto co criadores. A escritura no entanto reza:

Bereshit bara Elohim et hashamayim ve'et ha'arets.
No principio quando fizeram os deuses céus e terra.

Eis porque menciona tais seres como companheiros de Javé: "Eu ví o Senhor assentado no trono de seu poder E TODO EXÉRCITO DO CÉU EM TORNO DELE, A DIREITA E A ESQUERDA." I Reis 22,19

E assevera que tais seres foram servidos pelos israelitas ao menos até o tempo em que sairam da terra do Egito: "Então Josué disse... escolhei agora a quem desejais servir, OS DEUSES AOS QUAIS SERVIRAM VOSSOS ANTEPASSADOS DO OUTRO LADO DO RIO OU OS DOS AMORREUS QUE HABITAM ESTA TERRA, eu e minha casa serviremos a javé." Jos 24,14 sg

"Querem os exegetas, por fina força, que o citado rio seja o Eufrates e não o Jordão e que Josué referia-se aos antepassados de Abraão em Ur. Mas o que se lê é bastante claro: os deuses que devem ser lançados fora, e que ainda eram retidos, eram aqueles com que seus ouvintes haviam passado o Jordão ou seja os deuses que os pais haviam servido e cultuado na terra do Egito e depois na travessia do deserto. Pois aquele era o momento da escolha: ou os deuses trazidos do Egito, ou os deuses dos cananeus ou javé, o deus do pacto. O Eufrates nada tem que ver com a estrutura deste discurso, ALÉM DO MAIS A PÁTRIA DE ABRAÃO> UR FICAVA A MARGEM DIREITA DAQUELE RIO, POR CONSEGUINTE, PARA OS PALESTINOS, AQUÉM E NÃO ALÉM DO RIO." Cyro de Moraes Campos in "História do judaismo antigo" p 103

Noutra escritura esta dito que o conhecimento do bem e do mal converteria Adão e Eva em 'eloims' ou seja em deuses imortais. (Gn 3,4).

A maioria das pessoas deixa-se enganar por traduções como a JFA, Valera, TNM, as quais substituem capiciosa e desonestamente ELOIM por Deus ou Senhor. Assim somos ensinados a crer que segundo os antigos hebreus a terra havia sido produzida 'ex nihilo' pelo deus único, tudo muito belo e muito romântico...

Mais tarde quando descobrimos o tal Eloim, explica-nos o pastor, num tom de superioridade jovial, que Eloim é Deus, o Uno...

Até descobrirmos que Eloim esta no plural, fazendo alusão a deuses!!! Recorrem então os pastores aos padres e rabinos com o intuito de introduzir a Santa Trindade ou o plural majéstico...

(Rí o pastor da ovelha, o padre do pastor, o rabino do padre com sua Trindade e nós do rabino com seu artificioso plural majéstico onde só há superstição pagã.)

Neste passo os jeovistas e outros sectários alegam que não se trata do 'Deus verdadeiro' PORQUE 'ELOIM NÃO ESTA PRECEDIDO PELO ARTIGO DEFINIDO' (Cf nota in Loc). Sem embargo disto, a mesma versão ( Traduccion del nuevo mundo de las santas escrituras, WT - USA, 1987 p 15) na nota pertinente a Gen 1,1, admite: 'Deus, hb Eloim, SEM O ARTIGO DEFINIDO'

Querendo significar com isto, que com ou sem artigo definido Eloim significa sempre deuses mesmo quando alude ao 'deus' dos hebreus, denotando politeismo.

Mesmo o Javista, quando se refere a Javé, dá a entender que ele não estava só, pois põe em sua boca as seguintes palavras: "Se o homem já é como um de NÓS, versado no bem e no mal." (3,22) & "VINDE DESÇAMOS E CONFUNDAMOS A LINGUAGEM DELES PARA QUE NÃO SE COMPREENDEM MAIS UNS AOS OUTROS." (11,7)

Até mesmo as sombras dos mortos eram postas em pé de igualdade com javé, como podemso ler em  I Sam 28,13: "Vejo Um dos deuses que sobem da terra... assim reconheceu Saul que era Samuel."

Para os antigos hebreus a existência de Kemosh, deus dos moabitas era tão real quanto a existência do Roberto Carlos para nós, eis porque não exitam em atalhar seus vizinhos com as seguintes palavras: "Acaso não fruis da posse que vos dá Kemosh vosso deus? Logo, como não haveriamos de fruir da posse que nos foi dada por javé nosso deus?"

Diante destes e de tantos e tantos outros testemunhos não há como deixar de concordar com Braghine quando diz que "Nenhum exegeta por mais sutil que seja, poderá obscurecer este índice certo do ponto de vista politeista em que se colocou o autor do primeiro livro da Bíblia chamado Berexit." opus cit 239








UM TEXTO CAPITAL


Dia vem no entanto em que a 'casa cai' e em que a sórdida manobra vem a tona.

É o caso de Deuteronômio 33, 8 - 10

Que via de regra é traduzido do seguinte modo:

"Quando o Altíssimo distribuía as heranças as nações, quando separava os filhos de Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos, segundo o número dos filhos de israel. Mas a porção de Javé é seu povo e Jacó sua herança. Achou-o numa terra deserta a solitária, num cômoro cheio de uivos, cercou-o e instrui-o como  pupila de seus olhos."

Todas as ditas 'bíblias' oferecem este arremedo de tradução com base na maravilhosa Massorá

Tomemos agora a Bíblia dos antigos Cristãos ou seja a Bíblia grega de Alexandria:


"Quando Elyon distribuiu terras as nações, dividindo os filhos dos homens em países, fixou as fronteiras deles segundo o dispor dos filhos de Deus (ou anjos como dizem outras traduções). Mas a parte de Javé foi este povo tendo a Jacó por herança. Pois estando só no deserto entre os uivos encontrou-o, tomou-o, instruiu-o e fez dele a menina de seus olhos."

Aparentemente daria tudo na mesma...

Pois para o senso comum Elyon e Javé são praticamente a mesma coisa.

Todavia caso examinemos mais de perto o segundo texto não tardaremos a perceber as aparas feitas ao primeiro:

Observe-se antes de tudo que em ambos os textos - mas especialmente no segundo - Javé esta na passiva, enquanto recebedor da ação.

Queremos dizer que Javé recebe uma parte ou herança do que foi partido e atribuido por Elyon a seus filhos... Donde se segue obviamente que Javé seria na verdade um 'filho' de deus ou um anjo 'o anjo de javé'... E já sabemos porque a Torá confunde amiúde javé com seu anjo.

Certamente porque antes dos javistas mudarem os nomes javé era filho de shaday ou Elyon... i é um deus menor ou anjo.

Do contrário Javé partido, distribuido e revebido ao mesmo tempo o que é absurdo.

Se ao menos encontrassemos o nome de Javé em ambos os termos, mas é o que não se dá.

Segundo a letra do texto a ação de partir e de distribuir é atribuida a Elyon e não a Javé, o qual recebe como parte ou herança o que lhe foi dado por Elyon.

Quem divide e parte é Elyon, o deus supremo do panteão semita, entre seus filhos, os filhos de deus; que posteriormente os judeus passaram a identificar com os anjos.

A narrativa é bastante clara: Quando Elyon cindiu os homens em diversas nações junto a Babel, entregou cada uma delas a tutela de um deus, para que estes deuses pudessem ser aquinhoado com oferendas e sacrifícios. 

Javé no entanto - talvez por ser de classe ou categoria inferior ou por ter se apartado do pai - parece nada ter recebido, cabendo-lhe, muito provavelmente, o pedregoso deserto de Sin ou Sinaí, por onde vagava solitariamente e havia uma mina pertencente aos antigos Egipcios - chamada Serabit. Foi ali que deve ter encontrado por primeira vez alguns israelitas.

Tirando partido das atividades vulcânicas da montanha com o intuíto de impressiona-los javé se lhes manifestou em meio ao fumo e propos-lhes uma espécie de pacto: Ele lhes daria uma terra e os protegeria dos inimigos caso eles aceitassem alimenta-o com sacrifícios cruentos, viandas e sangue. E para começo de conversa os faria sair do Egito caso lhes oferecessem seus primogênitos.

Aqui dirão os fundamentalistas que a Septuaginta esta equivocada ou que o texto por ela apresentada não concorda com original hebraíco.

Sucede no entanto, para o azar e vergonha deles, um dos manuscritos descobertos no Qumran - pertencente a ora chamada proto septuaginta hebraica - corrobora a alternativa "Filhos de Deus" em oposição a Massorá.

Por isso o Targum de Onkelos que é o mesmo Aquila, proselito grego amigo do Rabi Gamaliel registra esta passagem da seguinte forma: "O deus altíssimo cindiu a humanidade entre setenta anjos fazendo-os príncipes das nações."

Que os tais arcontes, anjos, filhos de deus, etc sejam os antigos deuses das nações depreende-se do Comentário da Mekilta (Ex 15,1): "Naquele tempo o Deus Santo e Bendito levará juízo as nações após acorrentar seus guardiões como esta escrito: E acontecerá naquele dia que o Senhor..."

Outra coisa não diz o Midrash Chemoth Rabba 21,5: "Adonai não destrói nação alguma sem antes acorrentar seu guardião."

Obs.: Não confundir Eloim (deuses) com Elyon, que segundo Sanchoniaton (apud Eusébio) significa Deus Supremo, mas, ao que tudo indica quer dizer 'Deus do tempo'.



Conclusão: Há um conteúdo nitidamente politeista nos registros mais antigos, especialmente nos Salmos que são remanescentes da corte de David e nos ditos 'profetas anteriores'.

Somente a partir de Isaías, o profeta e conselheiro de Ezequias, é que os deuses das nações - antes considerados como companheiros, acessores ou cortezãos de Javé - passaram a ser considerados como falsos e a ser identificados com demônios, anjos ou mesmo homens divinizados. (como Nenrod/Ninurta - Seth/Sethos, etc)

Desde então o exército dos céus foi dedignado passando seus servidores a serem encarados como idolatras e implacavelmente perseguidos.

O que acabou por refletir-se nos Salmos de origem mais recente - compostos após o cativeiro - nos quais os ex companheiros de Javé são frequentemente chamados de 'falsos' ou classificados como 'ídolos vazios'.

O significado de tal contradição entre os Salmos - que os patetas creem terem saido todos da mesma pena - é justamente que alguns são mais antigos e favoráveis ao politeísmo, enquanto outros são de origem mais recentes inspirados pelo movimento 'somente javé' e pelos deuteronomistas.






A par desta corrente, politeista, sempre reforçada, como ja dissemos, pelas continuas defecções surgidas entre as fileiras henoteistas e supersticiosas, fez sua aparição entre os hebreus, uma terceira corrente, tanto mais evoluida e - historicamente falando - analoga aqueloutra, que sob os auspícios de Akenaten e Nabonido, pode florescer durante algum tempo, já no Egito, já na Caldéia, mas que acabou sendo completamente suplantada pela tradição ancestral. Até florescer e triunfar tanto nos meios do profetismo israelita e quanto nas fileiras do pensamento helênico (Do que resultou a teoria da identificação - mormente após Filon - de certo modo mantida pelos padres da igreja e pelos escolásticos.)

Refiro-me a idéia segundo a qual existe apenas um Deus mantenedor do universo e autor da grande família humana, o qual, não possuindo segundo, semelhante, concorrente, rival, parceiro ou sócio assume uma condição plenamente ilimitada: Onipotência, Onisciência, Onipresença, etc.

Esta idéia foi batizada por Henry More (1614-1687) como de Monoteísmo, palavra composta por dois termos de origem grega e cujo significado literal é: Um (MonoV) Deus (QeoV)

No entanto, uma coisa é admitir que esta opinião ou doutrina encontra-se presente no bojo das escrituras hebraicas, e outra, totalmente distinta, é suster sua exclusividade, a exemplo dos fundamentalistas como o Pr
Alvaro Reis para o qual: "No pentateuco impera o santificador monoteismo de Jeová." opus cit 24 (Esqueceu-se certamente o egrégio pastor dos escandalosos 'Quando no principio criaram os Deuses...', 'Façamos o homem...', 'Desçamos e confundamos...', etc)

Depara-mo-nos claramente com ela em certos Salmos - aqueles que foram compostos durante ou após o cativeiro - e mais particularmente ainda nos oráculos dos grandes profetas, os quais, a começar por Elias, foram fervorosos sustentáculos deste padrão de pensamento ou como se diz hoje sua 'tropa de choque'.

Não poucos eruditos chegaram a conclusão de que o ponto de partida do movimento 'somente javé' foi justamente a figura exótica deste galaadita cujo nome (Eli - Ia) significa literalmente: Deus (eloim) é Deus (Javé), fazendo-nos antecipar em mil e quinhentos anos tanto a shahada muçulmana (alla ilalla) quanto os métodos de conversão empregados pelo Islan caso levemos em conta a execução dos quatrocentos profetas de Baal degolados junto a torrente de Carit e as outras tantas vítimas consumidas pelo bafo de javé...

Em termos de paternidade parece que Elias leva a palma quanto ao monoteismo...

Os sacerdotes no entanto faziam remontar esta linha de pensamento até o patriarca teraíta Abraão, que teria florescido cerca de 1750 - 1700 a C, precedendo o Faraó e reformador egipcio (Akenaten) em cerca de trezentos anos e sendo mesmo, conforme alguns interpretes, sua fonte mais remota de inspiração.

Em geral os sábios, pesquisadores e eruditos desdenham de semelhante tradição como sendo altamente improvável ou mesmo falsa. Karen Armstrong por exemplo, ao analisar a crença segundo a qual caberia a Abraão o título de patriarca do monoteismo e matriz das três maiores religiões monoteistas do planeta (Judaismo, Cristianismo e Islamismo) prefere apresenta-lo como patriarca do henoteismo, um henoteismo que posteriormente - segundo as leis da evolução - veio a transformar-se em monoteismo.

Tampouco nós que somos leigos ousaremos postular a existência dum partido, dum grupo ou mesmo duma opinião monoteista em tão priscas eras... O Abraão monoteista, a maneira de Elias, Isaias, Ezra, Jesus ou Maomé jamais existiu.

Desejando conferir a ideia monoteista uma origem venerável, atribuiram-na os deuteronomistas a Jacó,  a Abraão e mesmo a Enós, filho de Seth, neto de Abraão, a respeito do qual assevera uma escritura ter sido o primeiro a invocar o nome de Javé. (Gn 4,26) Outra escritura no entanto assevera que o nome de deus fora revelado primeiramente a Moisés no Sinaí. (Labora mais uma vez o pentateuco em contradição, logo em erro!)

Poderiamos falar no máximo duma tendência ou duma aspiração mais ou menos vaga, ou duma intuição semelhante aquela com que nos deparamos nos textos das piramides do antigo Egito e nos Vedas (como Rig Veda 1.164.46; Atharva Veda 10.7.31 & Yhajur Veda 32,3)

Esta concepção todavia só foi capaz de cristalizar-se e de formar um pequeno partido ou grupo coeso de adeptos no tempo de Elias/Isaias, após as peregrinações das tribos pelas montanhas e desertos, quero dizer, ao nomadismo, como foi exposto com toda propriedade por E. Renan em sua 'História do povo de Israel'. A longo prazo, muito depois de Abraão e mesmo de Moisés (que era monoteista exercitado no culto de Aton) é que o pensamento monoteísta veio a afirmar-se como corrente religiosa entre os Hapiru...

Apresentar tais sentimentos e/ou tendências mais ou menos isoladas como uma corrente teológica ou partido organizado desde o tempo de Abraão e Moisés comporta um escandaloso anacronismo.

Apresentar-se como herdeiro de tradições abraâmicas ou mosaicas não significa que tais tradições sejam autênticas...

Foi a sacristia do templo de Jerusalem - segundo Cyro de Moraes Campos (apud 'História do judaismo antigo' prefácio) - que lançou a moda de atribuir a doutrina monoteista aos patriarcas e heróis dos tempos passados. Maquiaram-nos por assim dizer com tintas dum monoteismo profético que jamais haviam professado...

A partir de um determinado momento - Elias - formou-se o partido, não no Sul, mas no Norte.

Posteriormente, tendo inatalado-se no Sul e tomado consciência de sua extensão e força, o partido, monoteista - indentificado com o profetismo - tornou-se de tal modo ativo e violento, a ponto de - no tempo de Ezequias e Josias - granjear o apoio do braço secular com o objetivo de suprimir as grupos rivais e de eliminar todos dissidentes fossem henoteístas ou politeístas. Aos olhos dos profetas e seus partidários todo aquele que não fosse rigorosamente monoteista, exclusivista e espiritualista - segundo a cartilha de Elias - merecia a justa pecha de idólatra e o exterminio...

Tal o pensamento que anima o cálamo do deuteronomista e a praxis de Elias...

O que se seguiu, desde então: de Josafá e Elias ao cativeiro, ou seja de 870 a 585 - durante quase trezentos anos - foi uma pavorosa guerra cívil, bastante parecida com nossa guerra dos trinta anos e ao cabo da qual os dois reinos sucumbiram afogados num mar de sangue.

Foi-se para o vinagre a nacionalidade israelitas graças as desinteligências no terreno da fé e as guerras intestinas inspiradas pelo fanatismo.

O monoteismo no entanto passou triunfante pelo cativeiro, chegando a Jesus, Maomé, Nanak e Bab Ulla...

Segundo J C Rodrigues era necessário que a nação hebraica desaparecesse politicamente para que o monoteismo ficasse consolidado. Afinal a política busca compromissos enquanto a crença pura jamais cede... assim o político sempre procura conter a fé, enquanto a fé com suas exigências podem levar a perda e a destruição do poder político.

Importa considerar o monoteismo hebraico como produto dum processo histórico ou duma lenta evolução no plano da natureza.

O clero israelita não veio do céu ou do monoteismo, o monoteismo é que foi produzido pelo clero...

Posteriormente a história forjada pelos sacerdotes subverteu a ordem natural das coisas com fins meramente apologéticos.

Comporta pois, a afirmação do Pr Alvaro Reis, ignorância abissal a respeito dos fatos e de como as coisas realmente ocorreram.

É o mínimo que podemos dizer, pois tivesse o egrégio lider biblicista, real conhecimento de causa, deveriamos toma-lo por mentiroso até a impudência.

Tal e qual os tradutores de fancaria, que vivem a aparar as arestas daquilo que alegam ser a 'palavra de Deus'.

Equivalessem de fato tais registros a 'palavra de Deus' estariam condenados já todos os tradutores como ímpios, irreverentes, abomináveis e sacrílegos na medida em que se esforçam por desfigurar e obscurecer o livro naquilo que contem de repugnante e defeituoso.

Bem sabem os tradutores cristianizados, que certos juízos não cabem lá muito bem nos lábios divinos... colocar certos gêneros de palavras - em sua grosseira e rude simplicidade - na 'boca' do Senhor, só faria alimentar a incredulidade e fomentar o ateísmo. Imputar ao Criador ideias e intenções indignas dos homens mais ilustrados como Buda, Sócrates ou Apolônio é atentar contra seu cárater divino. Atribuir-lhe as imperfeições e vícios correntes entre os mortais é conspurcar seu nome...

Eles tomam a tal 'palavra de deus' como se fosse uma velha feia e fazem passa-la por uma verdadeira cirurgia plástica com o intuito de ocultar as rugas e de esconder os sinais da tacanhice primitiva...

Cada tradução é por assim dizer um testemunho contra a doutrina da inspiração plenária, verbal e linear, que nem mesmo seus defensores são capazes de receber em sua rude aspereza...

Ousam então facilitar ou dar um empurrãozinho na dita palavra sagrada. Como de Deus ou o Espirito Santo precisassem da ajuda deles...

Corrigem pois, cinicamente, os oráculos divinos como nós professores corrigimos as provas de nossos alunos.

E sai o deus deles reprovado da dita correção...






III - O autêntico culto patriarcal é representado pelas tradições religiosas do reino do Norte ou Israel, em oposição ao reino do Sul ou de Judá e ao culto deuteronomista centralizado em torno do templo de Jerusalem.












Tendo o monoteísmo nos termos judaicos (e islamicos também) chegado ao fundo do cálice, isto é a ideia do absoluto Transcendente, é perfeitamente compreenssivel que, paralelamente a ele, tenha se desenvolvido uma tendência favorável a simplificação das formas tradicionais de culto legadas pela mais remota antiguidade, numa direção que se costuma a classificar como espiritual ou espiritualista, em oposição as formas naturalistas de culto relacionadas com o politeismo e mantidas comodamente pelo henoteismo.

Engendrou pois o monoteismo um ideário reformista em termos de adoração.

No frigir dos ovos uma tal antinômia era por assim dizer necessária ou inevitável, se levarmos em conta o cárater imanentista ou naturalista da tradição religiosa politeísta, o qual expressava-se através de um ritual assaz complexo, elaborado e atraente do ponto de vista sensorial. Alterado o objeto de adoração era imprescindível alterar a própria adoração, adequando os meios ao fim ou dispondo o primeiro em função do segundo.

A idéia que os fundamentalistas protestantes - os quais tendo perdido quase que totalmente de vista o cárater imanentista da encarnação do Verbo viram-se forçados a retomar o transcendentalismo absoluto dos apóstatas e infiéis bem como a praxis iconoclástica - pretendem passar aos mais incautos é que que o culto patriarcal, israelita ou judaico caracterizou-se desde sempre pela simplicidade, espiritualidade e isenção de formas nos termos de um culto maometano ou calvinista.

Esta ideia no entanto, é absolutamente falsa e desmentida em certa medida pelas próprias escrituras hebraicas, as quais patenteiam, a qualquer leitor desprevinido, no mínimo, uma idéia de dualidade ou conflito.

Desde o momento em que a nação cindiu-se espiritualmente em duas correntes extremistas: politeista e monoteista, formaram-se outras duas facções rivais e não menos hostis: a tradicionalista/imanentista (ou materialista e idólatra como dizem os fundamentalistas) e a reformista/espiritualista.

O que mais importa neste artigo não é apontar de que lado estava com a razão, embora concedamos que - FORA DE UMA PERSPECTIVA ENCARNACIONISTA E CRISTÃ (QUE INCORPORA A IMANÊNCIA) - A RAZÃO ASSISTIA AOS PROFETAS REFORMISTAS OU DEUTERONOMISTAS, os quais a seu tempo estavam a frente da evolução religiosa favorecendo a produção de um novo tipo de consciência e engendrando uma das premissas antitéticas que posteriormente viriam a compor a síntese cristã em termos dialéticos. (a outra premissa era a tradicional, da imanência)

O que importa é apenas e tão somente desfazer o confusionismo divulgado pelos fundamentalistas, confusionismo segundo o qual o culto judaico fora revelado diretamente por Javé, nos termos do profetismo reformista, sendo portanto um culto divino e imutável, e não, como de fato foi, um fruto puro e simples duma evolução religiosa sucedida no campo da natureza.

Não negamos que um tal culto transcendente e espiritual tenha sido - dentro de um processo dialético SUPERADO PELA ENCARNAÇÃO DO VERBO E O CULTO CRISTÃO - produto de uma assunção religiosa, mas apenas e tão somente que tenha sindo revelado por Deus ou baixado miraculosamente dos céus numa perspectiva magico fetichista.

Queremos dizer com isto que antes da reforma de Ezequias as formas do culto judaico correspondiam exatamente as formas do culto pagão, inspirando-se nele e exprimindo-se da mesma maneira. (em especial - como tivemos e teremos ocasião de compendiar - nas formas sumerianas, egipcias e fenícias)

Portanto a adoração prestada pelos patriarcas e reis de israel como Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, Jonatas filho de Gerson (logo neto de Moisés), Samuel, David, Salomão, Jerobão, Maaca, etc foi a típica adoração pagã e não a adoração pescrita pelo deuteronomista e pelos adeptos do movimento 'somente javé' nos tempos de Josias.

E inda após a reforma de Ezequias o vocabulário religioso hebraico permaneceu adito a esta herança simbólica, tributária da religiosidade pagã. Embora o intelecto tenha seguido seu rumo e feito seus progressos a imaginação sempre que pôde, manteve as figuras...

Tomemos por exemplo a figura do patriarca Jacob.

Segundo os registros dos judeus, este piedoso antepassado, após ter sonhado com uma espécie de pirâmide escalonada (Como aquelas que haviam sido contempladas por seu avô e bizavô em Ur, junto a Al Madaim) servida por deuses ergueu uma coluna de pedra e ungiu-a com óleo perfumoso, passando tal monumento a chamar-se BETEL, ou seja CASA/MORADA do DEUS enquanto veículo de sua presença ou uma espécie de sacramento natural.

Acreditava o piedoso patriarca que Javé ou algum deus/gênio habitava dentro daquele poste ou coluna de pedra (um bétilo diriamos nós) denominada Maceboth ou que se manifestava nele.

Daí as fontes cavadas, as árvores plantadas - Abraão e Maaca, dentre outros plantaram bosques sagrados - e as colunas chantadas pelos patriarcas durante sua peregrinação por Canaã serem consideradas como sagradas por seus descendentes. Foi em torno de tais relíquias que os israelitas organizaram seus santuários como em Betel, Siquém ou Hebron.

Portanto durante todo este tempo - até as reformas de Josafa, Ezequias e Josias - o culto hebraico consistia em:


  • Erguer, ungir e enfeitar maceboths (colunas de pedra) e asheras (postes de madeira) a exemplo de Jacó e Maaca.
  • Venerar os terafins ou imagens que representavam Javé e os antepassados como Labão e Micol
  • Oferecer sacrifícios de animais (em tudo semelhantes aos dos pagãos) nas casas de Javé ou templos, geralmente edificados no altos das elevações e montanhas, os assim chamados 'lugares altos' ou simplesmente 'altos' 
  • Passar os primogênitos pelo fogo como molk a javé durante os tempos de calamidade, a exemplo de Jefté e dos reis Acaz e Manassés.
  • Consultar Javé através do Efod como Micas, Jonatas filho de Gerson e Gedeão.
  • Observar tabus alimentícios ancestrais, relacionados com o totem do clã ou da tribo.


Como se vê tudo muito pagão e abominável aos olhos dum Isaías, dum Jeremias ou dum Ezequiel...

Sobre os terafins sabemos que eram cultuados tanto por Labão quanto por sua filha Raquel, esposa de Jacó. Outro fora posto por Micol debaixo dum cobertor no lugar de David, enquanto este fugia e salvava sua vida...

Quanto ao Efod, eis o testemunho insuspeito de José Carlos Rodrigues:

"Passa geralmente o Efod por uma túnica de linho branco presa ao corpo por uma cinta, e usada pelos sacerdotes. MAS SIGNIFICA TAMBÉM - é tratasse do sign original (!!!) - UM IDOLO, COMO ESTE DE GEDEÃO, LOCALIZADO E IDOLOS MENORES COMO OS TERAFINS, POIS DÁ A ENTENDER QUE O EFOD ERA ALGO QUE SE TRAZIA OU LEVAVA DE UM LADO PARA O OUTRO." in Estudo sobre o Velho Testamento, II, pp 12 sg

Semelhantes idolos tem sido encontrados em quantidade nas antigas cidades e vilas de Israel e Judá nos estratos pertencentes a antiga monarquia.

Também não é novidade para ninguém que Javé apareceu a Abraão e a Moisés em montanhas ou 'lugares altos'... (Sequer o templo de Jerusalem escapava a esta regra pois estava edificado sobre uma elevação chamada Moriá junto a eira de Ariuna)

Alegam os protestantes via de regra e dando continuidade a manobra dos sacerdotes, que o judaismo sendo puro a princípio, foi contaminado pela defecção e a apostasia desde o momento em que entrara em contato com aqueles povos radicados em Canaã há incontáveis gerações.

Neste caso os altos, maceboths, asheras, efodes, terafins, etc teriam sido tomados de empréstimo pelo povo aos cultos gentílicos, sempre a revelia de Javé e de seus ministros.

Sem embargo disto não é o que nos dizem as escrituras dos hebreus.

Pois sacrificios humanos foram oferecidos pelos santarrões Abraão, Jefté, Samuel e David; árvores ou bosques reverenciados por Abraão (!!!), Débora, Gedeão e Maaca; maceboths chantados por Jacó e Josué; terafins cultuados por Labão, Raquel, Michol e David; Efodes venerados e consultados por Gedeão, por Micas e por Jonatas, neto de Moisés; os Bois e bezerros reverenciados por Jacó, David, Salomão e Jerobão... Sacrifícios oferecidos por Gedeão, Manoá, Samuel, Davi e Acaz!!! & e lugares de culto instalados em Betel, Siquem, Silo, Galgala, Ramá, Nobe, Hebron e Anatot sob as vistas complascentes de todos os patriarcas, reis e profetas até Josias!!!

Em suma tais ações partiram não da gente inculta e supersticiosa ou de hereges e ímpios declarados mas dos próprios representantes de Javé ou seja dos patriarcas, juizes e reis, constituidos por ele e sempre encarados como modelos irrepreenssiveis de monoteismo pela consciência nacional.

Foi somente após os clamores suscitados pelos profetas posteriores a Elias e após a reforma de Josias e o exílio que tais atos religiosos passaram a ser encarados pelos judeus como pura e simples idolatria e ferozmente condenados, do que temos exemplo no 'cronista'..

O que houve portanto não foi apostasia ou desvio por parte dos javistas, especialmente do Norte, mas uma mudança e inovação sucedida no Sul, mais especificamente na cidade de Jerusalem, centro donde partiu o iconoclasticismo triunfante e aquela purificação litúrgica que representa o ajustamento da prática ou dos ritos ao novo ideal monoteista.

Foi contra o culto tradicional e ancestral que os profetas e os 'reis piedosos' tiveram de lutar em primeiro lugar e não contra cultos estrangeiros, como deseja inculcar a todo o tempo o cronista (repetindo a cada linha - como que para auto afirmar-se - que o Norte era apóstata).

Profetas e reis projetaram num passado longuinquo e idealizado aquele culto espiritual de que eles mesmos e unicamente eles eram os autores e tentaram se auto convencer de que seus adversários eram de fato apóstatas e desviados,  pois do contrário - caso admitissem a origem recente do espiritualismo em ascenssão - tendo em vista o cárater conservador daquela sociedade (em especial no que dizia respeito a religiosidade) tal modelo de culto não teria a menor chance de vencer a oposição das massas e de triunfar. Era necessário crer e fazer crer que o culto novo era muito mais antigo do que o vigente e tradicional, oficiado pelos patriarcas e que o culto antigo e patriarcal não passava duma elaboração posterior, resultado da interação com os cananeus... ou seja duma corrupção...

Foi assim que os hagiografos inverteram de ponta cabeça e viraram do avesso a História religiosa dos antigos israelitas dando inicio a farsa do 'culto revelado e específico' ainda hoje mantida pelos fanáticos protestantes.

Todavia semelhante manobra não foi assim tão perfeita a ponto de não deixar vestígios quanto a natural e verdadeira ordem das coisas.

Eis porque somos perfeitamente capazes de demonstrar a veracidade de nossas asserções e de desmascarar a farsa sustentada e mantida pelos pastores - como Alvaro Reis - fazendo petição a letra dos registros.

Tomemos pois o livro que eles adoram e abra-mo-lo em II Reis 18,19 (farei uso da versão espanhola de Valera analoga a nossa JFA):

"Assim lhes disse Rabsakes: diz assim o grande rei da Assíria - Em quem te apoias e confias?

Dizes (palavras vazias): Eis que tenho conselho e forças para a guerra. Mas em quem te apoias se conspiraste contra mim?

Acaso confias nessa cana quebrada que é o Egito, na qual se alguém for se apoiar logo se quebra e lhe fere a mão. Assim é Faraó do Egito para todos os que nele confiam.

Ou me direis: Confiamos em Javé nosso deus, NÃO É ESTE AQUELE CUJOS LUGARES ALTOS E ALTARES DERRUBOU EZEQUIAS, TENDO DITO A JUDÁ E A JERUSALEM: DORAVANTE ADORAREIS APENAS NO ALTAR DE JERUSALEM?...

ACASO VIM EU SEM JAVÉ A ESTE LOCAL PARA DERRUI-LO? MAS FOI JAVÉ MESMO QUE ME DISSE: SOBE AQUELA TERRA E DESTROE-A."



A primeira vista - lido ou interpretado por qualquer analfabeto - o texto parece indicar que os lugares altos e altares derrubados por Ezequias eram todos dedicados a divindades pagãs ou idolos.

Ledo engano, pois o pronome relativo CUJOS, refere-se ao próprio Javé, indicando claramente que os tais lugares altos e altares - redutos dos culto ancestral - pertenciam a ele e não aos deuses estrangeiros como pretendem insinuar os rabinos e pastores mentirosos.

Diante de tais palavras fica mais facíl compreender o sentido da última frase:

Após a atitude de Ezequias, encarada como irreverente e blasfema pelos reacionários do Norte e do Sul, os profetas e sacerdotes tradicionalistas do Norte e do Sul, puzeram seus efodes em funcionamento proferindo, em nome de Javé, oráculos de maldição a favor dos assirios. Segundo acreditavam que Senaqueribe havia sido escolhido por deus com o intuito de conquistar Jerusalem e de punir a casa de Davi.

Daí alegar Rabsaques que Javé estava consigo e não com o rei iconoclasta e infiel.

Acaso poderão os fundamentalistas fornecer-nos uma explicação melhor?

Mesmo um dos profetas - tanto mais moderado e conciliatório - ousou escrever estas palavras:

"Assim filhos de israel, ficareis, sem REI, sem principe, sem sacrifício, sem maceboth, sem efod e sem terafim." Oséias 3,4

Aqui um único sentido se impõe: ou o rei, o principe e o sacrificio são instituições sagradas e divinas, e com elas o Maceboth, o efod e os terafins; ou o Maceboth, o efod e os terafins são contaminações gentilicas e com elas a realeza e o sacrificio. Pois o profeta em seu oráculo apresentou todos os seis termos da oração: rei, principe, sacrificio, maceboth, efod e terafim em pé de igualdade, ou seja, sem fazer qualquer distinção entre eles.

Afinal tanto o maceboth, o efod, as asheras e os terafins quanto os sacrificios pertenciam a religião ancestral dos patriarcas semitas, a qual sucedeu o judaismo com sua peculiar severidade.











- Do culto do touro e do simbolismo do chifre.







"Fez também para sí, Sedecias filho de Chanaana, uns chifres de ferro, e disse: Eis a palavra de Javé - Com estes chifres feriras a Síria até a exterminares." I Re 22,11







Um dos cultos mais disseminados durante a antiguidade foi o culto do boi ou melhor dizendo do touro.

Tal culto estendia-se praticamente das costas da Espanha ao Indus, bordeando todas as margens dos mediterrâneo inclusive e suas raízes, ao que parece, chegam ao mesolítico.









Efetivamente o culto do touro estava amplamente disseminado pelo circuíto mediterrânico desde o paleolítico superior como podemos inferir das pinturas de Lascaux, Niaux, três irmãos, etc a ponto dum sacerdote aparecer representado disfarçado de touro portando os mesmos chifres que Sedecias ben Chanana.






Há toda uma religiosidade centrada na figura do touro em Çatal Huyuk, a proto cidade neolítica da Turquia.



Já nos tempos históricos sabemos que o simpático animal era cultuado na península Ibérica, em Malta, Creta, Síria, Egito, Suméria, Harapa...










Donde o culto do touro passou a civilização minoica com o minotauro, as touradas, os chifres estilizados postos como adorno sobre as paredes do palácio, a máscara de touro utilizada pelos sacerdotes, daí talvez a fábula do minotauro...







Na Grécia se dizia que o próprio Zeus assumira a forma de um touro com o objetivo de raptar Europa, seja como for ele estava identificado com o culto bárbaro de Dionisio.








Na Mesopotâmia, Síria, Fenícia e Palestina (onde Baal era representado como um touro) o touro se identificava com as forças da natureza, especialmente com a tempestade.

Na Pérsia o touro Hadhayosh representava o céu e, enquanto animal sagrado de Mitras, seu sangue era vertido e consumido pelos adoradores comunicando-lhes a imortalidade.




No Egito era adorado já como Mnevis já como Apis...






Segundo os especialistas foi o arado puxado por bois - inventado pelos sumerianos cerca de 4500 a C - o principal responsável pela expansão deste culto. Pois desde então o touro, que já era cultuado como símbolo das forças da natureza, passou a ser cultuado com redobrado fervor pelos agricultores e sedentários, associando-se frequentemente ao culto da terra, a grande mãe...




Eis a razão porque todas as divindades sumerianas e elamitas eram representadas portando chifres ou cornos...

Milhares e milhares de sinetes recuperados pelos arqueologos em Eridou, Ereck, Ur, Sipar, Ellarsa, Batibira, Lagash, Kish, Umma, Nippur, Eshnunna, Susa, etc corroboram minhas palavras...








Já na divindade arapiana comumente representada nos sinetes os arqueólogos creem identificar Shiva, no tempo presente acompanhada pelo touro branco Nandi.

Da Espanha ao Indus deparamo-nos com o culto do touro cujas origens deitam suas raízes no paleolítico, período em que após a rena e o cavalo ou juntamente com eles o 'bos primogenitus' constituiu um dos principais objetos de caça, o motor da economia e enfim um objeto de fascínio, reverência e adoração enquanto símbolo do poder e da força.



A figura do touro no judaísmo






Seria portanto de se esperar que desde o principio, o "...santificador monoteismo de Jeová." expurgasse o judaismo de tais imagens e símbolos pagãos.

Sim, dirão os pastores a uma só voz, o povo hebreu jamais se associou ao culto do touro e sua religiosidade sempre permaneceu infensa a tais influências.

Não, diremos nós, pois as escrituras hebraicas indicam claramente que no passado distante os hebreus - como todos os povos vizinhos - reverenciaram o touro, e que os vestígios deste culto ancestral permaneceu vivo na linguagem poética desse povo.



Afinal lá estavam eles, no afamado templo de Salomão, doze bois de bronze gigantescos, sustentando uma enorme bacia forjada com o mesmo material, o chamado 'mar de bronze'. Nos próprios altares cujos vértices eram feitos em forma de chifres.

E em outros tantos santuarios javistas onde foram localizados pelos arqueólogos.

Afinal o próprio javé era apresentado como sendo o 'touro de jacó'...





Da mesma maneira, Jerobão filho de Nabat mandou colocar um touro no templo que fez erguer junto ao santuário patriarcal de Betel, simbolizando o poder e a força de Javé. E mais tarde mandou erguer outro touro colossal no santuário danita de Laish...

Foi o quanto bastou para enfurecer os concorrentes de Jerusalem, que ansiavam por amealhar todas as contribuições e prebendas...

Desde então o clero de Jerusalem - esquecido de que haviam doze estatuas de bois no templo salomônico - passou a denunciar a 'idolatria' do clero nortista...

A ponto do último redator do pentateuco, o redator sacerdotal (P), acabar inventando a fábula do bezerro... (Cf José Carlos Rodrigues, op cit) Fábula que tanto tem encantado nossos protestantes...

Tudo isto com o objetivo de suplantar o arquimilenar culto do touro.

E sem embargo o touro jamais deixou de estar presente na religião de Javé.

Pois segundo o pentateuco, Javé mesmo havia ordenado a Moisés para que seus altares fossem adornados com chifres ou cornos nos cantos...

Enquanto que o óleo sagrado com que os sacerdotes ungiam aos reis era guardado num chifre...

Conclusão: enquanto houve templo, sacerdócio e sacrificio os judeus jamais conseguiram se livrar do velho touro.







- Javé com roupas de Baal...

















Acima dessa abóbada havia uma espécie de trono, semelhante a uma pedra de safira; e, bem no alto dessa espécie de trono, uma silhueta humana.
Vi que ela possuía um fulgor vermelho, como se houvesse sido banhada no fogo, desde o que parecia ser a sua cintura, para cima; enquanto que, para baixo, vi algo como fogo que esparzia clarões por todos os lados.
Como o arco-íris que aparece nas nuvens em dias de chuva, assim era o resplendor que a envolvia. Era esta visão a imagem da glória do Senhor.
 Ez 1,26 sgs





- Os Qerubs










"Suas pernas eram direitas e as plantas de seus pés se assemelhavam às do touro, e cintilavam como bronze polido.
De seus quatro lados mãos humanas saíam por debaixo de suas asas. Todos os quatro possuíam rostos, e asas.
Suas asas tocavam uma na outra. Quando se locomoviam, não se voltavam: cada um andava para a frente.
Quanto ao aspecto de seus rostos tinham todos eles figura humana, todos os quatro uma face de leão pela direita, todos os quatro uma face de touro pela esquerda, e todos os quatro uma face de águia.
Eis o que havia no tocante as suas faces. Suas asas estendiam-se para o alto; cada qual tinha duas asas que tocavam às dos outros, e duas que lhe cobriam o corpo
." Ez 1,7 sgs









- A montanha de Javé.






"Sou eu, diz, quem me sagrei um rei em Sião, minha montanha santa." Javé, no Salmo 2,6

"Apenas elevei a voz para o Senhor, ele me responde de sua montanha santa." Davi, no Salmo 3,5

"Senhor, quem há de morar em vosso tabernáculo? Quem habitará em vossa montanha santa? Sl 14,1

"Montes escarpados, por que invejais a montanha que Deus escolheu para morar, para nela estabelecer uma habitação eterna?" Sl 67,17

"O esplendor luminoso de vosso poder manifestou-se do alto das eternas montanhas." Sl 75,5

"Exaltai ao Senhor, nosso Deus, e prostrai-vos ante sua montanha santa, porque santo é o Senhor, nosso Deus." Sl 98,9

"e os povos virão em multidão: Vinde, dirão eles, subamos à montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacó." Is 2,3

"Tu dizias: Escalarei os céus e erigirei meu trono acima das estrelas. Assentar-me-ei no monte da assembléia, no extremo norte.
Subirei sobre as nuvens mais altas e me tornarei igual ao Altíssimo." Is 14,13

Comentários:

Tanto o salmista quanto o profeta são categóricos: Javé é um deus finito, limitado e localizável no espaço.

E seu espaço é o alto de uma determinada montanha.

Todavia o salmista e o profeta não parecem estar de acordo sobre qual montanha sustente seu trono.

Para o salmista trata-se certamente de Sião ou melhor de Moriá, sobre o qual Salomão fez edificar o templo que leva seu nome.

Para o profeta no entanto o 'monte da assembléia' - provavelmente uma assembléia de deuses ora convertidos em genios ou anjos - fica situado no extremo Norte.

Outro profeta no entanto afirma que a montanha do Santo é o Seir, ao Sul...

Foi exatamente ao extremo Norte - Urartu/Ararat - que Gilgamesh e Enkidu dirigiram-se em busca do Jardim dos cedros, que cercava a montanha sagrada DUKU, sobre a qual se reunia a Ubshu-ukkinakku ou assembléia dos deuses sumerianos...

Como todavia na Mesopotâmia - terreno aluvional de formação recente (cf Menant J 'Babilônia e Caldéia - não haviam montanhas semelhantes ao Olimpo, o Meru, o Albordj, ou o Moriá; os sumerianos optaram por construir suas próprias montanhas - as torres escalonadas ou zigurats - sobre as quais edificavam as capelas destinadas a receber suas divindades. É possivel que as primeiras construções piramidais implementadas no Egito tenham se prestado ao mesmo fim...

Portanto tal como seus concorrentes Anu, Zeus, Varuna, etc também javé devia possuir a sua alta montanha...




- A formação do sacerdócio araônico e a centralização do culto no templo de Jerusalem.









Segundo J C Rodrigues (opus cit pp 31) "É muito díficil compreender porque o nome de Moisés é citado apenas cinco vezes de Juizes a II Reis..." afinal continua ele "diversas leis deuteronomistas parecem ser pura e simplismente ignoradas, pois em I (7,9/9,13/10,3/14,35) e II Reis (24,18) altares são erigidos e sacrificios oferecidos em diversos lugares como por exemplo Mizfá, Ramá, Betel... sem que tal merecesse a desaprovação do grande profeta Samuel."
(Um desses altares por sinal, o de Berseba - cuja foto publicamos - foi desenterrado por nossos arqueologos, servindo como prova inequivoca a nossos raciocínios.)

Ainda conforme o mesmo autor "Os cananitas de longa data adoravam Baal nos altos dos morros e das montanhas, e ergueram santuários e Betel, Berseba, Siquem, Hebrom, Galgala, Penuel... pois os israelitas lhos imitaram e CONVERTERAM CADA UM DELES EM SANTUÁRIOS DE JAVÉ." pp 25

Acrescente-se a tais listas o vilarejo de Nobe, onde residia o sacerdote Aquimelec, amigo e protetor de David.

O mesmo se dá com o sacerdócio.

Sendo que até hoje os - como expõe o Pe Roquette em sua "História Sagrada" - os teologos e comentaristas discutem entre si se Samuel pertencia ou não a casa de Aarão ou a tribo de Levi, discussão de todo ociosa, pois sabemos que Gedeão, Manoah (pai de Sansão) e David, que não pertenciam nem a casa de Aarão, nem a tribo de Levi (Gedeão era da tribo de Manasses, Manoah da tribo de Dan e David da tribo de Judá) ofereceram sacrificios a Javé.

Pois a principio, como evidencia a principal festa dos judeus, a Páscoa, cada Pai ou chefe de família, imolava as vítimas em sua própria casa, exercendo as funções de lider temporal e espiritual ou seja de sacerdote.

Posteriormente o Eloista restrigiu o sacerdócio a tribo de Levi, a qual ficou por isso mesmo sendo conhecida como 'tribo sacerdotal'. (sendo possivel que esta tradição remonte até o tempo dos últimos juizes)








"Os sacerdotes levíticos e toda a tribo de Levi não terão parte nem herança com Israel: alimentar-se-ão dos sacrifícios feitos pelo fogo ao Senhor, que é a sua parte." Dt 18,1

Passado um século talvez - provavelmente durante o reinado de David - os levitas foram rebaixados a humilde função de acólitos enquanto que o sacerdócio foi atribuído com exclusividade a Casa de Aaarão.

“Manda vir a tribo de Levi e apresenta-a ao sacerdote Aarão para servi-lo.
Os levitas se encarregarão de tudo o que foi confiado aos seus cuidados e aos de toda a assembléia, diante da tenda de reunião: e farão assim o serviço do tabernáculo.
Cuidarão de todos os utensílios da tenda de reunião e do que foi confiado aos cuidados dos israelitas; e farão assim o serviço do tabernáculo.
Darás os levitas a Aarão e seus filhos. Eles serão escolhidos dentre os filhos de Israel para serem inteiramente dele.
Estabelecerás Aarão e seus filhos para exercerem o ministério sacerdotal. O estrangeiro que se aproximar do santuário será punido de morte.” Num 3,6 e sgs

No século VI, o redator sacerdotal, urdiu uma fábula referente a Nabad e Abiu, filhos de Aarão, e segundo a qual:

"Tomou cada um deles o seu turíbulo, puseram neles fogo e incenso e ofereceram ao Senhor um fogo estranho, que não lhes tinha sido ordenado.
Saiu, então, um fogo de diante do Senhor que os devorou, e morreram diante do Senhor." Lv 10,1




Querendo significar que novas mudanças foram implementadas, quiça durante o governo de Salomão.

Quando a família de Itamar e a casa de Abiatar parecem ter sido desapossadas de suas funções por razões de ordem meramente temporal. 



Conclusão: A totalidade das descendências de cada grupo passou a ser considerada inapta para para exercer as funções sacerdotais, as quais por isso mesmo - ao menos no que diz respeito ao templo de Jerusalem - concentraram-se nas mãos da família de Sadoc como verdadeiro monopólio religioso, dai o nome Saduceus, dado aos sucessores de Sadoc e cabeças do sacerdócio hebraico.

Foi a resistência dos provincianos de Judá e especialmente dos nortistas (resistência que se prolongou até o cativeiro) - as tendências predominantes na capital e no templo - que levou os sacerdotes a fabricarem todas essas frioleiras e quejandas com o objetivo de denegrir seus concorrentes fossem levitas, ou membros das casas de Itamar e Abiatar...

Mesmo após o cativeiro um grupo de tradicionalistas infensos as reformas de Ezequias e Josias, edificou um templo e constituiu sacerdotes, na Ilha de El keb (elefantina) no Egito.

Todavia após a destruição do reino do Norte, Israel, em 722 a C, por Sargão II e a destruição do Reino do Sul, Judá, em 586, todas estas formas de resistência - exceto aquela que se acantonou em torno de Samaria - diluiram-se por completo e desapareceram de modo que após o regresso dos judeus em 530, o culto e o sacerdócio puderam ser completamente centralizados conforme o môdelo de Ezequias, sem maiores entraves ou problemas... Ao cabo de duzentos anos o programa fixado pelos profetas e deuteronomistas triunfara por completo, mesmo sem o apoio dos reis.

Foram portanto os judeus ou os hierosolimitanos que provocaram o cisma entre as tribos devido a suas pretenções de soberania e dum monopólio espiritual cada vez mais restrito até concentrar-se nas mãos dos saduceus. Portanto são eles e não os israelitas, nortistas ou samaritanos que merecem o título de cismáticos, na medida em que romperam com as tradições pertinentes ao culto ancestral fixado pelos patriarcas:

Tal a alegação dos samaritanos - hoje fixados em Nablus a antiga Naplusa - que em seu livro de Crónicas (Sefer ha-Yamim), apresentam-se como sendo "descendentes das tribos de Efraim e de Manassés (duas tribos procedentes da Tribo de José) que viviam no reino de Israel antes da sua destruição em 722 a.C...."


Os Samaritanos afirmam ainda que foram os Judeus "que se separaram deles quando da transferência da Arca da Aliança no século XI a.C... De acordo com a segunda das suas sete crónicas, foi o profeta Elias a causar o cisma quando estabeleceu em Siló um santuário que visava substituir o santuário do Monte Gerizim."Esta versão está bastante próxima das conclusões a que chegaram os estudos empreendidos pela maioria dos historiadores que examinaram atentamente esta questão.

Parece enfim que a história dos samaritados possui mais credibilidade do que a tal 'historia sagrada' forjada pelos sacerdotes hebreus com objetivos meramente propagandísticos, proselitistas e repleta de desonestidades. Shalders




- O templo



O próprio templo edificado por Salomão, antes do advento dos profetas, estava em franca oposição face as exigências do monoteismo mais estrito e rigoroso, que proibia a confecção de todo e qualquer tipo de imagem ou de representação dos seres criados em termos tão enfáticos quanto os do Corão.

Shalders faz bem e observar que as esculturas, relevos e pinturas do primeiro templo não condiziam com o mandamento divino: Não farás imagem de escultura... e os apologistas romanistas e ortodoxos não tem deixado de tirar proveito disto com o intuito de tapar as bocas dos fanáticos protestantes...

Afinal o mesmo deus que proibe a confecção de todo e qualquer tipo de imagem, aconselha a Moisés a confecção de uma serpente de bronze - posta no templo de Jerusalém e reverenciada como Nehustan - e toma posse dum templo que mais parece uma catedral romana ou ortodoxa... e que posteriormente veio a ser execrado pelos profetas até dar lugar a um novo templo, despojado de todo e qualquer atrativo visual e tanto mais de acordo com os ideiais de um Elias, de um Ezequiel, de um Maomé ou de um Calvino...



SOBRE OS SACRIFÍCIOS HUMANOS NO ANTIGO TESTAMENTO VIDE ARTIGO: 'JAVÉ APROVA SACRIFÍCIOS HUMANOS NO ANTIGO TESTAMENTO

SOBRE O CULTO DA ÁRVORES SAGRADAS E SEU SIMBOLISMO VIDE ARTIGO: 'SÉRIE: ERROS DO VELHO TESTAMENTO, A ORIGEM DO MAL...'

7 comentários:

Lucas Corrêa disse...

Impressionante esse artigo. De fato, para quem estuda a história das religiões e em especial do judaísmo sabe que eles nunca foram monoteístas no sentido literal. O primeiro monoteísmo documentado na história é o Zoroastrismo persa.

Domingos disse...

Do qual o judaismo tomou sua angelologia e sua crença na ressurreição e no juizo, por sinal.
O interesante no judaismo é que devido a sua pobreza original, logrou apossar-se de inumeras crenças alienígenas, é o que se chama versatilidade...
Lamentável que, entre nós, os leigos concebam o judaismo como um sistema caido prontinho do céu.
Grato por seu obsequioso comentário.

Lucas Corrêa disse...

Satanás herdou os traços primitivos e arcaicos do deus judeu Javé!

Um dos mais versados historiadores das religiões, Mircea Eliade, faz um relato esclarecedor disso, eis o trecho:

A figura de Satanás desenvolveu-se no dualismo iraniano. Trata-se, em todo caso, de um dualismo mitigado, porque Satanás não coexiste, desde o começo com Deus, não é eterno.

Por outro lado, deve-se ter em conta uma tradição mais antiga, que concebia Javé como totalidade absoluta do real, vale dizer, como uma “coincidentia oppositorum”, na qual coexistiam todos os contrários, e, portanto também o “mal”.

Lembremos o celebre exemplo de Samuel: “O espirito de Javé tinha se retirado de Saul, e um mau espirito, procedente de Javé, lhe causava terror” ( I Sam., 16:14).

Como em outras religiões o “dualismo” delineia-se em consequência de uma crise espiritual que questiona, ao mesmo tempo, a linguagem e os postulados teológicos tradicionais, e que conduz, entre outras coisas, a uma personificação dos aspectos negativos da vida, do real e da divindade. O que até então era concebido como um momento na evolução universal (baseada na alternância dos contrários: dia/noite, vida/morte; bem e mal; etc.) acha-se daí em diante isolado, personificado e investido e investido de uma função especifica e exclusiva, sobretudo aquele do mal.

É provável que Satanás seja o resultado, ao mesmo tempo, de uma “cisão” da imagem arcaica de Javé, que é uma consequência da reflexão sobre o mistério da divindade e da influência das doutrinas dualistas iranianas. De qualquer modo a figura de Satanás, como encarnação do mal, desempenhara um papel relevante na formação e na história do cristianismo, antes de se tornar a personagem famosa, de incontáveis metamorfoses, nas literaturas europeias dos séculos XVIII e XIX


Extraído de “Historia dasCrenças e das Ideias Religiosas, volume 2; Página 237”, do Historiador das religiões MirceaEliade

Domingos disse...

Antes de tudo gostariamos de agradecer a citação que é duma riqueza excepcional.

Em certo sentido a história da ideia de um 'Satanás' é tão rica quanto a história da ideia de Deus, pois esta dialeticamente voltada para ela.

Lamentável é que semelhante evolução não tenha tido seguimento, ao menos em alta escala, no sentido de compreendermos que Satanás não passa duma emanação ou representação do próprio cárater humano. Como o diabinho das estorietas infantis que vive aconselhando coisas más...

Ele certamente esta em nossas consciências e delas faz parte como uma herança ancestral e atávica relacionada a instintos socialmente destrutivos.

O grande perigo do tempo porém é que Satanás continua sendo encarado como uma entidade real pelas massas e que alguns encaram os primeiros devaneios críticos de seu próprio pensamento como uma espécie de tentação provocada por ele.

Para os fundamentalistas religiosos toda dúvida sensata e esforço racional é encarado como uma ação externa provocada por esta entidade e a qual se deve resistir sob pena de perder a alma.

Tanto pior quando esta figura - ora tornada patética - converte-se em arma ideológica empregada pelos pastores e líderes protestantes com o intuito de granjear votos e de tomar posse do poder político.

O emprego de Satanás e do inferno como estratégia política de dominação, uso bastante comum no mundo islâmico, esta sendo reproduzido em larga escala neste país com grave risco para a liberdade, a igualdade, a cidadania, a justiça social, etc

De qualquer forma agradecemos penhoradamente sua contribuição e esperamos outras pois a aquisição da verdade e sua depuração são produzidas no diálogo.

Forte abraço!!!

Lucas Corrêa disse...

O monoteísmo do Judaísmo se desenvolveu no Exílio!

No período do cativeiro e, durante algum tempo, antes e depois desse período, a religião judaica passou por um desenvolvimento bastante importante. Parece não ter havido, em sua origem, grande diferença, do ponto de vista religioso, entre os israelitas e as tribos adjacentes. Jeová era, a princípio, apenas um deus tribal que favorecia os filhos de Israel, mas não se negava que havia outros deuses e que seu culto era habitual. Quando o primeiro mandamento diz: “Não terás outros deuses diante de mim”, está dizendo algo que era uma inovação no tempo imediatamente anterior ao cativeiro. Isto é evidente através de diversos textos dos primeiros profetas. Foram os profetas dessa época que ensinaram, pela primeira vez, que a adoração dos deuses pagãos era pecado. Para se conseguir a vitória nas constantes guerras daquele tempo, proclamavam essencial o favor de Jeová; e Jeová retiraria seu favor se outros fossem também venerados. Jeremias e Ezequiel, principalmente, inventaram a ideia de que todas as religiões, exceto uma, eram falsas, e que o Senhor castiga a idolatria.

Os livros históricos do Antigo Testamento, que foram em sua maioria compilados depois do cativeiro, dão uma impressão errada, já que sugerem que as práticas idólatras contra as quais os profetas protestaram eram uma decadência da primitiva severidade, quando na verdade, a primitiva severidade jamais existiu. Os profetas eram inovadores, num grau muito maior do que o que aparece na Bíblia quando não é lida de maneira histórica.

Extraído de História da Filosofia Ocidental, vol 2 A Filosofia Católica, B. Russel, página pág. 7,9

Lucas Corrêa disse...

Todos os eruditos, pesquisadores e historiadores das religiões são unânimes neste aspecto: a de que o Judaísmo Primitivo era uma Monolatria que, somente mais tarde, evoluiu para monoteísmo.

O primeiro artigo do decálogo, “Não terás outros deuses diante de mim!”, demonstra que não se trata de monoteísmo no sentido estrito do termo. A existência de outros deuses não é negada.

No canto da vitória entoado depois da passagem do mar, Moisés exclama:”Quem é igual a ti Javé, entre os deuses?” Êxodo 15, 11.

O único pedido é a fidelidade absoluta, pois Javé é um “deus zeloso”, Exodo 20;5

História das Crenças e Idéias Religiosas, vol 1. M. Eliade, pág. 177

Domingos disse...

Se era ciumento de que tinha ciúme???

Dos maridos alheios???

Certamente que o primitivos deus dos israelitas tinha ciume dos outros deuses seus pares e rivais.

Os quais certamente deveriam possuir a categoria da Existência para despertarem seu ciúme...

Por outro lado como poderia ter ciúmes de seres de categoria inferior sem destarte macular seu cárater divino e perfeito??? Não temos palavras para expressar nossa gratidão por ter publicado as palavras imortais do autor de 'Elogio do ócio' neste painel...

De minha parte, não fosse o bendito ócio que tanto amo, este Blog não existiria. Santo e salutar é o ócio que nos permite ler Teofrasto, M Eliade, Bertrand Russel, Berdiaeff, Mounier, Jaspers, Lacan, Jay Gould, etc Mil vezes divino ócio!