XVIII - Santo Atanásio; pilar da fé nicena, S Dídimo, o cego e Mar Eusébio

"Cânone ou concilio algum dos quatro primeiros séculos reconheceu os apócrifos como inspirados."Josh McDowell

Em sua Carta canônica ou tabela Pascal de número trigésima nona, datada de 367, S Atanásio, patriarca de Alexandria e Pilar da fé ortodoxa, também inseriu uma lista Canônica de livros inspirados do antigo testamento.

Os protestantes costumam afirmar que a lista de S Atanásio esta de acordo com o Canon de suas seitas, no entanto tal afirmação esta longe de ser exata.

Pois ao contrário de S Cirilo, que vivendo na Palestina, adotou uma matriz canônica idêntica a dos judeus, Atanásio rejeitou a canonicidade do Livro de Ester e acrescentou a profecia de Baruc.
Portanto o canon atanasiano não esta de pleno acordo com o assim chamado Canon esdrino.

Para maiores esclarecimentos ouça-mos o próprio Atanásio:

"ALEM DESTES QUE NÃO FAZEM PARTE DO CANON existem outros livros EMPREGADOS PELOS PADRES COM O INTUITO DE INSTRUIR OS CATECUMENOS A A TANTOS QUANTOS DESEJAM AVANÇAR NA PIEDADE: a Sabedoria de Salomão, a Sabedoria de Siraque, e Ester, e Judith, e Tobias, O KERIGMA DOS APÓSTOLOS E O PASTOR DE HERMAS, os primeiros meus irmãos, fazem parte do Cânon enquanto que os demais são para serem lidos privadamente..." S Atanásio de Alexandria in Carta Pascal XXXIX


Diante de tais palavras a maior parte dos estudiosos tem julgado que S Atanásio partilhava da opinião de S Cirilo segundo a qual havia uma classe intermediária de registros, que não era formada por livros inspirados e tampouco por livros apócrifos, mas por livros eclesiásticos, os quais não sendo aptos para firmar doutrinas eram, sem embargo disto, uteis para instruir os fiéis em toda piedade.

Teria sido esta a posição de S Atanásio?
Para podermos chegar a algum tipo de conclusão sobre este assunto, demos a palavra ao Santo Patriarca:
"As ESCRITURAS SAGRADAS ASSIM REVELARAM O FILHO: 'Ele é a fonte da nossa Sabedoria' (Br 3,12)" in Apologia a fé Nicena II,12

Cita da mesma forma o Livro de Tobias (4,19) associado a profecia de Isaias em sua Apologia ao imperador Constancio. (XVII)


"As ESCRITURAS SAGRADAS DIZEM... daí Susana clamar: Ó Eterno Deus (Dn 13,42)" in Discurso contra os arianos I,04

Cita novamente as adições a Daniel, COMO ARGUMENTO BÍBLICO, contra a doutrina ariana no Discurso II (Sessão septuagésia primeira. )

E na Trigésima sessão do terceiro Discurso recorre mais uma vez a elas em nome do profeta Daniel.

Logo sua edição de Daniel estava deacorco com o Canon alexandrino da Septuaginta e não com o Canon palestianiano.

O Eclesiastico (1,8) é citado juntamente com provérbios e eclesiastes, sem qualquer distinção. in Discurso II, 79
"OS MANDAMENTOS DECLARAM: 'Sacrifícios faz em louvor a Deus e paga teus votos.' (Eclo 18,17)" in Carta XIX,05

"A SABEDORIA DE DEUS afirma e com razão testifica: 'A idolatria e mae do adulterio' (Sab 14,12)" in Contra os Pagaos IX

"Com razão CLAMA O PROFETA> 'Ai de sua alma por causa deste pensamento - Suprimamos o justo porque não nos agrada...' (Sb 2,12)" in Carta XIX,05

"PALAVRAS DA SAGRADA ESCRITURA> 'A testemunha falsa não ficará impune.' (Prov XIX,5) e "A boca do que nega mata a alma.' (Sab I,11)" in Discurso III

Conclusão:

- S Atanasio aceitava como inspirados e canônicos tanto o livro de Baruc quanto as adições a Daniel.
- Tambem admitia que Sabedoria e Eclesiastico pertencem as sagradas escrituras.

- Alem de equiparar Tobias a Isaias. Dando a entender que ambos são registros inspirados e canonicos (ou apócrifos, humanos e destituidos de valor).
Afinal a grande maioria das citações acima foram extraidas de suas obras polêmicas escritas contra os arianos em benefício da fé nicena...
Como prova de que S Atanasio empregava tais escritos no âmbito doutrinário.

E não como simples literatura devocional.

Mesmo porque - caro Dr Geisler - S Atanasio não tinha qualquer devoção em comum com os arianos...

Neste caso porque S Atanasio enumerou apenas vinte e dois livros canônicos em sua epistola pascal?

"Em relação à Atanásio, acho que precisamos considerar o carater de sua Epístola 39, a qual e por assim dizer um escrito de natureza litúrgica pertinente ao calendario pascal e as festas. O que ele parece estar fazendo, portanto, é estabelecer o CANON LITÚRGICO do Patriarcado de Alexandrino (que incluia parte da Palestina, Libia e etiopia). Tudo em tais cartas gira em torno das cerebrações e festividadas a serem realizadas na Páscoa e no decorrer do ano litúrgico por ela marcado e não em torno da inspiração ou de registros pertinentes a sagrada escritura."

Eis o que diz, com toda propriedade, o Sr Marcos Bonocore.

Afinal em nossas igrejas ortodoxas ainda se costuma dizer que o Apocalipse não pertence ao Canon e que não é canonico, não no sentido de que não seja inspirado ou de que não pertença as Santas Escrituras, mas no sentido de que não é empregado em nossa liturgia e jamais é lido em nossas cerimonias.

Talvez seja este o sentido da epistola 39 de S Atanasio... Ester e a maioria dos registros greco judaicos não são citados como canônicos pelo simples fato de jamais serem citados nas preces litúrgicas da Igreja.

Do contrário o Santo Patriarca não teria conferido aos Livros do Eclesiástico e da Sabedoria títulos que como bem sabia equivaliam a admitir a inspiração dos mesmos...Talvez S Atanasio, como S Cirilo, até nutrisse alguma duvida a respeito de sua paridade (e de Ester) face aos protocanônicos. Uma coisa porém é certa, S Atanasio jamais encarou tais registros como Apócrifos cuja leitura ele francamente desaconselhava a exemplo de seus ilustres predecessores.

- São Dídimo, o cego; Mestre da escola catequética de Alexandria (+398)

Em seu Comentário a Jó (Prólogo) cita Sab 1,13: "Deus não criou a morte." entre Jó 15,25 e Gen 1,31 & Sab 2,24: "Por inveja o Diabo fez a morte entrar no mundo." imeditamente antes de Is 14,12

Recorre mais uma vez a Sabedoria em Jó 3,16 e emprega 03 (três) citações do livro em Jó 3,19.

Em Jó 3,23 Eclesiástico 25,11 é associado a I Pe 3,14 e a Mt 10,28 de MODO A FORMAREM UMA ÚNICA SENTENÇA.

Já no Comentário a Zacarias emprega Judite, Tobias e as adições a Daniel

- Mar Eusébio, o 'Tucídides' da História Eclesiástica:

"É BASTANTE COMUM CITAR A ESCRITURA: 'Louvável é ocultar o segredo do rei e publicar as obras do Senhor. (Tob 12,7)." in História Eclesiástica IX,02

"A ESCRITURA adverte para não termos familiaridade com as mulheres pois aquele que se aproxima delas vira a cair." A ALUSÃO AO ECLESIÁSTICO 25 SALTA A VISTA id VII, XXX,14

Segundo o protestante Westcott - in 'A Bíblia na Igreja' p 153 - Eusébio também emprega Sabedoria e Baruc como registros divinos ou seja de par com os protocanonicos.