Hiper agia ai partenos Maria, akrantos Mitéra tou Khristos Theos - soson imas!
Batul Lala Marian Wallidat al illah - ʕawnu ni!

Nossos pais e avós foram protestantes, nossos tetravos papistas, as gerações do passado remoto no entanto foram Católicas, apostólicas e ortodoxas, e nós, consagrando todas as forças do intelecto ao estudo da coisas santas e divinas desde a mais tenra idade, reencontramos e resgatamos a fé verdadeira, pura, santa e imaculada dos apóstolos, mártires e padres aos quais foi confiada a palavra divina. E tendo resgatado as raízes históricas de nossa preciosa e vivificante fé não repousaremos por um instante até comunica-la aos que forem dignos, segundo o preceito do Senhor. Esta é a senda da luz e da justiça, lei do amor, da compaixão, da misericórdia e da paz entregue uma única vez aos santos e heróis dos tempos antigos.

João I

João I
O Verbo se fez carne




Hei amigo

Se vc é protestante ou carismático certamente não conhece o canto Ortodoxo entoado pelos Cristãos desde os tempos das catacumbas. Clique abaixo e ouça:

Mantido pelo profo Domingos Pardal Braz:

de pentecostal a ORTODOXO.

Jesus aos apóstolos:

"QUEM VOS OUVE É A MIM QUE OUVE E QUEM VOS REJEITA É A MIM QUE REJEITA."


A CRUZ É UM ESCÂNDALO PARA OS QUE SE PERDEM. MAS PARA OS SANTOS PODER E GLÓRIA DE DEUS.

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terça-feira, 30 de agosto de 2016

LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Sub capitulo P) Nos domínios do biblismo #

A propósito correu-nos a afamada obra que Karl Rahner escreveu sobre a graça. Obra em que a partir dos escritos de Irineu constatou que todos os padres gregos afirmam a direção da GRAÇA INCRIADA ou seja da posse de Deus, para a GRAÇA CRIADA ou produzida, isto é a correção da natureza fragilizada. Admitindo inclusive que Agostinho foi responsável pela subsequente inversão da teologia latina. Inversão que muitos como o douto Altaner chegam a encarar como um avanço i é a atribuição da culpa de Adão aos demais seres humanos bem como a suspensão da livre vontade.

Jerônimo todavia, dentre tantos outros padres latinos (como Ambrósio) permaneceu - ao menos em parte - fiel ao padrão antigo, podendo ser vantajosamente cotejado pelo mesmo Erasmo. Haja visto que em seu alentado volume contra os Pelagianos sequer menciona qualquer tipo de graça preveniente de caráter interno análoga a iluminação dos platônicos. 

Lutero no entanto, entre impropérios, maldições e ameaças - face aos quais o bom Erasmo quase morria de tanto rir - alega ter a seu lado 'o mais excelente de todos os padres antigos', Agostinho. Certamente aquele que melhor assimilou o pensamento do Apóstolo Paulo (!!!)... 

Quanto a Jerônimo pouco faltou a Lutero para descreve-lo como verdadeiro ateu, acrescentando alias que duvidava seriamente quanto a salvação da alma do infeliz monge poliglota...

Respondeu-lhe Erasmo de modo irretorquível observando que Agostinho por pouco ou nada saber em termos de grego e fundamentar seus trabalhos exegéticos em traduções falíveis, de modo algum podia ter compreendido melhor o sentido do pensamento do apóstolo do que os padres que dominavam a lingua grega em que ele escrevia. Supor e suster o contrário era manifestamente ridículo.

O próprio S Teodoro de Mopsuestes, a seu tempo príncipe da exegese Cristã, na já citada memória sobre o predestinacionismo fazia observar quão inábeis e fora de propósito eram os comentários do Bispo de Hipona, o que por sinal é admitido por S Fócio. Isto pela mesma razão apontada por Erasmo, Agostinho era leigo ou melhor ignorante em matéria de lingua grega.

Nós mesmos já apresentamos o testemunho do Pe Amman um de seus melhores biógrafos bem como as reflexões do Pe Mayendorff a respeito disto. Mais felizes eram seus críticos, os monges semi pelagianos de Marselha (Colônia focense do século VII a C) que ainda ao tempo de Sidônio Apolinário possuíam um 'lector graecus' e que por isso não dava trégua aos agostinianos. 

Grosso modo foi o desconhecimento da lingua grega, após as invasões bárbaras, que precipitou a igreja ocidental nos tristes erros do gracismo e do infernismo. Já no caso da reforma protestante temos que foram mantidos por pura ma fé e que uma verdadeira reforma impulsionada pelo poder divino começaria por restabelecer as nobres verdades do semi pelagianismo e do origenismo (universalismo) por isso quem o protestantismo de modo algum é melhor ou superior a igreja papa como quer apresentar.

Pois contanto com homens hábeis na lingua grega permaneceu atrelado as velhas doutrinas legadas pelo obscurantismo ancestral.

Agora, tornando ao tema da liberdade e a Lutero, Erasmo 'não largava mais osso' e assim, como nos tempos de Juliano de Aeclanum, a controvérsia chegou ao extremo da chicana. Diante disto número de humanistas (clérigos e leigos) que a princípio, estando mal informados, não só simpatizaram com o monge saxão como ingressaram nas fileiras de sua reforma tornaram a passar as fileiras de Roma e a abjurar publicamente da 'peste luterana'. Evidentemente que tais defecções eram alimentadas pelas amargas filípicas com que Lutero estava a fustigar a doutrina da livre vontade... 

Melanchton com efeito, não só estimava o pensador batavo como propendia ocultamente a doutrina do livre arbitrio, no sentido semi agostiniano ou arminiano da restauração da vontade dos eleitos. E por isso não via como o público 'renascido' ou afeito ao ideário da renascença podia ser ganho ao agostinianismo crasso e consequentemente se atingido pela mensagem protestante. Diante disto forcejou o novo 'preceptor da Germânia' por aplacar a fúria de seu mestre e faze-lo não só depor a pena mas comprometer-se a não mais tocar no assunto ou silenciar. O que Lutero cumpriu e até onde sabemos foi a única derrota a que resignou-se!

Repetia no entanto, em alto e bom som, que jamais se retrataria e que o 'Arbítrio escravo' era sua obra do coração, isto é a predileta. 

Face a derrota de seu mestre, Melanchton ousou expressar-se do seguinte modo na Confissão de Augsburgo XVIII:

"Concedemos que todos os homens gozam de certa vontade livre, livre, na medida em que exercem o juízo da razão; todavia não é capaz de sem Deus, começar, ou, ao menos, completar alguma coisa das que dizem respeito a vida eterna."

Passados cerca de cem anos após o tempo em que haviam sido editadas foram tais palavras formalmente canonizadas pelos mestre e doutores Gehard e Calovius - na esteira de Chemnitz, Andraeas, Chytraeus e Selnekker - em detrimento das doutrinas originais e legítimas da graça irresistível e da segurança absoluta do crente agora tidas em conta de calvinistas e heréticas pelos bons luteranos.

No entanto para que chegassem a este fim tiveram os heréticos alemães de fazer um percurso tenebroso e por embrenhar-se num autêntico campo de batalha espiritual como haveremos de certificar nas próximas linhas. De fato a introdução da detestada doutrina da livre vontade no credo luterânico corresponde a uma verdadeira revolução, não faltando para tanto o elemento agressivo ou da violência inclusive.

Pois mal Lutero, sentindo-se traído e vexado (por não ter conseguido restaurar o agostinianismo em sua puridade) baixa a terra fria tumba e vai de encontro as larvas de seus ancestrais estourava a controvérsia da nova obediência, sobre a necessidade das obras. Em meio a qual Melanchton, sem ponderar suficientemente, abriu a 'santa boca' para afirmar que Lutero havia se retratado a respeito da doutrina da predestinação e do livre arbítrio.

Ora tais palavras não podiam deixar de cair como um raio sobre as cabeças do fiel Amsdorf e do rigoroso Flacius. Pelo que, foi o primeiro, levado a solicitar que Melanchton apresentasse uma declaração formal assinada por Lutero aferindo tal retratação.

E como Melanchton não podia apresentar semelhante documento - porque não existia nem existe - passou a ser tido em conta de charlatão e falsário por toda Alemanha.

Desde então cindiram-se os luteranos, formalmente, em mais um partidos rivais: Os monergistas/predestinacionistas (Em parte ao menos de acordo Calvino); que chefiados por Amsdorf, Flacius, Spangenberg, etc apresentavam-se como verdadeiros discípulos e continuadores de Lutero & os sinergistas/filipistas que sustentavam uma graça geral e condicional como os padres de Trento, Arminio e Wesley.

Eis como o próprio Flacius descortina a fé do partido rival:

"No que tange a vontade humana, eles sustentam; para agradar o papa; que o homem não regenerado pode cooperar em sua conversão e que este é 'principalmente' mas não somente, justificado pela fé..."

Logo após ter arguido Melanchton e insinuado que este estava mentindo, proferiu o já citado Amsdorf estas esclarecedoras palavras:

"Contra a ultra sacrílega e ultra perdida seita de Leipzi- assim trata a Pfeffinger e aos melanchtonianos - SUSTENTO COMO DIVINO LUTERO QUE DEUS MESMO DIRIGE O HOMEM COMO UMA PEDRA OU UM CARRO DE BOIS... E ASSIM ME OPONHO AO NOVO PAPISMO QUE DESEJA RESTABELECER A FALSA DOUTRINA DA COLABORAÇÃO DA VONTADE HUMANA COM A GRAÇA DIVINA NA OBRA DA CONVERSÃO E DA SANTIFICAÇÃO DO HOMEM." 

Não podendo mais manter-se calado Melanchton rebateu:

"Quereis conhecer quem é este Amsdorf lede o escrito que compôs contra o grande Erasmo e NO QUAL ESPALHA TREVAS E EXCRETA BILIS EM CADA PÁGINA."

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Artigo L) O sentido da rebelião protestante, uma seita para Agostinho.

É lei da natureza que por força de lógica o homem superior partindo das causas chegue as últimas consequências.

Eis porque ao canonizar a primeira metade ou parte do sistema agostiniano a Igreja Romana tornou-se responsável pelo advento e afirmação da Reforma protestante.

Desde que o semi agostinianismo foi assumido em Orange II (530) a igreja romana teve de lutar durante mil anos contra aqueles que a exemplo de Gotteschalk e Wicliff pretendiam deduzir até o fim e vindicar a integralidade do agostinianismo como sistema fechado e coerente.

O agostinianismo ortodoxo sempre esteve as portas da Igreja 'vigiando', desde que ela tomara a imprudente decisão de condenar o semi pelagianismo ancestral e de assumir alguns elementos tomados as obras do Bispo de Hipona.

Santificados alguns pressupostos do sistema é certo que mais cedo ou mais tarde haveria de ocorrer uma irrupção agostinianista. Dedicada a resgatar a plenitude das ideias concebidas pelo Doutor Africano.

Desde que a Igreja romana exitará assumir a totalidade do sistema agostiniano - identificado pelos agostinianos como a quintessencia da soteriologia Cristã - não podia deixar de ser encarada pelos mesmos agostinianos como corruptora da fé. Durante cerca de mil anos desenvolveu-se e foi sendo gestada no imaginário dos agostinianos ortodoxos a tese segundo a qual a igreja jamais fora cem por cento fiel quanto a doutrina da graça e que em parte apostatara dela e desamparara Agostinho.

Efetivamente os agostinianos fiéis não podiam ver com bons olhos certos aspectos assumidos pela teologia romana medieval, assim o limbo das crianças... Assim a identificação da predestinação com a presciência e a consideração do mérito... Assim a hipótese de uma reativação geral da graça por conta da Encarnação do Senhor... Assim a ideia de que todos os homens eram chamados a unidade de Jesus Cristo... Para eles cada uma destas teorias cheirava a pelagianismo e a traição.

E não podiam deixar de evocar os testemunhos de Fulgêncio, Isidor e Prudêncio contra as inovações suspeitas de Himcmar ou Aquino. 


Desde 529 e 860 esteve a igreja romana cindida em duas correntes rivais: Uma decidida a aproximar-se ao máximo de Agostinho e seu sistema, até nutrir sérias dúvidas a respeito da capacidade da razão e da especulação teológicas e outra destinada a afastar-se ao máximo dele e a conciliar-se o quanto possível fosse com Juliano ou mesmo com Celestius e Pelágio no sentido da teologia especulativa grega.

Lamentavelmente os advogados de Agostinho - como Bernardo, Pedro Damianos, Scottus, Hallesius e Wicliff - destacaram-se pelo cultivo da virtude a ponto de atrair a simpatia das multidões. Basta dizer que após Agostinho latino algum adquiriu um status semelhante ao de Bernardo e que Bernardo utilizou-se dele com o objetivo de danificar não a Abelardo mas certamente o que ele significava: A afirmação da odiada teologia especulativa que os africanos, desde Tertuliano encaravam como uma espécie de semi gnosticismo.

Finalmente por volta do século XIV e XV em que pese a aparição de Wicliff de modo geral - ao menos na França e na Itália - a balança parecia pender para o lado do semi pelagianismo, do que resultou o Renascimento humanista e o antropocentrismo. Dir-se-ia, que a exceção do Norte, a Cristandade como um todo estava disposta a assumir até o fim a ideia de uma liberdade natural...

Foi quando entre os agostinianos do Norte ergueu-se um monge assaz habilidoso com o objetivo de vindicar o legado de Agostinho. O nome deste monge era Martinho Lutero e seu argumento mais persuasivo era atribuir as ideias de Agostinho ao Apóstolo Paulo e, consequentemente a Jesus Cristo. Afinal até hoje a maior parte dos Cristãos só se recorda de Paulo ter se apresentado como o 'alter Christus', jamais de Paulo ter advertido repetidamente: Digo eu não o Senhor... é opinião minha não mandamento do Senhor...

Diante disto a estratégia foi bastante bem sucedida e a conexão: Paulo, Agostinho, Wicliff e Lutero ou Calvino admitida por certa parte da Cristandade.

Adicionamos o nome de Wicliff porque Lutero enquanto leitor e admirador do presbítero inglês admitiu-lhe os pressupostos - ainda mais radicais que o de Agostinho - em torno do livre arbítrio. Basta dizer que Agostinho teve de admitir com a Igreja Antiga que ao menos nos eleitos ou predestinados era o livre arbítrio reativado pela graça para cooperar com ela (o que é igualmente admitido por Calvino). 

Wicliff e Lutero no entanto, a semelhança dos maniqueus e ulemás muçulmanos, declararam que o livre arbítrio era apanágio exclusivo de deus e que o homem jamais seria verdadeiramente livre mas sempre escravo de deus ou do diabo conforme fosse eleito ou réprobo. Grosso modo eram deus ou o diabo quem realizavam as boas obras ou os pecados dos eleitos ou dos réprobos respectivamente. O homem fosse salvo ou condenado jamais fazia qualquer coisa e ficava sempre sendo montadura de deus ou do capeta.

Para Lutero como para Wicliff o homem não passava dum boneco ou duma marionete nas mãos de deus ou do demônio, mesmo após sua conversão ou adesão a Jesus Cristo e o tal do livre arbítrio jamais era reativado ou restabelecido pela graça. Tudo era governado pela vontade de deus que fazia as vezes do antigo destino. O homem era sempre escravo de algum pode superior a si, fosse este bom ou mau; é o que registrou Lutero repetidas vezes na obra "O arbítrio escravo". 

Foi assim que o Agostinianismo ressurgiu com uma feição ainda mais virulenta sob os auspícios do monge teutônico. Posteriormente foi o sistema restabelecido com mais felicidade (i é fidelidade) pelo reformador francês João Calvino patriarca dos neo predestinacionistas. Com Calvino admitiram os neo predestinacionistas que deus desde toda eternidade predestinou parte dos seres humanos ao pecado e a condenação eterna ficando o edifício ímpio arrematado.

E não podemos deixar de compreender o protestantismo como um revanche ou reafirmação do agostianianismo. Ao menos a princípio foi isto e tal foi o ponto de partida da seita.

No entanto, por terem os reformadores canonizado com exclusividade a autoridade do Livro, nem todos os discípulos permaneceram fiéis a doutrina do gracismo e disto resultou como veremos o renascimento acintoso das disputas em torno da livre vontade e da graça, desta vez centradas nas letras sagradas.








LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Artigo K) Franciscanos X Dominicanos e cripto semi pelagianos

Quando dissemos que após a passagem de Gotteschalk ao mundo espiritual a Igreja pode repousar em paz ao menos por alguns séculos ou ao menos até Wicliff não pretendemos dizer que uma das partes desapareceu e que portanto não mais houveram situações de tensão e conflito ao cabo da baixa Idade Média, mas que os conflitos em questão não chegaram a atingir a intensidade daqueles que haviam estourado nos séculos V e IX pelo simples fato de terem sido fortemente mediados pelo poder papal.

De fato após a morte de Gotteschalk foram seus pressupostos, em totalidade ou em parte, acalentados primeiramente pela assim chamada ordem agostiniana, ordem de origens obscuras mas que chegou a adquirir bastante poder na Hispânia. A partir dos Agostinianos a doutrina predestinacionista infectou ainda no berço a Ordem dos franciscanos cujo entendimento em termos de teologia era absolutamente nulo. Os seguidores do monge Bernardo de Clairvoix e enfim a ordem - não menos mística e intuitiva - de Bertoldo i é o Carmelo. Praticamente todas estas facções identificaram-se em maior ou menos medida com a ideologia predestinacionista ou agostiniana.

Já seus adversários - Dos semi agostinianos aos cripto semi pelagianos - congregaram-se na Ordem dos Dominicanos, a qual foi, de longe a mais preparada daqueles tempos em termos de teologia e cujo principal representante, Aquino, ainda que desculpando-se foi um dos primeiros doutores romanistas e um dos poucos, a discordar de Agostinho neste ou naquele ponto. Não lhe puderam perdoar os agostinolatras e por isso foram suas obras mandadas lançar ao fogo por M Lutero.

Cerca do século XIII e ao cabo de todo século XIV puseram-se a terçar armas Franciscanos e Dominicanos, especialmente em torno da doutrina recém formulada da Imaculada Conceição de Maria, o foco verdadeiro no entanto era a doutrina agostiniana do Pecado Original, da qual a I C de M é pura e simples decorrência. Pouco faltou para que os representantes das duas ordens se excomungassem mutuamente e passassem as vias de fato, exterminando-se uns aos outros.

A cúria romana no entanto acabou chamando as partes a razão, impondo certa medida de silêncio e sobretudo proibindo que ambas as facções empregassem o termo heresia com o objetivo de classificar a opinião da facção rival. De modo que os franciscanos puderam estabelecer 'in partis' o culto da I C de Maria enquanto que os Dominicanos se mantiveram completamente alheios a ele até 1854 quando o papa romano Pio IX tomando partido dos franciscanos publicou a Bulla 'Ineffabilis Deus' .

Foi somente no decorrer do século XIV que a controvérsia em torno da graça e do libre arbítrio estourou novamente, desta vez nas Ilhas Britânicas, impulsionada por Wicliff a respeito de quem, registraria Erasmus dois séculos depois:

"Desde a Era apostólica até nossos dias autor algum ousou condenar a liberdade da vontade exceto os maniqueus e John Wicliff apenas."

Quanto a Huss é absolutamente falso que tenha sido calvinista, predestinacionista ou mesmo agostianiano Ortodoxo; antes parece esposar a tese proposta pelo metropolita Himcmar (vide Artigo anterior)

"Embora o sentido de Hussa seja agostiniano ele NÃO ADMITE UMA GRAÇA IRRESISTÍVEL... Para Huss Deus permite a escolha quanto ao oferecimento e aceitação da sua graça. Por isso a humanidade foi agraciada com o dom do livre arbítrio por Deus e não podem os homens ser compelidos a romper com o mal ou o bem. Para Huss a dignidade do ser humano esta relacionada com o poder da livre vontade. Ele até pareceria pelagiano... caso não admitisse a GRAÇA PREVENIENTE." cf Th A Fudge 'Jan Hus: religious reform and social revolution in Bohemia Ed Tauris 2010 p 61



terça-feira, 16 de agosto de 2016

LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Artigo J) Os cripto semi pelagianos, Himcar de Reims e GotteschalK de Orbais

Após a subscrição dos decretos semi agostinianos de Orange II por Bonifácio II papa um grande número de escritores latinos veio a abraçar esta doutrina, não todos no entanto, uma vez que:

  • Orange II não era Concílio Geral
  • A infalibilidade do papa romano sequer era considerada
Para alguns no entanto o prestígio do patriarcado romano havia fechado a porta para o semi pelagianismo e naturalmente que sua situação tornou-se mais difícil e a balança pendeu mais e mais para o lado do semi agostinianismo ou mesmo do agostinianismo radical. A tensão no entanto manteve-se até o Concílio de Trento.

Basta dizer que o Dr Alberto Pighius, modelo de Ortodoxia católica entre os Batavos - Em sua polêmica contra Lutero e Calvino iniciada em 1542 ("De libero hominis arbitrio et divina gratia libri X" ) - assumiu uma postura nítida e claramente semi-pelagiana no mesmo momento em que Paulo III havia acabado de abrir o concílio de Trento!!! Ora este Pighius era representante de toda uma Escola paralela ao Agostinianismo e oposta a ele.

Todavia, antes de retomarmos o roteiro desta 'história' convém registrar o sentir da parte Oriental da Igreja. Para tanto tomemos o testemunho de S João Damasceno na 'Exposição exata da fé Ortodoxa:

"Ao homem Deus o fez por natureza isento de pecado. Dotou no entanto de livre árbitro. Isento de pecado sim, mas não devemos compreender que lhe fosse impossível vir a pecar. Pois o pecado procede da livre vontade e não parte integrante de sua natureza. De modo que ele tanto pode avançar no caminho das coisas divinas cooperando com a graça, como pode aderir ao bem e tornar ao mal segundo o dom da vontade livre. MAS NÃO HÁ PRÁTICA DA VIRTUDE QUE SEJA PRODUTO SOMENTE DOS ESFORÇOS NATURAIS." II, 12

Em suma:

  • Não foi Deus que produziu o mal
  • O homem no entanto foi criado livre
  • Do que resulta a possibilidade do bem e do mal.
  • Mesmo após o pecado pode aderir a Divina Revelação
  • A prática da virtude é produto da 'religação' ou do retorno ao Sagrado e da união com ele. (Contra o suposto naturalismo pelagiano. 
Como se pode observar nenhuma alusão a qualquer intervenção mágica ou graça preveniente, ou iluminação platônica. Aqui a graça 'preveniente' é compreendida como algo EXTERNO E ENCANADO NA ESTRUTURA VISÍVEL DA IGREJA, EM SEU ANÚNCIO E TESTEMUNHO.

E pouco mais adiante declara:

"Devemos compreender que embora Deus tudo conheça de antemão não determina ele mesmo todos os acontecimentos. Ele de fato conhece de antemão tudo quanto haveremos de fazer, mas não nos constrange a faze-lo. Não é por vontade sua que o mal existe nem deseja ele constranger o homem a prática do bem. Assim o que chamamos de predestinação nada mais é que a fixação da ordem ou lei divina tendo em vista o conhecimento antecipado. Deus estabelece o curso das coisas de modo a que estejam em nosso alcance conforme antecipadamente pôde verificar. E todos os decretos que fixou e as condições que a nós impôs procedem de sua bondade e justiça." II, 30

Portanto a teologia legitimamente Ortodoxa nada sabe em termos de iluminação platônica ou duma graça interna e invisível de caráter mágico e para ela o trabalho de correção do homem é iniciado pelo ofício externo da Igreja ou pela pregação, segundo o próprio apóstolo parece indicar, quando escreve: " Como haverão de crer se não houver quem anuncie???"  Ele não disse: Caso deus não os ilumine ou converta mas SE NÃO HOUVER QUEM ANUNCIE!


Himcmar X Gotteschalk (848)


Seja como for, após Orange II a terra repousou por cerca de trezentos anos i é até 830 quando sob Himcmar de Reims levantou-se o monge Gotteschalk de Fulda filho do conde saxão Breno, o qual os desviados tem em conta de mártir da predestinação e que é apontado pelos papistas como tendo sido o primeiro calvinista desconsiderando tanto o Pe Lucidius quanto Fulgêncio de Ruspe e evidentemente o próprio Agostinho.

Era além disto, como Pe Lucidius, Gotteschalk profundo conhecedor das obras de Agostinho e não foi sem razão que 
Walfrido Estrabão impos-lhe o apelido de 'Fulgêncio redivivo' pelo fato de estudar continuamente as obras daquele Bispo africano, nas quais julgou ter encontrado os 'cinco pontos' e de por-se a divulga-los com grande agravo de parte do episcopado germano galicano.

Eis o teor de seus ensinamentos:

"De fato ele [Deus] predestinou todos os eleitos para a vida eterna através da gratuidade de sua bondade, como demonstram muito claramente as páginas do ANTIGO (sic) e do Novo Testamento ... e predestinou os réprobos a punição abandonando-os a morte eterna por meio de um juízo justo e imutável." (Fragmento de Hincmar de Rheims, De pradestinatione, 5 PL 121, p 365


"Aquele que diz ter o Senhor padecido por todos i é para a salvação e redenção dos eleitos e réprobos, contradiz a Deus, o Pai." Id ibd

Diante disto Victor Genke pode reconstituir a crença de Gotteschalk nos seguintes termos: 

1. Deus predestinou tanto os eleitos para a vida eterna quanto os réprobos à morte eterna. 
Assim, a predestinação é dupla.

2. A predestinação dos réprobos à morte eterna tem sua base na justiça eterna de Deus e não em seu pre conhecimento.

3. Deus jamais desejou  salvar todas as pessoas. 

4. A humanidade está dividida em dois grupos: Eleitos e os réprobos. Os eleitos 
não podem perder-se ou tornarem-se réprobos. 

5. Cristo morreu somente pelos eleitos. 

6. Uma vez que os seres humanos após a queda  só podem fazer más ações ou pecar é a graça de Deus que nos permite realizar o bem ou que reativa a livre vontade.

Tal a sinistra pregação do monge de Orbais que já havia reunido em torno de si um grupo de admiradores como Florus de Lyon, Lupus de Ferriéres, Amolo de Lyon, Wenilo de Sens, Prudêncio de Troyes, Ratramnus de Corbie, etc 

No entanto a polêmica tornou-se amarga a partir do momento em que nosso homem tentou cooptar Noting de Verona o qual foi ter com seu mestre Rabanus Maur arcebispo de Mayença e declarou ter conhecimento sobre um homem que ensinava que cada qual fora predestinado a seu devido fim desde toda eternidade pelo próprio deus, sendo assim impossível que um réprobo obtivesse a salvação ou que um salvo viesse a perde-la. Hefele 'História dos Concílios'

Diante disto escreveu ele uma memória dedicada a Noting com o objetivo de impugnar tal doutrina, a qual qualificou como "Oposta ao sentido da justiça divina." Hefele 'História dos Concílios' IV

E segundo o vício teológico dos latinos deu-lhe resposta nos seguintes termos:

"Após a queda de Adão a humanidade ficou reduzida a uma 'massa damnabilis'. Desta massa quis Deus, sem acepção de pessoas e por pura benevolência sua reconciliar algumas pessoas para a vida eterna, quanto as que abandonou, abandonou tendo em vista o conhecimento prévio do que fariam caso pudessem decidir e sabendo que não colaborariam com ele. Dispos que fossem punidos por recusarem-se a colaborar, no entanto a disposição de não colaborar partiria delas mesmas e não dele uma vez que conhecer previamente não equivale a causar ou a provocar." 
Hefele 'História dos Concílios' IV

Em suma ele limita-se a predestinar a pena da punição ou do castigo aqueles que de antemão soube que haveriam de recusar-se a colaborar consigo ou de aspirar pela remissão caso fossem livres; em sua os que haveriam de permanecer por vontade própria fixados no mal e no pecado.

Logo sua resposta a Gotteschalk esta de pleno acordo com a doutrina de S João Damasceno e dos gregos ao menos quanto ao conceito de predestinação. Fixação de penas para os aqueles que soube de antemão que não haveriam de cooperar consigo. 

O que ele reconhece não poder explicar, como latino ou infernista algum, é por que sendo deus onipotente e bom não pode ou não quis converter aqueles que soube de antemão que não haveriam de colaborar com ele... Classificando tal fato como um 'mistério impenetrável', alias o calcanhar de Aquiles do fundamentalismo judaizante. Hefele 'História dos Concílios' IV 

Feito isto alistou sete verdades dogmáticas impugnadas pelo predestinacionismo:
  1. Apresenta Deus como um ser maléfico que produz criaturas para conde-las quando sequer precisava te-las produzido.
  2. Esta em oposição a escritura que promete a vida eterna exclusivamente aos virtuosos.
  3. Restringe e portanto anula misericórdia de deus tornando-a mesquinha.
  4. Acha-se em oposição as promessas do Evangelho dirigidas a todas as criaturas. Hefele 'História dos Concílios' IV

E noutra carta a Noting toca ao nervo mesmo da questão:

"SE SOU PREDESTINADO A REPROVAÇÃO MINHAS BOAS OBRAS NÃO SERVEM PARA NADA. SE SOU PREDESTINADO A SALVAÇÃO MEUS PECADOS NÃO ME PREJUDICAM EM NADA. É A RUÍNA DA MORAL CRISTÃ." 
Hefele 'História dos Concílios' IV



Como no entanto Gotteschalk segui-se pelo Norte da Itália sublevando as populações Rabanus não teve outra saída senão cita-lo para comparecer ao sínodo de Mayence onde sua doutrina foi condenada como ímpia e odiosa. Gotteschalk ao que parece, ter-see-ia retratado mas, ainda assim condenado a retirar-se para a Gália onde como já dissemos contava com um grupo mais ou menos forte de admiradores e foi acolhido de braços abertos.  Hefele 'História dos Concílios' IV



E mal havia se instalado nas Gálias, apesar do olhar vigilante do metropolita Himcmar, pos-se Gotteschalk a anunciar a dupla predestinação. Diante disto intimou-o Himcmar a comparecer diante do sínodo de Quierzy (849) 



Entrementes Rabanus Maur enviou aos Bispos e monges ali congregados uma epístola em que classificava as doutrinas de Gotteschalk como "Falsas, heréticas e escandalosas." solicitando sua condenação formal.  Hefele 'História dos Concílios' IV



Segundo relata o próprio Himcmar, após terem lido a carta enviada pelo Abade de Fulda os clérigos puseram-se a interrogar Gotteschalk, o qual, sendo incapaz de evidenciar claramente as razões de suas esperança teve um ataque de nervos e pos-se a insultar a tantos quantos ali se achavam sem concordar em retratar-se. Diante disto

 - Em que pese a oposição de S Remígio de Lyon - foi condenado a ser surrado com varas e encerrado no monastério de Haultvilliers. Hefele 'História dos Concílios' IV



Pouco tempo depois enviou-lhe o metropolita Himcmar uma carta em que expunha a doutrina da predestinação no sentido de Rabanus e S João Damasceno isto é com relação a pena e tendo por base o pré conhecimento dos efeitos produzidos pela livre vontade. Tentou além disto dar um sentido aceitável - i é distorcer - as sentenças escabrosas de Agostinho e Fulgêncio. Gotteschalk limitou-se a apelar ao Salmo XXXII, 5 declarando que deus amava a justiça com que julgava os descendentes corrompidos de Adão e que essa justiça era boa e adorável!!!  Hefele 'História dos Concílios' IV

Diante disto tornou Himcmar (segundo o testemunho de Flodoardus) a pedir apoio ao já alquebrado Rabanus arcebispo de Mayence. O qual remeteu-lhe um florilégio com passagens tomadas as escrituras e aos padres corroborando a doutrina da vontade salvífica universal. Desde então - segundo Florus de Lyon - passou Gotteschalk a classificar seus oponentes como rabanites ou rabanitas. E os de Himcmar e Rabanus - a exemplo de Scott Eurigena - a classificar seus oponentes como predestinacionistas, expressão tomada a Cassiano, Vicente de Lerins e Genádio. Hefele 'História dos Concílios' IV

Desde então ficou a igreja das Gálias cindida em duas facções rivais e segundo uma das testemunhas foram escritos centos de panfletos sobre o tema. Seja como for o foco da questão - e é importante que tenha-mo-lo diante de nós - foi, ainda aqui, a narrativa vetero testamentária sobre o endurecimento do coração do Faraó. Pardalus de Laon dentre outros, mandou consultar inúmeros doutores (como Amalarius, Eurigena, Amolo, etc) pedindo explicações sobre o sentido desse texto... Como no entanto uns dissessem uma coisa e outros outra, optaram por congregar um novo sínodo em Paris, na Igreja de S Medardo. Hefele 'História dos Concílios' IV

Ali no, ano de 850 desta Era, congregaram-se mais de 20 metropolitas a companhados por seus doutores, mestres e monges para analisar diversas questões até que chegaram ao tema da predestinação. E como temessem discutir o assunto limitaram-se a aprovar a seguinte sentença tomada a um panfleto recém publicado por Lupus de Ferrière:

"Após a queda do primeiro homem extinguiu-se a liberdade para o bem. E diante disto ficou extinta a livre vontade do ponto de vista da natureza. E não pode o homem reconquista-la a partir de suas forças porquanto é dom de Deus. É no entanto a liberdade restabelecida após nossa adesão a Jesus Cristo e sempre amparada pela graça... De modo que nossas boas obras são como que realizadas por Deus e Deus é que as realiza em nós." 
 Hefele 'História dos Concílios' IV

"APÓS AGOSTINHO é a graça que prepara os homens para a salvação." confessou este monge dando a compreender que Agostinho havia dado inicio a manobra e que eles limitavam-se a repeti-lo.

Pouco tempo depois Prudêncio de Troyes, arvorando-se igualmente em defensor de Agostinho, compôs uma obra sobre a predestinação em que dizia:

"Do mesmo modo e maneira que os eleitos são compelidos por deus a salvação, são os réprobos compelidos por deus a perdição." 
 Hefele 'História dos Concílios' IV

Se bem que mais além emendasse: "Ele não predestina o ímpio ao pecado, mas aquele que se apega ao pecado predestina a punição."

Foi quando o Rabanus replicou: Tomando por base aquilo que o Apóstolo escreveu aos de Tessalônia ISSO NÃO EXISTE!

Tu é que pusestes de lado as palavras do abençoado Fulgêncio: "E ele é que prepara os maus para o castigo." retorquiu-lhe o erudito Ratramnus monge de Corbie. 
 Hefele 'História dos Concílios' IV

Eriugena Rabanus no auge da indignação, citaram, a exemplo de Juliano, o testemunho do Crisóstomo, ao que o abade de Ferrières ousou rebater nos seguintes termos:

"Assim tu te afastas de Agostinho. E se o Crisóstomo declara que todos os homens são chamados a salvação DEVEMOS CONCLUIR QUE ELE ESTÁ ERRADO."

"Prevendo aqueles que haveriam de cooperar após a reativação da liberdade Deus desde toda eternidade reservou-lhes o paraíso e reservou-lhes UMA PARTE DE SUA GRAÇA. Saber deus de antemão quem se obstinará na injustiça e por isso com equidade perfeita predestinou-os ao castigo. Todavia nem a predeterminação do castigo nem as presciência dos atos maus forçam o ímpio a ser ímpio de tal modo a não poder deixar de se-lo ao contrário, deus sempre exorta o homem a penitência e a conversão.... Se de fato nenhum dos eleitos se perde e nenhum dos réprobos se salvam não é porque não possam mudar mas porque não desejam ou não querem mudar. O QUE DEUS PREVÊ É SUA NÃO COLABORAÇÃO OU SUA OBSTINAÇÃO VOLUNTÁRIA NO MAL E NO PECADO E ASSIM LIMITA-SE A PRE DESTINA-LOS A PUNIÇÃO I É A PENA, QUE É JUSTA." opinou S Remígio de Lyon conforme os pressupostos do semi agostinianismo, e chegou inclusive, a dar um sentido 'Ortodoxo' a maior parte das alegações de Gotteschalk.  Hefele 'História dos Concílios' IV

Pois se a um lado, por sua parte, dispusera-se Deus a remir a todos, por parte dos próprios homens 'livres' - na perspectiva de uma possível e futura liberdade reativada pré conhecida por ele - sabia que nem todos aproveitariam de sua morte remidora.

Grosso modo, alguns destes autores - como Lupus e Ratramno - jamais explicitaram com suficiente clareza se acreditavam que Deus se recusava a socorrer e extrair da massa danada aqueles que previamente sabia que não haveriam de colaborar consigo ou se abandonava-os caprichosa e aleatoriamente sem investigar se haveriam de colaborar com ele caso suas liberdades fossem reativadas pela graça. Esta distinção é de suma importância pois ainda que tenhamos a primeira opinião em conta de errônea, a segunda apenas - proposta por Agostinho, Fulgêncio e Isidor - fica sendo ímpia, abominável e sacrílega.

Mesmo porque o conceito de presciência ou pre conhecimento das possibilidades dos futuros atos humanos, introduzido por Cesário e Próspero (os quais por isso mesmo deixaram de ser agostinianos ortodoxos para ficar sendo semi agostinianos e com eles a igreja romana) só estava no acesso daqueles poucos que como Eurigena e Rabanus eram versados na lingua grega. Lingua em que Agostinho por exemplo ( E é o Pe Amann que o diz em sua 'Vida de Agostinho') era bem pouco exercitado.

Assim enquanto os de cá apelavam a Crisóstomo ou a Próspero os da predestinação berravam: Agostinho, Fulgêncio, Gregório, Isidor e ninguém se entendia.  Hefele 'História dos Concílios' IV 

Por fim segundo Tritemius o próprio Servatus Lupus, a exemplo de Próspero, teria chegado a conclusão semelhante a de Remígio 

Diante disto foi convocado um novo Sínodo a ser realizado em Querzey -  Hefele 'História dos Concílios' IV - no ano de 853 (tese negada por Maugin) e cujos cânones seguem abaixo:

    • Deus sendo justo e bom retira daquela 'Massa de perdição' segundo o critério do pré conhecimento certo número de seres humanos, concede-lhes sua divina graça e pré dispõem para eles uma vida eterna. Canon I
    • O livre arbítrio que o primeiro homem pelo pecado perdeu, em Jesus Cristo Nosso Senhor o recebemos. Canon II
    • Deus Todo Poderoso deseja a salvação de todos os homens sem exceção. Canon III
    • Deus proveu suficiente remédio a enfermidade de todos. Não é ele culpado se alguns não haverão de beber o remédio ou de aspirarem pela cura. Canon IV cf Th Gousset 1842 Tomo I p 233
Dois anos depois foi convocado o Sínodo de Valência , cujos cânones assim se expressam:

  • Deus tudo sabe e conhece antecipadamente assim as obras dos bons e as operações dos malvados. Ele conhece desde toda eternidade todo bem que os virtuosos farão em posse da sua graça e assim dispõem dos prêmios que receberão. E dos maus também conhece a malícia dos atos pecaminosos futuros e por sua justiça os abandona para que sejam punidos. No entanto não é a presciência de Deus que faz com que se apeguem ao mal, o que alias é impossível. Eles permanecem fixos na maldade pela própria vontade. Canon II
No canon III todavia, por não atinarem com o sentido da palavra Charis renovam os erros de Agostinho e antecedem o dos reformadores recusando-se a concluir que Deus salva, converte e torna livres os remidos tendo em vista seus méritos futuros ou que retira da Massa danada os que haveriam de aspirar pela santidade e por ela lutar em comunhão com a graça de Deus.

De fato eles jamais chegam a conclusão tão pura e simples que, alias, decorre da noção de presciência e por isso foram duramente criticados por Himcmar na grande memória sobre a Predestinação caput XI.

Da qual extraímos este sugestivo testemunho:

"A seita dos predestinacionistas remonta aos tempos de Agostinho.... DEDUZIRAM-NA eles a partir de seus ensinamentos buscando reduzi-los ao absurdo."


Nós no entanto sabemos que tal redução foi feita na verdade pelo erudito Bispo de Eclanum com o objetivo de demonstrar os erros iniciais de Agostinho. No entanto como este não estivesse disposto a corrigir-se acabou por assumir as deduções apresentadas por seu crítico como absolutamente exata. Neste sentido o Agostinianismo foi uma construção dialética e seu remate final encontra-se nos últimos livros escritos contra Juliano...


Outro aspecto curioso da questão é que todos os semi agostinianos ou orangistas a exemplo de Himcmar estavam piamente convencidos de que sustentavam o mesmo ponto de vista que Agostinho ainda que para tanto tivessem de recorrer a obras apócrifas como o Hypomnesticon ou deturpar o sentido natural de suas palavras. Para eles não havia qualquer diferença entre o pensamento do Bispo africano e o de seus defensores gauleses como Próspero, Salviano e Cesário. 


E não se deixavam persuadir pelos agostinianistas fiéis, mesmo quando estes recorriam as obras, expressões e palavras de Agostinho, Fulgêncio ou Isidor declaravam ou que eram falsas ou que estavam sendo mal compreendidas e punham-se a torce-las inconscientemente. Evidentemente que este tipo de crítica exasperava ainda mais os predestinacionistas conduzindo-os verdadeiros acessos de fanatismo, pois eles sabiam que estavam dizendo a verdade e vindicando o autêntica herança do 'Doutor mais excelente da Igreja'.

Até certo ponto a percepção de Himcmar foi bastante acurada. No entanto como Cristão algum - ao menos no Ocidente - era capaz de fazer sombra o Hiponense, teve o metropolita de Reims de permanecer nos limites do semi agostinianismo, mesmo sendo o principial adversário do agostinianismo estrito ou ortodoxo defendido com maior ou menor intensidade por seus colegas Prudênco, Ratramnus, Lupus, etc


Seja como for suas penetrantes críticas a reunião das 'Saponarias' e aos canones de Valença provocaram a reunião de mais um sínodo, congregado em Tuzey, na era de 860.

Aqui a construção teológica apresentada por Himcmar aos padres tem já um sabor escolástico e faz antever as diversas tentativas de diluir ainda mais o semi agostinianismo de Orange II aproximando-o de uma semi pelagianismo levemente mitigado.

"Deus deseja conceder a todos os seres humanos a posse da bem aventurança eterna e não deseja que qualquer deles se perca. Após a queda dos primeiros pais A LIBERDADE NÃO FOI CANCELADA POR COMPLETO. MAS DEUS MANTEVE E SUSTEVE A LIBERDADE ATRAVÉS DA SUA GRAÇA. ASSIM O HOMEM A CONSERVA MESMO APÓS A QUEDA PARA DESEJAR E FAZER O BEM, E NELE PERSISTIR UM LIVRE ARBÍTRIO CONCEDIDO PELA GRAÇA PREVENIENTE... ISTO É UM SOCORRO OU GRAÇA DIVINA PELA QUAL O MUNDO É SALVO E POR ESSE SOCORRO DA LIBERDADE TAMBÉM PODE SER ELE JUSTAMENTE JULGADO...O homem é que abusando de sua liberdade dá as costas a Deus, abandona a Deus, se separa de Deus, e tomba no pecado, e perde o Sumo Bem e retorna a massa da perdição. " Carta sinodal de Tuzey cf Hefele 'História dos Concílios' IV, 231


A tese aqui é mais arrojada e quase que Ortodoxa uma vez que Deus já não de limita a reativar o livre arbítrio de alguns tendo em vista o pré conhecimento de sua futura colaboração. Antes pela manifestação de Cristo no mundo, quiçá por sua Encarnação E EM PREVISÃO DELA, TODOS OS HOMENS I É O GÊNERO HUMANO TEM SUA LIBERDADE RESTAURADA. Assim a graça da livre vontade ou de seu restabelecimento é concedida a todos a humanidade como um todo. Por isso que cada homem pode aceitar ou repudiar a oferta da vida eterna oferecida pelo Evangelho, escolhendo viver no amor e no bem ou viver uma vida viciosa.


A simples ideia de uma reativação prévia e geral da livre vontade pelo sacramento da Encarnação de Cristo chega a ser magistral em comparação com o Agostinianismo ou o Calvinismo pelo simples fato de estar de pleno acordo com a ideia de um Deus verdadeiramente benevolente e justo. 


Enfim após vinte anos de turbações a igreja havia encontrado a paz e santificado uma doutrina menos bárbara e vulgar.

Gotteschalk em articulo mortis, exortado a assinar os decretos de Tuzey e a profissão de fé de Himcmar recusou-se tenazmente. Já Florus o havia descrito como alguém de que julgava infalível... Nem mesmo a sentença que privava-o dos Sacramentos, inclusive do enterro Cristão foi capaz de demover esse homem fanático. Tais coisas sucederam-se pelos idos de 868.

A semelhança dos nossos 'profetas' e lunáticos, e a exemplo do Pr Jurieu, havia Gotteschalk classificado o metropolita de Reims como um anti Cristo e profetizado sua morte para menos de dois anos e meio (isto por volta de 861). Himcmar no entanto só veio a falecer em 887 abençoado por uma idade provecta.

Tal a crônica minuciosa do predestinacionismo galicano no século IX. Seculo em que veio a extinguir-se ao menos por um tempo e a cessar de importunar o gênero humano.



Daí até Wicliff, pelo espaço de meio milênio ocuparam-se os teólogos escolásticos em, a exemplo de Himcmar,  encontrar novas soluções de compromisso entre o semi agostinianismo e o semi pelagianismo esboçando diversos sistemas. Um destes foi o afamado Tomás de Aquino. Outros mantiveram apenas as palavras e assumiram desde então uma perspectiva semi pelagiana sem que os agostinianos radicais ou ortodoxos pudessem molesta-los; assim o grande Erasmo as vésperas da irrupção luterânica, a suprema manifestação do gracismo. 





















segunda-feira, 15 de agosto de 2016

LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Artigo I) Tensão doutrinal durante a Idade Antiga - Cesário de Arles e o Segundo Sínodo de Orange

Ortodoxo: Chegamos assim ao século sexto com Cesário de Arles.

O campeão do semi agostinianismo e por assim dizer verdadeiro pai do 'arminianismo' antigo.

Era admirador fanático de Agostinho o qual encarava como o Padre mais excelente da Igreja e completamente alheio a tradição grega.

Estava ele firmemente persuadido de que o Pecado Original transmitido por Adão a humanidade havia como que cancelado ou destruído a liberdade humana. No entanto, com o intuito de não chocar os semi pelagianos ele emprega o termo 'enfraquecido' ou 'fragilizado' com o sentido de cancelado pois esta liberdade fragilizada e natural É DE TODO IMPOTENTE PARA ADERIR A GRAÇA, A FÉ E A REVELAÇÃO DIVINA supondo, como veremos uma prévia reativação ou um apoio sobrenatural, interno e invisível.


Cerca de 527 ele demandou junto a Roma a canonização de diversas proposições tomadas aos escritos do Bispo africano. Todavia o Papa de então Felix IV mostrou-se muito pouco disposto a aprova-las, ousando reduzi-las pela metade e corrigi-las. Desde então ficou claro para Cesário que Roma não estava nem um pouco disposta a assumir o sistema agostiniano como um todo e que deveria - ele Cesário - elaborar uma solução de compromisso apenas levemente agostiniana ou agostiniana até certo ponto.

Desde então tratou-se de abater o semi pelagianismo - Cuja tese fundamental era o papel da liberdade para a aquisição da fé ou 'initium fidei' - sem canonizar o Agostinianismo estrito ou avançar a vontade salvífica restrita e a predestinação particular. Tal foi o escopo do segundo sínodo de Orange congregado em 529 e assistido por apenas quatorze Bispo dentre os quais não se achavam certamente Cassiano, Vicente, Fausto ou Genádio todos falecidos ao tempo.

Destarte agiram aqueles Bispos como se os sínodos de Arles e Lion, subscritos por Simplicio papa, jamais tivessem existido! Os latinos puseram uma pedra em cima e desde então não discutem mais o assunto! Havendo, como há dissemos, quem dentre eles classifique ambos os sínodos como semi pelagianos i é 'heréticos' na concepção deles.


Basta lembrar que cem anos antes, subscrevendo as afirmações de Cartago (418) Celestino I papa havia canonizado a doutrina da transmissão do pecado. No entanto os latinos ainda exitavam quanto a definir o grau em que aquele pecado havia afetado a condição humana e muitos ainda insistiam a respeito da tradição antiga segundo a qual a vontade livre fora apenas fragilizada ou ferida mas não cancelada, o que permitiu não apenas a sobrevivência mas como vimos a afirmação categórica do semi pelagianismo.

Passados cem anos estava a Igreja romana prestes a dar seu segundo e último passo na direção de Agostinho concedendo que a natureza fora transtornada e o livre arbítrio cancelado pela transmissão do pecado adâmico. Do que resultava a necessidade da iluminação sobrenatural ou graça preveniente para ativar a vontade dos que haveriam de cooperar docilmente com a graça divina. Desde então a liberdade reativada passou a ser encarada como uma graça ou com um dom conquistado e oferecido por Jesus Cristo e não por algo natural e universal.


Paradoxalmente o último grande porta voz do semi pelagianismo ou da Ortodoxia no Ocidente foi um Bispo AFRICANO radicado em Constantinopla e cujo nome era Possessorius. Possessorius tendo em mãos o livro de Fausto de Riez contra os predestinacionistas pos-se a fazer uso deles contra os monges citas chefiados pelo fanático - segundo opinião do próprio papa romano Hormisdas - João Maxêncio. Maxêncio declarou que as coisas estavam obscuras porquanto os sínodos da África não equivaliam a um sínodo geral... Do que resultou a convocação de Orange II  O QUAL TAMPOUCO FOI SÍNODO GERAL!!!!

Orange no entanto não foi uma Dordt antecipada, como querem alguns, manteve e afirmou as causas mas não as consequências, pelo que mutilou o agostinianismo original proposto em termos suficientemente claros por Agostinho e Fulgêncio. E se foi feita alguma menção ao calvinismo foi apenas para condena-lo inexoravelmente.

Quanto aos conceitos de traducionismo e concupiscência, da massa Damnata, do número reduzido dos salvos, a pecabilidade necessária de todos os Cristãos, etc fez-se prudente silêncio se bem que alguns desses conceitos tenham sido posteriormente retomados (Já no Sínodo de Quierzy - onde a Massa Damnata é explicitamente citada - já no 'Concílio' de Trento) e sempre afirmados pelos agostianisnos estritos. 


Seguem seus cânones:

  • Se após o pecado de Adão alguém acredita que a liberdade humana permanece intacta , foi enganado pelo erro de Pelágio (!!!???!!!) Canon I - Eles citam antigo testamento e Paulo, nada de Evangelho ou Jesus Cristo aqui!!!
  • Se alguém negar que a culpa de Adão não foi transmitida a sua descendência... Canon II
  • Se alguém disser que a graça é produto da prece e não oposto... Canon III continua apelando  aos escritos judaicos e a Paulo.
  • Se alguém declara que a vontade de ser purificado não é produzida por ação interna do Espírito Santo... Canon IV E APELA AOS PROVÉRBIOS DOS JUDEUS! (8,35) e obviamente ao querido Paulo. Nada de Evangelho ou de Jesus Cristo até aqui!!!
  • Se alguém declarar que não só o aumento da fé MAS SEU INÍCIO e a própria ASPIRAÇÃO PELA FÉ... provém da natureza e não da graça, internamente produzida pelo Espírito Santo QUE TRANSFORMA SUA VONTADE... Canon V apela apenas a Paulo
  • Se alguém negar que não só a fé mas o crer, o ir, o desejar, o esforçar, o trabalhar, o suplicar, o buscar, o rezar, etc correspondem a operações internas produzidas pelo Espírito Santo. Canon VI até aqui Paulo apenas e nenhuma alusão ao Evangelho ou a Jesus Cristo
  • Se disser que somos capazes de discernir as coisas religiosas para a vida eterna ou que podemos aderir a pregação do Evangelho por ação da vontade apenas, sem iluminação e inspiração do Espírito Santo... Canon VII aqui, a par de Paulo recorrem por primeira vez ao Evangelho (Jo 15,5) sem considerar o contexto.
  • Se alguém afirma que é capaz de demandar a graça do Santo Batismo através do livre arbítrio que foi manifestamente corrompido em todos os que nasceram pela desobediência do primeiro homem é prova de que não possuí a verdadeira fé. Canon VIII a referência mais uma vez é Paulo, no entanto apela duas vezes ao testemunho do Evangelho, um ano menos sem consideração do contexto. (Mt 16,17 e Jo 6,44)
  • O Canon XIII refere a reativação da vontade: "No que tange a reativação do livre arbítrio. A liberdade que foi destruída pelo pecado do primeiro homem só pode ser regenerada pelo Santo Batismo e devolvida por aquele mesmo que a havia dado."


Segue a condenação dirigida ao agostinianismo estrito ou ao calvinismo:

  1. MAS NÓS NÃO CREMOS QUE QUALQUER PESSOA SEJA PREDESTINADA AO MAL PELO PODER DE DEUS.
Outros códices trazem:
  • NEM AFIRMAMOS QUE A VONTADE SALVÍFICA DO SENHOR SEJA RESTRITA A ALGUNS POUCOS.

A conclusão a que somos levados é que os padres de Orange posicionaram-se contra o semi pelagianismo afirmando que a natureza da conversão é magico fetichista. Sem embargo disto consideraram a reativação da vontade tendo em vista a colaboração futura dos remidos ou a presciência pelo que não assumiram todos os pressupostos do Agostinianismo ou do calvinismo, os quais ficaram positivamente condenados.

Na prática todavia, ao menos após a condenação de Goteschalk de Orbais, a igreja romana, sempre tão rigorosa com as heresias em geral, foi conivente com o Agostinianismo. Destarte um número cada vez maior de papistas foi identificando-se com a ideologia predestinacionista e esta identificação, a longo prazo, resultou na Rebelião Luterana para cujos fautores a igreja romana havia apostatado da 'reta doutrina' i é do agostinianismo radical.