Hiper agia ai partenos Maria, akrantos Mitéra tou Khristos Theos - soson imas!
Batul Lala Marian Wallidat al illah - ʕawnu ni!

Nossos pais e avós foram protestantes, nossos tetravos papistas, as gerações do passado remoto no entanto foram Católicas, apostólicas e ortodoxas, e nós, consagrando todas as forças do intelecto ao estudo da coisas santas e divinas desde a mais tenra idade, reencontramos e resgatamos a fé verdadeira, pura, santa e imaculada dos apóstolos, mártires e padres aos quais foi confiada a palavra divina. E tendo resgatado as raízes históricas de nossa preciosa e vivificante fé não repousaremos por um instante até comunica-la aos que forem dignos, segundo o preceito do Senhor. Esta é a senda da luz e da justiça, lei do amor, da compaixão, da misericórdia e da paz entregue uma única vez aos santos e heróis dos tempos antigos.

João I

João I
O Verbo se fez carne




Hei amigo

Se vc é protestante ou carismático certamente não conhece o canto Ortodoxo entoado pelos Cristãos desde os tempos das catacumbas. Clique abaixo e ouça:

Mantido pelo profo Domingos Pardal Braz:

de pentecostal a ORTODOXO.

Jesus aos apóstolos:

"QUEM VOS OUVE É A MIM QUE OUVE E QUEM VOS REJEITA É A MIM QUE REJEITA."


A CRUZ É UM ESCÂNDALO PARA OS QUE SE PERDEM. MAS PARA OS SANTOS PODER E GLÓRIA DE DEUS.

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terça-feira, 30 de agosto de 2016

LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Sub capitulo P) Nos domínios do biblismo # Anabatistas e demais sectários

A CONTROVÉRSIA DA LIVRE VONTADE ENTRE OS ANABATISTAS E SECTARIOS



As seitas todas também cindiram-se por completo a respeito da matéria, apesar de lerem a mesma Bíblia como reconhece a Enciclopédia dos menonistas.

Basta dizer que o primeiro anabatista a abordar o assunto Hubmaier (Von der Freyhait des Willens, e Das ander Biechlen von der Freywilligkeit des Menschens, ambos publicados no Nikolsburg em 1527)  distinguiu - como Calvino - uma "vontade secreta" (poder plenário) uma "vontade revelada" - isto é duas vontades - em deus, assim sendo, a fé nos revela sua "vontade de atrair", que oferece graça e misericórdia a todos. Mas há também uma "vontade excludente" ou desejo de vingança e punição que o leva a rejeitar e condenar a maior parte do gênero humano.

Já Hans Denk, tal e qual os padres tridentinos, apresentava o livre arbitrio como uma espécie de graça primária e universal que tornava o homem responsável para com a graça da posse de Deus... E jamais empregou o termo pecado original.

"Não basta que Deus esteja em ti pela graça, tu deves antes estar nele pela escolha." era seu lema...
Tomado ao que parece as obras do injustiçado Pelágio. Seja como for sua teoria esta mais próxima de Aquino, Oecolampadius, Molina e Arminus do que de Goteschalk, Wicleff, Lutero, Calvino, Pietro Martir, Zanchius e Turretini. Esta doutrina a respeito duma graça preveniente que restabelece a vontade livre foi reafirmada por diversos grupos...

Ja Marpeck asseverava que a predestinação dizia respeito aqueles que futuramente haveriam de colaborar voluntariamente com ele, reduzindo-a de certa maneira a presciência divina. Predestinou Deus alguns homens a vida eterna por ter conhecido desde toda a eternidade que desejariam sua graça e que fariam bom uso dela. Esta doutrina, comum a todos os padres gregos, remonta aos latinos Himcmar e Rabano Maur. 

Apesar disto Schwenckfeld tomou-o por pelagiano.

Todavia a confissão de fé menonita de 1600 seguiu por este caminho tomado igualmente por Bernahrd Rothmann

A respeito de Joris sabemos ter reproduzido os ensinamentos otimistas do grande Erasmo. 

Para Melchior Hoffman a graça significava uma possibilidade de salvação para tantos quantos aspirassem por ela e não a  um decreto, uma coerção ou uma imposição divina e irrecusável.

Chegamos assim a 1557 quando Melanchton sob o título de Prozess wie es soll gehalten werden publicou um violento ataque contra os anabatistas especialmente no que dizia respeito a negação da doutrina do pecado original. Respondeu-lhe Peter Walpot por meio do tratado Handbüchlein mais amplo den Prozess. Eis o que ele registrou no sétimo capítulo daquele livro:

  • Adão certamente caiu e levou consigo toda sua posteridade, inclusive as criancinhas. E o resultado disto é a morte tanto para adultos quanto para as crianças. Cristo no entanto encarnou-se com o objetivo de reconciliar a todos pelo que as crianças pequenas recebem graciosamente a reconciliação. 
  • Certamente existe no homem uma inclinação geral para o mal. No entanto esta inclinação não é invencível e sequer acarreta a morte uma vez que 'Não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus'
  • Esta herança já não tem qualquer poder sobre os que exercem fé em Jesus Cristo. Assim 'Todo aquele que é nascido de Deus já não comete pecado' I jo 3,9 Cita por fim o texto do profeta Ezequiel sobre a responsabilidade pessoal, texto repetidamente explorado com propriedade pelos antigos anabatistas.
Enciclopédia Menonita


Grosso modo os Batistas sempre discutiram a não poder mais a respeito da natureza e da graça a ponto de constituirem dois imensos grupos nos EEUA - os da graça particular ou restrita (calvinistas) e os da graça geral ou livre (arminianos) - os quais vivem a excomungar-se mutuamente no decorrer dos últimos três séculos. Apesar da Bíblia clara e auto evidente (!!!)

Todavia, quanto as seitas radicais mais recentes, por mais paradoxal que isto possa parecer, abraçaram de modo geral a doutrina da vontade livre; sem que no entanto seus membros tenham deixado de discutir o tema até a exaustão citando carradas de passagens bíblicas pessimamente traduzidas. 


LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Sub capitulo P) Nos domínios do biblismo # A farra da predestinação nos Cantões Suíços


A CONTROVÉRSIA DA LIVRE VONTADE ENTRE OS SUÍÇOS


Em que pese a discordância existente entre Lutero e Zwinglio no que diz respeito a Eucaristia é necessário esclarecer que estavam de pleno acordo no que diz respeito a condição da vontade humana e ao fatalismo.

Passemos em revista os testemunhos:

"Mas tendo Adão desejado ser como Deus, morreu, e não só ele mas toda sua descendência. Desde então todos os homens encontram-se mortos e ninguém pode devolver-lhes a vida, só o espírito que é Deus de Deus pode ergue-los do sono da morte." 

"Deus não pode conhecer derrota, logo quando chama algum coração este deve vir.

& também: "Quando Paulo escreve: 'A FÉ VEM PELO OUVIR' não podemos admitir que o ouvir seja suficiente, de modo a excluir a coerção interna do espirito santo."

Julgo que esta citação seja suficiente caso queiramos compreender bem o sentido da reforma protestante. Basta dizer que 'aqui' nem mesmo as palavras do 'divino Paulo' são suficientes...

& por fim: "Deus é o primeiro princípio do pecado, assim sendo o homem peca por divina necessidade." 

Tais os ensinamentos do Dr Zwinglio. 

Sucede no entanto que o número de humanistas existentes na Suíça chegava a ser superior a quanto deles houvesse nas Alemanhas bastando-nos dizer que o próprio Erasmo vivia naquele país e que ali pontificava ou melhor imperava; e com ele sua côrte não menos esplêndida que a do imperador...

Disto sabia muito bem o nosso homem, alias sobrinho de humanista e por ele instruído nas artes liberais. E também sabia o quanto os humanistas detestavam não só a teoria gracista da predestinação mas mesmo o semi agostinianismo canonizado pela igreja romana, e que inclinavam-se em massa ao semi pelagianismo pelo simples fato de contemplar as exigências da razão... Sabia por fim que da amarga polêmica travada por Lutero e Erasmo (1524 - 1526) resultara a ruptura e o afastamento de um grande número deles...

Mais espertou e mais cauteloso do que Lutero, Zwinglio julgou por bem aparar as arestas e não insistir demasiadamente sobre o assunto de modo a converte-lo num novo dogma. Aqui a estratégia exigia certa dose de flexibilidade. Diante disto parte dos humanistas suíços pode engolir sem maiores problemas o anzol da reforma...

Quanto a seu amigo Johann Oecolampadius, pupilo de Erasmo, é sabido que costumava repetir: "Nossa salvação vem de Deus e nossa perdição de nós mesmos." ignorando supinamente os ensinamentos extremistas de Wicliff, Lutero e Calvino.

Mortos Zwinglio e Oecolampadius foi a tradição legada por ambos rigorosamente mantida por Heinrich Bullinger, dentre cujos colaboradores encontramos Theodor Bibliander konrad Pellikan, este, por sinal, pupilo de Erasmo.

Entrementes Calvino tendo dominado os genebrinos iniciava suas expurgações e corria com Curione, Gentile, Castellio, etc da 'Santa Jerusalém'...  

E dando seguimento a seus sinistros planos escrevia 'igrejas' vizinhas - de Lausanne, Berna, Basiléia, Zurich, etc - aconselhando seus lideres a encadear e supliciar os adversários da predestinação.

Todavia, para o azar seu, as demais 'igrejas' - herdeiras da tradição zwingliana - resistiam, acrescentando não ser lícito perseguir a quem quer que fosse pelo simples fato de emitir opiniões teológicas a respeito de assuntos controvertidos e que não faziam parte da doutrina divinamente revelada...

Noutras palavras, o que era o 'pão dos filhos' para Lutero, Calvino, Zanchius, Turretini... Para os de Berna, Lausanne, Basiléia, Strasbourg, etc não passava de especulação teológica...

As próprias Confissões elaboradas por Bullinger referem-se apenas ao decreto de eleição dos justos sem sequer aludir ao decreto de reprovação ou atribui-lo positivamente a Deus a exemplo dos genebrinos...

No entanto tais igrejas eram universalmente detestadas por terem abraçado a doutrina eucarística de Zwinglio e encontravam-se separadas de toda Cristandade enquanto Calvino não admitia ou consentia que a doutrina da predestinação fosse posta em duvida, menosprezada ou encarada como coisa de segunda classe. Enquanto isto os papistas tiravam franco proveito da situação apresentando as igrejas da Suíça como divididas... 

Tais os motivos que levaram Bullinger e Calvino a assinar o pacto Tigurino em 1549. Pacto de que extraímos os seguintes fragmentos:

"Consideramos o entendimento literal da expressão 'Isto é meu corpo' como absurdo..." Artg XXII

"Quando Cristo diz: "Tomai e comei este é meu corpo" devemos compreende-lo em sentido figurado." Artg XXIII

Justamente por estarem em franca oposição face a doutrina da presença real/virtual proposta por Calvino durante mais de uma década e ainda após a assinatura deste pacto...

No frigir dos ovos tudo não passou duma negociata em que uma parte oferecia a 'verdade' e a outra obtinha a permissão para enuncia suas doutrinas, ainda que peculiares.

Afinal os próprios biógrafos e advogados de Calvino assentem que "Ele preferia a teologia de Lutero a de Zwinglio." e que foi constrangido a assinar o acordo coma gente de Zurique devido a considerações de ordem pessoal, política e doutrinal... Assim a afirmação da 'Unidade', o fortalecimento da igreja Suíça e a LIBERDADE PARA ANUNCIAR O PREDESTINACIONISMO AS DEMAIS IGREJAS!!!

Sacrificou Calvino sua consciência as circunstâncias e fez seu rebanho jurar fidelidade a uma doutrina em que ele mesmo não acreditava sinceramente. 

No entanto quando os de Genebra apenas insinuaram introduzir no consenso alguns decretos extraídos da Confissão genebrina elaborada por Calvino e, como tais, favoráveis ao predestinacionismo absoluto os de Berna, Laussane e Zurique opuseram-se decididamente.

O próprio Bullinger resistiu-lhe em face e o tirado de Genebra saiu derrotado.

O máximo que os calvinistas obtiveram de Bullinger por meio do Tigurino foi a liberdade de pregar suas teorias em todo pais e não a autorização para introduzi-las na regra de fé ou canoniza-las.

Foi o que levou Calvino na prática a trair o consenso e reafirmar explicitamente a doutrina da presença real virtual em seus últimos dias de vida.

Por outro lado as demais igrejas tornavam-se cada vez mais prudentes e respeitosas na medida em que o poder de Calvino aumentava.

Apesar disto uma aluvião de obras foi editada pelos reformados da Suíça com o intuito de impugnar a doutrina calvinista da predestinação a partir da Bíblia. Assim Giorgio Rioli editou uma "Epistola contra a ímpia doutrina de Francesco Spiera e dos protestantes.", Ochino compos seu "Labirinto", Curione publicou "De amplitude", Socino o "De praedestinatione"... 

Foi quando, na era de 1560, estourou uma grande controvérsia envolvendo o erudito Theodor Bibliander, colaborador de Bullinger e professor em Zurich e Pietro Martir de Vermigli, amigo de Calvino e defensor da "Gemina Praedestinatione" legada, segundo ele mesmo dizia: "Pelo ilustre Bispo de Hipona, cuja causa levamos adiante.". Amargurado devido a direção que tais debates e estudos iam tomando, optou Bibliander por resignar de seu posto...

Neste mesmo ano o luterano Johann Marbach saiu a liça contra o calvinista Hieronimus Zanchius que havia escrito um tratado sobre a predestinação enfatizando seu duplo aspecto, inclusive o excludente. Eles também não estavam de acordo a respeito da Eucaristia uma vez que Marbach, luterano ortodoxo, era partidário da consubstanciação...

Aos poucos, no entanto, foi impondo-se mais e mais a opinião de Calvino. Isto por obra e graça de seu sucessor Theodoro de Beza e do cadafalso, muito naturalmente...

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Artigo N) Pequena crítica a doutrina predestinacionista e considerações sobre a relevância da questão...



protestante: Nossa quanta confusão! Fico no entanto a pensar sobre qual seja o veredito da palavra de a respeito de tão complicado assunto...





Ortodoxo: Não é objetivo deste tratado decidir o tema da Liberdade e da Predestinação, porquanto já compusemos a respeito uma obra de fôlego.

Todavia para que não sejamos acusados de omissão tecemos as seguintes considerações -

A palavra DO DEUS VERDADEIRO, JESUS CRISTO - cuja supremacia escriturística assumimos e reconhecemos - nos dá a entender que o repúdio a sua divina mensagem partiu dos próprios habitantes de da cidade de Jerusalém, os quais por isso mesmo tornaram-se merecedores de uma punição. Mt 23,38

Admitamos agora que a graça irresistível de deus deva preceder a adesão do homem a divina Revelação e que sem ela não se pode o homem converter... Neste caso sendo Jesus Cristo dispensador da graça e tendo recusado a dita graça a tais e tais pessoas por que cargas d água iria pregar, e convidar, e estimular, e tentar converter um público que ele mesmo havia desistido de converter e que sabia ser irredutível a conversão???

Admitido que Jesus Cristo converta irresistivelmente as pessoas por meio duma graça mágica e invisível ou que tenha predestinado tal pessoa ao castigo desde toda eternidade sem que esta possa fazer qualquer coisa, por que raios haveria de aproximar-se dela e de tentar ganha-la para o Evangelho???

Se é ele que atrai ou repudia as pessoas antes de anunciar de proclamar o Evangelho por que não anuncia o Evangelho apenas as pessoas certas????

Tal o exemplo do Jovem rico: Se cabia a Nosso Senhor converte-lo previa e magicamente por sua graça soberana por que declarou haver obstáculo no amor as riquezas? Alias por que não o converteu ou dispensou-o pura e simplesmente economizando suas palavras?

Mais absurda e grotesca fica sendo a narrativa de Lc 19,41 sobre o choro de Jesus face a impenitência dos habitantes de Jerusalém.

Como poderia ter Jesus chorado se ele mesmo enquanto predestinador dos eleitos é a causa da impenitência deles desde toda a eternidade????

Agora se chorou porque tal situação não estivava de acordo com sua vontade (do contrário por que teria chorado, por aparência ou hipocrisia???) por que predestinou-os????

Teria acaso Jesus a princípio predestinado tais pessoas a punição e posteriormente se esquecido ou arrependido???

Aqui as únicas opções para os predestinacionistas são o esquecimento, o arrependimento ou o fingimento e eu não acredito que qualquer uma delas seja digna de consideração.

Devo concluir portanto que Jesus chorou porque mesmo sendo capaz de ressuscitar mortos e produzir mundos não era capaz de obrigar o homem a converter-se por lhe ter concedido o dom da liberdade.

Agora se concedeu aos homem o dom da liberdade por que teria chorado?

Por ter se compadecido em vista da péssima opção feita por eles. Da qual decorreriam inclusive terríveis consequências na ordem temporal das coisas.

No entanto ele bem sabia que os homens são mutáveis pois assim foram constituídos tendo em vista a aquisição da vida perfeita. E sabia que por fim todos os homens seriam reconciliados consigo.

Protestante: Mas meu amigo se Jesus sabia de antemão quem haveria de aderir ou não livremente, ao anúncio do Evangelho, a que título anunciava o Evangelho aqueles que sabia que não haveriam de converter-se?

Ortodoxo: Penso que haja uma grande diferença em termos conhecimento de que alguém haverá de opor-se livremente a nós e suscitarmos nos outros uma oposição a nós mesmos.

Quando Jesus Cristo decidiu encarnar-se teve de lidar com o fato de relacionar-se com pessoas que sabia que não haveriam de aderir a seus ensinamentos, no entanto pelo simples fato de ama-las, de não querer exclui-las ou humilha-las e acima de tudo para patentear a responsabilidade delas mesmas não deixou de ensina-las. 


Ele mesmo disse lançar as sementes onde não podiam germinar por causa de obstáculos externos. O que por sinal indica que o obstáculo se encontra na vontade livre do homem e que a semente da graça não é irresistível, a menos que os predestinacionistas encarem as palavras saídas da boca do próprio Verbo como graças pequenas ou insuficientes...

Assim mesmo conhecendo de antemão a impenitência deles ele optou por pregar porque a impenitência partia da decisão livre deles e não da decisão dele Jesus...

Pois se partisse apenas dele, Jesus e de sua graça soberana e se ele mesmo fosse responsável pela impenitência deles É SINAL CLARO DE QUE NÃO ASPIRAVA CONVERTE-LOS. AGORA SE NÃO ASPIRAVA ELE MESMO CONVERTE-LOS POR QUE DEMANDAVA PELA CONVERSÃO DELES.

No primeiro caso eram eles apenas que não estavam dispostos a ser convertidos ELE NO ENTANTO ESTAVA DISPOSTO A CONVERTER A TODOS E POR ISSO A TODOS PREGAVA.


Protestante: No caso a vontade salvífica seria universal?

Ortodoxo: Ele mesmo afirma que ao ser guindado como a serpente no deserto chamaria a si TODOS OS SERES HUMANOS e não apenas um grupinho seleto de eleitos.

Por isso diz Ruperto: "É certo que pretendia atrair a si todos os homens."

E não as todas as coisas ou todas as 'partes' (corpo e alma) dos eleitos apenas como sugere capciosamente Agostinho profanando o texto.

Por outro lado quando Paulo declara que Cristo manifestou-se para PACIFICAR TODA AS COISAS PELO SANGUE E PELA CRUZ outra coisa não queria dizer que todos os homens separados e em estado de conflito devido a Lei do ódio. Os quais veio a longo prazo conciliar pela adesão a sua Lei de amor.

E noutro passo ainda mais explicitamente declara: DESEJA QUE TODOS OS HOMENS CONVERTAM-SE PARA A VIDA ETERNA. II TM 2,4

Só restando a Agostinho o expediente desonesto de alegar que Paulo estava querendo dizer 'todas as classes de homens' ou homens de todas as nações, e não de fato TODOS OS HOMENS. Mesmo porque caso Paulo aspirasse dizer o que Agostinho forceja por em sua boca não lhe faltariam nem restritivos, nem sabedoria, nem capacidade E MENOS AINDA O ESPÍRITO SANTO.

Portanto a menos que com Agostinho, Lutero e Calvino desejemos passar por falsificadores da pena apostólica devemos nos contentar com sua simplicidade e receber o que ela de fato diz: Que Deus deseja salvar todos os HOMENS i é o GÊNERO HUMANO...

protestante: Diante de textos tão claros como Calvino foi capaz de defender que a vontade salvífica de Deus era restrita????

ortodoxoGraças ao funesto princípio segundo o qual qualquer individuo tem o direito de torcer e distorcer a palavra de Deus, de corrompe-la por completo, de subverte-la, de perverte-la e enfim de converte-la numa veste capaz de encobrir seus próprios ensinamentos, sejam quais forem; assim a predestinação, o sono da alma, o arianismo, o sabatismo, etc 

Pelo livre exame é a Escritura manipulada de uma tal maneira que chega a demonstrar e favorecer o oposto do que Deus tinha em mente, de aprovar o que Deus reprova e de aprovar o que ele condena... Convertendo-se assim em pura e simples palavra de homem...

Basta ver como no decorrer dos séculos não poucas pessoas tem defendido o assassinato, o roubo, a mentira e a infidelidade em nome de Jesus Cristo e seus apóstolos. E transformado a lei evangélica numa fonte de depravações inauditas! Quantos não tem torturado e queimado seres humanos em nome de Cristo a exemplo do citado João Calvino???????

Tal a 'Bíblia' na boca dos expositores desonestos na medida em que perde seu sentido original e divino para receber outro bem diverso... Destarte já não é palavra luminosa de Jesus Cristo, mas palavra tenebrosa de Martinho, João, Ulrico, Edir, Estevão, etc

Agora observe como Calvino comenta o texto acima:

"SÃO DUAS COISAS DIFERENTES: A VONTADE DE DEUS MANIFESTA; E SUA VONTADE OCULTA. O QUE ELE MOSTRA NA SUA PALAVRA, A BÍBLIA, E QUE DESEJA A SALVAÇÃO DE TODOS. O QUE, PORÉM, ELE QUE OCULTAMENTE, A SUA VONTADE QUE NÃO PODEIS PENETRAR, É QUE UNS SE SALVEM E OUTROS SE CONDENEM." in Loc

Protestante: Ao que parece ao invés de interpretar a palavra de Deus, Calvino pura e simplesmente rechaçava-a... Pois se admitia que "O que ele mostra na sua palavra, a bíblia, é que deseja a salvação de todos." e professava um ensinamento oposto ao da 'Bíblia' só podemos concluir que não acreditava sinceramente nela mas apenas em suas próprias opiniões. Apesar da Escritura...

Ortodoxo: Ademais livre examinismo é exatamente isto: Tomar a letra, isola-la ou extrai-la de seu contexto - que é a chave do significado - alija-la de seu legítimo conteúdo (que é a mensagem que Deus desejou comunicar aos homens) e converte-la numa roupa ou fantasia destinada a ocultar nossa próprio opinião...

Assim aniquilada a substância e preservada a casca ou o invólucro pode o infiel revestir seus próprios pensamentos como a apostasia da igreja, o juízo investigativo, o solifideismo, o predestinacionismo, etc

De fato a raiz e origem de todas as seitas é o engenho humano associado a firme vontade de escravizar os mais frágeis ou idiotas.

Nem podemos negar que a piedosa ideia de uma Revelação divina consignada em determinados livros preste-se perfeitamente a tais fins.

É próprio dos homens maus e viciados introduzir determinados conceitos em frases mortas e por meio de tais conceitos colonizar as mentes alheias.

protestante: De fato se e a outra vontade de Deus - a da predestinação - é secreta ou oculta como Calvino poderia ter chegado a conhece-la?

ortodoxo: Para respondermos a esta questão devemos analisar antes de tudo a ideia que Calvino fazia a respeito de si mesmo: "Dieu ma fait la grace de me declarer ce qui est bon et mauvais." Letres françaises, I, 389 a Aubeterre ...

Traduzindo: "DEUS ME CONCEDEU A GRAÇA DE CONHECER O BEM E O MAL."

Acaso tais palavras não equivalem a revindicar para si uma infalibilidade ainda maior do que a revindicada pelo papa romano????

Papa romano cuja arrogância ele tanto criticava????


Afinal Calvino fazia de seu ministério um continuo e ininterrupto Ex chatedra.
"... Não ignoro pois, apesar de minha indignidade, A POSIÇÃO A QUE DEUS ME ELEVOU EM SEU PROPÓSITO, ASSIM NÃO PODES QUEBRAR NOSSA AMIZADE SEM CAUSAR GRANDE MAL A IGREJA." Ep 145 a Melanchton

protestante: Penso afirmações proclamadas em semelhante tom haja muito haja muito sobre o que pensar.

Tornemos porém ao assunto da predestinação.

Não seria o caso de estarmos diante duma doutrina de pouca ou nenhuma importância?







Ortodoxo: Neste caso como compreender o sem número de querelas e disputações por nós elencadas...

A começar por aquela que envolveu Agostinho X Pelagio, Celestio, S Teodoro e Juliano; passando pela que envolveu Cassiano, Vicente, Enódio e Hilário X Próspero e o outro Hilário;  pela que envolveu o Pe Lucidius e Fulgêncio de Ruspe X Fausto, Possessorius e Genádio; pela que envolveu Gotteschalco, Prudêncio, Amolo, Florus, Lupus, Ratramnus, Wenilo e Remígio  X Hincmar, Pardalus e Rabanus; pela que envolveu Franciscanos e Dominicanos; enfim pelas proposições de Wicliff até chegarmos a Lutero X Erasmo (brilhante campeão do livre árbitro); Calvino X Pighius, Servet, Castellio, Curione; Gomarius X Arminius (e em cujo contexto Barnaveldth perdeu a cabeça enquanto Grotius foi encarcerado e Episcopius exilado); aos tomistas X molinistas; aos Jansenistas X Jesuitas; a Wathfield X Wesley; etc

TERIAM TAIS POLÊMICAS PARTIDO DE UMA DOUTRINA NEUTRA OU IRRELEVANTE???

Teriam tantas centenas de pessoas tomado parte nelas por pura e simples leviandade????

Teriam perdido tanto tempo, tanta saliva, tanto papel e tanta tinta por nada????

De minha parte julgo que o número de controvérsias suscitadas pelo tema seja mais do que suficiente para evidenciar sua gravidade.

Dificilmente qualquer um dos personagens acima citados, independentemente de sua opinião, admitiria ter se envolvido numa discussão frívola ou ociosa.




Basta dizer que para o teólogo reformado Turretini a doutrina da predestinação constituía: "O eixo coordenador da revelação Cristã e implicava na exaltação da Suprema Glória devida a Soberania divina.". 

O que de certo modo já havia sido antecipado pelo próprio Calvino:

"DEUS ESCOLHE OS QUE QUER PARA SÍ, E, ANTES QUE NASÇAM, PÕE DE RESERVA A GRAÇA - percebam que Calvino é substancialista ou Flaciano - COM QUE DESEJA FAVORECE-LOS. NÃO É A SUA PREVISÃO DA NOSSA FUTURA SANTIDADE QUE DETERMINA ESSA ESCOLHA... A GRAÇA DE DEUS É GRATUITA E NÃO CONCEDIDA AOS QUE MERECEM LOUVORES, ELA DEIXARIA DE SER GRATUITA SE, ESCOLHENDO O SEU POVO, DEUS ATENDESSE A NATUREZA DAS OBRAS DE CADA UM... SÓ DEUS PODE OPERAR A CONVERSÃO DO HOMEM, POIS ESTE NEM SEQUER POSSUI A CAPACIDADE DE PENSAR NELA." Institutas III,22-2 e II, 3 -6

Pelo que foi incluso da cf Palatina:

"E a própria vontade não é somente mudada pelo Espírito, mas é também
equipadA com poderes, de modo, que espontaneamente deseje o bem e seja capaz de
praticá-lo." 
iten IX




Não foi sem razão que o humanista Seb. Castellion objetou que ao destruir o livre arbitro Calvino destruia o fundamento da vida moral.

Jerônimo Bolsec a seu tempo afirmou em alto e bom som que o Evangelho de Calvino apresentava Deus como autor do mal e do pecado...

(Nem preciso esclarecer que tanto um quanto outro tiveram de fugir as pressas da 'santa' Genebra...)

Outros não foram os sentimentos acalentados pelo humanista Jacob Arminius, para quem a questão da liberdade humana era uma questão crucial. E seu oponente Francisco Gomarius era do mesmo parecer,
quanto a graça e a soberania divinas...

protestante: Não sei o que pensar, acho-me um tanto confuso.

Ortodoxo: Neste caso pare e pense> Caso atribuamos a perdição de parte dos seres humanos a vontade positiva de deus, poderíamos sustentar que seu amor é sem fim? 

Caso concluamos que desde toda eternidade deus predestinou algumas pessoas ao mal para posteriormente poder vir a puni-las, poderíamos sustentar que esse deus é justíssimo??? 

Caso concedamos que esse deus lance as criancinhas não batizadas num palheiro de fogo ainda que não tenham chegado a cometer pecados pessoais, poderíamos apresenta-lo como Pai bondadoso???? 

Poderia o Deus verdadeiro amar infinitamente e ao mesmo tempo abandonar, recusar-se a ajudar ou conceder uma nova chance aquele que sequer tiveram a oportunidade de decidir livremente??? PODERIAM TODAS ESTAS QUESTÕES SER OCIOSAS OU IRRELEVANTES??????


LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Artigo L) O sentido da rebelião protestante, uma seita para Agostinho.

É lei da natureza que por força de lógica o homem superior partindo das causas chegue as últimas consequências.

Eis porque ao canonizar a primeira metade ou parte do sistema agostiniano a Igreja Romana tornou-se responsável pelo advento e afirmação da Reforma protestante.

Desde que o semi agostinianismo foi assumido em Orange II (530) a igreja romana teve de lutar durante mil anos contra aqueles que a exemplo de Gotteschalk e Wicliff pretendiam deduzir até o fim e vindicar a integralidade do agostinianismo como sistema fechado e coerente.

O agostinianismo ortodoxo sempre esteve as portas da Igreja 'vigiando', desde que ela tomara a imprudente decisão de condenar o semi pelagianismo ancestral e de assumir alguns elementos tomados as obras do Bispo de Hipona.

Santificados alguns pressupostos do sistema é certo que mais cedo ou mais tarde haveria de ocorrer uma irrupção agostinianista. Dedicada a resgatar a plenitude das ideias concebidas pelo Doutor Africano.

Desde que a Igreja romana exitará assumir a totalidade do sistema agostiniano - identificado pelos agostinianos como a quintessencia da soteriologia Cristã - não podia deixar de ser encarada pelos mesmos agostinianos como corruptora da fé. Durante cerca de mil anos desenvolveu-se e foi sendo gestada no imaginário dos agostinianos ortodoxos a tese segundo a qual a igreja jamais fora cem por cento fiel quanto a doutrina da graça e que em parte apostatara dela e desamparara Agostinho.

Efetivamente os agostinianos fiéis não podiam ver com bons olhos certos aspectos assumidos pela teologia romana medieval, assim o limbo das crianças... Assim a identificação da predestinação com a presciência e a consideração do mérito... Assim a hipótese de uma reativação geral da graça por conta da Encarnação do Senhor... Assim a ideia de que todos os homens eram chamados a unidade de Jesus Cristo... Para eles cada uma destas teorias cheirava a pelagianismo e a traição.

E não podiam deixar de evocar os testemunhos de Fulgêncio, Isidor e Prudêncio contra as inovações suspeitas de Himcmar ou Aquino. 


Desde 529 e 860 esteve a igreja romana cindida em duas correntes rivais: Uma decidida a aproximar-se ao máximo de Agostinho e seu sistema, até nutrir sérias dúvidas a respeito da capacidade da razão e da especulação teológicas e outra destinada a afastar-se ao máximo dele e a conciliar-se o quanto possível fosse com Juliano ou mesmo com Celestius e Pelágio no sentido da teologia especulativa grega.

Lamentavelmente os advogados de Agostinho - como Bernardo, Pedro Damianos, Scottus, Hallesius e Wicliff - destacaram-se pelo cultivo da virtude a ponto de atrair a simpatia das multidões. Basta dizer que após Agostinho latino algum adquiriu um status semelhante ao de Bernardo e que Bernardo utilizou-se dele com o objetivo de danificar não a Abelardo mas certamente o que ele significava: A afirmação da odiada teologia especulativa que os africanos, desde Tertuliano encaravam como uma espécie de semi gnosticismo.

Finalmente por volta do século XIV e XV em que pese a aparição de Wicliff de modo geral - ao menos na França e na Itália - a balança parecia pender para o lado do semi pelagianismo, do que resultou o Renascimento humanista e o antropocentrismo. Dir-se-ia, que a exceção do Norte, a Cristandade como um todo estava disposta a assumir até o fim a ideia de uma liberdade natural...

Foi quando entre os agostinianos do Norte ergueu-se um monge assaz habilidoso com o objetivo de vindicar o legado de Agostinho. O nome deste monge era Martinho Lutero e seu argumento mais persuasivo era atribuir as ideias de Agostinho ao Apóstolo Paulo e, consequentemente a Jesus Cristo. Afinal até hoje a maior parte dos Cristãos só se recorda de Paulo ter se apresentado como o 'alter Christus', jamais de Paulo ter advertido repetidamente: Digo eu não o Senhor... é opinião minha não mandamento do Senhor...

Diante disto a estratégia foi bastante bem sucedida e a conexão: Paulo, Agostinho, Wicliff e Lutero ou Calvino admitida por certa parte da Cristandade.

Adicionamos o nome de Wicliff porque Lutero enquanto leitor e admirador do presbítero inglês admitiu-lhe os pressupostos - ainda mais radicais que o de Agostinho - em torno do livre arbítrio. Basta dizer que Agostinho teve de admitir com a Igreja Antiga que ao menos nos eleitos ou predestinados era o livre arbítrio reativado pela graça para cooperar com ela (o que é igualmente admitido por Calvino). 

Wicliff e Lutero no entanto, a semelhança dos maniqueus e ulemás muçulmanos, declararam que o livre arbítrio era apanágio exclusivo de deus e que o homem jamais seria verdadeiramente livre mas sempre escravo de deus ou do diabo conforme fosse eleito ou réprobo. Grosso modo eram deus ou o diabo quem realizavam as boas obras ou os pecados dos eleitos ou dos réprobos respectivamente. O homem fosse salvo ou condenado jamais fazia qualquer coisa e ficava sempre sendo montadura de deus ou do capeta.

Para Lutero como para Wicliff o homem não passava dum boneco ou duma marionete nas mãos de deus ou do demônio, mesmo após sua conversão ou adesão a Jesus Cristo e o tal do livre arbítrio jamais era reativado ou restabelecido pela graça. Tudo era governado pela vontade de deus que fazia as vezes do antigo destino. O homem era sempre escravo de algum pode superior a si, fosse este bom ou mau; é o que registrou Lutero repetidas vezes na obra "O arbítrio escravo". 

Foi assim que o Agostinianismo ressurgiu com uma feição ainda mais virulenta sob os auspícios do monge teutônico. Posteriormente foi o sistema restabelecido com mais felicidade (i é fidelidade) pelo reformador francês João Calvino patriarca dos neo predestinacionistas. Com Calvino admitiram os neo predestinacionistas que deus desde toda eternidade predestinou parte dos seres humanos ao pecado e a condenação eterna ficando o edifício ímpio arrematado.

E não podemos deixar de compreender o protestantismo como um revanche ou reafirmação do agostianianismo. Ao menos a princípio foi isto e tal foi o ponto de partida da seita.

No entanto, por terem os reformadores canonizado com exclusividade a autoridade do Livro, nem todos os discípulos permaneceram fiéis a doutrina do gracismo e disto resultou como veremos o renascimento acintoso das disputas em torno da livre vontade e da graça, desta vez centradas nas letras sagradas.








terça-feira, 16 de agosto de 2016

LIVRO PRIMEIRO > Capítulo I - Sessão 10: Divisões a respeito da doutrina da Predestinação / Artigo J) Os cripto semi pelagianos, Himcar de Reims e GotteschalK de Orbais

Após a subscrição dos decretos semi agostinianos de Orange II por Bonifácio II papa um grande número de escritores latinos veio a abraçar esta doutrina, não todos no entanto, uma vez que:

  • Orange II não era Concílio Geral
  • A infalibilidade do papa romano sequer era considerada
Para alguns no entanto o prestígio do patriarcado romano havia fechado a porta para o semi pelagianismo e naturalmente que sua situação tornou-se mais difícil e a balança pendeu mais e mais para o lado do semi agostinianismo ou mesmo do agostinianismo radical. A tensão no entanto manteve-se até o Concílio de Trento.

Basta dizer que o Dr Alberto Pighius, modelo de Ortodoxia católica entre os Batavos - Em sua polêmica contra Lutero e Calvino iniciada em 1542 ("De libero hominis arbitrio et divina gratia libri X" ) - assumiu uma postura nítida e claramente semi-pelagiana no mesmo momento em que Paulo III havia acabado de abrir o concílio de Trento!!! Ora este Pighius era representante de toda uma Escola paralela ao Agostinianismo e oposta a ele.

Todavia, antes de retomarmos o roteiro desta 'história' convém registrar o sentir da parte Oriental da Igreja. Para tanto tomemos o testemunho de S João Damasceno na 'Exposição exata da fé Ortodoxa:

"Ao homem Deus o fez por natureza isento de pecado. Dotou no entanto de livre árbitro. Isento de pecado sim, mas não devemos compreender que lhe fosse impossível vir a pecar. Pois o pecado procede da livre vontade e não parte integrante de sua natureza. De modo que ele tanto pode avançar no caminho das coisas divinas cooperando com a graça, como pode aderir ao bem e tornar ao mal segundo o dom da vontade livre. MAS NÃO HÁ PRÁTICA DA VIRTUDE QUE SEJA PRODUTO SOMENTE DOS ESFORÇOS NATURAIS." II, 12

Em suma:

  • Não foi Deus que produziu o mal
  • O homem no entanto foi criado livre
  • Do que resulta a possibilidade do bem e do mal.
  • Mesmo após o pecado pode aderir a Divina Revelação
  • A prática da virtude é produto da 'religação' ou do retorno ao Sagrado e da união com ele. (Contra o suposto naturalismo pelagiano. 
Como se pode observar nenhuma alusão a qualquer intervenção mágica ou graça preveniente, ou iluminação platônica. Aqui a graça 'preveniente' é compreendida como algo EXTERNO E ENCANADO NA ESTRUTURA VISÍVEL DA IGREJA, EM SEU ANÚNCIO E TESTEMUNHO.

E pouco mais adiante declara:

"Devemos compreender que embora Deus tudo conheça de antemão não determina ele mesmo todos os acontecimentos. Ele de fato conhece de antemão tudo quanto haveremos de fazer, mas não nos constrange a faze-lo. Não é por vontade sua que o mal existe nem deseja ele constranger o homem a prática do bem. Assim o que chamamos de predestinação nada mais é que a fixação da ordem ou lei divina tendo em vista o conhecimento antecipado. Deus estabelece o curso das coisas de modo a que estejam em nosso alcance conforme antecipadamente pôde verificar. E todos os decretos que fixou e as condições que a nós impôs procedem de sua bondade e justiça." II, 30

Portanto a teologia legitimamente Ortodoxa nada sabe em termos de iluminação platônica ou duma graça interna e invisível de caráter mágico e para ela o trabalho de correção do homem é iniciado pelo ofício externo da Igreja ou pela pregação, segundo o próprio apóstolo parece indicar, quando escreve: " Como haverão de crer se não houver quem anuncie???"  Ele não disse: Caso deus não os ilumine ou converta mas SE NÃO HOUVER QUEM ANUNCIE!


Himcmar X Gotteschalk (848)


Seja como for, após Orange II a terra repousou por cerca de trezentos anos i é até 830 quando sob Himcmar de Reims levantou-se o monge Gotteschalk de Fulda filho do conde saxão Breno, o qual os desviados tem em conta de mártir da predestinação e que é apontado pelos papistas como tendo sido o primeiro calvinista desconsiderando tanto o Pe Lucidius quanto Fulgêncio de Ruspe e evidentemente o próprio Agostinho.

Era além disto, como Pe Lucidius, Gotteschalk profundo conhecedor das obras de Agostinho e não foi sem razão que 
Walfrido Estrabão impos-lhe o apelido de 'Fulgêncio redivivo' pelo fato de estudar continuamente as obras daquele Bispo africano, nas quais julgou ter encontrado os 'cinco pontos' e de por-se a divulga-los com grande agravo de parte do episcopado germano galicano.

Eis o teor de seus ensinamentos:

"De fato ele [Deus] predestinou todos os eleitos para a vida eterna através da gratuidade de sua bondade, como demonstram muito claramente as páginas do ANTIGO (sic) e do Novo Testamento ... e predestinou os réprobos a punição abandonando-os a morte eterna por meio de um juízo justo e imutável." (Fragmento de Hincmar de Rheims, De pradestinatione, 5 PL 121, p 365


"Aquele que diz ter o Senhor padecido por todos i é para a salvação e redenção dos eleitos e réprobos, contradiz a Deus, o Pai." Id ibd

Diante disto Victor Genke pode reconstituir a crença de Gotteschalk nos seguintes termos: 

1. Deus predestinou tanto os eleitos para a vida eterna quanto os réprobos à morte eterna. 
Assim, a predestinação é dupla.

2. A predestinação dos réprobos à morte eterna tem sua base na justiça eterna de Deus e não em seu pre conhecimento.

3. Deus jamais desejou  salvar todas as pessoas. 

4. A humanidade está dividida em dois grupos: Eleitos e os réprobos. Os eleitos 
não podem perder-se ou tornarem-se réprobos. 

5. Cristo morreu somente pelos eleitos. 

6. Uma vez que os seres humanos após a queda  só podem fazer más ações ou pecar é a graça de Deus que nos permite realizar o bem ou que reativa a livre vontade.

Tal a sinistra pregação do monge de Orbais que já havia reunido em torno de si um grupo de admiradores como Florus de Lyon, Lupus de Ferriéres, Amolo de Lyon, Wenilo de Sens, Prudêncio de Troyes, Ratramnus de Corbie, etc 

No entanto a polêmica tornou-se amarga a partir do momento em que nosso homem tentou cooptar Noting de Verona o qual foi ter com seu mestre Rabanus Maur arcebispo de Mayença e declarou ter conhecimento sobre um homem que ensinava que cada qual fora predestinado a seu devido fim desde toda eternidade pelo próprio deus, sendo assim impossível que um réprobo obtivesse a salvação ou que um salvo viesse a perde-la. Hefele 'História dos Concílios'

Diante disto escreveu ele uma memória dedicada a Noting com o objetivo de impugnar tal doutrina, a qual qualificou como "Oposta ao sentido da justiça divina." Hefele 'História dos Concílios' IV

E segundo o vício teológico dos latinos deu-lhe resposta nos seguintes termos:

"Após a queda de Adão a humanidade ficou reduzida a uma 'massa damnabilis'. Desta massa quis Deus, sem acepção de pessoas e por pura benevolência sua reconciliar algumas pessoas para a vida eterna, quanto as que abandonou, abandonou tendo em vista o conhecimento prévio do que fariam caso pudessem decidir e sabendo que não colaborariam com ele. Dispos que fossem punidos por recusarem-se a colaborar, no entanto a disposição de não colaborar partiria delas mesmas e não dele uma vez que conhecer previamente não equivale a causar ou a provocar." 
Hefele 'História dos Concílios' IV

Em suma ele limita-se a predestinar a pena da punição ou do castigo aqueles que de antemão soube que haveriam de recusar-se a colaborar consigo ou de aspirar pela remissão caso fossem livres; em sua os que haveriam de permanecer por vontade própria fixados no mal e no pecado.

Logo sua resposta a Gotteschalk esta de pleno acordo com a doutrina de S João Damasceno e dos gregos ao menos quanto ao conceito de predestinação. Fixação de penas para os aqueles que soube de antemão que não haveriam de cooperar consigo. 

O que ele reconhece não poder explicar, como latino ou infernista algum, é por que sendo deus onipotente e bom não pode ou não quis converter aqueles que soube de antemão que não haveriam de colaborar com ele... Classificando tal fato como um 'mistério impenetrável', alias o calcanhar de Aquiles do fundamentalismo judaizante. Hefele 'História dos Concílios' IV 

Feito isto alistou sete verdades dogmáticas impugnadas pelo predestinacionismo:
  1. Apresenta Deus como um ser maléfico que produz criaturas para conde-las quando sequer precisava te-las produzido.
  2. Esta em oposição a escritura que promete a vida eterna exclusivamente aos virtuosos.
  3. Restringe e portanto anula misericórdia de deus tornando-a mesquinha.
  4. Acha-se em oposição as promessas do Evangelho dirigidas a todas as criaturas. Hefele 'História dos Concílios' IV

E noutra carta a Noting toca ao nervo mesmo da questão:

"SE SOU PREDESTINADO A REPROVAÇÃO MINHAS BOAS OBRAS NÃO SERVEM PARA NADA. SE SOU PREDESTINADO A SALVAÇÃO MEUS PECADOS NÃO ME PREJUDICAM EM NADA. É A RUÍNA DA MORAL CRISTÃ." 
Hefele 'História dos Concílios' IV



Como no entanto Gotteschalk segui-se pelo Norte da Itália sublevando as populações Rabanus não teve outra saída senão cita-lo para comparecer ao sínodo de Mayence onde sua doutrina foi condenada como ímpia e odiosa. Gotteschalk ao que parece, ter-see-ia retratado mas, ainda assim condenado a retirar-se para a Gália onde como já dissemos contava com um grupo mais ou menos forte de admiradores e foi acolhido de braços abertos.  Hefele 'História dos Concílios' IV



E mal havia se instalado nas Gálias, apesar do olhar vigilante do metropolita Himcmar, pos-se Gotteschalk a anunciar a dupla predestinação. Diante disto intimou-o Himcmar a comparecer diante do sínodo de Quierzy (849) 



Entrementes Rabanus Maur enviou aos Bispos e monges ali congregados uma epístola em que classificava as doutrinas de Gotteschalk como "Falsas, heréticas e escandalosas." solicitando sua condenação formal.  Hefele 'História dos Concílios' IV



Segundo relata o próprio Himcmar, após terem lido a carta enviada pelo Abade de Fulda os clérigos puseram-se a interrogar Gotteschalk, o qual, sendo incapaz de evidenciar claramente as razões de suas esperança teve um ataque de nervos e pos-se a insultar a tantos quantos ali se achavam sem concordar em retratar-se. Diante disto

 - Em que pese a oposição de S Remígio de Lyon - foi condenado a ser surrado com varas e encerrado no monastério de Haultvilliers. Hefele 'História dos Concílios' IV



Pouco tempo depois enviou-lhe o metropolita Himcmar uma carta em que expunha a doutrina da predestinação no sentido de Rabanus e S João Damasceno isto é com relação a pena e tendo por base o pré conhecimento dos efeitos produzidos pela livre vontade. Tentou além disto dar um sentido aceitável - i é distorcer - as sentenças escabrosas de Agostinho e Fulgêncio. Gotteschalk limitou-se a apelar ao Salmo XXXII, 5 declarando que deus amava a justiça com que julgava os descendentes corrompidos de Adão e que essa justiça era boa e adorável!!!  Hefele 'História dos Concílios' IV

Diante disto tornou Himcmar (segundo o testemunho de Flodoardus) a pedir apoio ao já alquebrado Rabanus arcebispo de Mayence. O qual remeteu-lhe um florilégio com passagens tomadas as escrituras e aos padres corroborando a doutrina da vontade salvífica universal. Desde então - segundo Florus de Lyon - passou Gotteschalk a classificar seus oponentes como rabanites ou rabanitas. E os de Himcmar e Rabanus - a exemplo de Scott Eurigena - a classificar seus oponentes como predestinacionistas, expressão tomada a Cassiano, Vicente de Lerins e Genádio. Hefele 'História dos Concílios' IV

Desde então ficou a igreja das Gálias cindida em duas facções rivais e segundo uma das testemunhas foram escritos centos de panfletos sobre o tema. Seja como for o foco da questão - e é importante que tenha-mo-lo diante de nós - foi, ainda aqui, a narrativa vetero testamentária sobre o endurecimento do coração do Faraó. Pardalus de Laon dentre outros, mandou consultar inúmeros doutores (como Amalarius, Eurigena, Amolo, etc) pedindo explicações sobre o sentido desse texto... Como no entanto uns dissessem uma coisa e outros outra, optaram por congregar um novo sínodo em Paris, na Igreja de S Medardo. Hefele 'História dos Concílios' IV

Ali no, ano de 850 desta Era, congregaram-se mais de 20 metropolitas a companhados por seus doutores, mestres e monges para analisar diversas questões até que chegaram ao tema da predestinação. E como temessem discutir o assunto limitaram-se a aprovar a seguinte sentença tomada a um panfleto recém publicado por Lupus de Ferrière:

"Após a queda do primeiro homem extinguiu-se a liberdade para o bem. E diante disto ficou extinta a livre vontade do ponto de vista da natureza. E não pode o homem reconquista-la a partir de suas forças porquanto é dom de Deus. É no entanto a liberdade restabelecida após nossa adesão a Jesus Cristo e sempre amparada pela graça... De modo que nossas boas obras são como que realizadas por Deus e Deus é que as realiza em nós." 
 Hefele 'História dos Concílios' IV

"APÓS AGOSTINHO é a graça que prepara os homens para a salvação." confessou este monge dando a compreender que Agostinho havia dado inicio a manobra e que eles limitavam-se a repeti-lo.

Pouco tempo depois Prudêncio de Troyes, arvorando-se igualmente em defensor de Agostinho, compôs uma obra sobre a predestinação em que dizia:

"Do mesmo modo e maneira que os eleitos são compelidos por deus a salvação, são os réprobos compelidos por deus a perdição." 
 Hefele 'História dos Concílios' IV

Se bem que mais além emendasse: "Ele não predestina o ímpio ao pecado, mas aquele que se apega ao pecado predestina a punição."

Foi quando o Rabanus replicou: Tomando por base aquilo que o Apóstolo escreveu aos de Tessalônia ISSO NÃO EXISTE!

Tu é que pusestes de lado as palavras do abençoado Fulgêncio: "E ele é que prepara os maus para o castigo." retorquiu-lhe o erudito Ratramnus monge de Corbie. 
 Hefele 'História dos Concílios' IV

Eriugena Rabanus no auge da indignação, citaram, a exemplo de Juliano, o testemunho do Crisóstomo, ao que o abade de Ferrières ousou rebater nos seguintes termos:

"Assim tu te afastas de Agostinho. E se o Crisóstomo declara que todos os homens são chamados a salvação DEVEMOS CONCLUIR QUE ELE ESTÁ ERRADO."

"Prevendo aqueles que haveriam de cooperar após a reativação da liberdade Deus desde toda eternidade reservou-lhes o paraíso e reservou-lhes UMA PARTE DE SUA GRAÇA. Saber deus de antemão quem se obstinará na injustiça e por isso com equidade perfeita predestinou-os ao castigo. Todavia nem a predeterminação do castigo nem as presciência dos atos maus forçam o ímpio a ser ímpio de tal modo a não poder deixar de se-lo ao contrário, deus sempre exorta o homem a penitência e a conversão.... Se de fato nenhum dos eleitos se perde e nenhum dos réprobos se salvam não é porque não possam mudar mas porque não desejam ou não querem mudar. O QUE DEUS PREVÊ É SUA NÃO COLABORAÇÃO OU SUA OBSTINAÇÃO VOLUNTÁRIA NO MAL E NO PECADO E ASSIM LIMITA-SE A PRE DESTINA-LOS A PUNIÇÃO I É A PENA, QUE É JUSTA." opinou S Remígio de Lyon conforme os pressupostos do semi agostinianismo, e chegou inclusive, a dar um sentido 'Ortodoxo' a maior parte das alegações de Gotteschalk.  Hefele 'História dos Concílios' IV

Pois se a um lado, por sua parte, dispusera-se Deus a remir a todos, por parte dos próprios homens 'livres' - na perspectiva de uma possível e futura liberdade reativada pré conhecida por ele - sabia que nem todos aproveitariam de sua morte remidora.

Grosso modo, alguns destes autores - como Lupus e Ratramno - jamais explicitaram com suficiente clareza se acreditavam que Deus se recusava a socorrer e extrair da massa danada aqueles que previamente sabia que não haveriam de colaborar consigo ou se abandonava-os caprichosa e aleatoriamente sem investigar se haveriam de colaborar com ele caso suas liberdades fossem reativadas pela graça. Esta distinção é de suma importância pois ainda que tenhamos a primeira opinião em conta de errônea, a segunda apenas - proposta por Agostinho, Fulgêncio e Isidor - fica sendo ímpia, abominável e sacrílega.

Mesmo porque o conceito de presciência ou pre conhecimento das possibilidades dos futuros atos humanos, introduzido por Cesário e Próspero (os quais por isso mesmo deixaram de ser agostinianos ortodoxos para ficar sendo semi agostinianos e com eles a igreja romana) só estava no acesso daqueles poucos que como Eurigena e Rabanus eram versados na lingua grega. Lingua em que Agostinho por exemplo ( E é o Pe Amann que o diz em sua 'Vida de Agostinho') era bem pouco exercitado.

Assim enquanto os de cá apelavam a Crisóstomo ou a Próspero os da predestinação berravam: Agostinho, Fulgêncio, Gregório, Isidor e ninguém se entendia.  Hefele 'História dos Concílios' IV 

Por fim segundo Tritemius o próprio Servatus Lupus, a exemplo de Próspero, teria chegado a conclusão semelhante a de Remígio 

Diante disto foi convocado um novo Sínodo a ser realizado em Querzey -  Hefele 'História dos Concílios' IV - no ano de 853 (tese negada por Maugin) e cujos cânones seguem abaixo:

    • Deus sendo justo e bom retira daquela 'Massa de perdição' segundo o critério do pré conhecimento certo número de seres humanos, concede-lhes sua divina graça e pré dispõem para eles uma vida eterna. Canon I
    • O livre arbítrio que o primeiro homem pelo pecado perdeu, em Jesus Cristo Nosso Senhor o recebemos. Canon II
    • Deus Todo Poderoso deseja a salvação de todos os homens sem exceção. Canon III
    • Deus proveu suficiente remédio a enfermidade de todos. Não é ele culpado se alguns não haverão de beber o remédio ou de aspirarem pela cura. Canon IV cf Th Gousset 1842 Tomo I p 233
Dois anos depois foi convocado o Sínodo de Valência , cujos cânones assim se expressam:

  • Deus tudo sabe e conhece antecipadamente assim as obras dos bons e as operações dos malvados. Ele conhece desde toda eternidade todo bem que os virtuosos farão em posse da sua graça e assim dispõem dos prêmios que receberão. E dos maus também conhece a malícia dos atos pecaminosos futuros e por sua justiça os abandona para que sejam punidos. No entanto não é a presciência de Deus que faz com que se apeguem ao mal, o que alias é impossível. Eles permanecem fixos na maldade pela própria vontade. Canon II
No canon III todavia, por não atinarem com o sentido da palavra Charis renovam os erros de Agostinho e antecedem o dos reformadores recusando-se a concluir que Deus salva, converte e torna livres os remidos tendo em vista seus méritos futuros ou que retira da Massa danada os que haveriam de aspirar pela santidade e por ela lutar em comunhão com a graça de Deus.

De fato eles jamais chegam a conclusão tão pura e simples que, alias, decorre da noção de presciência e por isso foram duramente criticados por Himcmar na grande memória sobre a Predestinação caput XI.

Da qual extraímos este sugestivo testemunho:

"A seita dos predestinacionistas remonta aos tempos de Agostinho.... DEDUZIRAM-NA eles a partir de seus ensinamentos buscando reduzi-los ao absurdo."


Nós no entanto sabemos que tal redução foi feita na verdade pelo erudito Bispo de Eclanum com o objetivo de demonstrar os erros iniciais de Agostinho. No entanto como este não estivesse disposto a corrigir-se acabou por assumir as deduções apresentadas por seu crítico como absolutamente exata. Neste sentido o Agostinianismo foi uma construção dialética e seu remate final encontra-se nos últimos livros escritos contra Juliano...


Outro aspecto curioso da questão é que todos os semi agostinianos ou orangistas a exemplo de Himcmar estavam piamente convencidos de que sustentavam o mesmo ponto de vista que Agostinho ainda que para tanto tivessem de recorrer a obras apócrifas como o Hypomnesticon ou deturpar o sentido natural de suas palavras. Para eles não havia qualquer diferença entre o pensamento do Bispo africano e o de seus defensores gauleses como Próspero, Salviano e Cesário. 


E não se deixavam persuadir pelos agostinianistas fiéis, mesmo quando estes recorriam as obras, expressões e palavras de Agostinho, Fulgêncio ou Isidor declaravam ou que eram falsas ou que estavam sendo mal compreendidas e punham-se a torce-las inconscientemente. Evidentemente que este tipo de crítica exasperava ainda mais os predestinacionistas conduzindo-os verdadeiros acessos de fanatismo, pois eles sabiam que estavam dizendo a verdade e vindicando o autêntica herança do 'Doutor mais excelente da Igreja'.

Até certo ponto a percepção de Himcmar foi bastante acurada. No entanto como Cristão algum - ao menos no Ocidente - era capaz de fazer sombra o Hiponense, teve o metropolita de Reims de permanecer nos limites do semi agostinianismo, mesmo sendo o principial adversário do agostinianismo estrito ou ortodoxo defendido com maior ou menor intensidade por seus colegas Prudênco, Ratramnus, Lupus, etc


Seja como for suas penetrantes críticas a reunião das 'Saponarias' e aos canones de Valença provocaram a reunião de mais um sínodo, congregado em Tuzey, na era de 860.

Aqui a construção teológica apresentada por Himcmar aos padres tem já um sabor escolástico e faz antever as diversas tentativas de diluir ainda mais o semi agostinianismo de Orange II aproximando-o de uma semi pelagianismo levemente mitigado.

"Deus deseja conceder a todos os seres humanos a posse da bem aventurança eterna e não deseja que qualquer deles se perca. Após a queda dos primeiros pais A LIBERDADE NÃO FOI CANCELADA POR COMPLETO. MAS DEUS MANTEVE E SUSTEVE A LIBERDADE ATRAVÉS DA SUA GRAÇA. ASSIM O HOMEM A CONSERVA MESMO APÓS A QUEDA PARA DESEJAR E FAZER O BEM, E NELE PERSISTIR UM LIVRE ARBÍTRIO CONCEDIDO PELA GRAÇA PREVENIENTE... ISTO É UM SOCORRO OU GRAÇA DIVINA PELA QUAL O MUNDO É SALVO E POR ESSE SOCORRO DA LIBERDADE TAMBÉM PODE SER ELE JUSTAMENTE JULGADO...O homem é que abusando de sua liberdade dá as costas a Deus, abandona a Deus, se separa de Deus, e tomba no pecado, e perde o Sumo Bem e retorna a massa da perdição. " Carta sinodal de Tuzey cf Hefele 'História dos Concílios' IV, 231


A tese aqui é mais arrojada e quase que Ortodoxa uma vez que Deus já não de limita a reativar o livre arbítrio de alguns tendo em vista o pré conhecimento de sua futura colaboração. Antes pela manifestação de Cristo no mundo, quiçá por sua Encarnação E EM PREVISÃO DELA, TODOS OS HOMENS I É O GÊNERO HUMANO TEM SUA LIBERDADE RESTAURADA. Assim a graça da livre vontade ou de seu restabelecimento é concedida a todos a humanidade como um todo. Por isso que cada homem pode aceitar ou repudiar a oferta da vida eterna oferecida pelo Evangelho, escolhendo viver no amor e no bem ou viver uma vida viciosa.


A simples ideia de uma reativação prévia e geral da livre vontade pelo sacramento da Encarnação de Cristo chega a ser magistral em comparação com o Agostinianismo ou o Calvinismo pelo simples fato de estar de pleno acordo com a ideia de um Deus verdadeiramente benevolente e justo. 


Enfim após vinte anos de turbações a igreja havia encontrado a paz e santificado uma doutrina menos bárbara e vulgar.

Gotteschalk em articulo mortis, exortado a assinar os decretos de Tuzey e a profissão de fé de Himcmar recusou-se tenazmente. Já Florus o havia descrito como alguém de que julgava infalível... Nem mesmo a sentença que privava-o dos Sacramentos, inclusive do enterro Cristão foi capaz de demover esse homem fanático. Tais coisas sucederam-se pelos idos de 868.

A semelhança dos nossos 'profetas' e lunáticos, e a exemplo do Pr Jurieu, havia Gotteschalk classificado o metropolita de Reims como um anti Cristo e profetizado sua morte para menos de dois anos e meio (isto por volta de 861). Himcmar no entanto só veio a falecer em 887 abençoado por uma idade provecta.

Tal a crônica minuciosa do predestinacionismo galicano no século IX. Seculo em que veio a extinguir-se ao menos por um tempo e a cessar de importunar o gênero humano.



Daí até Wicliff, pelo espaço de meio milênio ocuparam-se os teólogos escolásticos em, a exemplo de Himcmar,  encontrar novas soluções de compromisso entre o semi agostinianismo e o semi pelagianismo esboçando diversos sistemas. Um destes foi o afamado Tomás de Aquino. Outros mantiveram apenas as palavras e assumiram desde então uma perspectiva semi pelagiana sem que os agostinianos radicais ou ortodoxos pudessem molesta-los; assim o grande Erasmo as vésperas da irrupção luterânica, a suprema manifestação do gracismo.