Neste artigo o amigo leitor encontrará os seguintes tópicos:
- Terrorismo protestante
- Sentido Católico
- Meu estado de espírito
- No reinado da incoerência
- Mero oportunismo
- Destinado a liderança
- A paixão e morte de minha avó ou falsas profecias
- O que Lutero ensinou sobre médicos e doenças
- Os falsos prodígios
- Minha ruptura com o protestantismo
- De como enganado pelo pentecostalismo passei a odiar Jesus Cristo
Para quem dúvida...
Terrorismo protestante
Quanto a mim, desde muito cedo, fui 'gentilmente convencido' a acompanhar minha avó e minha mãe aos cultos dominicais da CCB. Quanto aqueles - dentre os jovens que eu conheci - que recusavam-se a ir a frequenta-los eram persuadidos de diversas maneiras seja pela privação das guloseimas, da liberdade de brincar ou mesmo da liberdade de ir e vir; até que 'reconsiderassem' sua decisão e concordassem em ir a igreja... Havia ainda aqueles que eram corrigidos pela vara ou literalmente 'surrados' segundo o modelo bíblico... Nós no entanto não sofríamos qualquer castigo graças a meu pai, que era 'incrédulo'...
Todavia como tínhamos a lingua solta e fazíamos, vira e mexe, alguma pergunta ou comentário indesejável (isto com sete ou oito anos de idade) eramos frequentemente exorcismados pelas piedosas matronas de birote, as quais estendiam suas mãos sobre nós e punham-se a gritar: Sai chifrudo desse menino... Sai capeta...
Não hesito nem temo classificar tais recursos como verdadeira 'inquisição' familiar e terrorismo religioso posto em prática pela maior parte das famílias protestantes das mais diversas seitas.
Alias, digo 'gentilmente convencido' - moralmente constrangido - porque livre e conscientemente jamais teria me associado aquele tipo de gente fanática, obtusa e grosseria, mesmo sendo um menino pequeno pois eu jamais me senti atraído por aquilo.
Sentido Católico
Parafraseando Mme Elsie Dubugras posso até dizer que já nasci romano, episcopal ou melhor Católico Ortodoxo e como tal, infenso ao espiritualismo descarnado e platonizante prevalecente em tais meios; a transcendência absoluta e inexistência de representações tão características das seitas bíblicas; a ausência de símbolos e de um ritual ou ordinário comum... Toda aquela falta de ordem e sobriedade, aquela franca anomia, aquele eterno improviso, aquela arbitrariedade; tudo ali despertava em mim a mais viva repugnância e me desagradava. Ouso dizer que antes de conhecer o padrão Católico ou Ortodoxo já aspirava por ele e já o desejava.
Olhar para aquelas paredes nuas, caiadas de branco e para aqueles homens de terno e gravata que saltavam como cangurus, balbuciavam, tremiam e berravam a plenos pulmões foi uma experiência bastante mortificante para mim... sentia-me deslocado, fora de lugar, isolado, perdido, incomodado...
Toda aquela frieza, desordem, barulho e confusão, molestavam-me e eu não me sentia bem ou feliz naquele local. Desde muito cedo aspirava por paz, ordem, temor, reverência, piedade, beleza, coerência... se bem que não soubesse ao certo que fossem tais coisas. Assim era menino ou moço e já sofria pois a um lado tinha receio de desgostar a minha família e a outro sonhava com coisas que na prática ignorava.
Eles falavam mais no Diabo do que em Jesus Cristo!
No entanto, tanto mais me achegava de Jesus não podia deixar de interessar-me pela figura da Mãe de sua mãe e até posso declarar que já sentia certa reverência por ela, decorrente talvez do afeto tributado a minha própria mãe. Os protestantes no entanto, como se sabe, são absolutamente reticentes neste sentido, buscando separar aquilo que o próprio Deus uniu eternamente pelo laço de sua Encarnação. Porque não são plenamente conscientes a respeito da Encarnação de Deus e até chegam a pensar que apenas 'parte' de Deus encarnou-se, embora Deus mesmo não possua parte e as pessoas pertencentes a Trindade divina sejam inseparáveis...
Cada seita responde de uma maneira
Alias enquanto protestante fui jamais ouvi qualquer tipo de ensinamento claro e objetivo em torno da Encarnação de deus, tal e qual encontramos nos Catolicismos. Ademais eles discutiam até mesmo a respeito da natureza do Senhor pondo em dúvida seu caráter divino. Pelo que em diversas ocasiões o Mestre me foi apresentando como simples criatura ou profeta nos mesmos termos em que é apresentado pelos jeovistas ou muçulmanos, e isto por pessoas da própria CCB.
Eles abominam o símbolo de nossa redenção
Também sentia certo encanto e atração pelo símbolo da Cruz (porque hoje tenho grande devoção) embora a CCB - em oposição aos ensinamentos do apóstolo Paulo, a que tanto costumam engrandecer quando não merece - classificasse tal símbolo como 'maldito', eu estava em franca oposição e isto produzia diversas contendas. Eles declaravam que eu estava equivocado, mas eu sabia bem o que tinha lido na Bíblia deles sobre a Cruz ser poder e glória de Deus.
Levava a sério o que lia
Estas discussões foram amargas. Eu costumava levar a sério tudo quanto lia no Evangelho, nos escritos dos apóstolos e mesmo nos escritos dos judeus; e, assim sendo, a questionar as doutrinas protestantes a respeito da Cruz, da Virgem, da Eucaristia, das boas obras, etc Mas eu não partia da doutrina Católica, porque a desconhecida, partia antes do Evangelho que lia - na própria tradução defeituosa do Almeida - e sabia que eles estavam sendo infiéis e que ao invés de 'explicar' qualquer coisa negavam, deturpavam, obscureciam...
Apenas encarava os textos como sagrados e buscava, intuitivamente, o sentido mais simples e natural. Assim desde cedo percebi que os doutores protestantes atribuíam arbitrariamente a Escritura o sentido que mais os agradasse ou que considerassem ser o mais apropriado, ao invés de buscar o sentido DA Escritura pondo de lado os ensinamentos previamente fornecidos pela organização a que pertenciam. NÃO ERA UM EXAME LIVRE E MENOS AINDA HONESTO. Haviam ali traduções e tradições humanas...
Foi devido a este caráter subjetivo e arbitrário que fui tomando ódio ao livre exame e aspirando por outro padrão ou critério que de resto ignorava. Pois aspirava por um Cristianismo objetivo e muito bem definido apto para orientar-me a respeito da condição e pessoa de Jesus Cristo.
Tais exigências o protestantismo não contemplava nem satisfazia pois não havia a quem reportar-me ali. Todos eram igualmente habilitados a interpretar e haviam interpretações 'per capita', e cada qual entendia o Cristo, a bíblia, os Sacramentos, a Eucaristia, o Batismo, a Comunhão dos Santos, a vida futura, etc a sua maneira... Era o que eles, os indivíduos diziam, e não o que a Bíblia ou o Evangelho mesmo me diziam.
E eu sabia que a respeito de algumas coisas ao menos como a Eucaristia, a Cruz, a Virgem, a Imortalidade, etc estavam completamente equivocados e separados de Jesus Cristo e sua palavra.
Meu estado de espírito
Como o filho pródigo da parábola aspirava pelo pão dos filhos mas recebia apenas as bolotas do escravo...
Minha condição racional sentia-se profanada em seu amago e eu desejava não estar ali ouvindo tantas opiniões contraditórias e assistindo a tantas disputações inuteis em torno de versículos. Ademais era uma chicana em que cada qual esforçava-se ao máximo não para aprender e obter a verdade mas apenas e tão somente para arvorar-se em 'perito' e humilhar os demais. Cada uma dessas discussões inúteis mais parecia uma briga de galos ou uma corrida de cavalos e nada mais... importava esgotar os argumentos, dar a última palavra e ser aplaudido pela irmandade. Uma feira de vaidades, aquilo não podia ser o doce reino de Jesus cristo!
Um dia acreditavamos estar bem orientados e saber algo de concreto sobre o Cristo e seus mistérios, no dia seguinte aparecia algum irmão e lançando novos argumentos, convertia cada um de nossos dogmas em poerias e a cada amanhecer eram destruídas implacavelmente as certezas do dia anterior. Sempre tinha alguém para a emitir novas e estranhas opiniões e para questionar tudo quanto fora ensinado até então... Aquilo era um celeiro de ceticismo!
Aquele culto não correspondia aos anseios da minha alma, aos desejos de meu coração e ao caráter do meu intelecto; apenas a música, que era bela, confortava-me um pouco. Em meio a tanto emocionalismo, a tantas controvérsias, a tanta inexatidão, a tanta insanidade, a tanto charlatanismo... eu me sentia como Ulisses na cova de Polifemo...
Encarcerado naquela caverna mais tenebrosa que a do velho Platão eu aspirava por contemplar a beleza da verdade mas, no entanto tudo quanto via eram sombras: sombra de doutrina, sombra de culto, sombra de ética.... 'Sombras nada mais, somente sombras na vida' como diz a música.
Quantas vezes, sendo ainda menino, não cogitava a respeito dos motivos que levavam tantos homens feitos e até barbador a gritar futilmente com Deus, uma vez que ele é, como define a piedade Espírito puro e plenisciente, capaz de penetrar todas as coisas e de conhecer nossos pensamentos mais recônditos antes mesmo de serem formulados...Ademais, em casa, minha própria avó costumava dizer ser inconveniente gritar com os pais ou com as pessoas mais velhas!!! NESTE CASO POR QUE NA IGREJA GRITAVAM COM DEUS????
Foi quando ouvi a leitura do livro dos Reis sobre a disputa entre Elias e os profetas de Baal. E dei-me por convencido de que o culto pentecostal correspondia exatamente aquele culto bárbaro típico dos cananeus idólatras e não ao culto estabelecido por Nosso Senhor e definido como sóbrio e racional por seu comendador e apóstolo.
Conclui ainda que a maior parte deles rezava com o objetivo de serem ouvidos pelos homens - em especial os coitados dos vizinhos - e serem tidos em contra de piedosos, a exemplo dos fariseus que faziam tocar suas trombetas. Evidente que quem grita dirige-se a homens de carne e osso.
Longe de mim por em dúvida que houvessem ali alguns corações sinceros e voltados para Deus Nosso Pai. Todavia que pesado tributo não pagavam eles, aos caprichos da vontade humana naquilo que tem de mais rasteiro e vulgar. Quisera desassociar-me e apartar-me deles, mas era uma moleque de seus doze anos e temia sobretudo magoar minha mãe e minha avó e chamar sobre mim a reprovação da família.
Assim sendo, envolvido por aquela atmosfera de fanatismo, eu - como tantos e tantos protestantes do passado! - mantinha as aparências e humildemente suplicava a deus para que me converte-se a si. Porque não cria em nada daquilo e já não tinha certeza alguma... e desesperado sentia meus pés a beira do abismo do relativismo... Estado lastimável foi aquele a que conduziu-me a religião protestante!!!
Embalde procurei - dia após dia - encontrar algum vestígio ou traço beleza naquele local, no entanto, a exceção da melodia; nada encontrava que fosse capaz de confortar-me... Nada de reverência, nada de piedade, nada de recolhimento, nada de devoção, nada se sobriedade, nada de racionalidade... Nada além de arroubos histéricos associados a sons inarticulados, gritos, ruídos e exaltação dos sentidos; misticismo barato e emocionalismo patético. Tudo ali era fogo, tremor e vendaval... eu no entanto aspirava por uma brisa suave e leve como aquela porque Elias havia sido visitado na montanha do Horeb... por uma brisa que trouxesse ao menos um pouco de beleza e de verdade ao jardim emurchecido de minha pobre alma juvenil!!!
Era moço e já me sentia velho e encurvado devido a inquietação religiosa porque era consumido.
Estado lastimável foi aquele a que conduziu-me a religião protestante com suas incertezas, duvidas, imprecisões, divagações, interpretações, discussões, etc Aspirava por uma base sólida sobre a qual construir uma religiosidade sã ao cabo da vida mas tal não me era nem me podia ser dado por obra e graça do livre exame.
No reinado da incoerência
Também não podia compreender porque as famílias deviam separar-se umas das outras no decorrer do serviço religioso, indo; homens para um lado e mulheres para o outro. Se a família (do tipo burguês) era, como alegavam os líderes e profetas, uma instituição divina, sagrada e celestial tal separação não era apenas inconveniente mas absurda. Pois impedia as famílias de adorar o Mestre na unidade familiar! De minha parte posso dizer que detestava ter de separar-me de minha avó e de minha mãe e ser posto naquele curral masculino com uma multidão de estranhos e desconhecidos com os quais não tinha afinidade alguma.
Quanto as crianças e jovens cujos pais eram protestantes posso dizer que esforçavam-se, via de regra, por afetar os modos dos adultos e sua gravidade - trajadas como adultos já estavam tal e qual no século XVII - enquanto que eu, como uma criança normal aspirava apenas e tão somente por brincar. Aquelas estranhas e infelizes crianças no entanto não estavam dispostas a brincar!!! O 'homo ludens' que havia nelas havia sido imolado nos altares do cruento jeová!
Brincar ali era crime ameaçado pelos pais e avós como o castigo de deus ou o fogo do inferno!!!
Jamais tive audácia suficiente para perguntar a qualquer um daqueles nobres e respeitáveis anciãos de paletó e gravata sobre o pôrque de repetirem - como papagaios ou discos quebrados - centenas de vezes as mesmíssimas palavras: glória, aleluia, amem, misericórdia, etc se conforme eles mesmos viviam dizendo o próprio Jesus havia proibido o emprego de vãs repetições... Cheguei a contar cento e oitenta e sete glórias num só culto e a constatar - mais tarde - que entre tais preces e as ladainhas papistas não havia praticamente qualquer diferença... apesar de condenadas as repetições estavam e pelo que vejo ainda estão em plena voga no pentecostalismo mais talvez do que no papismo, embora sejam empregadas aleatoriamente ou seja sem qualquer arranjo formal, o que as torna ainda mais desagradáveis.
De fato os pentecostais são tão cegos e alienados a ponto de não perceberem que empregam mais repetições do que seus adversários os papistas... pois é um tal de glória e aleluia que corre como sangria desatada!
Mais uma vez estavam nossos protestantes - como excelentes fariseus! - soprando trave em vista alheia sem cuidar do próprio cisco... tal e qual costumam fazer contra os iconófilos e necromantes, logo eles, que saboreiam carne de porco e ingerem carne sufocada com sangue... petisco condenado pela mesma Torá do dr Moisés...
Mero oportunismo
Citar o antigo testamento contra seus adversários é hábito deles conhecido por todos. Observa-lo porém, ou po-lo em prática nem sequer na imaginação... Diante dos espiritas, papistas ou ortodoxos apresentam o pentateuco embolorado como equivalendo a 'pura palavra de Deus'; todavia quando apontamos no mesmo pentateuco as centenas de dispositivos que eles, protestantes, inobservam; dizem que isto e aquilo foi abolido...
Mas abolido por quem????
Agora veja só - palavra de deus (que não nos agrada) abolida!!! No entanto a parte ou palavra que nos agrada e convém é 'palavra de Deus' válida e verdadeira. E depois eles ainda ousam emendar o soneto e declarar que o mesmo deus é imutável... Haja diletantismo!
Eramos meninos e já conhecíamos muito bem o 'segredo do rei' i é que o velho testamento era objeto de seleção arbitrária, tipo: uni du ni te salame minguê sorvete colore ou minha mãe mandou escolher esse da qui... O que favorecia a lei protestante era canonizado e mantido, o que não favorecia pura e simplesmente descartado ou classificado como abolido.
Lembrei-me certa vez dos fariseus que colocavam fardos pesados sobre os ombros alheios... É exatamente isto que os protestantes costumam fazer com o do antigo testamento: atira-lo contra a religião alheia e a partir dele atacar o papismo, o espiritismo, a ciência. etc Agora na hora de cumprir ou de por em prática os dispositivos do A T, nada... tudo quanto se possa lançar contra eles protestantes 'foi abolido' e não vale mais!!! Velho testamento só vale para os outros, para incomodar, criticar, anatematizar, os outros...
Desde o princípio deplorei desta abordagem oportunista, diletante e arbitrária do antigo testamento, mas não sabia o que pensar pois a um lado não podia admitir a validade integral do A T e por outro ignorava a distinção entre o Decálogo e todo resto ou a soberania do Evangelho que é o livro dos Cristãos.
Fosse bom de fato o antigo testamento, os protestantes seriam os primeiros a viver conforme suas instituições-lo ou seja a cumpri-lo, a executa-lo, a vive-lo tal e qual os judeus ortodoxos... Crer como creem os judeus nossos protestantes querem agora viver como vivem os judeus não querem; porque viver como judeus é difícil ou melhor impossível e os protestantes só apreciam o que é fácil, conveniente, oportuno e comodo: fé, discurso, teoria, palavrório, opiniões, palpites, doutrinas esquisitas... Praticar não praticam nem mesmo os mandamentos promulgados por Jesus Cristo no sermão da montanha, recorrendo maquiavelicamente ora a Paulo ora a Lutero com o intuito de invalida-los!!! De fato S Paulo e 'S Lutero' emancipam os protestantes da lei de Jesus Cristo e indicam-lhes o caminho largo e plano duma salvação sem obras i é comoda e fácil.
E já havia percebido entre eles duas tendências extremistas e monstruosas...
Pois na mesma medida em que alguns poucos pretendiam restabelecer a lei de Moisés e o padrão legalista dos antigos fariseus e escribas em sua plenitude (com dietas, sábados, jejuns, etc) outros, a exemplo de Lutero, aspiravam por abolir todo tipo e espécie de lei, inclusive a lei moral da consciência e o padrão evangélico decretado pelo Verbo.
Os primeiros exclamavam: Moisés é nosso legislador porque traço algum da Lei foi abolido, enquanto os demais replicavam: Cristo jamais apresentou-se como legislador e; assim sendo salva-nos pela fé somente e salva-nos EM nossos pecados... Tanto na CCB quanto na AdD legalistas e solifideistas terçavam armas e lançavam dúzias ou centenas de textos e passagens uns contra os outros promovendo verdadeira batalha espiritual em torno destes dois evangelhos.
E enquanto alguns gritavam: Ao decalogo e, 'Viva Moisés' os demais replicavam: Salvos pela fé somente e sem qualquer obra!
Em meio a esta batalha, conflito, guerra ou duelo escriturístico que jamais terminava ou chegava a qualquer lugar sentia-me mal e indisposto.
Destinado a liderança!
Vovó, sem embargo, acalentava a vã esperança de que um dia eu chegasse a tornar-me ancião ou doutor de sua seita.
Parafraseando o grande Darwin eu bem poderia ter dito a pobre anciã: "Que terrível profeta ou pastor haverei de ser minha avó."
No entanto para agrada-la entregava-me com afinco ao estudo da 'Bíblia', sobretudo a leitura dos Evangelhos e dos Salmos dos judeus. E tanto mais lia, estudava e compreendia tais escritos ia percebendo a nítida diferença entre o Jesus anunciado pelos pregadores e líderes e o Jesus dos Evangelhos e concluindo que o autêntico Cristianismo não mais existia, tendo sucumbido miseravelmente ao largo dos séculos...
Alguns anos antes havia sido encaminhado pelo governo a um Colégio modelo, destinado a acolher crianças 'super dotadas' como se dizia então. Meu Q I foi medido e meu pai advertido de que me seria facultado ingressar num projeto educativo de vanguarda. Com o apoio de meu pai passei a estudar sob regime integral durante dois dias da semana e a entrosar-me com outros garotos tão perspicazes quanto eu. Para mim foi um estímulo bastante positivo em todos os sentidos.
A paixão e morte de minha avó e as falsas profecias!
Não me recordo de que, enquanto sã, a velhota tivesse ido ao médico ao menos uma vez sequer ou feito qualquer exame, medido a pressão ou tomado remédio...
Habitualmente, quando sentia-se indisposta vovó limitava-se a por um copo d água junto ao rádio durante a oração feita pelo missionário pentecostal Davi Miranda. Terminada a oração ou melhor a declamação, servia-se daquela água qual fosse uma panaceia ou teriaga e acreditando estar imunizada contra qualquer tipo de doença.
Assim Miranda vende água que não é dele e os homeopatas e espiritas levam a fama... Ao menos os espiritas e homeopatas vendem suas próprias águas, enquanto o Davi vende água paga com dinheiro alheio e temperada com palavras mágicas... Mistérios do protestantismo e como tais, mais profundos do que o mistério da nossa SSma Trindade.
Em situações mais graves a velha mandava chamar os profetas da seita para ser ungida com óleo, pois os estatutos da CCB referem-se a um arremedo de Evkelaion... eles ungem os parvos com óleo de cozinha e convencem-nos de que estão curados... o que acontece depois encontra-se perfeitamente descrito pelo hipnólogo Fábio Puentes em seu magnífico livro 'Hipnose, Marketing das religiões': se a enfermidade é de fundo afetivo ou psíquico a auto sugestão produz a cura se é de fundo somático ou físico, cessam os sintomas produzindo-se a ilusão da cura e posteriormente: o abandono dos medicamentos, a recaída e a morte; jamais divulgados...
E tudo fica sempre tido em conta de milagre. Pelo simples fato de que as massas preferem crer do que pesquisar ou investigar.
Mesmo sem saber, minha avó estava a observar fielmente os preceitos do Dr Lutero:
"Estou convencido de que a cegueira, a mudez, a surdez e a maior parte das doenças são causadas pelo demônio. Neste caso a ciência dos médicos incrédulos não serve para nada, só a oração pode salvar o enfermo. Esses médicos orgulhosos não sabem de nada..."
E como cada qual colhe fatalmente os frutos que semeia, minha pobre avó colheu uma hemiplegia incurável, expiando presa a uma cadeira durante três longos anos.
No entanto, mesmo enquanto achava-se presa aquela cadeira, definhando; não houve ano ou mês sequer, em que algum profeta não vaticinasse seu pronto restabelecimento pelo poder e para a glória do Senhor Jesus Cristo... foi o que ouvi a exaustão!!!
E com a Bíblia na mão, em nome do espírito santo, asseveravam os profetas que o 'deus do impossível' ou o 'deus da bíblia' não tardaria a 'fazer a obra' e a devolver a saúde e o vigor aqueles membros já atrofiados e ressequidos...
E acrescentavam, e diziam, como fazem ainda hoje, que o deus deles era capaz de fazer brotar membros amputados, de ressuscitar pessoas mortas a uma semana, de libertar do câncer e da AIDS, etc Bastando que para isto, o futuro beneficitário exercesse fé (pois na CCB não cobravam dízimo) no poder miraculoso de Jesus Cristo!!!
Quantas vezes não ouvi eu mesmo semelhante parlenga e quantas vezes não falhou miseravelmente!!! Digam as paredes de sua casa que ainda acham-se de pé!!! E testemunhem no último dia contra tal gênero de charlatães que infestam o mundo.
É SEMPRE ASSIM!!!
Das circunstâncias em que os falsos prodígios acontecem.
Nós no entanto, não nos dando por vencidos, ousávamos indagar do pregador em que circunstâncias tais eventos - os milagres e prodígios a que se referia! - haviam sido realizados. Sucedendo-se a repisada instrução segundo a qual o prodígio acontecerá no interior de um pais remoto, durante a calada da noite e na presença de alguns poucos membros da comunidade conforme o relato oral que o irmão X ouvirá do irmão N... tudo muito vago, muito impreciso, muito misterioso como sempre. Sem qualquer laudo, qualquer testemunha isenta ou qualquer tipo de gravação... TUDO MUITO DIFERENTE DAQUILO QUE NOS É TRANSMITIDO PELO EVANGELHO.Afinal Jesus realizava seus verdadeiros milagres publicamente, em plena luz do dia, cercado por seus inimigos e envolvido pelas multidões! Jamais envolvido pela obscuridade da noite nas estreitas vielas da cidade i é as ocultas!!!
Posteriormente, quando éramos já professores, após termos ouvido mais uma narrativa sobre ressurreições provocadas pela fé, pergunta-mos a aluna nossa interlocutora, se havia algum atestado ou laudo médico comprovando que aquela pessoa havia estado morta e recobrara a vida. A aluna respondeu-nos que sim e comprometeu-se a levar tal documentação a escola, apresentando-a a mim e a turma no dia seguinte. JÁ SE FAZEM QUASE QUINZE ANOS E ESTAMOS ESPERANDO POR TAL DOCUMENTAÇÃO ATÉ O DIA DE HOJE...
Foi assim que ao cabo de três anos - e após ter cuspido centenas ou milhares de pílulas... - minha avó saiu mesmo da cadeira mas para passar ao leito após um segundo AVC... De certo modo a profecia - como na antiga Grécia dos oráculos capciosos (Cf Fontenelle 'História dos oráculos') - fora cumprida, pois a velhota saíra da cadeira... mas não para caminhar ou saltar como uma gazela.
Após este segundo AVC foram mais três ou quatro anos de sofrimentos e misérias indescritíveis...
Agora pasme o amigo leitor: durante todo este tempo os profetas jamais deixaram de anunciar o livramento da infeliz e de acenar com milagres em nome do deus maravilhoso que opera o impossível. E bem se vê que a esperança deles é material e para o corpo e não espiritual para a vida eterna...
Efetivamente o sadismo dos profetas chega as fronteiras da insanidade. Com que facilidade não aproximam-se dos aleijados e mutilados com o intuito de insuflar-lhes falsas esperanças e com que dificuldade prestam qualquer auxilio concreto e verdadeiramente cristão qual seja cuidar deles por algumas poucas horas - dar comida, das um banho, etc - enquanto os filhos ou parentes resolvem algum problema ou simplesmente repousam... Obras por obras os sectários prezam apenas as estrondosas e sobrenaturais. As obras simples e 'corriqueiras' determinadas pelo Evangelho - dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, etc - parecem atribuir muito pouco valor. Tal a escuridão e treva espiritual em meio a que rastejam enquanto acenam com todo tipo de maravilhas e prodígios aparentes...
Até que após quase sete anos de padecimentos vovó foi de fato libertada não pelas orações ou pelo poder dos videntes de fancaria, mas pela mão generosa de nossa irmã morte. Passou assim do catre a tumba sem que se cumprissem os vaticínios da crentalhada fanática... e nada fez por ela o deus dos milagres a que servira fervorosamente ao cabo de meio século.
Agora não julgue o magnânimo leitor que o caso de minha avó seja único ou isolado.
Lamentavelmente é bem mais comum do que podemos imaginar ou supor... Basta-me dizer que a avó de um professor amigo meu - Profo Neres - assídua frequentante da AdD, pereceu vitimada por um infarto fulminante poucos dias depois de ter sido convencida por seu pastor e curandeiro a deixar de tomar os remédios preceituados pelo médico isto porque, segundo dizia, estava já 'Curada pelo poder de Deus'... Ocorre-me ainda o caso de Dna Odete, diabética e ex secretária da reitoria de Nsa Sra do Amparo - SV, a qual tendo apostatado e passado a IURD foi igualmente convencida pelos pastores a jejuar - para expulsar o demônio feminino chamado 'diabete' !!! - e a abandonar o uso da insulina; como resultado sofreu uma queda, fraturou o fêmur e veio a óbito após seis meses de terríveis padecimentos; em meio aos quais sequer foi visitada por um obreiro da seita...
Aqui no Hospital S José prometeram a um interno que no dia X - caso acreditasse firmemente e saltasse da cama - deus lhe restituiria a perna amputada! Foi o quanto bastou para o infeliz pular, estatelar-se no chão e perder a outra metade, anterior, da perna.
Minha ruptura definitiva com o protestantismo
Após a morte da avó continuei frequentando, esporadicamente, a CCB, não por devoção é claro, mas por simples hábito ou costume... Afinal as práticas da seita continuavam a despertar em meu coração a mais viva repulsa... havia no entanto recordações, música de certa qualidade e sobretudo muita confusão em minha mente juvenil. De certo modo eu ainda cogitava ser a ovelha perdida e tinha esperanças de que o Senhor falasse a minha alma e me convencesse sobre os verdadeiros fundamentos da fé.
Foi quando ocorreu-me a feliz ou infeliz idéia de ler a Bíblia, digo a Bíblia toda de capa a capa incluindo s partes menos nobres do Antigo Testamento, as epístolas a que chamamos Católicas e a Revelação.
Bíblia que eu sequer sabia não passar de TRADUÇÃO HUMANA E FALÍVEL executada pelo despadrado João Ferreira de Almeida e estar cindida em dois testamentos!!!
Pode parecer até insólito, mas como assevera o Rvmo Pe Dubois (apud Biblismo 1922) os protestantes pouca ou nenhuma atenção prestam ao fato de seus livros estarem cindidos em duas partes: Velho e Novo Testamento, tudo misturando e citando a granel: Jesus com Gênesis, Paulo com Salomão, João com Jeremias... e por ai vai, uma aluvião de textos misturados como numa terrina de sopa...
Como ignoram da mesma forma ter sido nosso Evangelho escrito em grego e não descido dos céus em vernáculo...
Recordo-me de ter feito uma prece e aberto o livro, bem ao estilo de 'A cruz e o punhal'... de modo a que deus abrisse meu entendimento e facilitasse a compreensão.
Assim, tão levianamente, tratava-mos aquilo que acreditava-mos ser a palavra pura e imaculada de Deus...
A leitura caiu no livro dos Salmos ou hinos que os antigos judeus entoavam durante a subida ao templo.
O Salmo em questão dizia respeito a Jerusalém, ao rei, a seus inimigos, etc Fiquei aturdido pois tais palavras nada significavam para mim e eu sequer imaginava o que queriam dizer...
Julgo que caso tivesse iniciado o estudo do livro pelo Evangelho ou seja das palavras de Jesus, como recomenda o Pr Caio Fábio, o efeito teria sido bem outro. A religiosidade dos Salmos, todavia, não estava posta para minhas necessidades espirituais.
Sendo assim, desapontado, fechei o livro e fui ter com um profeta, em busca de orientação e esclarecimento.
E do quanto perguntara a respeito da leitura e a interpretação das Escrituras, recebi a seguinte determinação:
Cumpre não se fiar em livros compostos pelos homens guiados por Satanaz. O melhor caminho para a compreensão da escritura é dobrar os joelhos e implorar a graça do espírito santo. O próprio espirito abrira sua mente e fará com que possa compreender o significado da passagem mais díficil e obscura; ele tudo revela ao verdadeiro servo de Deus.Isto foi o que ouvi e no que firmemente acreditei sem fingimento.
Assim, tendo chegado a casa, não hesitei por em prática tudo quanto me fora recomendado...
Após singela prece abri novamente o 'sagrado' volume, caindo a leitura mais uma vez no dito livro dos Salmos e num Salmo cuja linguagem parecia-me ainda mais obscura.
Desta vez, no entanto, estava preparado.
Assim sendo não perdi tempo:
Dei por inúteis todos os comentários e dicionários bíblicos, caí de joelhos por terra, prostrado, temeroso, tremendo, e reverente supliquei a graça, o favor e a comunhão do espírito santo de modo que me fosse dado compreender o sentido daquilo que estava lendo.
Foi neste exato momento que as escamas se me caíram dos olhos e sendo cego pude ver. Foi meu caminho de Damasco e minha saída de Babilônia protestante.
Pois apesar de ter suplicado com toda boa fé deste mundo e em nome do Senhor Jesus, solicitando a orientação divina, eu - como tantos e tantos outros que agora são ateus, materialistas ou incrédulos - não obtive qualquer resposta ou esclarecimento de natureza mágica ou sobrenatural. Definitivamente a burla fora posta a luz e revelada com toda clareza.
Podendo eu aquilatar toda sujidade da manobra pentecostal e operação do erro... digo a manobra, porque os 'truques' conhecia já de oitiva...
GRAÇAS A MANOBRA PENTECOSTAL CHEGUEI A ODIAR JESUS!
De como enganado pelo pentecostalismo passei a odiar Jesus Cristo
Assim em meio as trevas do silêncio que me envolviam e as lágrimas da revolta, pus-me de pé já não como fiel servidor mas como incrédulo e escarnecedor.
Ficasse eu ali de joelhos feito um idiota, esperando as luzes do espírito santo e teria morrido de sede ou inanição ou levantado careca e de barbas brancas sessenta ou setenta anos depois rsrsrsrsrsrsrsrs...
A partir daquele trágico instante - como Saulo a sair da cidade Santa - respirava eu apenas ódio e revolta contra aquele que menos merecia e a respeito de cujos verdadeiros ensinamentos - por obra e graça do pentecostalismo - eu até então tão pouco sabia: Jesus de Nazaré... Isto graças aos homens maus que tem usurpado seu nome.
Naquele tempo de flor (segundo a expressão do piedoso Jair Pires) eu nada sabia a respeito dos falsos mestres e sedutores Lutero, Calvino, Zwinglio e dos demais fundadores de seitas e igrejolas - como Vrigen e Francescon - antecipadamente descritos por nosso Bom Mestre: Nos derradeiros tempos levantar-se-ão falsos mestres e profetas da mentira, que seduzirão e desviarão a muitos, executando prodigios mentirosos... Tampouco sabia eu qualquer coisa a respeito das origens da Reforma protestante, como mais tarde vim saber por meio de seus próprios redatores...
Era numa palavra um perfeito alienado ou estúpido e minha mente encontrava-se em estado de total confusão.
Nem mesmo a respeito da igreja romana, detinha qualquer informação consistente, pois sempre tomará por veraz a alegação dos 'profetas', segundo a qual a CCB ou a Assembléia, correspondiam a verdadeira igreja histórica e primitiva fundada por Jesus e sempre mantida por certo número de Santos ocultos a vista do mundo.
Tal a crença dos Quackers segundo foi descrito por Voltaire nas 'Cartas da Inglaterra', dos anabatistas, adventistas e testemunhas de jeová com suas testemunhas anônimas e fantasmagóricas da Verdade a respeito das quais nada se sabe de positivo ou existe qualquer mísera linha escrita. Contávamos ter predecessores como os Bispos Ortodoxos, mas eram predecessores ocultos, obscuros, fantásticos e ilusórios a respeito do quais nada se sabia, nem mesmo o nomes...
Afinal como poderíamos nomear um calvinista no século XIII, um Zwingliano no século X, um anabatista no século VIII ou um assembleiano século V??? Decerto não poderíamos dar nomes a personagens ficticios e inexistentes...
Portanto, admitindo que Jesus Cristo havia estabelecido o padrão bíblico/pentecostal e não o padrão tradicional ou episcopal vigente nos catolicismos, vim, a crer que ele - Jesus Cristo - tendo estabelecido este padrão defeituoso e falso não passara de vil charlatão cujo suplício fora não só justo mas digno de ser aplaudido.
Por causa das mentiras pentecostais tomei ódio mortal a Jesus Cristo e um ódio tal que chegava aos paroxismos da cólera. E digo, não minto, que se não houvesse quem o pregasse eu mesmo o teria cravado no lenho com minhas próprias mãos e cuspido sobre sua divina face.
A esse tempo fui informado por alguém de que os espíritas não acreditavam em Jesus.
Até então eu nada sabia de positivo a respeito dos 'necromantes' de Kardec, exceto que eram necromantes ou que evocavam as almas dos mortos e que por isso eram pecadores e idólatras detestados por deus.
No entanto semelhante notícia encheu-me de júbilo e fez-me ir sem maiores delongas ao encontro deles, afoito como estava por escarnecer de tão excelsa figura... Quão doloroso foi para mim perceber que os tais espíritas, mesmo descrendo da divindade de Jesus, cuidavam mais do que quaisquer outros em observar e cumprir as leis e mandamentos consignados no Evangelho... Diante disto afastei-me deles e tomei-lhes verdadeiro ódio.
Optei então acercar-me dos judeus e agradecer-lhes pelo grande serviço que haviam prestado a humanidade, a saber, de terem supliciado o 'falso profeta' e sedutor Jesus de Nazaré; e como, mesmo eles, mostraram-se reservados diante de minha ferocidade anti cristã não tardei a sair, decepcionado, pela porta dos fundos da Sinagoga deplorando-lhe os escrúpulos.
Aos muçulmanos não procurei porque ignorava a existência deles ou sua presença no litoral paulista... Seja como for eles também tem alta estima não apenas por Jesus mas até mesmo por sua Imaculada mãe, a ponto de exceder os protestantes no respeito que se lhe deve... o que naquelas circunstâncias despertaria em meu coração a mais viva repulsa.
Conclusão: Vi-me constrangido a digerir so e isoladamente todo ódio que consagrava ao nazareno e a encarar a mim mesmo como uma espécie de aberração ou aborto da natureza... Tivera eu, naquele momento crucial, tomado contato com Nietzsche e seus seguidores, talvez minha ulterior evolução tivesse tomado outros rumos, alias nada promissores. A respeito de Nietzsche e suas opiniões no entanto eu pouco ou nada sabia para minha maior felicidade.
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