Da definição de Igreja dada por Calvino...

"A igreja é a congregação dos fiéis que Deus ordenou e elegeu para a vida eterna." Catechism of Jonh Calvin iten 93


- Que a Igreja seja uma congregação ou ajuntamento de pessoas concedo.
EKKLESIA = CONGREGAÇÃO.

Tal definição entretanto é quase que tautológica pois não nos diz absolutamente nada a respeito da natureza e dos atributos da congregação que temos em mira.

- Dos fiéis

Como Calvino neste passo refere-se apenas a igreja invisivel e celestial - ou seja aquele organismo mais abrangente do que a igreja vísivel e a que chamamos de alma da Igreja - é obrigado a excluir os hipócritas, infiéis ou não salvos.


- Vísivel


Todavia no iten 100 de seu catecismo nos deparamos com estas luminosas palavras:

"Existe de fato uma igreja VISIVEL DE DEUS, A QUAL PODE SER RECONHECIDA POR CERTOS SINAIS."

E nas Institutas: Duplo aspecto da Igreja: invisivel e integrada apenas pelos santos e visivel, consituida inclusive por não eleitos."

Eis a Igreja que queremos: aquela que se faz vísivel sobre a terra e que pode ser reconhecida tanto por heréticos, quanto por infiéis através de certos sinais particulares.


- Igreja vísivel = fiéis e infiéis

Admitindo que a alma da Igreja seja formada apenas e tão somente por santos e fiéis e inclusive por santos e fiéis que não fazem parte da Igreja vísivel, convem perguntar sobre quem faz parte da igreja vísivel.

Isto Calvino não nos responde em seu Catecismo, mas no-lo responde em suas Institutas:


"Entretanto nesta estão imiscuidos muitos hipócritas, que nada têm de Cristo a não ser nome e aparência."

Afinal ele bem sabia que Judas pertenceu oficialmente ao corpo da Igreja, exercendo o ministério com os demais apóstolos e que o próprio Senhor afirmara na parabola do trigo e do joio que ambos devem crescer juntos até o dia da colheita. E na parabola da rêde que os peixes só seriam separados no barco...

Assim chegamos a definição de que a Igreja vísivel é uma congregação que abarca cristãos fiéis e infiéis, santos e pecadores, justos e injustos.

Trata-se porém duma definição sumária ou insuficiente, que não esgota os atributos e as caracteristicas que nimbam tal comunidade.

Podemos concordar perfeitamente com Calvino, há uma alma da igreja, espiritual, insivisivel e sabida só de Deus, (com a diferença de que para nós esta igreja invisivel é muito mais ampla que a visivel - abarcando tantos quantos sobre a face da terra servem ao Cristo com amor e cinseridade - enquanto que para Calvino esta igreja invisivel era menor que a visivel abarcando apenas os seus membros virtuosos) e também um corpo da Igreja ou igreja vísivel, que congrega todos que professam fé em Cristo Jesus independente de sua idoneidade.

Queremos no entanto saber algo mais sobre esta igreja visivel para que nossa comunhão com Cristo possa ser plena e perfeita.

Cumpre então perguntar a Calvino - e esta pergunta é crucial -: acaso existe alguma distinção estabelecida pelo próprio Cristo entre os membros desta última igreja, a igreja vísivel ou são todos absolutamente iguais?

A pergunta é petinente pois sabemos que Lutero apesar de ter, a princípio, ventilado a possibilidade de um sacerdócio universal - com o objetivo de desmoralizar o clero romano - acabou por fazer-se líder duma hierarquia paralela na Alemanha (o clero Luterano) e por TOLERAR A MANUTENÇÃO DO EPISCOPADO MONÁRQUICO NA ESCANDINÁVIA.

Os anabatistas porém, fizeram do tal sacerdócio universal e do anti sacramentalismo sua bandeira.

E Calvino que fez?

A principio tal e qual Lutero Calvino afirmou que "A fé jaz no conhecimento de Deus e de Cristo e NÃO NA REVERÊNCIA A IGREJA" Institutas Lib III, captu 02 iten 03 pp 8

Querendo significar com isto a verdadeira igreja apostólica.

E no tópico de suas Institutas referente aos Santos Sacramentos zomba publicamente da sagrada Ordem pelo fato de que os latinos concediam seus ofícios a simples leigos.

Assim do abuso feito pelos papistas Calvino parece inferir a inexistência do Sacramento da Ordem.

Todavia no tópico do mesmo Livro referente aos ministérios e ofícios da igreja seu discurso é bem outro admitindo já nas primeiras linhas a DISTINÇÃO DOS MEBROS DA IGREJA VISIVEL EM: MINISTROS E SECULARES OU LEIGOS, AFIRMANDO INCLUSIVE QUE OS PRIMEIROS SÃO COMO QUE VIGÁRIOS DE CRISTO E INSTRUMENTOS SEUS, assim diz ele, UM É CONSTITUIDO PASTOR PARA QUE DOUTRINE OS DEMAIS ENQUANTO QUE OS QUE SE FAZEM DISCIPULOS SÃO DOUTRINADOS POR UMA SÓ BOCA.

Para o reformador francês "Esforça-se por destruir e arruinar a igreja quem regeita ou minimiza esta ordem e regime de que falamos... o oficio apostolico e pastoral necessário para conservar a igreja na terra."

Nenhum ortodoxo ou papista diria melhor...

Entretanto Calvino vai mais longe e admite: "O RITO DE ORDENAÇÃO ... é manifesto que os apóstolos não se serviram doutra cerimônia, quando admitiam alguém ao ministério, senão a da imposição de mãos... e a usaram para conferir as graças visiveis do Espírito (at 19,6) SEJA COMO FOR ESTE SEMPRE FOI O RITO SOLENE SEMPRE QUE CHAMAVAM ALGUÉM AO MINISTÉRIO ECLESIÁSTICO, assim como consagravam os pastores, os mestres e dos diaconos.
E embora nenhum preceito subsista quanto a imposição das mãos, uma vez que A VEMOS VIGORAR CONTINUAMENTE ENTRE OS APÓSTOLOS, DEVEMOS TOMAR ESSA OBSERVÂNCIA POR PRECEITO (!!!) ISTO SIGNIFICA AO POVO A DIGNIDADE DAQUELE QUE É O R D E N A D O .... Não é pois sinal sem sentido se corretamente empregado.

Ora se o Espírito de Deus nada institui na igreja em vão, devemos sentir, quando ela for provida por ele, que esta cerimônia não é inutil, desde que não se converta em abuso supersticioso." III. 16

Enfim o que Lutero, a princípio, pretendia derrubar com seus punhos Calvino reedifica com suas próprias mãos e em termos tão categóricos quanto a igreja papista, a ponto de seus expostores afirmarem que praticamente resacramentalizou a ordenação com o intuito de estabelecer uma Hierarquia legitimamente protestante. (a luterano/escandinava fora tomada a igreja papista).

"Há presbíteros nos dois regimes - judaico e calvinista - sem solução de continuidade." afirma horrorizado o anabatista Carey Taylor, opus cit pp 84 além de consistórios, juizes, etc

Querendo significar com isto que o presbiterianismo, tal e qual o luteranismo hodierno é hierarquico, ou seja, que ambos os sistemas lançaram as urtigas a 'bela' doutrina do sacerdócio universal.

Vejamos agora como Calvino considera o magistério autoritativo de sua igreja.

"Ninguém consegue o perdão dos pecados sem ser previamente incorporado ao povo de Deus, perseverando na comunhão e unidade no corpo de Cristo, de tal forma a ser um verdadeiro membro da igreja." iten 104

Assim para ele a participação na alma da igreja dependia como já dissemos da participação no corpo visivel da Igreja associada a predestinação. Nem todos os membros da igreja visivel eram predestinados a salvação, mas tantos quantos eram predestinados a salvação deveriam pertencer a Igreja fundada por ele Calvino!

Por isso registrou nas Institutas: "Da mesma forma como devemos exercer fé na igreja invisivel conhecida só de Deus devemos honrar também a igreja visivel e permanecer em sua comunhão." e mais adiante: "O conhecimento de seu corpo, necessário a nossa salvação, fez reconhecer por certas marcas." e enfim: "O abandono da Igreja é a negação de Deus e Cristo."

(Jamais passou pela cabeça de Calvino ou do Lutero luterano que "Deus pudesse salvar diretamente, por intermédio de Jesus Cristo e sem mediação de suas respectivas igrejas." como pretende L Leslie Dunstan pp 115)

E por sustentar a obrigatoriedade dos fiéis permanecerem aditos a sua Igreja, Calvino inda que implicitamente concede-lhe a prerrogativa da Infalibilidade, afinal como alguém poderia estar obrigado a permanecer adito e filiado a uma igreja capaz de errar no que diz respeito a sã doutrina?

Fosse a Igreja visivel fálivel como postulam os anabatistas, ninguém poderia ser obrigado ou constrangido a permanecer filiado a ela... Pois permanecendo filiado a uma organização que por acaso incorresse em erro no que diz respeito a divina revelação poderia ser levado a endossar tais erros e a apartar-se da verdade...

Daí, os anabatistas, fielmente aditos as doutrinas dos sacerdócio universal, do biblismo e do livre examinismo consentirem que tantos quantos cheguem a conclusão de que sua igreja esta errada, separe-se dela e funde, se quizer, sua própria igreja. O que implica no primado do individuo com relação ao grupo e no acesso direto ao livro.

Ora, Calvino restabelecendo o ministério docente, restabelece a antiga mediação seja com relação a Bíblia, seja com relação ao Cristo e arrenegando ao sacerdócio universal, sugerido pelo Lutero da juventude, arrenega tambem o biblismo e o livre examinismo, tal e qual fez Lutero arvorando-se em juiz e papa de seus luteranos.

Boa parte de tudo quanto Calvino diz sobre a dignidade da Igreja e seu ministério esta absolutamente correto, mesmo porque ele o extraiu dos SS Pes, pena que ao invés de relacionar tais atributos com a igreja histórica estribada na sucessão apostólica, relacionou-os com a seitazinha fundada por si mesmo... Tudo válido com relação a grande e antiga igreja dos Bispos, tudo falso com relação a igrejola dos calvinistas.

Conclusão: antes de Lutero a Igreja era tudo.

Com Lutero a igreja passou a ser NADA E TUDO.

Com os anabatistas chega a ser nada.

Até que com Calvino torna a ser tudo, mas sem ser Una, Santa, Católica e Ortodoxa.