B) LXXVI - Bíblia, uma origem muito mal contada!

Antes de iniciarmos esta palestra desejamos advertir o amigo Cristão de ao lê-la deparar-se-a com uma série de informações que nem sempre estarão de acordo com as crenças que até então tem norteado sua trajetória espiritual e que em sua maior parte tendem a desampara-las por completo. Cumpre a cada qual decidir-se pelas crenças ou pelos fatos; mas eu penso que as crenças devam ser corrigidas pelo fato, afinal o dogma central do Cristianismo é um fato, O FATO DA ENCARNAÇÃO.

Em que pese as palavras acima o autor desta monografia é Cristão professo e Ortodoxo.

Como, bradará nosso protestante indignado, se o sr pretende atacar nosso livro, a Bíblia???

A bem da verdade não desejamos atacar nada; muito menos a Bíblia, mas apenas e tão somente publicar alguns esclarecimentos a respeito de sua origem.

Atacar sim pois tenho para comigo que salientar o elemento humano presente na Escritura implica negar seu cárater divino. (protestante)

E no entanto Nosso Senhor por ter assumido nossa natureza humana não deixou de ser o que sempre fora: divino!

Ora as escrituras como a Igreja e a Salvação devem obedecer o mesmo princípio: um elemento humano associado a um elemento divino; POIS TUDO NA INSTITUIÇÃO CRISTÃ DEVE REFLETIR A CONDIÇÃO DE JESUS CRISTO.

Nem o Cristo foi todo divino, nem a Bíblia é toda divina. Assim salientar o elemento humano implica honrar o mesmo elemento presente em Jesus Cristo.

Agora diga-me você protestante que é.

(protestante) Sou Cristão!!!

Excelente!

E qual o centro de sua vida?

A Bíblia.

Neste caso deveria chamar-se BIBLÃO e não Cristão. Quanto a mim sou Cristão porque o centro da minha vida é Jesus Cristo e seu Evangelho tanto o escrito quanto o não escrito.

(protestante) A Bíblia não é um ídolo professor, e tampouco um livro qualquer MAS UMA PESSOA!

ENTÃO DEMONSTRE CHAMANDO SUA BÍBLIA PELO NOME E FAZENDO-A VIR ATÉ VOCÊ!!!

Do contrário continuarei dizendo que se trata dum livro, o qual como qualquer outro possuí sua História.

Seja como for advirto que a História a ser contada não fará agrado a muitas pessoas. Pois atingirá em cheio o ídolo que ocupa seus corações em lugar de Jesus Cristo...

Embora pareça estranho, ainda hoje, em pleno século XXI, a maior parte das pessoas ainda acredita numa doutrina que começou a ser ensinada a cerca de três milênios e meio pelos Brâmanes da antiga Índia, doutrina segundo a qual cada palavrinha ou sinal dos Vedas teria caído dos céus. No entanto tais pessoas não são hinduístas mais Cristãs... embora expliquem a origem a Bíblia Cristã da mesma forma e maneira asseverando que cada palavrinha ou mesmo o volume inteiro tenha baixado magicamente dos céus.

Entre a gente simples e isenta de instrução a quem creia inclusive que o sagrado volume tenha baixado dos céus na lingua de Camões, na versão do despadrado J F A e com o timbre da American Bible Society afinal a ignorância humana parece não conhecer limites.

Quanto aos iniciados nos arcanos da teologia, os quais em nosso meio são pouquíssimos... apesar de não endossarem tais superstições, costumam divulgar algumas teorias não menos estranhas. Pois enquanto para alguns Deus mesmo teria falado com os hagiógrafos e ditado para palavrinha; para outros ele teria se apossado deles - como se se tratassem de lápis e canetas - e escrito de 'motu proprio' os ditos registros; havendo quem associe os dois métodos.

Seja como for trata-se da doutrina da inspiração Verbal, a qual será examinada por nós em tópico exclusivo.

Agora importa saber qual seja o liame ou vínculo que une tais obras umas as outras... escapando a heterogeneidade...

Num piscar de olhos dirá o Cristão que o vinculo das Escrituras e o Nervo da palavra de Deus é Jesus Cristo aqui prenunciado e mais além revelado a humanidade.

Excelente. O Vínculo das escrituras não pode nem deve ser outro além de Jesus Cristo.

Ademais esta válido para todo o conjunto do Novo testamento, que vai de Mateus a Apocalipse e podemos dizer que o foco de cada livro é Jesus Cristo; mesmo quando oculto sob a forma de um escravo vulgar como na Epístola a Filemon... o centro de cada uma destas obras é sempre Jesus Cristo e o mesmo pode ser dito do Antigo Testamento ao menos de modo geral.

Pois vemos que é profeticamente anunciado pelo Pentateuco, pelos Salmos e pelos profetas posteriores; estabelecendo certo vínculo com o Novo Testamento. Destarte Agostinho pode escrever que o Antigo Testamento é o Novo testamento velado e que o Novo Testamento é o Antigo Testamento des ou revelado.

Em sentido estrito porém, este vínculo ou elemento unificador não se encontra presente em todas as partes do antigo testamento.

Como é que é???

Não peco contra a Verdade ao afirmar que em Juízes, em Rute, em Reis, em Crônicas, em Ezra I, em Neemias, em Jó, em Provérbios, em Cantares, em Eclesiastes, em Lamentações, em Tobias, em Judite, em Ester, em Eclesiástico, em Jubileus e nos quatro Macabeus NÃO HÁ VESTÍGIO DE JESUS CRISTO!!!

Então como tais registros foram parar no corpo das escrituras judaicas???

Alguns - como Provérbios, Tobias, Eclesiástico, e III e IV macabeus - lá foram postos (por judeus palestinenses, judeus alexandrinos ou Cristãos) devido a sua elevação moral.

Outros no entanto foram lá postos pelos rabinos com um propósito definido, o qual lhes confere um sentido muito judaico mas nem um pouco Cristão, a saber; a doutrina judaica da eleição abraâmica.

De fato todos estes registros, especialmente Ester, Judite, Lamentações e os dois primeiros Macabeus, aludem aqui e acolá ao dogma central do judaísmo que é a eleição do povo judeu e sua excelência face aos demais povos da terra.

Cumpre perguntar agora se tudo isto esta de acordo com o Cristianismo???

Evidentemente que não pois o espírito do Cristianismo é universal, católico, ecumênico; no sentido de que esta posto pata toda espécie humana e não para uma raça ou povo em especial. Assim a fé judaica é etnocentrista e etnocêntrica enquanto a fé Cristã é plural.

Agora se o espirito tacanho daqueles livros esta em oposição ao espírito que anima o Evangelho porque foram mantidos no Canon pelas gerações subsequentes???

Por algum tipo de temor supersticioso, segundo o qual acreditavam que se removessem um único livro daquilo que acreditavam ser a palavra de deus seriam desarraigados do mundo futuro. Apenas por isso suportaram e teem suportado ao lado dos profetas, do Senhor e dos apóstolos todo esse entulho judeu; que para nós não faz qualquer sentido mas que antes opõem-se ao propósito divino, eterno e imutável.

Dito isto cumpre estabelecer como tais registros foram formados.

Não me refiro aqui ao cruzamento das diversas fontes J E D S que deram origem aos registros mas ao mais remoto ponto de partida de todas as fontes.

Quero colocar-me diante do meio porque os judeus comunicavam-se com seu deus e vice versa.

O que nos leva de chofre a questão da inspiração...

Num primeiro momento investiguemos como os proto israelitas costumavam evocar ou consultar javé.

Que evocassem ou consultassem a javé, depreende-se das seguintes palavras:

"Salomão, acompanhado pela congregação, vinha consultar o Senhor." II Cr 1,5

Outra passagem - I Sam 9,9 - parece indicar a forma porque costumavam evoca-lo:

"NOS TEMPOS ANTIGOS, EM ISRAEL, TODO AQUELE QUE IA CONSULTAR O SENHOR, DIZIA: VAMOS INTERROGAR O VIDENTE. POIS NAQUELE TEMPO O VIDENTE FAZIA AS VEZES DE PROFETA."

A partir desta declaração - sem querer traçar uma linha de demarcação demasiado rigorosa entre o Vidente e o Profeta; cujo objetivo por sinal era o mesmo - somos levados a concluir que enquanto o profeta entrava em estado de transe ou de êxtase durante o qual ESCUTAVA as palavras sagradas; o vidente dos tempos antigos, como o próprio nome dá a compreender VIA alguma coisa...

Que via ele no entanto? Será que tinha visões sensíveis a respeito de javé ou do futuro ou que via qualquer outra coisa que não javé ou o futuro??? Sem querer excluir a possibilidade de que ocasionalmente o vidente acreditasse estar vendo o próprio javé ou uma cena do futuro; somos levados a crer que aquilo que era visto pelo vidente chama-se Efod.

Uai mas Efod não é uma acessório ou paramento litúrgico usado pelo grande sacerdote?

Mais tarde - no tempo dos reis e profetas - recebeu esta acepção, ao tempo dos juízes e videntes no entanto; quando "CADA QUAL FAZIA O QUE JULGAVA SER CORRETO."; parece que Efod significava algo bem distinto.

Segundo podemos ler no livros dos juízes que a mãe de Micas "MANDOU FUNDIR AS MOEDAS E COM ELAS FABRICAR EFOD E TERAFIM DE JAVÉ E O EFOD ERA POSTO DIANTE DO TERAFIM." (Trata-se de um texto bastante corrompido e obscuro).

O que esta de pleno acordo com o testemunho do profeta Oséias: "POR MUITO TEMPO FICARÃO OS FILHOS DE ISRAEL SEM REI, SEM COMANDANTE, SEM SACRIFÍCIO, SEM MACEBOTH, SEM EFOD E TERAFIM." Ose 3.4

A simples leitura do parágrafo acima é suficiente para demonstrar que os maceboths, efodes e terafins correspondiam a instituições tão legítimas quanto a realeza, o exército e os sacrifícios; pois são postos no mesmo nível sem que o profeta faça qualquer distinção.

Porque maceboths, bétilos, efodes, terafins, urins e tumins faziam parte da antiga religião patriarcal mais tarde reformada pelos reis de Jerusalém.

Terafins eram pequenas estatuetas de barro ou bronze em forma de touro ou homem touro; que representavam javé. Cada santuário patriarcal devia possuir a sua...

Assim o grosso da apologética posteriormente forjada pelos deuteronomistas consistia justamente em subverter a realidade histórica e fazer o leitor acreditar que tanto o culto prestado ao bezerro de ouro no deserto quanto aquele que foi prestado aos touros de Dan e Betel constituíam uma inovação; quando na verdade faziam parte do culto ancestral.

Maceboths e bétilos eram colunas de pedra ou placas votivas erguidas no pátio do santuário e ocasionalmente reverenciadas pelos sacerdotes.

Efodes, Urins e Tumins era máquinas ou instrumentos por meio dos quais os videntes antigos consultavam o deus.

A respeito do Efod tudo quanto sabemos é que correspondia a um instrumento metálico...

Já quanto ao Urim e Tumim, que mais tarde converteram-se no magnífico peitoral descrito na Carta de Aristeas, consistia numa espécie de bolsa tira colo posta sobre o peito do sacerdote, bolsa no interior da qual haviam doze pedras - preciosas ou semi preciosas - de diferentes cores, representando cada uma delas uma das tribos.

Para acionar o Urim e Tumim (ou o Efod) punha-se o sacerdote diante do terafim de Javé e interrogava: 

"Quem de nós subirá primeiro para começar a luta contra os benjaminitas?" Jz 20,18

Chacoalhava a bolsa e retirava uma pedra.

E examinando a pedra formulava o oráculo: 

"Judá será o primeiro a subir." id

Eventualmente os sacerdotes empregavam mais pedras ou sinais, tendo em vista levar adiante o escrutínio e descobrir de que casa ou mesmo família de tratava. Por isso lançaram as sortes repetidamente, a começar pela Tribo, até chegar a Acan e corta-lo do meio do povo...

Outros questionavam javé a respeito de situações de normas e regras gerais:

É LÍCITO TOMAR POR PENHOR DUAS MÓS OU UMA MÓ DE CIMA? Dt 24,6

Ou: 

É LÍTICO VESTIR PEÇAS DE LÃ E LINHO MISTURADAS? 

Respondendo javé sim ou não...

O que nos faz lembrar o jogo de búzios.

Como se tratava de uma sentença ditada pelo deus é bastante provável que os sacerdotes mandassem registra-las em tabletes de barro ou plaquinhas de bronze e arquiva-las no santuário. Formando cada santuário uma espécie de arquivo sagrado...

A semelhante processo é que devemos as partes mais remotas e primitivas da Bíblia judaica ou os mais primitivos TÔROS ou decretos divinos.

Posteriormente os videntes ou feiticeiros converteram-se em sacerdócio oficial o qual finalmente foi unificado em torno do papa de Jerusalém apoiado pelo rei Josias. Entrementes os sacerdotes foram abandonando o costume ancestral de consultar javé (por meio do Efod, do Urim e do Tumim) e dedicando-se mais aos sacrifícios e a unificação dos Tôros... até que - estando a lei ou a taurat mais ou menos delineada - cessou por completo de predizer e de admitir comunicações suplementares.

O povo no entanto, seguindo pela via do costume, passou a interrogar os Nabis ou profetas cujo colégio, ao que parece, havia sido criado por Elias no tempo de Acab. Formando eles uma instituição paralela ao sacerdócio.

A respeito de tais consultações temos o testemunho do profeta Ezequiel: "ENTÃO OS ANCIÃOS DO POVO VIERAM ATÉ MIM E SOLICITARAM QUE CONSULTASSE JAVÉ."

O método dos profetas no entanto era bem distinto do método formal praticado pelos antigos sacerdotes, feiticeiros ou videntes; pois enquanto estes empregavam instrumentos como o Efod, o Urim e o Tumim os profetas - via de regra - provocavam um estado alterado de consciência denominado transe, estado durante o qual acreditavam poder entrar em contato com javé e comunicar com ele. Alguns davam mesmo a entender que o espírito de javé ou o próprio deus 'entrava' neles ou tomava posse de seus corpos e falava através deles; tal e qual se sucede nos terreiros de umbanda e candomblé, nos centros espíritas ou nas seitas dos pentecostais.

Assim o profeta convertia-se numa espécie de órgão ou de boca, ou de lingua; de javé.

Nem por isso detinham os israelitas ou judeus o monopólio exclusivo deste processo; antes o mais provável é que tenham-no tomado de empréstimo aos povos vizinhos ou seja aos fenícios ou cananeus.

Assim a pítia ou sacerdotisa de Apolo mascava folhas de Louro, a árvore sagrado do deus, e expunha-se a ação de vapores sulfurosos até perder a consciência... assim os profetas mazdeistas saboreavam o ahoma... enquanto outros recorriam ao suco da semente da papoula... outros ao canhamo... os índígenas da América ao estramônio, os mexicanos ao peyot ou ao mezcal, os peruvianos as folhas de coca, os tupis ao fumo... 

A principio eram os tais profetas tão mal vistos e mal falados que o então rei Saul causou escândalo por ter sido visto na companhia deles. A respeito de Eliseu esta escrito que tendo feito baixar o espírito sob uma tropa provocou sintomas semelhantes ao da embriagues...

Já quanto as profecias por meio das quais Isaías vaticinou o advento do Rei Messias parecem ter sido recebidas por meio de visões ou audições quando este se encontrava em estado normal. O que nos leva a opinar e a supor que todas as verdadeiras profecias comunicadas por Deus foram recebidas pelos profetas em absoluto estado de normalidade e não sob estado de transe.

Quanto as estórias e narrativas que compõe a hagadá do antigo testamento, foram - Como veremos mais adiante - tomadas as mitologias sumeriana, egipcia, assiria, babilônica, persa; e sucessivamente reformuladas; ou seja, objeto de plagio por parte dos sacerdotes hebreus e não produto de revelação sobrenatural de divina.

Mais tarde estes escritos foram reunidos sob a ótica judaica da eleição e por puro e simples servilismo parte deles foi inserida na Bíblia Cristã, mesmo sem que haja neles qualquer vestígio de Jesus Cristo; o único e verdadeiro vínculo ou elo de ligação entre as escrituras legitimamente Cristãs.

Diante disto podemos e devemos asseverar que a maior parte dos registros judaicos é de origem humana e natural; outros no entanto dão testemunho profético de Jesus Cristo; e proclamar que ao invés de ser a palavra de Deus a Bíblia contém palavras de Deus.

protestante: Então o amigo não é pela Bíblia!?!

Sou pela Verdade, segundo esta escrito: CONHECEREIS A VERDADE E A VERDADE VOS EMANCIPARÁ.

E não da mentira, uma vez que: "TODO AQUELE QUE MENTE PERTENCE AO DIABO E DELE PROCEDE POIS ELE É HÁBIL NA MENTIRA E PAI DOS MENTIROSOS." 

Ora Cristo não precisa nem de nossos truques, nem de nossas fraudes, nem de nossas mentiras, nem de nossas maquinações... Que se vá pois o antigo testamento, e fiquemos com a ética do Evangelho, que é a ética da honestidade e da sinceridade.