LIVRO PRIMEIRO - Capítulo I - Sub capitulo 07 > Sobre os 'milagres' produzidos pelos falsos profetas

SOBRE OS 'MILAGRES' PRODUZIDOS PELOS FALSOS PROFETAS

As doutrinas da predestinação particular e das penas eternas fomentam a indiferença e o ódio para com o próximo!

protestante: Felizmente tais exceções são bastante raras no terreno do Evangelho.

Ortodoxo: De fato são raras, mas de modo algum inofensivas, caso levemos em conta suas consequências, especialmente no campo da ÉTICA. Afinal aqueles creem na eternidade das penas, na predestinação para o pecado e consequentemente NUM DEUS FURIOSO, COLÉRICO, TERRÍVEL E VINGATIVO tendem a mostrar-se muito pouco dispostos a amar todos os seres humanos, inclusive - pela esperança da emenda e da correção (Penitência) - os malvados, criminosos e pecadores. 

Antes pelo contrário inclinam-se comumente a rejeita-los da mesma maneira como acreditam que eles foram previamente rejeitados desde toda eternidade pelo próprio deus e chegam mesmo a rejubilar-se diante de tais punições quando não chegam ao cúmulo de antecipa-las por meio de castigos temporais a exemplo das inquisições papal, luterana e calvinista. 

Afinal que amor pode haver lá no tal 'averno cruel e profundo'????

Por vezes Jesus omitia alguma explicação mais detalhada com o intuito de estimular o interesse de seu público

protestante: Seja mais claro por favor.

ortodoxo: Já dissemos que embora Jesus comumente escolha e empregue as palavras mais simples e claras com o objetivo de exprimir seus ensinamentos, em seus discursos públicos, ocasionalmente omite um termo qualquer levando em consideração o caráter racional de seus ouvintes de modo a estimula-los na busca pela verdade.

Em tais circunstâncias, caso recebamos o texto em sua simplicidade literal chegaríamos a conclusões verdadeiramente monstruosas e blasfemas.

Semelhante constatação obriga-nos a concluir que o próprio Jesus esperava certo esforço racional de nossa parte a respeito do sentido de alguns de seus ensinamentos ao menos, o que não deixa se ser honroso para com nossa a condição. Afinal somos 'animais racionais' como bem definiu o filósofo ou 'Sapiens sapiens' em termos puramente biológicos.

Tal parece ser o caso de Mt 24,24:

"Manifestar-se-ão com sinais e prodígios para confundir os justos."

Neste caso, desde já, todo e qualquer recurso ao grego mostra-se inútil. 

Pois o termo utilizado pelo hagiógrafo com o intuito de designar os milagres realizados pelos falsos profetas: 'TERATA' é empregado da mesma maneira para designar os milagres realizados pelo próprio Mestre e pelos santos apóstolos, os quais foram milagres verdadeiros, ou seja, não ilusórios ou aparentes. Isto significa que do ponto de vista da letra, da oração ou da palavra escrita, não podemos inferir ou demonstrar que se tratam de falsos milagres.

Diante disto até mesmo o príncipe dos comentaristas latinos, Maldonado, jamais atreveu-se a negar a possibilidade de que os falsos profetas e heresiarcas pudessem realizar verdadeiros milagres, idênticos aos que foram realizados pelo Divino Mestre e seus discípulos.

E no entanto, caso admitissemos que se tratam mesmo de verdadeiros milagres, idênticos aqueles que foram realizados pelo Salvador e por seus apóstolos, atingiríamos as raias do maniqueísmo e da incredulidade!

Somente a divindade excelsa poderia realizar autênticos milagres!

Basta dizer que os verdadeiros milagres implicam sempre na suspensão da lei natural. O que obriga-nos a concluir que somente aquele que estabeleceu as ditas leis, isto é, o Legislador Supremo - Deus - seja dotado de poder e autoridade suficientes para suspende-las. 

Nem se pode admitir que a Natureza seja controlada por qualquer outro ser ou entidade que não seja seu organizador.

É por meio dos verdadeiros milagres que somos capazes de distinguir a verdadeira Revelação!

É justamente por força desta lógica que somos obrigados a receber os verdadeiros, legítimos e ÚNICOS milagres - executados por Jesus Cristo e por seus apóstolos - como sinais indubitáveis e inequívocos da ação e da presença divinas no mundo e a distinguir a Revelação Cristã, das outras tantas pretensas revelações  concorrentes e de origem puramente humana. Do contrário não teríamos qualquer tipo de critério com que estabelecer a distinção e estaríamos completamente as cegas!

Caso Maomé ou Bab pudessem executar os mesmos sinais e prodígios que Jesus Cristo como poderíamos demonstrar inequivocadamente a divindade e a superioridade do Cristianismo a ponto de eximir toda e qualquer dúvida possível???

Caso Montano, Valentim, Ario e os demais impostores tivessem sido capazes de produzir verdadeiros prodígios como aqueles que haviam sido realizados pelos abençoados apóstolos por que meio distinguir a Verdadeira Igreja apostólica das seitas???

Podería o Deus Bom operar em favor da confusão, da incerteza e da cegueira espiritual???

Há no entanto quem se atreva a ensinar que o Deus verdadeiro executou tais milagres com o objetivo de auxiliar os falsos profetas a enganarem o povo. 

Sem atinar que neste caso Deus estaria pugnando contra si mesmo, anulando o caráter distintivo da Revelação por ele comunicado, operando a favor das falsas Revelações inventadas pelos homens e atuando em favor da confusão e da incerteza! Estaria  Deus pelejando contra Deus! Deus combatendo a clareza da sua verdade em favor da dúvida! Deus atacando Deus!!!

Deus no entanto é Deus de Unidade e ordem segundo intuímos e lemos em diversos passos da escritura... E acima tudo Bom, magnânimo, filantropo, amigo e amante dos mortais! AGORA COMO PODERIA SER BOM sem tornar a verdade suficientemente clara ou obscurecendo-a e favorecendo a cegueira espiritual????

Tampouco as palavras de Jesus: "Aquele que recebe o seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro." fariam qualquer sentido. Pois como haveria de ser verdadeiro aquele cujo propósito fosse enganar ou confundir os seres humanos? Deus é veraz justamente porque incapaz de enganar-nos ou de pugnar contra sua verdade!!!!

Estas e outras razões inelutáveis obrigam-nos a inferir que os milagres em questão não passam de sinais aparentes e fraudulentos ou de prodígios ilusórios e não de verdadeiros milagres.

Esta lição é bastante preciosa pois nos faz perceber que nem mesmo a posse dos originais sagrados ou de uma tradução interlinear é suficiente para eliminar todas dificuldades contidas nesta que é a parte mais fácil do Novo Testamento. Muitas vezes é preciso ler, reler... comparar, ponderar, refletir; até obter uma visão de conjunto.

Portanto não se pode dizer que a leitura do Evangelho seja sempre fácil e jamais difícil.