Com relação aos assuntos terrestres e transitórios pode o homem contentar-se com uma certeza relativa ou marginal, quero dizer com mera verossimilhança.
Embora espere que a sopeira que esta sobre a mesa de minha sala de jantar seja verdadeiramente de louça inglesa, devo reconhecer que tal esperança não é vital para mim e que garantias relativas de natureza puramente humana e falivel contentam-me a esse respeito.
Afinal mesmo não sendo de louça inglesa minha sopeira, a sopa, posta nela, não deixaria de ser sopa e eu sequer correria risco de morte caso se tratasse de louça paraguaia ou nacional...
O mesmo porém não se dá no terreno da religião, que diz respeito a divindade e ao destino da alma no mundo espiritual.
Afinal caso possamos sobreviver e recobrar o corpo faz-se mister tomar todas as providência para que tal se suceda. Do contrário lesariamos a nós mesmos por incúria...
E como após o fim desta vida o tempo pode ter outro referencial e uma duração tanto mais dilatada, tal perda implicaria em sofrimentos possivelmente mais longos e quiçá mais intesos que os sofrimentos fisicos que ora experimentamos.
Compreende-se pois que a única religião digna de aceitação seja aquela que pretenda informar-nos infalivelmente sobre tudo quanto diga respeito a conservação da paz no além túmulo e que do mesmo modo nos indique tudo quanto devamos fazer.
Dentre os grupos em que esta cindida a Cristandade apenas a Ortodoxia e o papismo ousam revindicar este cárater de infalibilidade no que diz respeito a transmissão dos ensinamentos de Nosso Mestre Amado, asseverando que os artigos de fé afirmados por cada uma delas corresponde exatamente a divina revelação e que com ela se identificam.
Não tem o protestantismo tal pretenssão e audácia como teve de confesar Melanchton a sua mãe moribunda, Duplessis du Mornay ao futuro Henrique IV e um ilustre missionário inglês ao Pe Senna Freitas... Assume pois o protestantismo sua falibilidade e não poderia deixar de faze-lo.
Afinal como ousaria revindicar infalibilidade se esta dilacerado numa multidão incontavel de seitas CADA UMA INTERPRETANDO FALIVELMENTE A MESMA BÍBLIA INFALIVEL.
Do contrário, fosse inspirada, verdadeira e condizente com o conteudo do livro, a interpretação seria una e indivisivel, tal e qual se sucede na ortodoxia ou no romanismo.
Isto quer dizer que o protestantismo não nos oferece garantias de qualidade quanto a sua pregação!
Afinal o que ele nos fornece são apenas opiniões, interpretações, achismos e palpites sobre o conteúdo do livro infalivel.
Convem pois questionar para que serve a leitura falivel de um livro infalivel... afinal permanecemos falhando caso nossa leitura seja fálivel, quando não deveriamos falhar mas observar...
Afirmar que um Livro X seja infalivel não resolve em nada o problema se o que afirmamos e cumprimos não constitui a mensagem do livro ou a vontade de Cristo, mas nossa leitura ou compreenssão inexata...
Praticar a idéia que temos sobre o Evangelho ou a doutrina de Jesus não é praticar o Evangelho que santifica e aperfeiçoa, mas praticar nossas idéias as quais sempre poderão estar erradas!
A opinião que faço e a idéia que tenho do Evangelho não são e jamais serão o Evangelho a menos que ouse postular minha própria infalibilidade, usurpando a infalibilidade da igreja como costumam fazer os pentecostais...
No entanto afirmar-se como infalivel e passar-se por infalivel não equivale a ser infálivel.
Podem os pregadores pentecostais apontar seus nomes ou os nomes de seus mestres na inspiração?
Vão pois anunciar seu novo Evangelho aos maometanos em Meca e não a nós que somos herdeiros da pregação apostólica e indiviza!
Passar interpretações por conteúdos é vender gato por lebre e dar por certo o que é muito duvidoso...
Ao abdicar da infalibilidade o protestantismo mais uma vez assumiu uma posição muito inferior a assumida pela sinagoga ou pela mesquita, afinal a maioria dos líderes religiosos tem consciência de que as pessoas desejam estar em posse duma religião divina e sobrenatural e não duma religião puramente humana que é incapaz de conferir uma chancela sobrenatural a seus próprios ensinamentos.
E não se pense que haja humildade por trás de tudo isto, afinal de que nos serviria uma humildade que no fim das contas não passa de incerteza disfarçada e de incerteza quanto aos ensinamentos transmitidos por nosso Mestre amado a sua shahaba?
Não é que o protestantismo histórico não deseja ser infálivel, ele apenas assume o discurso da raposa diante das uvas maduras pelo simples fato de não poder afirmar-se como tal em razão de seu estado fragmentario.
Concluimos pois que ele não corresponde as necessidades espirituais dos seres humanos ou ao status religioso cobiçado por todo homem prudente: a certeza absoluta de estar na posse da verdade plena.
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