B) XCII - Introdução - Oposição entre a Moral do Antigo testamento e a Ética do Novo

Em nossos artigos e palestras temos buscado salientar o aspecto típico ou peculiar a Instituição Cristã em termos de religiosidade.

Ao contrário dos demais credos e sistemas religiosos que polarizam a religiosidade humana em torno de deuses ou seja, do numinoso, do sagrado, do sobrenatural, do transcendente, do místico; o Cristianismo corresponde a um padrão essencialmente ético ou humanista.

"AMARÁS A DEUS ACIMA DE TODAS AS COISAS E O TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO." é o fundamento mais remoto desta Lei. A qual, sendo assim, esta positivamente voltada para a promoção humana em termos de fraternidade universal, paz, bem estar e comunhão.

Nele - pois mais que tenha sido distorcido pelo demagogos - todas as relações teleológicas postas para o divino encontram-se na dependência de nossa relação ou melhor interação com os demais seres humanos nossos irmãos. E o homem ou o outro torna-se também ele centro de um sistema peculiar, sistema que postula ter o próprio Deus assumido a condição humana através do mistério da Encarnação.

"O QUE FIZESTES A CADA UM DE TEUS IRMÃOS MAIS PEQUENINOS FOI A MIM QUE O FIZESTES." declara este Deus encarnado; e também:

"SAULO, SAULO POR QUE ME PERSEGUES?" 

Querendo dizer com isto que todo mal e todo bem direcionados aos membros de seu corpo repercutem nele mesmo. Temos aqui um Deus solidário que identifica-se com o homem...

Destarte, antes de ser uma doutrina ortodoxa posta para o intelecto - O QUE O CRISTIANISMO CATÓLICO NÃO PODE DEIXAR DE SER CERTAMENTE - é o Cristianismo uma regra, norma ou lei divina que deve ser posta em prática por seus membros OU UMA VIDA. É o que denominamos Ortopraxia.

Aqui não se trata apenas de crer ou sabe corretamente mas principalmente de se viver corretamente.

A contrário dos Murjyya que sobrepõe e a fé imaculada e a ortodoxia ao AMOR - sustentando que o homem se salva pela fé somente ou sem obras - a igreja sobrepõe em certo sentido o AMOR a fé, fazendo com que esta, por exata que seja; dele dependa ou receba sua forma.

A caridade é que comunica vida e valor a fé demonstrando sua veracidade e pureza e não o contrário.

"SE ME AMAIS EXECUTAREIS MEUS PRECEITOS." declara ele.

E noutra parte: "ASSIM SABERÃO TODOS QUE SOIS DOS MEUS: SE VOR AMARDES UNS AOS OUTROS FIELMENTE." 

E noutro lugar: "NÃO É AQUELE QUE DECLARA: MEU SENHOR, MEU SENHOR QUE ENTRARÁ NA VIDA; MAS AQUELE QUE EXECUTA A VONTADE DIVINA EM SUA VIDA." 

E um de seus vigários: "AQUELE QUE DECLARA AMAR A DEUS MAS NÃO OBSERVA SEUS DECRETOS É MENTIROSO... NISTO SABEREMOS QUE SOMOS DE DEUS; QUE OBSERVAMOS OS SEUS MANDAMENTOS."

Assim o amor esta acima da fé e as obras acima da esperança:

"POR HORA SUBSISTEM A FÉ, A ESPERANÇA E A CARIDADE; A SUPREMA VIRTUDE NO ENTANTO É A CARIDADE."

Isto é o Cristianismo; uma doutrina pura e exata certamente, mas acima de tudo uma norma e regra com que conformar as ações e a vida ou um modo distinto e superior de viver.

Dai Inácio o Grande declarar: "Deus se fez homem para que o homem aprendesse a viver como um deus."

E a inspiração divina: "Assim imitadores de Deus somos nós."Ef 5,1

Tal o caráter desta Nova Lei de Jesus Cristo (Galatas 6,2) promulgada após João.

Agora esta Nova Lei do Evangelho é de fato NOVA quanto ao Tempo; e por ser NOVA INFERIMOS QUE FORA ATÉ ENTÃO DESCONHECIDA PELOS MORTAIS E IGNORADA PELO GÊNERO HUMANO. 

Pois se fosse já conhecida e tivesse sido revelada por outro homem a que título SERIA NOVA???

E no entanto sendo Nova quanto ao tempo de sua manifestação e promulgação nem por isto deixa de ser ETERNA E IMUTÁVEL enquanto procedente de Deus pelo simples fato de que Jesus Cristo recebeu-a "In sinu patris" ab aeternum.

Resta-nos concluir que os antigos hebreus guiavam-se por leis puramente humanas e não por uma Lei Eterna e Imutável comunicada por Deus.

Do contrário as leis deles saberiam o gosto do Santo Evangelho e rescenderiam a paz, doçura, complacência, generosidade, benignidade, clemência, etc E o Evangelho já não seria uma novidade ou algo novo mas algo assaz sabido e repisado...

E faltando-lhe o Novo, enquanto mera repetição perderia ele toda nobreza e excelência que lhe são peculiares. Seria trivial o Evangelho caso não passasse de mera recapitulação da moral étnica dos antigos israelitas...

Eis porque levamos a cabo demonstrar que entre a LEI ETERNA consignada no Santo Evangelho e as LEIS ÉTNICAS DOS ANTIGOS HEBREUS há verdadeira oposição ou conflito.

Contradição que opõe o vinho Novo dado por Deus aos odres velhos confeccionados pelos homens... entre o tecido Novo confeccionado pelo Verbo divino e o pano velho fabricado pelos homens mortais.

Entre a verdadeira lei divina revelada por Jesus Cristo no Sermão do Monte e a cultura judaica ou farisaica.

Ambas jamais poderiam ter sido comunicadas pelo mesmo Deus pelo simples fato de que Deus para ser Deus é necessariamente IMUTÁVEL e sem sombra de variação.

Ao contrário do que alegam nossos adversários, os falsos profetas e pregoeiros da mentira que se auto intitulam pastores NÃO SOMOS NÓS QUE JULGAMOS A DIVINDADE A PARTIR DE NOSSOS DESEJOS E COGITAÇÕES.

É DEUS JULGADO PELA PALAVRA EXARADA POR SEU PRÓPRIO SERVO E VIGÁRIO: "IMUTÁVEL É E NELE NÃO HÁ SOMBRA DE VARIAÇÃO!"

Este é o decreto apostólico e sagrado que desmascara e esmaga aqueles que declaram ser Deus autor das duas leis: a de Moisés e dos Judeus e a de Jesus Cristo.

Pois sendo radicalmente diferentes quanto a essência e espírito que as anima só nos restaria inferir que o autor de ambas sendo um só mudou radicalmente de ideia...

Ora, Deus não pode mudar. Logo ambas as leis não podem proceder dele...

Ele não pode ter decretado uma lei de vingança e terror e depois ter substituído esta mesma lei por uma outra lei de amor, generosidade e complacência sem ter sofrido alteração. A PENA APOSTÓLICA NO ENTANTO DECLARA EM ALTO EM BOM SOM QUE TAL NÃO É POSSÍVEL.

Resta-nos concluir que se esta nova lei do amor, da vida, da paz, da compaixão e da benignidade é de fato divina e procedente dos céus; a antiga e nacional dos hebreus: do ódio, da morte, da força e da crueldade é puramente natural enquanto fruto da vontade humana.

A menos que deus seja uma espécie de Sibyl e tenha múltiplas personalidades não podemos fugir a esta conclusão...

Eis porque, como Cristãos conscientes, batemos repetidamente nesta tecla: o Evangelho apenas procede sobrenaturalmente dos céus merecendo ser tido em conta de divinamente revelado; enquanto os preconceitos acalentados pelos antigos judeus e judaizantes são produto de elaboração cultural segundo a dinâmica do processo histórico.

É exata pois a sunnah dos verdadeiros crentes e observantes ou seja, daqueles que tomam por modelo unicamente a Jesus Cristo - Comendador, Pai e chefe dos fiéis chamados a santidade e a perfeição - e os apóstolos e vigários que eles escolheu, instruiu e santificou com o poder de sua palavra e a graça do Espírito Santo.

Estes voltam conscientemente suas costas para Moisés, os fariseus e a sinagoga; para os quais estão voltadas as vistas dos traidores e apóstatas judaizantes; ou seja, daqueles que desfazem e anulam as leis sagradas e ensinamentos de Jesus Cristo com recursos e apelos a uma suposta lei anterior e superior.