
1Samuel 31,3-6:
"... Ferido mortalmente pelos flecheiros, ordenou Saul ao seu escudeiro: “Desembainha a espada e traspassa-me com ela! Não venham esses incircuncisos e me traspassem, abusando de mim!” Mas o escudeiro não quis saber, porque tinha muito receio. Então Saul tomou a espada e se precipitou sobre ela. Quando o escudeiro viu que Saul estava morto, também se precipitou sobre a espada e morreu ao lado dele. Portanto neste dia morreram Saul e os três filhos, o escudeiro, bem como todos os seus homens."
2Samuel 1,4-10:
"Davi lhe perguntou: “Como foi a coisa? Vai contando!” O outro disse: “É, o pessoal fugiu da batalha e houve muitas baixas e mortos entre a tropa. Saul e seu filho Jônatas também morreram”. Davi ainda perguntou ao moço informante: “Como chegastes a saber que Saul e seu filho Jônatas estão mortos?” A isto o informante respondeu: “Cheguei casualmente à montanha de Gelboé, eis senão quando vi Saul apoiado na lança e encurralado pelos carros e cavaleiros. Quando ele se voltou para trás, avistou-me e me chamou. Aí eu disse: ‘Pronto: às ordens!’ Então me perguntou: ‘Quem és tu?’ Eu lhe disse: ‘Eu sou amalecita’. E ele me disse: ‘Vem cá e dá-me o golpe de misericórdia, pois estou tomado de estertores, embora toda a minha vida ainda esteja em mim’. Eu me acerquei dele e acabei de o matar, pois via que não sobreviveria, quando viesse a cair. Em seguida tirei-lhe da cabeça o diadema e do braço o bracelete e os trouxe para meu senhor.'"
Elementos da primeira narrativa inspirada e infalivel:
- Saul havia sido mortalmente ferido na barriga pelos arqueiros filisteus.
- Temia ser apanhado vivo e torturado por seus adversários caso demorasse a morrer.
- Pediu pois que um de seus fâmulos abreviasse sua agônia, para que não caisse nas mãos dos filisteus.
- Temendo escapar ao ataque dos filisteus e ser acusado de regicídio por seus compatriotas o fâmulo se recusa a atender a súplica do rei.
- Diante da recusa de seu fâmulo só restou a Saul suicidar-se atirando-se sobre sua própria espada. Não sem hesitar porquanto o suícidio era mal visto por seus súditos em especial pelos clérigos.
- O ESCUDEIRO VIU QUE SAUL ESTAVA MORTO.
- E percebendo que seu rei estava morto, matou-se ele também.
Até Aqui I Samuel 31,3 e segs.
Analisemos agora os elementos da segunda narrativa inspirada e infalivel:
- Saul estava fraco - pela perda de sangue - apoiado (e não atravessado) em sua lança e cercado pelos inimigos.
- Receava porém sucidar-se, pede portanto ao estrangeiro que lhe dê um golpe de misericórdia.
- O estrangeiro aproximou-se e vendo-o ferido por uma flecha na barriga, julgou-o perdido.
- DIANTE DISSO RESOLVEU-SE A ATENDER SEU PEDIDO E LHE VIBROU CERTEIRO GOLPE DE MISERICÓRDIA. (O texto afirma que acabou de mata-lo após o que despojou-o de seus ornamentos régios que foram entregues a David).
Até aqui II Samuel 1,4 segs.
Agora façamos a comparação:
O primeiro texto assevera que Saul deu morte a sí mesmo, porquanto atirou-se não sobre uma lança, mas sobre sua espada e que o escudeiro antes de sucidar-se, VIU QUE SAUL ESTAVA MORTO.
ESTAVA POIS MORTO E NÃO AGONIZANTE OU MORRENDO E HAVIA MORTO A SI MESMO.
Conclusão: Saul suicidou-se.
O segundo texto entretanto nos assevera que Saul ainda estava vivo e combatendo - se bem que ferido - quando o narrador avistou-o.
E que obedecendo a um pedido seu ACABOU DE MATA-LO COM SUAS PRÓPRIAS MÃOS APÓS O QUE RETIROU SEUS ORNAMENTOS.
Conclusão: Saul foi morto pelo amalecita com um golpe de misericórdia.
Conclusão final:
Temos diante de nós uma contradição formal de termos.
Pois o primeiro deles afirma que o homem deu morte a sí mesmo ou seja que suicidou-se enquanto que o segundo termo sustenta que foi morto por uma outra pessoa.
Sabemos todavia que um mesmo homem não pode matar-se e ser morto porquanto só se morre uma única vez.
A ninguém é dado suicidar-se e ser assassinado.
Portanto ou Saul de fato suicidou-se e não foi assassinado ou foi assassinado pelo amalecita e, neste caso não pode suicidar-se.
A dar-se fé ao primeiro caso a primeira narrativa é fiel, mas a segunda - II Sam 1,4 - é falsa e talvez tenha sido composta por ordem de David com o objetivo de limpar a memória de Saul.
No segundo caso a segunda narrativa seria verdadeira, a primeira no entanto seria falsa correspodendo certamente a uma manobra dos sacerdotes com o objetivo de acrescentar mais um ultraje a memória de um rei que não quiz se curvar diante de suas pretensões.
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