A parte final do artigo reproduz alguns parágrafos em que o pensador alemão F. Nietzsche analisa o problema.
Merece uma indicação nosso estudo em torno do surgimento dos alegorismos alexandrinos pagão, judeu e cristão e sobre o surgimento e a natureza da Escola exegética antioquena.

"NUNCA VIMOS ALGO ASSIM, POIS FALA COMO QUEM ESTA REVESTIDO DE AUTORIDADE."
Desde os tempos de Paulo e Marcion percebeu a Santa Mãe Igreja - paz com ela! - que embora o Testamento antigo contenha em seu bojo verdadeiras palavras de Deus - sob a forma de profecias, oráculos, vaticínios, referências, símbolos e tipos voltados para Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo - nem por isso deveria ou poderia ser encarado a 'pura e santa palavra de Deus' em sua totalidade ou no sentido que atribuímos ao Evangelho ou os escritos que nos foram legados pelos apóstolos e discípulos do Salvador.
Noutro artigo descrevemos como a Escola catequética de Alexandria - fundada por Panteno e dirigida posteriormente por Clemente e em seguida por Origenes - destacou-se pela faina com que buscou encontrar e selecionar os 'elementos' de Cristo nos registros dos antigos hebreus. SEM TODAVIA - AO MENOS EM ALGUMAS OCASIÕES - DEIXAR DE FORÇAR O SENTIDO NATURAL.
Noutro artigo descrevemos como a Escola catequética de Alexandria - fundada por Panteno e dirigida posteriormente por Clemente e em seguida por Origenes - destacou-se pela faina com que buscou encontrar e selecionar os 'elementos' de Cristo nos registros dos antigos hebreus. SEM TODAVIA - AO MENOS EM ALGUMAS OCASIÕES - DEIXAR DE FORÇAR O SENTIDO NATURAL.
A respeito desta acomodação possuímos o testemunho do neoplatônico Porfírio, conservado por Eusébio em sua "História Eclesiástica":
"Algumas pessoas, desejando encontrar alguma solução com que explicar a vulgaridade das Escrituras judaicas, ao invés de abandona-las, recorreram a explicações artificiosas e incompatíveis com o sentido literal... tais pessoas gabam-se de que as palavras toscas de Moisés sejam enigmas, e consideram-nas como oráculos repletos de mistérios da mais elevada sabedoria, assim mostram ter muito pouco juízo tendo em vista a cavilosidade de suas interpretações.
O citado Amônio - indevidamente confundido com o neoplatônico Amônio de Sakkas - contemporâneo de S Clemente, e instrutor ou companheiro de Orígenes, compôs uma obra, ao que parece perdida, intitulada "Harmônia entre Moisés e Jesus" com o intuito de demonstrar que Moisés havia ensinado figuradamente tudo quanto Jesus anunciará literalmente aos judeus de seu tempo.
Infelizmente não podemos saber a que ginástica mental recorreu nosso Amônio com o intuito de conciliar a doutrina do extermínio em massa dos pagãos, decretado por Moisés, com a doutrina da paz, do amor e da misericórdia enunciada por Jesus Cristo.
Seja como for toda escola de Alexandria ficou impregnada por esta ideia fixa de conformar Jesus com Moisés a todo custo, sem se dar conta que deste modo faziam de Moisés um Jesus anterior; logo maior e mais refinado; e de Jesus um repetidor vulgar que nada 'revelou' de fato aos mortais.
A bem da verdade a tentativa dos alexandrinos não comportava novidade alguma. Pois fora calcada no exemplo dos pensadores judeus Aristóbulos e Fílon. O primeiro floresceu em Alexandria cerca d século a C, enquanto que o segundo fora contemporâneo de Nosso Jesus, segundo podemos depreender do relato sobre a embaixada enviada pela presidência da grande sinagoga a Roma no último ou penúltimo ano de Calígula.
Tanto um quanto outro especializaram-se em torcer e distorcer os escritos vulgares dos hebreus; mormente a Torá, para faze-los concordar com as doutrinas dos filósofos gregos, em especial com as que haviam sido enunciadas pelo acadêmico e seus sucessores.
Efetivamente os gregos do tempo de Sócrates e Platão, após terem explorado grande parte do mundo por eles habitado e auferido certa gama de conhecimentos naturais a respeito dos quais não podiam entretecer qualquer dúvida, viram-se na contingência de renunciar a seus mitos ou de reinterpreta-los conferindo-lhes um sentido alegórico e forçado que de modo algum estava em sintonia com os rudimentos da fé. Dir-se-ia que os gregos optaram por acomodar suas velhas crenças a realidade recorrendo a certos esquemas simbólicos que possibilitassem extrair delas tudo quanto a maioria julgava não passar de novidades...
Grande foi o afã dos gregos neste sentido, de acomodar a religião ancestral ao mundo recém percebido ou conhecido por meio de alegorias e símbolos.
E num instante passou de Atenas a Alexandria onde floresceu amplamente, inspirado já pelos platônicos, já pelos neoplatônicos, neste último caso já no alvorecer da Era Cristã, durante os séculos I, II e III.
Do primeiro esforço beneficiaram-se os citados expositores judeus, os quais empenharam em acomodar os mitos sumerianos editados pelos sacerdotes em nome de Moisés ao pensamento altamente refinado de Platão. Do segundo esforço e do exemplo legado pelos expositores judeus, beneficiaram-se amplamente os doutores cristãos dos séculos II, III, IV, V e VI, a começar por Amônio e Orígenes até Dídimo, o cego... Uma bela trajetória ainda que ineficaz devido a artificialidade apontada já por Porfírio.
Todo esforço empregado primeiramente pelos antigos gregos e seguidamente pelos judeus e cristãos, em que pese a honestidade de uns e outros, serviu apenas para evidenciar quanto o homem pode ser criativo quando animado pelo sincero desejo de atribuir as idéias, crenças e teorias por ele descobertas as gerações que o precederam. De fato este trânsito é possível tendo em vista o dinamismo latente a todos os códigos linguísticos vivos, cujas palavras podem receber novas acepções jamais imaginadas em termos de anterioridade.
Outro aspecto a ser considerado diante deste tremendo esforço levado a cabo por gregos, judeus e cristãos, é a incompatibilidade existente entre a imagem de mundo inculcada pela mitologia - seja ela grega ou israelita - e o modelo científico constatado a partir de nossa experiencialidade ou do contanto feito com o mundo real por meio dos sentidos. Efetivamente as fábulas e narrativas religiosas jamais descrevem o mundo tal e qual capta-mo-lo através de nosso aparelho sensorial.
Há um conflito ou uma cisão entre o que percebemos a respeito do mundo e aquilo que as religiões primitivas afirmam a respeito dele.
Diante disto podemos tomar dois caminhos bem distintos: O de Anaxágoras, que afirmou em alto e bom som não passar o 'deus' Hélios ou o Sol duma espécie de pedra em chamas; e escapando a morte - por heresia - graças a autoridade exercida por Péricles... ou o da alegorização...
Assim a alegorização e o simbolismo foram por muito tempo as válvulas de escape responsáveis por impedir que este conflito se torna-se aberto e atingi-se proporções ainda maiores como de fato veio a atingir - num contexto Cristão - no momento em que, como veremos, o alegorismo foi abandonado e as interpretações literais reafirmadas. Pois em tais casos o homem só pode ser reduzido externamente aos rudimentos da superstição ancestral por meio da coerção física nos termos de um aparelho organizado; a saber, as inquisições romana e protestante... a última em especial posta, como veremos, a serviço da literalidade bíblica.
Isto é tudo quanto temos a dizer ou melhor a repetir sobre a escola catequética de Alexandria e sobre o aparecimento ou a penetração do alegorismo alexandrino na exegese cristã primitiva, de que temos exemplo na epístola canônica aos Hebreus e na Epístola de S Barnabé, isto para sermos sucintos.
Aqui se houve alguma tomada de consciência face a tensão fé/percepção, tudo quanto se fez foi - como registrou Porfírio - ocultar ou disfarçar o sentido legítimo, objetivo ou natural até onde era possível faze-lo; ignorando ou pondo debaixo do tapete, tudo quanto não era possível 'distorcer' honestamente. E algumas coisas ou textos ficaram relegados a sua rude crueza sem que os mais engenhosos doutores e comentaristas; de Amônio e Orígenes aos pastores desta nossa geração; pudessem apontar qualquer sentido cristão ou vestígio de Jesus Cristo.
Afinal que sentido religioso ou espiritual poderia haver nos órgãos sexuais dos egípcios, nas 'matrizes' das concubinas de Faraó ou nas genealogias dos sacerdotes???
"Algumas pessoas, desejando encontrar alguma solução com que explicar a vulgaridade das Escrituras judaicas, ao invés de abandona-las, recorreram a explicações artificiosas e incompatíveis com o sentido literal... tais pessoas gabam-se de que as palavras toscas de Moisés sejam enigmas, e consideram-nas como oráculos repletos de mistérios da mais elevada sabedoria, assim mostram ter muito pouco juízo tendo em vista a cavilosidade de suas interpretações.
Dentre os que assim procederam posso citar um homem a quem conheci quando era jovem, o qual era então e ainda hoje o é altamente reverenciado devido aos escritos que legou. Refiro-me a Orígenes, que é tido em conta de mestre e doutor por aqueles que professam esta doutrina
Sabemos que este homem, fora ouvinte de Amônio e que Amônio tendo sido cristão, e educado por pais cristãos, após ter estudado a filosofia adotou nosso modo de viver em conformidade com as leis. Orígenes, optou pelo caminho oposto, pois tendo sido educado como grego adotou os costumes dos bárbaros.
E tendo se dedicado ao estudo de nossos sábios e a exposição da doutrina dos cristãos associou as idéias grosseiras dos bárbaros as teorias dos sábios e APLICOU A COMPREENSÃO ALEGÓRICA DA MITOLOGIA GREGA AS FÁBULAS DOS JUDEUS.
Conforme havia estudado Platão, Numenius, Cronius, Apollophanes, Longinus, Moderatus, Nicômaco; o pitagórico e recorrido as obras de Chæremon; o estoico e de Cornutus foi em tais obras que colheu a interpretação simbólica e aplicou aos registros dos estrangeiros."
O citado Amônio - indevidamente confundido com o neoplatônico Amônio de Sakkas - contemporâneo de S Clemente, e instrutor ou companheiro de Orígenes, compôs uma obra, ao que parece perdida, intitulada "Harmônia entre Moisés e Jesus" com o intuito de demonstrar que Moisés havia ensinado figuradamente tudo quanto Jesus anunciará literalmente aos judeus de seu tempo.
Infelizmente não podemos saber a que ginástica mental recorreu nosso Amônio com o intuito de conciliar a doutrina do extermínio em massa dos pagãos, decretado por Moisés, com a doutrina da paz, do amor e da misericórdia enunciada por Jesus Cristo.
Seja como for toda escola de Alexandria ficou impregnada por esta ideia fixa de conformar Jesus com Moisés a todo custo, sem se dar conta que deste modo faziam de Moisés um Jesus anterior; logo maior e mais refinado; e de Jesus um repetidor vulgar que nada 'revelou' de fato aos mortais.
A bem da verdade a tentativa dos alexandrinos não comportava novidade alguma. Pois fora calcada no exemplo dos pensadores judeus Aristóbulos e Fílon. O primeiro floresceu em Alexandria cerca d século a C, enquanto que o segundo fora contemporâneo de Nosso Jesus, segundo podemos depreender do relato sobre a embaixada enviada pela presidência da grande sinagoga a Roma no último ou penúltimo ano de Calígula.
Tanto um quanto outro especializaram-se em torcer e distorcer os escritos vulgares dos hebreus; mormente a Torá, para faze-los concordar com as doutrinas dos filósofos gregos, em especial com as que haviam sido enunciadas pelo acadêmico e seus sucessores.
Efetivamente os gregos do tempo de Sócrates e Platão, após terem explorado grande parte do mundo por eles habitado e auferido certa gama de conhecimentos naturais a respeito dos quais não podiam entretecer qualquer dúvida, viram-se na contingência de renunciar a seus mitos ou de reinterpreta-los conferindo-lhes um sentido alegórico e forçado que de modo algum estava em sintonia com os rudimentos da fé. Dir-se-ia que os gregos optaram por acomodar suas velhas crenças a realidade recorrendo a certos esquemas simbólicos que possibilitassem extrair delas tudo quanto a maioria julgava não passar de novidades...
Grande foi o afã dos gregos neste sentido, de acomodar a religião ancestral ao mundo recém percebido ou conhecido por meio de alegorias e símbolos.
E num instante passou de Atenas a Alexandria onde floresceu amplamente, inspirado já pelos platônicos, já pelos neoplatônicos, neste último caso já no alvorecer da Era Cristã, durante os séculos I, II e III.
Do primeiro esforço beneficiaram-se os citados expositores judeus, os quais empenharam em acomodar os mitos sumerianos editados pelos sacerdotes em nome de Moisés ao pensamento altamente refinado de Platão. Do segundo esforço e do exemplo legado pelos expositores judeus, beneficiaram-se amplamente os doutores cristãos dos séculos II, III, IV, V e VI, a começar por Amônio e Orígenes até Dídimo, o cego... Uma bela trajetória ainda que ineficaz devido a artificialidade apontada já por Porfírio.
Todo esforço empregado primeiramente pelos antigos gregos e seguidamente pelos judeus e cristãos, em que pese a honestidade de uns e outros, serviu apenas para evidenciar quanto o homem pode ser criativo quando animado pelo sincero desejo de atribuir as idéias, crenças e teorias por ele descobertas as gerações que o precederam. De fato este trânsito é possível tendo em vista o dinamismo latente a todos os códigos linguísticos vivos, cujas palavras podem receber novas acepções jamais imaginadas em termos de anterioridade.
Outro aspecto a ser considerado diante deste tremendo esforço levado a cabo por gregos, judeus e cristãos, é a incompatibilidade existente entre a imagem de mundo inculcada pela mitologia - seja ela grega ou israelita - e o modelo científico constatado a partir de nossa experiencialidade ou do contanto feito com o mundo real por meio dos sentidos. Efetivamente as fábulas e narrativas religiosas jamais descrevem o mundo tal e qual capta-mo-lo através de nosso aparelho sensorial.
Há um conflito ou uma cisão entre o que percebemos a respeito do mundo e aquilo que as religiões primitivas afirmam a respeito dele.
Diante disto podemos tomar dois caminhos bem distintos: O de Anaxágoras, que afirmou em alto e bom som não passar o 'deus' Hélios ou o Sol duma espécie de pedra em chamas; e escapando a morte - por heresia - graças a autoridade exercida por Péricles... ou o da alegorização...
Assim a alegorização e o simbolismo foram por muito tempo as válvulas de escape responsáveis por impedir que este conflito se torna-se aberto e atingi-se proporções ainda maiores como de fato veio a atingir - num contexto Cristão - no momento em que, como veremos, o alegorismo foi abandonado e as interpretações literais reafirmadas. Pois em tais casos o homem só pode ser reduzido externamente aos rudimentos da superstição ancestral por meio da coerção física nos termos de um aparelho organizado; a saber, as inquisições romana e protestante... a última em especial posta, como veremos, a serviço da literalidade bíblica.
Isto é tudo quanto temos a dizer ou melhor a repetir sobre a escola catequética de Alexandria e sobre o aparecimento ou a penetração do alegorismo alexandrino na exegese cristã primitiva, de que temos exemplo na epístola canônica aos Hebreus e na Epístola de S Barnabé, isto para sermos sucintos.
Aqui se houve alguma tomada de consciência face a tensão fé/percepção, tudo quanto se fez foi - como registrou Porfírio - ocultar ou disfarçar o sentido legítimo, objetivo ou natural até onde era possível faze-lo; ignorando ou pondo debaixo do tapete, tudo quanto não era possível 'distorcer' honestamente. E algumas coisas ou textos ficaram relegados a sua rude crueza sem que os mais engenhosos doutores e comentaristas; de Amônio e Orígenes aos pastores desta nossa geração; pudessem apontar qualquer sentido cristão ou vestígio de Jesus Cristo.
Afinal que sentido religioso ou espiritual poderia haver nos órgãos sexuais dos egípcios, nas 'matrizes' das concubinas de Faraó ou nas genealogias dos sacerdotes???
Já a Escola de Antioquia - tanto mais dedicada ao estudo do Novo Testamento - desenvolveu um tipo de analise marcadamente litero-gramatical e bastante próxima dos modernos padrões de cientificidade.
Aplicado tal padrão - científico - de exegese ao registro vetero testamentário - em especial por Teodoro de Mopsueste - os inúmeros erros e inexatidões nele contidos não puderam deixar de ser, mais de uma vez, captados e postos a nu por nossos Padres e doutores e de leva-los a antecipar até certo ponto aquilo que hoje chamamos de crítica liberal.
De certo modo e em certo sentido a solução proposta por Teodoro - e reeditada, quem diria, por Lutero - a respeito da vulgaridade de certos registros hebraicos - como Jó, Ester, Cantares, Eclesiastes, Provérbios, etc - que não contem, como veremos mais adiante, qualquer testemunho concreto a respeito de Jesus Cristo, foi muito mais realista face a que havia sido proposta pelos alexandrinos; pois consistia em negar a tais livros o estatus de inspirados e a remove-los do cânon em que acabavam de ser postos pelos rabinos numa perspectiva etnocêntrica que não pode ser levada em conta pelos Cristãos Católicos. Esta solução parece-me bem menos trágica e perniciosa do que aquela que consiste em encarar tais obras como manuais autorizados em termos de doutrina Cristã a par do S Evangelho...
De minha parte, ao invés de ver tais livros nivelados aos Evangelhos por nossos fundamentalistas, preferiria ve-los queimados, reduzidos a cinzas e lançados ao Elba como desejava o pai do protestantismo. Assim talvez produzissem alguma luz ao invés das densas trevas que tem produzido por terem sido postos nas mãos da gente rude e simples.
Aplicado tal padrão - científico - de exegese ao registro vetero testamentário - em especial por Teodoro de Mopsueste - os inúmeros erros e inexatidões nele contidos não puderam deixar de ser, mais de uma vez, captados e postos a nu por nossos Padres e doutores e de leva-los a antecipar até certo ponto aquilo que hoje chamamos de crítica liberal.
De certo modo e em certo sentido a solução proposta por Teodoro - e reeditada, quem diria, por Lutero - a respeito da vulgaridade de certos registros hebraicos - como Jó, Ester, Cantares, Eclesiastes, Provérbios, etc - que não contem, como veremos mais adiante, qualquer testemunho concreto a respeito de Jesus Cristo, foi muito mais realista face a que havia sido proposta pelos alexandrinos; pois consistia em negar a tais livros o estatus de inspirados e a remove-los do cânon em que acabavam de ser postos pelos rabinos numa perspectiva etnocêntrica que não pode ser levada em conta pelos Cristãos Católicos. Esta solução parece-me bem menos trágica e perniciosa do que aquela que consiste em encarar tais obras como manuais autorizados em termos de doutrina Cristã a par do S Evangelho...
De minha parte, ao invés de ver tais livros nivelados aos Evangelhos por nossos fundamentalistas, preferiria ve-los queimados, reduzidos a cinzas e lançados ao Elba como desejava o pai do protestantismo. Assim talvez produzissem alguma luz ao invés das densas trevas que tem produzido por terem sido postos nas mãos da gente rude e simples.
Sem abraçar oficialmente e tampouco condenar a crítica liberal encetada por S Teodoro, a igreja ortodoxa OPTOU, DE PREFERÊNCIA, POR ENCARAR ALEGORICAMENTE O TESTAMENTO ANTIGO, SEGUNDO O ESQUEMA PROPOSTO PELOS ALEXANDRINOS; daí ter-se mostrado a mais ou menos impermeável a judaização e manter-se inflexível como baluarte da teologia nicena ou atanasiana. O que já é grande coisa em termos de doutrina cristã embora já não solucione o dilema posto entre os registros judaicos e as constatações obtidas pela pesquisa científica em termos de 'mundo natural'.
Sem embargo, a percepção dos símbolos e das alegorias atribuídos a Cristo Jesus e contidos nos registros hebraicos exige certo grau de imaginação e educação para ser acolhida; condições estas que por razões de ordem histórica e social não puderam prevalecer na porção Ocidental da Cristandade a partir do quarto século desta nossa Era.
Refiro-me marcadamente a instalação dos povos teutônicos na parte ocidental do antigo Império romano, instalação que determinou até certo ponto a eliminação da cultura greco romana e a desarticulação do aparelho de ensino; dando origem a todo um ciclo de cultura iletrada ou oral inapta para já para apreender, já para conceber esquemas tanto mais abstratos, simbólicos ou alegóricos de pensamento.
Disto resultou que no Ocidente dominado pelas nações bárbaras e iletradas o Antigo Testamento tenha passado a ser recebido pela Igreja - digo pela igreja latina ou romana - como integralmente válido e veraz numa perspectiva literal e anti científica incompatível com o grau de elevação que caracterizara a desaparecida cultura clássica. Pois correspondia este registro a mentalidade mágico fetichista que animava tais povos; e assim pode substituir facilmente a mitologia pagã...
O deuses foram reduzidos a um, algumas adaptações foram feitas... os milagres e prodígios mais banais todavia foram aceitos com absoluta naturalidade. Pois correspondiam ao estado intelectual atraso daquelas tribos e nações...
Tal a origem da prevalência ou da equivalência do Velho Testamento, face ao Novo Testamento ou melhor dizendo ao Evangelho, em matéria de fé; doutrina tão cara a nossos protestantes. Num determinado momento histórico, momento de crise intelectual, de obscurecimento, de recuo, de topor, de sonolência... perdeu-se por completo a noção precipuamente Cristã de soberania ou prioridade Evangélica; adquirindo a palavra 'Bíblia' este verniz de uniformidade que conservou até nossos dias após ter sido canonizado por Calvino.
No frigir dos ovos, a noção ou conceito de Evangelho - TÃO CARA AOS PADRES DOS PRIMEIROS SÉCULOS - que distinguia e honorificava especialmente as palavras de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, foi paulatinamente eclipsado pelo termo 'Bíblia'.
Desde então Bíblia e Evangelho adquiriram certa equivalência não só aos olhos do vulgo mas mesmo aos olhos de um clero barbarizado que era incapaz de soletrar uma só palavra do alfabeto grego e que nada sabia a respeito do mundo natural.
Todo este confusionismo em torno do 'livro sagrado' é fruto da mentalidade supersticiosa e grosseira dos godos, vândalos, suevos, alamanos, etc cujas concepções mitológicas e o imaginário fabuloso possuíam diversos traços comuns com mitologia hebraica em termos de sobrenaturalidade.
O deuses foram reduzidos a um, algumas adaptações foram feitas... os milagres e prodígios mais banais todavia foram aceitos com absoluta naturalidade. Pois correspondiam ao estado intelectual atraso daquelas tribos e nações...
Tal a origem da prevalência ou da equivalência do Velho Testamento, face ao Novo Testamento ou melhor dizendo ao Evangelho, em matéria de fé; doutrina tão cara a nossos protestantes. Num determinado momento histórico, momento de crise intelectual, de obscurecimento, de recuo, de topor, de sonolência... perdeu-se por completo a noção precipuamente Cristã de soberania ou prioridade Evangélica; adquirindo a palavra 'Bíblia' este verniz de uniformidade que conservou até nossos dias após ter sido canonizado por Calvino.
No frigir dos ovos, a noção ou conceito de Evangelho - TÃO CARA AOS PADRES DOS PRIMEIROS SÉCULOS - que distinguia e honorificava especialmente as palavras de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, foi paulatinamente eclipsado pelo termo 'Bíblia'.
Desde então Bíblia e Evangelho adquiriram certa equivalência não só aos olhos do vulgo mas mesmo aos olhos de um clero barbarizado que era incapaz de soletrar uma só palavra do alfabeto grego e que nada sabia a respeito do mundo natural.
Todo este confusionismo em torno do 'livro sagrado' é fruto da mentalidade supersticiosa e grosseira dos godos, vândalos, suevos, alamanos, etc cujas concepções mitológicas e o imaginário fabuloso possuíam diversos traços comuns com mitologia hebraica em termos de sobrenaturalidade.
O processo histórico i é o desenvolvimento das condições sociais predominantes durante a alta Idade Média após a destruição das escolas, museus e bibliotecas foi o grande responsável pela judaização, pela materialização e pela mistificação do Cristianismo antigo no Oeste da Europa.
Precisamos compreender que a afinidade existente entre a visão de mundo prevalecente entre os bárbaros recém chegados e entre os antigos israelitas, promoveu amplamente a aceitação do Testamento antigo, como regra de fé, ao lado do nosso Testamento.
Os teutônicos saídos da floresta erciniana e os israelitas possuiam até mesmo instituições semelhantes, além do éthos guerreiro comum aos dois grupos... Daí a familiaridade com que os medievos passaram a encarar os registros vetero testamentários em sua literalidade, perspectiva que jamais fora acolhida por um Justino, um Amônio, um Clemente, um Orígenes, um Eusébio...
Diante deste funesto retrocesso e do triunfo da letra morta sobre o espírito durante a alta Idade Média, devemos encarar com máxima naturalidade a reação promovida a partir do século XII, quando após as cruzadas do Oriente, o ressurgimento do comércio e a recuperação da economia européia a cultura letrada - e em seguida a filosófica e a científica - principiou a Renascer.
Esta fase coincide perfeitamente, em termos de temporalidade, com a penetração das seitas gnósticas nos domínios ocidentais. Seitas e sectários que, procedendo do Oriente, estavam já em posse de códigos escritos, conhecendo razoavelmente bem a literatura vetero testamentária, e repudiando- a exemplo de Marcion - em sua totalidade, como ímpia, irracional e anti científica.
Precisamos compreender que a afinidade existente entre a visão de mundo prevalecente entre os bárbaros recém chegados e entre os antigos israelitas, promoveu amplamente a aceitação do Testamento antigo, como regra de fé, ao lado do nosso Testamento.
Os teutônicos saídos da floresta erciniana e os israelitas possuiam até mesmo instituições semelhantes, além do éthos guerreiro comum aos dois grupos... Daí a familiaridade com que os medievos passaram a encarar os registros vetero testamentários em sua literalidade, perspectiva que jamais fora acolhida por um Justino, um Amônio, um Clemente, um Orígenes, um Eusébio...
Diante deste funesto retrocesso e do triunfo da letra morta sobre o espírito durante a alta Idade Média, devemos encarar com máxima naturalidade a reação promovida a partir do século XII, quando após as cruzadas do Oriente, o ressurgimento do comércio e a recuperação da economia européia a cultura letrada - e em seguida a filosófica e a científica - principiou a Renascer.
Esta fase coincide perfeitamente, em termos de temporalidade, com a penetração das seitas gnósticas nos domínios ocidentais. Seitas e sectários que, procedendo do Oriente, estavam já em posse de códigos escritos, conhecendo razoavelmente bem a literatura vetero testamentária, e repudiando- a exemplo de Marcion - em sua totalidade, como ímpia, irracional e anti científica.
Todos os inumeros relatos sobre as ditas seitas e sectários convem ao menos em três pontos:
- TODAS AS SEITAS GNÓSTICAS ABOMINAVAM AOS ESCRITOS VETERO TESTAMENTÁRIOS.
- AS DITAS SEITAS ALASTRARAM-SE POR TODO OCIDENTE COMO FOGO SOBRE A PALHA.
- SUA EXPANSÃO FOI TANTO MAIOR ENTRE OS BURGUESES INSTRUÍDOS DAS CIDADES, COMO ALBI E TOLOSA, EM TORNO DAS QUAIS VIERAM A CONCENTRAR-SE.
Os dados acima levaram-nos a formular uma hipótese bastante simples e segundo a qual o sucesso das ditas seitas deve ser encarado como um repúdio consciente - por parte dos burgueses letrados - a compreensão literal do Antigo Testamento, com suas fábulas, mitos, baixa imoralidade, etc e sobretudo a judaização duma igreja incapaz ou impossibilitada de servir-se dos antigos esquemas alegóricos propostos pelos alexandrinos.
É possível que nem mesmo os gnósticos estivessem suficientemente preparados para assimilar um tipo de interpretação mais refinado ou abstrato, o que nos permite compreender o porquê de sua radicalidade expressa pela rejeição a totalidade dos registros judaicos. Ainda não haviam condições propiciais para a retomada duma exegese alegórica capaz de ocultar por um bom tempo a tensão existente entre a teologia fundamentalista e as condições naturais do mundo.
Seja como for a igreja romana ou melhor a cúria - sempre dominada por homens argutos e experientes - não tardou a perceber os sinais dos tempos e o significado deste renascimento literário experimentado pela Europa.
Se é certo que alguns líderes - como refere Lachatre - aspiraram por manter o povo sob o jugo aviltante do analfabetismo e por mante-lo agrilhoado aos esquemas literais, as fábulas e as superstições degradantes; a maior parte deles teve lucidez suficiente para perceber que até mesmo na cúria havia oficiais - como Nicolau de Cusa - favoráveis aos novos esquemas de pensamento, e, logo, para tomar outra direção conciliatória e até certo ponto, favorável a instrução e as artes em geral.
Do contrário a Igreja no auge do seu poder teria acabo com o Renascimento ainda no berço e afogado os letrados, pensadores e cientistas num mar de sangue. O que de modo algum foi feito... afinal Petrarca, Ficino, e outros eram clérigos...
Bem sabiam os papas e cardeais que um povo educado e sábio acabaria, mais cedo ou mais tarde, por lançar as favas (ou as urtigas) a interpretação literal e estreita do Antigo Testamento - devido a suas fábulas e idiossincrasias - mantida pela igreja local durante cerca de meio milênio e sobre a qual os papas haviam fundamentado diversas hipóteses teológicas no decorrer dos séculos...
Sabiam também que as exigências econômicas dos novos tempos aliadas a boa fé e aos esforços de diversas personagens eclesiásticas dificilmente poderiam ser contidas sem que houvesse grande efusão de sangue ou uma grande contra Revolução.
Disto tudo resultava que, século mais século menos, a Europa converter-se-ia num continente totalmente civilizado e francamente infenso as puerilidades hebraicas, ao pensamento mágico fetichista, etc
Necessário era refazer os esquemas de pensamento, a visão de mundo, os paradigmas epistemológicos... segundo a dinâmica social e assim refazer o modelo exegético/teológico predominante e caracterizado por sua rude simplicidade.
Aos Papas ocorreu a principio a ideia, por sinal bastante sábia: de dourar as pílulas> mosaica, davídica, salomônica, etc fazendo que os netos engolissem os mesmos gorgulhos que os avós haviam engolido só que desta vez confeitados em Alexandria, por Orígenes, Amônio, Dídimo ou mesmo por Agostinho.
Acontece que a maior parte das pessoas ainda não se achava a altura se semelhante projeto, donde a igreja, muito esperta, resolveu cortar caminho.
Acontece que a maior parte das pessoas ainda não se achava a altura se semelhante projeto, donde a igreja, muito esperta, resolveu cortar caminho.
Nem se deu por vencida a cúria e optou por editar e distribuir apenas e tão somente Evangelhos e Novos Testamentos acompanhados por notas explicativas. OCULTANDO A LETRA DO ANTIGO TESTAMENTO E PROIBINDO SUA TRADUÇÃO, EDIÇÃO, CIRCULAÇÃO E LEITURA SOB PENA DE EXCOMUNHÃO.
E com o piedoso intuito de 'aliviar' a tal PALAVRA DE DEUS que a razão já não podia suportar e de alimentar a fé de seus devotos a Igreja de Roma passou a editar preferencialmente as assim chamadas 'estórias sagradas' e posteriormente os 'catecismos' adaptando, por assim dizer, o conteúdo grosseiro dos registros hebraicos a mentalidade dos Cristãos conhecedores do Novo Testamento e dos Evangelhos... Penso que este foi o golpe de mestre dado pela Igreja italiana. Pois associava a exegese alegórica em torno dos tipos e figuras do rei Messias a expurgação das passagens irredutíveis...
Como todos estão fartos de saber - cf Mario Cavalcanti de Melo in Da Bíblia aos nossos dias pp 143 - em tais 'estórias sagradas' tudo é polido, bonito e civilizado: nada de Abraão vendendo o corpo da nonagenária Sara ao rei de Gerara, de Sodomitas tentando estuprar o Filho e o Espírito Santo, de concubinato de anjos com mulheres, de Acab sendo ludibriado pelo espírito de profecia, de Ezequiel comendo sanduiche de esterco, de matrizes tapadas, de 'falos' gigantescos, etc Todas estas obcenidades ou melhor tolices foram metodicamente eliminadas dos devocionários papistas e por assim dizer escondidas a sete chaves.
De certo modo o papismo logrará Cristianizar o antigo testamento removendo tudo quanto pudesse tocar a consciência Cristã ou reflexiva em termos de ética ou de sentido.
De certo modo o papismo logrará Cristianizar o antigo testamento removendo tudo quanto pudesse tocar a consciência Cristã ou reflexiva em termos de ética ou de sentido.
Afinal quem poderia - após o Renascimento literário, filosófico e científico - em sã consciência admitir semelhante repositório de monstruosidades escabrosas como equivalendo a verdadeiras palavras de Deus???
Agora implica, a edição das ditas estórias sagradas ou dos Velhos Testamentos expurgados e adaptados, admitir que a inspiração plenária é uma farsa. Pois quem se atreveria a corrigir ou a alterar verdadeiras palavras de Deus???
Assim se a igreja latina esforçou-se por apresentar Ester como uma espécie de Santa Cristã dada a oração é justamente porque não fora bem apresentada por Deus ou melhor pelos sacerdotes judeus... E de fato a Ester cristianizada pela estória sagrada é infinitamente superior em qualidade a Ester judia que sequer menciona o nome divino e vive como se ele sequer existisse...
Não há como fugir a este dilema: se a igreja ousou corrigir a 'palavra de Deus' os protestantes estão corretos... merecendo ser ela apresentada como uma prostituta. Agora se a Igreja limitou-se a corrigir as palavras dos sacerdotes judeus ou as partes 'não nobres' associadas as verdadeiras palavras de Deus; pereçam os judaizantes!!!
Quanto a Bíblia, somente aos burgueses mais abastados e instruídos eram vendidos exemplares completos do livro as vezes em vernáculo ordinariamente em latim, sempre acompanhados por toneladas de notas explicativas de carater alegórico, tomadas aos alexandrinos ou ao hiponense.
Assim se a igreja latina esforçou-se por apresentar Ester como uma espécie de Santa Cristã dada a oração é justamente porque não fora bem apresentada por Deus ou melhor pelos sacerdotes judeus... E de fato a Ester cristianizada pela estória sagrada é infinitamente superior em qualidade a Ester judia que sequer menciona o nome divino e vive como se ele sequer existisse...
Não há como fugir a este dilema: se a igreja ousou corrigir a 'palavra de Deus' os protestantes estão corretos... merecendo ser ela apresentada como uma prostituta. Agora se a Igreja limitou-se a corrigir as palavras dos sacerdotes judeus ou as partes 'não nobres' associadas as verdadeiras palavras de Deus; pereçam os judaizantes!!!
Quanto a Bíblia, somente aos burgueses mais abastados e instruídos eram vendidos exemplares completos do livro as vezes em vernáculo ordinariamente em latim, sempre acompanhados por toneladas de notas explicativas de carater alegórico, tomadas aos alexandrinos ou ao hiponense.
Conclusão: impedindo, por quase três séculos, que os ditos registros pudessem ser manipulados e examinados pelo povo e julgados quanto a seu cárater divino, pode a Igreja Papólica evitar que os povos sob seu domínio se precipitassem duma vez nos abismos da incredulidade e do ateísmo.
A publicação das 'estórias sagradas' impediu até certo ponto que o choque ou a tensão existente entre a mitologia hebraica e o mundo real ou entre a moralidade vetero testamentária e a ética neo testamentária fosse sentido pelos adeptos da igreja italiana.
Já a distribuição de 'Bíblias completas' ou de velhos testamentos mal traduzidos e sem notas explicativas associada a uma compreensão literal deu origem a uma crise de fé nos domínios do protestantismo cujos adeptos puderam sentir toda tensão existente entre tais escritos e a ética Cristã ou as modernas descobertas científicas. Ao protestantismo só restava o recurso de sacrificar a ética Cristã ou de assumir uma posição anti científica com as decorrentes ilações epistemológicas sempre destrutivas.
Assim abismo foi chamando abismo...
Hoje enfim a Igreja romana passa pela mesmíssima crise porque passou o protestantismo europeu cerca de dois ou três séculos na medida em que parte de seus quadros, tendo assumido e reproduzido doutrinas e práticas caracteristicamente protestantes (Como a da inspiração plenária) obstina-se em apresentar o Velho Testamento em sua totalidade como tão sagrado quanto nosso Evangelho.
Consequência: pau no Evangelho, pau no Cristo, pau na Igreja...
A publicação das 'estórias sagradas' impediu até certo ponto que o choque ou a tensão existente entre a mitologia hebraica e o mundo real ou entre a moralidade vetero testamentária e a ética neo testamentária fosse sentido pelos adeptos da igreja italiana.
Já a distribuição de 'Bíblias completas' ou de velhos testamentos mal traduzidos e sem notas explicativas associada a uma compreensão literal deu origem a uma crise de fé nos domínios do protestantismo cujos adeptos puderam sentir toda tensão existente entre tais escritos e a ética Cristã ou as modernas descobertas científicas. Ao protestantismo só restava o recurso de sacrificar a ética Cristã ou de assumir uma posição anti científica com as decorrentes ilações epistemológicas sempre destrutivas.
Assim abismo foi chamando abismo...
Hoje enfim a Igreja romana passa pela mesmíssima crise porque passou o protestantismo europeu cerca de dois ou três séculos na medida em que parte de seus quadros, tendo assumido e reproduzido doutrinas e práticas caracteristicamente protestantes (Como a da inspiração plenária) obstina-se em apresentar o Velho Testamento em sua totalidade como tão sagrado quanto nosso Evangelho.
Consequência: pau no Evangelho, pau no Cristo, pau na Igreja...
Desde que Calvino e seus pares puseram-se a distribuir e a divulgar o Antigo Testamento - bem como a abominável doutrina da inspiração plenária, linear e verbal - os homens puderam ler e aquilatar por si mesmos os inumeráveis erros, inexatidões, fábulas, mitos, blasfêmias, impurezas e insanidades nele contidos e a concluir pela falsidade da doutrina Cristã; remetendo Nosso Senhor as urtigas...
Porfírio, apesar de pagão, estava correto, e foi uma lástima a Cristandade não ter procurado oferecer uma resposta a altura de suas críticas... assumindo uma posicionamento tanto mais crítico quanto honesto face ao conteúdo puramente humano do antigo testamento.
Porfírio, apesar de pagão, estava correto, e foi uma lástima a Cristandade não ter procurado oferecer uma resposta a altura de suas críticas... assumindo uma posicionamento tanto mais crítico quanto honesto face ao conteúdo puramente humano do antigo testamento.
Aqui Nietzsche:
"Lutero tinha vista curta, era mal dotado superficial e imprudente, por todas as questões cardeais de poder; não passava de um homem do povo ao qual toda hereditariedade de uma casta reinante e toda vontade de poder fazia falta. Assim querendo reformar a obra romana acabou por destrui-la sem saber e assim foi o começo duma obra de demolição. Aluiu e destruiu com cólera sincera tudo quanto a velha aranha havia tecido paciente e cuidadosamente. DISTRIBUIU AO POVO OS LIVROS SAGRADOS DE MODO QUE NÃO TARDARÃO A CAIR NAS MÃOS DOS FILÓLOGOS, OS QUAIS SÃO POR ASSIM DIZER OS DESTRUIDORES DE TUDO QUANTO É CRENÇA QUE REPOUSA EM LIVROS." in "A gaia ciência" 358
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